História Diário de uma fã - Capítulo trinta

O shopping de Whitby não era grande, então não havia muito a se fazer. Ficamos andando por algum tempo entre as lojas, e Julia sugeriu irmos ao cinema, mas eu recusei. Depois da última vez que fui ao cinema, seria difícil achar graça em ir com outra pessoa. E Frederico também não estava com paciência para assistir filme, então continuamos rodando entre as lojas, até que Fred entrou em uma delas com a desculpa de comprar um presente de amigo oculto. Eu sabia que ainda não estava em época de amigo oculto, mas resolvi ficar quieta. E ele até me deu um urso de pelúcia de presente de aniversário quando eu o ajudei a escolher um outro para o tal amigo. Meu irmão me dando um presente, isso foi muito estranho.

— Fred, você está apaixonado? – Perguntei quando Julia estava distraída olhando uns sapos de pelúcia.

— Eu apaixonado? – Ele perguntou surpreso.

— Sim. Você está agindo como se estivesse. – Levantei o urso de pelúcia que ele havia escolhido, que era um tanto maior que o meu.

— É só um amigo oculto Luiza. – Ele disse, mas seu sorriso bobo me fez ter certeza de que não era só isso.

Estávamos na praça de alimentação quando meu celular começou a tocar. O procurei às pressas na bolsa, pois Shawn havia dito que ligaria mais tarde. Mas senti uma enorme decepção quando vi que era Matheus.

— Oi Matheus. – Disse ao atender, tentando esconder o desapontamento na minha voz.

— Parabéns Luiza. – Ele disse animado.

— Obrigada.

— Dezessete anos hein!

— Pois é. – Não sabia o que dizer, era como se nós não tivéssemos mais assunto.

— Parece que foi ontem que você tinha quatorze.

— É, o tempo passa rápido. – Ele estava falando que nem a minha tia Lúcia, só faltou perguntar cadê o namoradinho.

— É verdade, voando! – Caímos em um silêncio constrangedor e eu tentei procurar algum assunto para falar, mas nada me ocorreu.

— Então, o que você está fazendo de bom?

— Nada, só estava lembrando de algumas coisas. – Ele também não ajudava em nada. – E você?

— No shopping.

— Ah, legal! Eu estou te atrapalhando?

— Não, claro que não. – Na verdade você está congestionando minha linha telefônica! Pensei.

— Que bom. Mesmo assim vou te deixar passear em paz. Te ligo mais tarde então. – Para que? É algum tipo de ritual dizer que liga mais tarde na hora de desligar o telefone? Espero que Shawn não tenha dito da boca para fora, porque eu não gosto da sensação de ficar esperando. Mas ele sempre liga quando diz, então era melhor não me preocupar.

— Tudo bem então, tchau. – Me lembrei de dizer a Matheus, já que fiquei perdida em pensamentos e o deixei esperando na linha.

— Quem era? – Julia perguntou.

— O Matheus.

— Hum. – Julia disse maliciosamente, mas preferi ignorar.

— Cadê o Fred? – Só então percebi que Frederico não estava mais na mesa.

— Saiu para atender ao telefone também. — Eu devia ter visto ele se levantar, mas acho que me distraí demais pensando na ligação do Shawn para notar.

Fred voltou em alguns minutos dizendo que tinha que ir embora, Julia protestou, mas ele foi irredutível. A volta para casa foi tranquila, e ele até me deixou escolher a música no som do carro, mas como não havia nenhuma do Shawn, deixei tocar qualquer outra. Não podia dizer que a tarde com meu irmão e minha melhor amiga havia sido uma das melhores da minha vida, mas até que foi bem agradável.

Quando abri o portão de casa estranhei não ter visto o carro da minha mãe, ela já devia ter chegado do fórum.

— Cadê a mãe, Fred? – Perguntei assim que entramos.

— Parece que ela ia sair com o Bortolotto. – Não era possível que ela ia fazer isso comigo no dia do meu aniversário. Ela nem ao menos me ligou para dar os parabéns. Até o Frederico estava sendo legal, até o Shawn que vive na correria se lembrou, e a minha mãe não. Que ótimo! Entrei em casa emburrada, querendo subir as escadas e me trancar no meu quarto. Mas assim que dei os primeiros passos dentro de casa fui surpreendida com um coro de “surpresa” saindo de vários cantos. Quase caí para trás no susto.

— Feliz aniversário, meu bem! – Minha mãe disse vindo em minha direção e me abraçando. A abracei de volta quase chorando, eu havia sido muito injusta com ela, enquanto eu estava pensando que ela havia esquecido, ela estava planejando uma festa surpresa.

— Obrigada mãe, obrigada mesmo. A senhora é fantástica! – Mal tinha palavras para agradecer.

— Não precisa agradecer, vem cumprimentar as pessoas querida. – Ela disse me soltando. Então me deparei com a cena mais engraçada de toda a minha vida. Bortolotto com um chapéu de aniversário e segurando um bolo com cara de deslocado. Eu devia tirar uma foto e espalhar pela escola. Segurei a vontade de rir e comecei a reparar nas pessoas a minha volta, todos usando o mesmo chapeuzinho cor-de-rosa e segurando bexigas coloridas. Minha mãe, Bortolotto, Sr. Antônio o vizinho, dona Hortência mulher dele, Matheus, Julia…Matheus? Então ele sabia de tudo e não me contou nada. Espera aí, todo mundo sabia de tudo, e ninguém me disse absolutamente nada! Já estava a ponto de brigar com Julia quando avistei uma figura muito conhecida no canto da sala.

