As três primeiras aulas passaram devagar, e finalmente soou o sino para o intervalo.
— Tenta falar com ela de novo, se for preciso eu peço para minha mãe pedir para ela. – Supliquei para Julia enquanto andávamos em direção a cantina.
— Eu vou tentar mais uma vez, mas ela ainda está brava por aquele dia que matamos aula.
— Nem me lembre. A minha também, mas Luan Santana é código vermelho, fiz o possível e o impossível para ela deixar. E também é mais fácil, porque meu pai vai levar e buscar.
— E sua irmã vai?
— Ela não é minha irmã! – Protestei enquanto comprava um refrigerante e umas balas na cantina.
— Eu vou chamar ela de que então? – Julia riu.
— De Roberta, que é o nome dela. Ela é só a filha da mulher do meu pai, eu mal falo com ela. – Nos dirigimos para as mesinhas redondas, que ficavam no lado esquerdo do pátio.
— Mas ela vai?
— Não sei, por quê?
— Por nada, só queria saber!
— Não é por nada Julia, eu te conheço.
— Só não gosto dela. – Ela deu com os ombros.
— Também não posso dizer que gosto, mas ela nunca me fez nada.
— Seu irmão vem vindo! – Julia ajeitou os cabelos loiros e tentou sorrir despreocupadamente. Eu revirei os olhos.
— Está parecendo forçado.
— Não estraga Luiza! – Eu não entendia como a minha melhor amiga podia gostar do idiota do meu irmão. Virei para trás, e ele estava vindo para as mesinhas, junto com outros dois garotos. Frederico é meu irmão mais velho, ele estudava na sala ao lado da minha. Não nos dávamos muito bem, pois ele vivia me criticando por ser fã do Luan.
— Oi Fred. – Julia o cumprimentou com entusiasmo. Apesar de estar aparente, Frederico nunca desconfiou dos sentimentos a mais que ela nutria por ele.
— Oi Julia. Como vai pimentinha?! – Ele passou a mão pelo meu cabelo desarrumando tudo.
— Sai daqui idiota! – Disse arrumando o rabo-de-cavalo de novo. Os garotos apenas riram, e saíram em direção a uma mesa um pouco distante. – Qualquer dia eu arranco o pescoço dele. Tenho quase dezessete anos e ele ainda me chama de pimentinha na frente de todo mundo!
— Mas ele é lindo! – Julia suspirava.
— O que adianta ser lindo e irritante?
— Eu não acho ele irritante.
— Porque você não convive com ele!
— Como pode ele ter nascido com os olhos verdes e você não?
— Tecnicamente meus olhos são quase verdes!
— Não são não.
— São sim, olha. – Arregalei os olhos para Julia, e ela começou a rir.
— Castanho claro não é verde.
— Não é castanho claro, é mel.
— Mas não é verde!
— O Frederico é adotado.
— Credo Luiza!
— Adotado, bastardo… Qualquer coisa assim! – Julia me lançou um olhar de desaprovação.
— Mas ele é fofo!
— Pega ele para você! – Dei com os ombros.
— Bem que eu queria.
— Isso é nojento! – Fiz uma careta para ela.
— Você só fala isso porque ele é seu irmão.
— Nem que ele não fosse meu irmão, e fosse o ultimo garoto do universo, eu não acharia ele fofo.
— Perfeito para você só o Luan Santana.
— Claro, sem tirar, nem por! – Agora foi a vez de Julia revirar os olhos.
Voltamos para a sala, as últimas aulas passaram mais rápido, pois ficamos no laboratório. Biologia sempre foi uma das minhas matérias preferidas, e a única em que eu não ficava o tempo todo pensando no Luan.
Na saída Julia me acompanhou até em casa, pois morava um quarteirão depois.
— Quer entrar? – Perguntei.
— Não vai dar, mas eu volto mais tarde.
— Está bem, até mais então.
— Até mais.
Entrei em casa, joguei a mochila no canto do quarto, e fui direto para o computador. Verifiquei o site de Luan, ainda estava lá, dia dez em Araçatuba. Desde que soube da existência desse show, tenho olhado o site a cada dia, com o medo de que sumisse de lá, ou de tudo não passar de um sonho.
Fiquei o resto da tarde conversando com as meninas no Chat do Luan, vendo fotos e vídeos. E as horas passaram sem que eu percebesse.
Olhei no relógio do computador, eram quatro e cinquenta e cinco da tarde. Minha mãe chegaria em casa em aproximadamente vinte minutos. Desliguei o computador e corri para arrumar o quarto.
