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História Diário de uma fã (versão Luan Santana) - Capítulo setenta e quatro


Escrita por: ThataBernachi

Capítulo 74 - Capítulo setenta e quatro


A sexta-feira amanheceu ensolarada, tinha tudo para ser um ótimo dia, mas eu estava com maus pressentimentos. Levantei mais cedo do que de costume, e conectei os cabos do computador de volta. Decidi que iria tentar o vestibular, e após algumas pesquisas, encontrei os sites necessários. 

Apesar de haver muitas outras universidades espalhadas pelo país, a única que me interessava era de Londrina, o problema era que o único motivo sempre havia sido Luan. E por mais que eu soubesse o quanto seria doloroso estar na mesma cidade que ele e não poder tocá-lo, eu decidi tentar, afinal, achava que as minhas chances de passar eram mínimas. Não por ser uma péssima aluna, pois sempre fui regular, mas sim por ser uma universidade estadual, e altamente disputada. 

Fiz a inscrição para as três universidades de Londrina que eu conhecia, a UEL, a PUCPR e a Unopar, e dei o comprovante para o Frederico pagar a taxa para mim, já que ele iria a tarde para o centro da cidade. 

O portão já estava quase fechando quando cheguei à escola, e por pouco não fui parar na direção. As primeiras aulas era a prova de filosofia, e todos olharam para mim quando entrei. Uns com curiosidade, outros com desdém, e eu percebi que novamente iria ser o assunto da escola, coisa que eu detestava. As primeiras aulas passaram devagar como todas as outras, a prova havia sido fácil, e a única coisa que me incomodava eram os olhares insistentes em mim. 

Decidi ficar dentro da sala com Guilherme no intervalo, e Julia foi se sentar conosco. Apesar do Gui não gostar dela – ele dizia que ela não era confiável - ele não disse nada. Eu não me importava, via que ela estava se esforçando para agradar, não era como se eu tivesse esquecido o que ela havia feito, mas sempre achei que as pessoas mereciam uma segunda chance de corrigir os seus erros, e apesar de tudo eu ainda a amava. 

Guilherme estava contando que havia se inscrito apenas no vestibular da PUCPR quando o resto da turma começou a entrar na sala de aula.

- Luiza? – Me virei para trás, pois estava de costas para a porta e vi Matheus parado atrás de mim.

- Oi Matheus. – Disse sorrindo educadamente.

- Está tudo bem com você?

- Está sim.

- Você tem um minuto, queria conversar com você.

- Claro, pode falar.

- Pode ser lá fora? É particular. – Ele disse cautelosamente.

- Tudo bem. – Concordei receosa. O acompanhei até fora da sala e ele parou próximo a um canteiro de rosas.

- Você faltou a semana inteira, e eu fiquei preocupado.

- Estava com alguns problemas. – Disse vagamente.

- Pensei em te ligar ou ir até a sua casa para ver se estava tudo bem.

- Está tudo bem, obrigada pela preocupação. – Disse tentando manter a minha voz amigável.

- Queria te perguntar algo.

- O que?

- É verdade que você está… grávida? – Ele hesitou em dizer a última palavra.

- Não. – Disse rindo. – Claro que não.

- Está todo mundo comentando. Luiza você sabe que pode confiar em mim, se você estiver mesmo grávida, eu vou estar aqui para te ajudar caso ele não quiser assumir a criança. – Estava óbvio que ele havia lido a matéria, e eu aquilo me deixava profundamente irritada.

- E você assumiria o filho de outra pessoa? – Perguntei intrigada.

- Não precisa ser como pai, pode ser como um amigo.

- Você diz isso agora, mas não é tão fácil como você pensa.

- Eu tenho certeza do que eu estou dizendo Luiza, eu te amo. E essa criança é parte de você, não teria como eu não amá-la. – Ele levou a mão até a minha barriga.

- Isso é muito lindo da sua parte Matheus, mas não há criança. – Disse tirando a mão dele.

- Não mesmo?

- Não. – Garanti e ele pareceu respirar aliviado.

- Você parece triste, ele te magoou?

