1. Spirit Fanfics >
  2. Diário de um andarilho >
  3. Dia 17

História Diário de um andarilho - Dia 17


Escrita por: Yonov

Capítulo 12 - Dia 17


Que droga, por que não consigo tirar o que aconteceu lá da minha cabeça? Ontem continuei andando o tempo inteiro, tentando me esquecer disso, não parei nem pra procurar comida, porém, aquela sensação continua me cutucando. Não é que eu me incomode com o Richard,eu estou nem aí pra ele, mas me sinto culpado pelo que fiz pras irmãs, sei lá, foram elas que me tiraram daquela merda. Eu estava tão atordoado ontem, que nem peguei no diário pra escrever algo, mas nem aconteceu algo interessante, fora terra, e nada... então vou ignorar isso. 

Hoje, acordei com fome. Sou um andarilho, já passei dias com fome e sede, então tecnicamente estou meio acostumado com a pressão sanguínea baixando e esse tipo de coisa, mas ainda sou humano, tenho que comer, e eu gosto de comer, e no momento, tudo que eu queria era ir pra casa, mas por alguma razão resolvi ir pra Motherlard, que fica em direção ao Sul também, afinal, é lá onde existe o maior mercado de armas, e eu queria vender um dos meus revólveres (não o que o Sawyer me deu, obviamente) por alguns Reis e comprar um suprimento rápido, só pra me manter vivo até chegar no meu "habitat natural".

Quando fui me aproximando, fui notando aqueles grandes prédios subindo o horizonte e a primeira pergunta que me fiz foi "Como será que está aquele lugar?". Não vou mentir, Motherland é muito melhor do que Hometown, mas pelo que lembrava, de vez em quando aparecia uma gangue maluca atirando pra cima e saqueando algumas barracas, até serem baleados por alguma pessoa com uma boa mira e um senso de decência. Diferente de Hometown, o governo conseguiu se estabelecer até que bem e não foi abafado por esses "rebeldes" que buscam a anarquia (E Hometown é um exemplo do que acontece se todo mundo puder fazer o que quiser). Enfim, quando finalmente cheguei lá, vi uma série de barracas alinhadas e uma grande movimentação de pessoas nas proximidades, era um barulho da porra, gente gritando e não dava pra entender nada. Fui passando o mais afastado que consegui (eles tomavam a rua toda, e olha lá que era bem larga), tomando cuidado pra não acabar levando um "pequeno" soco na cara, aproveitei e fui observando o que eles estavam vendendo, e cheguei a conclusão que o produto quem mais procuravam eram... Frutas. Eu ouvi falar que apesar de existirem plantações, elas estão ficando mais escassas por causa da demanda. A briga era tanta que alguém jogou uma laranja pra cima e ninguém notou, então eu a peguei e bem... comi. O que eu devia fazer? Eu gosto de laranjas.

Conforme fui andando pela rua, a densidade de pessoas foi ficando menor, até chegar mais ou menos no centro, onde tinha uma grande rua circular com pedregulhos ao redor de uma praça seca, com alguns bancos e muito lixo, e que parecia dar ligação pra todos os cantos de Motherland. Em uma das esquinas, estava um espécie de bar, e do lado tinha uma barraca isolada, com algumas armas de fogo expostas, só que nas proximidades havia um grupo de 4 caras armados, vestindo camisas pretas, e eles estavam olhando feio pra mim, então resolvi dar uma volta e esperar eles saírem dali.

Enquanto caminhava, percebi que Motherland estava mais vazia do que o normal, não tenho a mínima ideia do porquê, não estou muito atualizado sobre o que está acontecendo no mundo esses dias (depois de tanta merda acontecendo comigo ao mesmo tempo recentemente, não me surpreende).

Depois de um tempo andando, notei um pequeno prédio de 3 andares que estava completamente vazio, com algumas vários pilares no seu interior, e algumas eram conectadas com uma espécie de mureta . Fiquei curioso, porque normalmente, as construções eram cheias de coisa, mas essa (ao menos o térreo) era um grande salão vazio. Resolvi dar uma olhada, mas quando dei alguns poucos passos em seu interior, fui empurrado, e quando virei pra trás, lá estava aquele grupo de quatro homens que estavam no bar, e junto a eles estava uma mulher, que provavelmente estava dentro do bar, porque não a vi com eles. Eu perguntei:
-Que foi, porra?
-Cale a boca, você vem com a gente. -A mulher disse.
-E por que eu deveria?
-Esqueceu da recompensa que colocaram na sua cabeça no Oeste?
-Vocês me confundiram com a pessoa errada -tentei passar por eles, mas me empurraram de novo- Certo, isso ta ficando chato.
-Você acha mesmo que vamos deixar essa oportunidade passar? Mesmo que estejamos errado, você bate perfeitamente com a descrição do cartaz.
-Tem foto? -Perguntei, cinicamente.
-Uma descrição já basta. Tenho certeza que vão reconhecer você se te levarmos até lá. 
-Ah... por favor...