Meu quarto não era muito grande e a decoração era simples, havia apenas uma cama no centro, um guarda-roupa no canto, e um computador próximo ao pé da cama. Acima do computador havia três prateleiras, com alguns livros, ursos e fotos. Apenas uma das paredes era vermelha, com um painel de fotos branco ao centro, a onde havia muitas fotos do Luan. Nas paredes brancas havia apenas dois quadros de flores que a minha tia havia pintado, e um adesivo do Luan em tamanho real, do qual eu conversava todos os dias. Peguei a mochila que havia largado no canto e joguei dentro do guarda-roupa, junto com as roupas que estavam no chão e em cima da cama. Minha mãe vivia dizendo que sou muito desorganizada, mas eu discordo. Apenas acho que a minha organização é um pouco diferente, afinal, eu sei a onde estão todas as minhas coisas, e se alguém as mudasse de lugar, eu não encontraria mais nada.
Mas agora eu não poderia vacilar, ou meu final de semana seria cancelado. Arrumei o edredom e as almofadas na cama, e desci. Coloquei o CD do Luan para tocar no aparelho de som da sala, e fui para a cozinha lavar a louça do almoço que havia esquentado mais cedo.
Ainda estava arrumando a cozinha quando Frederico chegou e desceu direto para o quarto dele, que ficava no subsolo da casa, como ele quis. Lá embaixo havia três cômodos, um quarto, um banheiro, e uma pequena sala, a onde ainda estava a antiga bateria de Fred. Ele costumava usar aquele espaço para ensaiar com uma banda, mas felizmente ele havia parado desde que começou a trabalhar num laboratório no centro da cidade. Uma escada em espiral no canto da sala dava acesso até essa parte da casa, e tudo ali embaixo era decorado de acordo com o gosto do Fred, eu particularmente não gostava de nada, e não descia muito lá. Alguns minutos depois, Fred subiu desligando o aparelho de som da sala. Saí correndo da cozinha, ainda com as mãos cheias de espuma.
— Eu estou ouvindo! – Gritei.
— Eu não consigo estudar com esse garoto gritando!
— Você estudando? É alguma piada?
— Cala boca menina! – Peguei o controle do som, mas ele tomou da minha mão a força.
— Fecha a porta que você não escuta.
— Não, me irrita ficar ouvindo essa voz desafinada dele no meu ouvindo!
— A voz dele não é desafinada! – Joguei uma almofada nele.
— Esqueci que não pode falar da Vossa Majestade Luan Santana, que você fica toda nervosinha! – Ele zombou
— Fala o que você quiser. Você não chega nem aos pés dele!
— Que bom que eu estou longe de ser idiota como ele!
— Você já nasceu idiota Frederico.
— Só que mais idiota ainda é você, que idolatra alguém que não te dá à mínima importância.
— Você não sabe do que está falando! – Gritei.
— Então me prova o contrário. – Ele disse irônico.
— Eu não preciso te provar nada. Eu amo o Luan, e nada do que você me fale irá mudar isso!
— Amor? Não me faça rir!
— Sim, amor. Uma coisa que você não deve nem saber o que é!
— Larga de ser ridícula! Chama isso de amor? Isso é uma infantilidade. Você nem o conhece.
— Claro que eu conheço.
— Não conhece nada, você nunca nem falou com ele. Você conhece o que a mídia te passa. Me prova que ele é daquele jeito, me prova que ele é todo perfeito como a mídia mostra, como eles querem que vocês idiotas acreditem. – A raiva corria pelas minhas veias, eu podia nunca ter falado com o Luan, mas eu conhecia toda a sua história, todo o seu caráter, sua humildade e o seu carisma.
— O Luan não tem duas caras, ele é como mostram. E eu já disse que não preciso te provar nada.
— É claro, porque você não tem o que me provar. Eu duvido que ele seja assim o tempo inteiro. Para ele vocês não devem passar de um bando de babacas que ele tem que aturar, pois pagam o salário dele. – Tentei interromper. – Mas é claro que ele vai ser simpático, ganhando o tanto que ele ganha, até eu seria a pessoa mais doce do mundo!
— Você nunca seria uma pessoa doce Frederico. Nunca! – Praticamente atirei as palavras em cima dele.
— Eu não sei se tenho dó ou nojo de você. – Ele disse voltando para o quarto dele.