- Não. – Ele continuou me analisando. – Ele não me magoaria nem se quisesse. – Eu sabia que essas palavras poderiam machucá-lo, mas eu precisava ser sincera. Ele pareceu estar numa discussão interna enquanto olhava para o chão.

- Tudo bem. – Ele disse por fim e me deu um beijo na testa. Voltei para a sala me sentindo péssima, pois sabia que todos estavam sendo melhores comigo do que eu realmente merecia.

- Olha só, achei que fosse proibido ficar namorando nos cantos da escola. – Marion disse assim que entrei. Respirei fundo e fiz o máximo para ignorá-la, indo direto para minha mesa. – Já não basta ter tentado dar o golpe do baú naquele cantorzinho de quinta. – Senti meu sangue ferver na veia e virei para ela cerrando os pulsos de raiva. Agora ele era cantorzinho de quinta?

- O que você quer Marion? – Falei entre os dentes. Ela sabia exatamente como me irritar. Era só falar mal de Luan, que eu perdia totalmente a razão.

- Nada. Só queria saber como é ser chutada pelo Luan Santana. – Ela disse rindo. A minha vontade era avançar no pescoço dela, mas eu precisava me controlar. Não vale a pena, não vale a pena. Eu repetia para mim mesma.

- Eu não tenho que te dar satisfação Marion. – Disse tentando me acalmar.

- Olha garota, você fez tudo o que quis até agora e eu aguentei calada. – Julia se intrometeu, e eu a olhei assustada. - Você ficou meses chamando a Luiza de mentirosa, sendo que a única mentirosa aqui é você.

- Eu não sei do que você está falando. – Marion disse mantendo o tom de voz calmo, mas podia ver nos seus olhos que ela estava se descontrolando.

- Mas eu sei. Vivia dizendo ser amiga da Bruna, sendo que ela nem te conhece. – Mal acreditava que Julia estava dizendo aquilo, e continuava olhando assustada.

- Ah que lindo. Quer dizer então que a caipira e a roceira fizeram as pazes. Vocês realmente se merecem. – Julia abriu a boca para revidar, mas eu falei primeiro.

- Eu não sei por que ainda perco meu tempo com você. – Disse me sentando na minha cadeira.

- E eu não sei o que esses idiotas vêem em você. – Ela falou indicando o Matheus com a mão, que parecia estar em choque no lugar. Mas então algo na mão de Marion me chamou a atenção, parecia tinta preta.

- Deve ser aquilo que nenhum deles viu em você Marion. – Julia rebateu. – Você ainda vai morrer sozinha, e intoxicada pelo próprio veneno. – Eu teria ficado impressionada com a resposta dela, se não tivesse concentrada na mancha de tinta na mão de Marion. 

Não era tinta normal como aquela que Frederico havia me sujado, era daquelas que não saem com água. Marion lançou um olhar fulminante para mim e para Julia e saiu da sala em seguida. E então, como um clarão repentino, uma ideia iluminou a minha mente. Era tinta de spray, claro, só podia ser. 

Apoiei o rosto nas mãos sobre a mesa. Como não havia pensado nisso antes? Quem sabia a onde eu morava e me odiava a ponto de fazer aquilo? Só podia ser ela. No fundo eu sabia que no primeiro momento em que vi aquela mancha na sua mão, algo dentro de mim me alertou.

- Não liga para ela. – Gui falou baixinho para mim, todo mundo sabe que ela é mentirosa.

- Não é isso Gui. – Disse levantando a cabeça. Realmente não estava mais me importante com o que Marion falava. Com Luan eu havia aprendido que o próprio universo conspira para que as pedras que te atiram, caia no chão antes mesmo de te atingir. E era isso que havia acontecido com Marion.

- O que foi então? – Ele perguntou confuso.

- Ontem quando eu voltei da sua casa, havia umas palavras horríveis escritas no muro da minha, e eu tenho certeza que se referiam a mim e ao Luan.

- E quem você acha que foi?

- Eu acho que pode ter sido a Marion. Você reparou na mancha preta na mão direita dela?