Nesse momento, um homem, vestindo um casaco parecido com um jaleco, mas com um capuz, e uma máscara que possuía apenas uma lente no lado direito apareceu. Ele tentou negociar com os caçadores de recompensa, mas eles se negaram. A tranquilidade do cara era absurda, o tom de voz permanecia o mesmo e não aumentava nem em 1%, soava até mesmo... robótico, incluindo sua voz, que era meio rouca e densa. ele foi até o outro lado do salão, com as mãos no bolso,  se virou e de dentro de sua manga, tirou uma espécie de espada, cujo cabo parecia estar preso a uma espécie de mecanismo no braço e a lâmina parecia estar "dobrada". Eu resolvi sair da frente, era mais do que óbvio que ele ia morrer ali, mas ele simplesmente apontou a ponta da espada para eles e esperou. A mulher puxou uma pistola e atirou nele, praticamente sem mirar, porém, com o uso de algum tipo de bruxaria, magia negra, sei lá, ele conseguiu desviar a trajetória da bala apenas movendo um pouco a mão pro lado, fazendo o projétil recochetear na lâmina. Quando eu vi aquela merda, eu gritei "Puta que pariu!" e fui me proteger atrás de alguma pilastra, e o grupo resolveu fazer o mesmo, a mulher se escondeu no lado de fora da entrada enquanto um cara foi pra trás de uma das muretas que eu falei.

Não saquei nenhuma arma, apenas fiquei observando. O cara de branco parou e ficou olhando pra entrada, e rapidamente se escondeu atrás de uma pilastra, sumindo da minha vista. Ele não estava com nenhuma arma de fogo, e pela primeira vez depois de muito tempo, não sabia o que iria acontecer ali.  Alguns segundos depois escuto uma voz masculina gritando "Mas que po-" e daí silêncio. Todo mundo parou e procurou de onde a voz saiu, até que o mascarado se levantou de trás da mureta que o cara tinha se escondido, com a cabeça dele em uma mão e uma espingarda na outra. Ele arremessou a cabeça em direção a entrada, o que obviamente assustou a mulher. Um dos homens tentou atirar nele, mas rapidamente ele se escondeu e correu pra outra pilastra, dessa vez, eu podia ver ele escondido. Vale constar que não tinha uma única gota de sangue nele.

Ele puxou a telha da espingarda, ejetando um cartucho, pegando-o em pleno ar, e com uma força que não se explicar, deu uma coronhada na quina da pilastra (com uma força que não sei de onde ele tirou), quebrando um pedaço, pegou uma pedrinha, e com uma espécie de fita, colou a pedrinha na base do estojo, e enfim, colocou sua criação no bolso, tudo isso enquanto de vez em quando, alguém tentava dar um tiro nele. Ele colocou a mão no bolso de novo, mas dessa vez ele puxou uma granada, e a jogou atrás de algumas pilastras, onde estavam localizados dois deles, matando-os instantaneamente, um dos fragmentos cortou meu braço, foi algo superficial. Ele saiu de sua proteção e caminhando calmamente, foi até o ultimo homem, que pelo que parece estava com medo pra tentar atirar, e enfim, deu um tiro a queima roupa no rosto, detonando seu crânio. Mas antes do mascarado se virar, a mulher apareceu, meio suada e nervosa (aposto que foi por causa da cabeça) e colocou um fuzil na nuca dele e disse "peguei você".

O cara jogou a espingarda no chão e colocou as mãos no bolso e foi escoltado até a parede do outro lado da sala, e foi obrigado a ficar de frente pra parede. Ele perguntou se podia ao menos olhar pra assassina antes dele ser morto, e ela negou, mas ele logo respondeu que era uma questão de honra, e a mulher acabou cedendo, mas que ele tirasse as mãos do bolso. Ele se virou e rapidamente pulou pro lado, batendo o braço no cano do fuzil, e tirando aquele cartucho que ele escondeu no bolso e batendo a base na parede com força, disparando-o e matando a mulher. 