— Pai! – Gritei ao sair correndo e abraçá-lo. – Por que não me disse que vinha?

— Parabéns, querida. Eu sempre venho, não é?

— Sempre! Fico feliz por estar aqui!

— Eu também estou feliz por ter vindo, filha! – Sorri para ele enquanto olhava a mulher que estava ao seu lado.

— Ah, Lily!

— Parabéns Luiza! – Ela disse me abraçando. – A Roberta te mandou um abraço.

— Hum. Manda outro para ela. – Eu sabia que isso era mentira, mas não iria ser mal educada.

— Pode deixar. Para você. – Ela me entregou uma caixinha com um laço.

— Mas vocês já me deram presente. – Disse surpresa.

— Aquele era do seu pai, esse é meu e da Roberta.

— Ah, não precisava se incomodar. – Lily era sempre muito simpática, não era difícil ter que lidar com ela, bem diferente de Bortolotto. Abri a caixinha, e nela tinha uma borboleta de strass presa em uma fita de cetim rosa claro.

— É uma pulseira. – Lily disse e a pegou colocando-a em meu braço, dando um laço na fita.

— É linda, obrigada! – Disse dando um outro rápido abraço nela.

Cumprimentei também os vizinhos, o Sr. Antônio e a dona Hortência, que me deram um livro chamado A rosa do inverno. Dona Hortência foi professora por muitos anos, então sempre me dava livros de presente. Matheus também me deu os parabéns pessoalmente, e me deu uma caixa para recordações, ele sabia que eu gostava de guardar lembranças de todos os momentos bons. Eu só não estava entendendo o porquê de estar ganhando tanto presente, parecia até que estava voltando aos meus quinze anos. Eu gostava daquela época, mas não trocaria tudo que estava acontecendo comigo nas últimas semanas por nada do que eu já tenha vivido. Quando já tinha cumprimentado a todos me virei para Julia e Frederico.

— Então quer dizer que foi tudo armado?

— Foi. – Julia disse sorrindo.

— Eu sabia que você não podia ter sido tão legal Frederico.

— Mas eu fui legal. – Ele disse rindo também.

— Querida, quem te mandou aquelas flores? – Minha mãe perguntou.

— Que flores? – Perguntei envergonhada.

— As que chegou hoje de manhã, coloquei no seu quarto.

— Ah, não sei, não estava assinado. – Disse tentando inventar uma desculpa, mas realmente Shawn não havia assinado. Mas não precisava, eu conheceria sua caligrafia torta em qualquer lugar. Ela era única, assim como todas as coisas que vinham dele.

— Então você tem um admirador secreto, Luly? – Meu pai perguntou.

— Claro que não pai, devem ter errado o endereço. – Eu disse corando, enquanto a sua expressão dizia que ele não havia acreditado nada na desculpa.

— Vamos cantar parabéns então. – Minha mãe disse interrompendo.

Ela me empurrou para trás da mesa que haviam colocado na sala a onde estava o bolo agora, e todos se juntaram a minha volta. Vários pares de olhos me encarando ao mesmo tempo, me causando uma inexplicável vontade de sair correndo. Não me sentia à vontade sendo o centro das atenções, e a hora dos parabéns sempre fora constrangedora. Meu pai pegou a câmera dele e começou a tirar fotos, enquanto Julia também tirava com o meu celular, me obrigando a sorrir o tempo inteiro. Será que vocês podem acabar logo com isso? Minhas bochechas estão doendo! É claro que não disse nada disso a ninguém, não queria acabar com a alegria deles. Então um coro de “parabéns para você” inundou a sala, e eu fiquei sem saber se batia palmas junto ou fazia cara de paisagem. Acabou que eu tentei fazer os dois ao mesmo tempo e não deu certo.

Quando eu achei que o momento constrangedor finalmente tinha acabado, alguém no meio da sala começa a cantar “com quem será” Ah não! Posso sair correndo agora? Nenhuma música de parabéns no mundo é mais constrangedora do que o “com quem será” que vem depois. Eu sempre tive vontade de cavar um buraco no chão e enfiar a cabeça lá toda vez que alguém começava a cantar. Penso que a pessoa que inventou essa musiquinha não estava de bem com a vida, e resolveu arrumar um jeito de constranger toda a próxima geração para se sentir melhor. As pessoas a minha volta cantavam e batiam palma enquanto eu olhava envergonhada pensando em que nome eles falariam. Nos últimos anos haviam dito o nome do Matheus, eu não ligava muito, afinal, nós namorávamos. Mas e agora? Será que eles diriam mesmo assim? Olhei para Matheus no canto um pouco tímido apenas sorrindo e batendo palmas. Oh céus, se eu enfiasse a cara no bolo seria menos constrangedor? Mas por sorte (ou não) Frederico gritou antes de todos; “Vai depender se o Shawn Mendes vai querer!”, e todos riram é claro, me deixando completamente envergonhada. Porém, a brincadeira sem graça de Fred havia salvado a festa. E o bolo.

Após o momento constrangedor ter passado tentei aproveitar a companhia do meu pai ao máximo, pois não sabia quando o veria de novo. Ficamos um bom tempo conversando na sala e comendo o bolo, que por sinal estava ótimo. Eu não sabia onde minha mãe encomendava esses bolos para aniversário, pois eu apostaria todos os meus pôsteres do Shawn que não era ela quem os fazia.