- Não. Mas eu vou tirar isso a limpo. – Ele disse se levantando.

- Não Gui, a onde você vai? – Tentei protestar, mas ele não me deu ouvidos. Pegou a bolsa de Marion na mesa dela e saiu da sala. 

Me debrucei na carteira, tentando reprimir a vontade de chorar. Estava arrependida de ter falado, sabia que Guilherme ia acabar se metendo em confusões por minha culpa. 

O sinal tocou e a professora entrou na sala, mas eu continuei com a cabeça baixa, e foi só quando ouvi a voz de Guilherme que levantei bruscamente da carteira.

- Onde você foi? – Perguntei assim que ele se sentou na carteira a minha frente.

- Na direção.

- Você ficou louco? Nós não temos provas! – Perguntei indignada.

- Agora temos. – Ele disse sorridente, me deixando confusa. – Você disse que viu as pichações assim que voltou da minha casa, então concluí que ela tivesse feito aquilo na saída da escola. Imaginei que ela fosse idiota o suficiente para ainda manter o spray dentro da bolsa, e eu estava certo. – Ele abriu um sorriso ainda maior.

- E o que houve? – Eu olhava perplexa para ele.

- Eu conversei bastante com a diretora, expus a minha opinião sobre vandalismo e sobre as responsabilidades da escola durante o trajeto até em casa, e a diretora pareceu me compreender perfeitamente. Chamou a Marion, ameaçou a entregar para o conselho tutelar, e ela acabou confessando.

- Ela confessou? – Perguntei boquiaberta e ele assentiu.

- Mas não quis dizer quem foi que a ajudou nisso.

- Como assim?

- Porque haviam dois sprays, ou seja, não foi só ela.

- E o que houve com ela?

- Três dias de suspensão. – Ele falou radiante.

- Gui, isso é…

- Ótimo. – Ele interrompeu.

- É assustador.

- Por quê? – Ele perguntou confuso.

- Você sabe como é a Marion, ela vai fazer um inferno nas nossas vidas quando ela voltar.

- Não vai, a diretora disse que mais uma reclamação e ela vai para o conselho tutelar.

- Ainda assim fico preocupada.

- Relaxa Luiza, não é você que acredita que os bons sempre vencem no final?

- Acontece que eu nem sei mais no que acreditar ultimamente Guilherme. – Disse pesarosamente, fazendo-o balançar a cabeça e virar para frente. – Ah, obrigada. – Falei baixinho.

- De nada. – Ele disse sorrindo. 

Passei as últimas aulas vendo as pessoas cochicharem as minhas costas, mas assim que cheguei em casa resolvi esquecer totalmente o assunto.

Luan me ligou no sábado a noite, disse que estava bem e que logo sairia do hospital. Eu fiquei feliz em poder ouvir sua voz, mas ao mesmo tempo parecia que a saudades iria me corroer por dentro, e eu sabia que ela só iria piorar com o tempo. 

Assim que desliguei o telefone, fiquei olhando para a parede por alguns minutos, Luan parecia ter mudado a sua decisão de nos afastarmos, e isso só tornava a minha cada vez mais difícil. Minha mãe me disse que meu pai iria almoçar conosco no domingo, e eu já estava esperando por isso. Na verdade, eu estranhei que ele não tivesse me ligado assim que as notícias começaram a se espalhar. Mas eu imaginei que ele tivesse conversado com a minha mãe e quisesse falar comigo pessoalmente. 

Assim que levantei de manhã fui organizar o meu quarto, para depois poder ajudar minha mãe na cozinha, já que ela não era muito confiável atrás de um fogão. Quando estava guardando as roupas dentro do guarda-roupa, derrubei sem querer uma caixa no chão. Percebi ser a minha caixa de recordações, e a coloquei impacientemente em cima da cama junto com os papéis que havia caído, detestava organizar as coisas e acabar fazendo mais bagunça. 

Após guardar todas as coisas espalhadas, sentei na cama para organizar a caixa, e senti meu coração apertar no peito. Ali estava todos os bilhetes de Luan, o cartão de aniversário, as pétalas de rosas e todas as outras lembranças que tinha dele. 