Depois disso, eu puxei minha pistola e apontei pra ele, tentando me aproximar. Ele sinalizou pra abaixar a arma e disse:
-Eu não sou seu inimigo, você sabe disso. -Ainda com uma tranquilidade monstruosa.
-Quem diabos é você?
-Calma, você sabe quem eu sou, ele te contou sobre mim.
-Se eu soubesse não teria te perguntado! E a quem você se refere?
-Claro que me refiro a Vlad.
-Então você é o tal do "Observador"?!
-"Observador"? Esse foi o melhor termo que ele conseguiu usar pra se referir a mim? -Ele abaixou a cabeça e logo olhou pra mim- Não gostei tanto assim, soa como se eu fosse algum tipo de Stalker pervertido... Me chame de Zero, já estou mais acostumado assim de qualquer jeito.
-Qual sua relação com Vlad?! -Eu tinha que saber- E que merda é essa? Virou brincadeira todo mundo usar máscara agora?! 
-Eu não sou muito ligado a Vlad ou a Irmandade ou a nada, eu só não sou tão diferente dele assim, entende? -Ele cutuca a máscara- Entendo, você se refere ao Corvo e ao Vlad, não é? Bem, os motivos do Corvo você já conhece, o Vlad usa a máscara por questões de proteção pessoal e eu uso essa máscara porque ela é bem útil de certa forma, me permite ver coisas que pessoas normais não conseguem naturalmente...
-O que você quer de mim?!
-Calma lá, amigão. Você está me fazendo muitas perguntas, deixe eu ter minha vez. Primeiro, o que é isso no seu braço?
-Um corte, não sabe o que é?
-Um corte que se mexe? -Coloquei a mão em cima da ferida.
-Você consegue ver a essa distância? É só meu fator de cura, nada demais.
-Ah, então você é um mutante?
-Sim -Fui direto.
-E como você sabe disso?
-Eu... -Puta que pariu, eu juro, JURO, que sabia, mas a merda da informação Evaporou da minha cabeça, do meu cérebro. Minha cabeça ainda dói em tentar lembrar.
-Não lembra?
-Não! Eu juro que sabia!
-É normal as pessoas esquecerem algumas coisas...
-"BENVÓLIO - Muito falar destoa deste dia. Não precisamos hoje de Cupido com venda sobre os olhos e arco tártaro de ripa multicor, que infunde medo, como espantalho o faz, no mulherio. Não; nem também de prólogo matado, que o ponto diz antes de nossa entrada. Que nos tomem por quem melhor acharem; mediremos com todos alguns passos e, após, saímos." Romeu e Julieta, Cena 4 de Shakespeare, li esse livro a 3 anos atrás. Eu não esqueço, "Zero". 
-Interessante. Já ouviu falar de falsas memórias, X?
-Não, e como você -
-Eu sei muitas coisas. As vezes o cérebro cria memórias falsas de várias formas, alguns induzem essas lembranças nos outros e as fazem acreditar nelas...
-Está dizendo que eu estou mentindo?
-Existia um estudo que dizia que as vezes, o cérebro armazena uma memória importante, mas não sabe como ou o que aconteceu antes e depois dela, e as vezes cria uma memória falsa pra dar sentido a ela. No seu caso, ele nem se importou em forjar uma, fora criar uma sensação de saber... Interessante. -Ele colocou a mão no queixo- Esse tipo de pensamento fazias as pessoas duvidarem do que sabiam... De qualquer forma, você mudou bastante desde a última vez que eu te vi, sabia?
-Eu não faço ideia do que você está falando...
-X, você sempre foi bom em notar pequenos detalhes, e isso te afastou do resto das pessoas graças a essa paranoia. Você inclusive notou falhas na farsa do Richard, mas não comentou nada, o que não faz sentido vindo de você... -Eu não tinha parado pra ver por esse lado- Você confiou em alguém, e tentou criar laços de intimidade com ela, e isso é interessante.
-E onde você quer chegar com isso?
-Eu te deixei cheio de perguntas, não foi? -Tenho que concordar- Vlad te falou de dois lugares pra você ir dar uma "visita", e sim, eu concordo com você: Ele é um sociopata violento e mentiroso, mas dessa vez ele não mentiu, tem realmente algo nesses lugares que você vai achar um tanto... Fascinante. E eu recomendo muito que você volte para seus amigos, X, pois vai precisar de suporte pro que vai acontecer, e você sabe disso, e é preferível que você evite mercenários, pois são apenas parasitas.
-Maldito. E aquele negócio com o cartucho, você deixou ela se aproximar de propósito, não foi?
-Eu preciso me divertir as vezes. Ah, e antes que eu esqueça, a Irmandade mandou um pequeno grupo de reconhecimento pra casa das Irmãs e vão chegar em mais ou menos um dia, acho que você deveria ir pra lá.Você vai me agradecer depois. 

Ele andou até a entrada, jogou um saco com alguns Reis no chão e eu fiquei lá, parado, confuso (mais confuso). Quando finalmente resolvi ir atrás dele, eu ainda o vi saindo pela porta, mas quando saí, ele simplesmente não estava mais lá. Eu sinceramente estou questionando minha sanidade, será que estou ficando louco? Que porra foi aquela? Droga, quanta dor de cabeça! Quero saber o que eu fiz pra minha vida ter ficado tão movimentada desse jeito, ainda por cima, DO NADA! E a sensação de conversar com ele... Era como se eu fosse infinitamente menor do que ele, era como se ele fosse Deus em pessoa. Não sei se é pelo que eu vi antes, mas.... vai saber.

Já é noite e cheguei a conclusão de que Zero está certo, estou lotado de perguntas, estou confuso. Eu vou pra aquelas localizações e pra isso, preciso ir atrás deles. Se ele falou mesmo a verdade, e um grupo de reconhecimento estiver indo mesmo pra lá, eu duvido que consigam se defender apenas com um rifle. Que merda, eu vou pra lá, mas não quero ir pra lá, o jeito é arriscar. 


Notas Finais


E sim, eu deixei o "Zero" exposto na minha foto de perfil esse tempo inteiro de propósito.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...