Voltei para a cozinha para terminar de lavar a louça, a minha vontade era quebrar todos os pratos do armário. Peguei meu MP4, coloquei os fones de ouvido e coloquei para tocar a voz mais perfeita que ouvidos já puderam ouvir, a voz que se destacava na multidão, aquela que tocava lá no fundo, no compasso do meu coração, e a única capaz de me acalmar naquela hora, a voz de Luan.
Quando minha chegou eu já havia arrumado a cozinha e estava assistindo televisão.
— A onde a senhora estava?
— Oi Luiza, meu dia foi ótimo e muito cansativo, e o seu? – Ela disse irônica enquanto tirava os sapatos.
— Você sabe que eu me preocupo.
— Se preocupa à toa. Tive uma reunião de última hora.
— Mãe! – Frederico subiu as escadas correndo. – Preciso de uma chuteira nova, essa semana começam os jogos intercolegiais.
— Mas será que ninguém nessa casa me diz pelo menos boa noite? Só sabem pedir as coisas!
— Boa noite! – Nós dois falamos juntos.
— Eu não pedi nada. – Acrescentei.
— Por enquanto! A propósito, seu pai ligou, ele quer saber a que horas você vai chegar lá, para ele te buscar na rodoviária.
— Eu ligo para ele depois.
— E Frederico a sua chuteira está ótima, não faz nem dois meses que você comprou.
— Dois meses? Mãe isso já tem mais de seis meses!
— Depois conversamos sobre isso.
— Mãe você comprou a passagem? – Perguntei enquanto ela voltava da cozinha e subia as escadas.
— Vou comprar amanhã.
— Você vai dar dinheiro para ela ir ver o show desse idiota, e não quer comprar minha chuteira? – Indagou Frederico que ainda estava parado na escada do quarto dele. Levantei do sofá.
— Ele não é idiota! – Disse ressaltando cada palavra, quase num grunhido.
— É um idiota, e você só vai dar mais dinheiro a ele. Como se ele precisasse, já está rico as custas de menininhas retardadas como você!
— Vocês querem parar com isso?! Todo dia a mesma coisa. – Minha mãe gritou do alto da escada.
— Deixa mãe, ele só está com inveja porque enquanto ele está aí implorando para a mamãe comprar uma chuteira, o Luan está ganhando milhões por noite, conquistados com o trabalho dele.
— Grande esforço ele faz! – Ele zombou.
— Não tenho culpa se ele faz o que gosta e ainda recebe por isso. – Disse subindo as escadas.
— Vou comer e dormir para ver se me pagam!
— Só que nem para isso você tem talento! – Disse me virando no alto da escada, e saindo para o meu quarto em seguida.
Não me abalava o que Frederico dizia, mas não conseguia ouvir ninguém falar mal de Luan e simplesmente ficar quieta. Era algo mais forte que eu, não aguentava ouvir pessoas que não o conhecem falando o que não sabem. As pessoas que o criticam conhecem um nome, não uma história. Elas não acompanham a sua vida, e em minha opinião, não tem o direito de julgar pelo pouco que sabem. Todo ídolo é perfeito aos olhos de uma fã, mas ainda assim ele é humano, e está sujeito a erros como qualquer pessoa comum. E pessoas medíocres tentando derrubá-lo sempre existirão, e a única coisa que elas prestarão atenção serão nos erros cometidos, por menores que eles sejam. Pois a luz própria que um ídolo carrega e transmite a todos a sua volta é capaz de causar inveja a pessoas que nunca sentirão a alegria que ele sente ao entrar no palco e ver o resultado de tudo que ele conquistou. E essas pessoas nunca serão capazes de despertar um sorriso verdadeiro, nem uma lágrima de emoção, sabendo que essa é a melhor prova de amor que eles poderiam receber.
Eu confio no meu ídolo, foi para ele que eu entreguei meu coração naquela noite. É ele uma das únicas pessoas que nunca me decepcionou. E que por mais longe que estivéssemos um do outro, no coração ele sempre esteve presente. E eu não preciso que ele me prove nada, não preciso ver todas as suas qualidades ou esconder todos os seus defeitos para amá-lo. Eu o amo com todas suas imperfeições, e é desse jeito que ele é perfeito para mim. Ele me faz feliz do jeito que é, e eu não quero que ele mude nunca. Pois é exatamente assim que ele vem sendo a luz que guia o meu caminho, sendo o motivo por trás de todos os meus sorrisos sinceros. Foi assim que eu o escolhi como ídolo, e é assim que eu me orgulho de quem ele é.
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