Olhei uma por uma me lembrando de cada momento maravilhoso que havia vivido ao lado dele e deixei as lágrimas de saudades rolarem pelo meu rosto. Então algo me chamou a atenção, no meio de tantas lembranças, em papel branco e timbrado, estava a carta do grupo de intercâmbio. A li novamente, sentindo a mesma emoção que senti ao recebê-la, parecia fazer tanto tempo desdém então, mas ela ainda estava no prazo. 

E foi ali, sentada naquela cama, segurando aquela carta com lágrimas nos olhos, que eu tive a melhor e a pior ideia da minha vida. A pior pela dor que me causava, e a melhor, pois talvez fosse a coisa mais sensata a se fazer. Eu iria para a França. Era a melhor maneira de cumprir a minha promessa e não mais machucar Luan. Era a única maneira de me manter afastada, de não vacilar em procurá-lo e nem ligar tarde da noite apenas para ouvir a sua voz. E talvez, só talvez, fosse a única maneira de amenizar pelo menos um pouco a dor. 

Guardei a caixa de volta no guarda-roupa e deixei a carta em cima da cama. Parte de mim dizia que era melhor eu pensar direito se era isso que eu realmente queria, mas a outra parte me lembrava de que se eu parasse para pensar, talvez não conseguisse fazer a coisa certa. 

Meu pai chegou por volta das dez e meia, me cumprimentou normalmente e foi nos ajudar na cozinha, era um alívio tê-lo por perto nessas horas. Eu não precisava perguntar o motivo da visita inesperada, pois estava óbvio no seu olhar cauteloso. Porém, nenhum de nós dois tocamos no assunto até o fim do almoço, que foi muito tranquilo. 

Era a primeira vez que via nós quatro reunidos a mesa depois de tanto tempo, e a sensação era maravilhosa. Não que eu ainda sonhasse com meus pais juntos de novo, pois sabia que eles eram mais felizes separados, mas ainda assim era ótimo ver a minha família reunida. Ficamos algum tempo conversando sobre assuntos do dia-a-dia, como os dois gatos a mais e a calopsita que meu pai havia adotado, e ele fez várias perguntas a respeito da escola e da namorada de Frederico. 

Assim que o almoço acabou eu fui lavar a louça e ele se ofereceu para ajudar. Minha mãe e meu irmão arrumaram uma desculpa e saíram da cozinha, obviamente sabendo o que aconteceria a seguir. Após algum tempo calados, ele resolveu quebrar o silêncio.

- Luly…

- Oi? – Disse inocentemente.

- Você tem alguma coisa para me contar? – Eu balancei a cabeça afirmativamente.

- Mas não sei por onde começar. – Admiti olhando-o aflita.

- Meu bem, você sabe que pode confiar em mim.

- Eu sei pai. – Disse abaixando a cabeça.

- O pai não vai brigar com você, o pai só quer conversar. – Ele falou se colocando na terceira pessoa como sempre fazia. Eu assenti e respirei fundo. Não sabia como colocar aquilo em palavras, mas tentei escolher as mais apropriadas.

- Pai… – Comecei ainda não sabendo o que falar. – Naquele show que eu fui em Araçatuba. Eu e o Luan… nós nos conhecemos. E desde então viemos mantendo uma espécie de relacionamento secreto.

- Durante todo esse tempo? – Ele perguntou calmamente e eu assenti de cabeça baixa. – E você está grávida? – Ele perguntou cauteloso, e eu dei risada nervosa.

- O senhor anda lendo muita fofoca.

- É mentira então?

- É pai. A maioria do que estão dizendo é mentira. – Disse confiante, mas ele não se surpreendeu, penso que não havia acreditado totalmente nisso.

- E esse rapaz, ele gosta de você? – Ele perguntou repentinamente, me pegando de surpresa.

- Gosta. – Disse baixinho.

- Filha, eu confio em você. E fico feliz por você estar com alguém que você goste, mas eu não quero que você me esconda as coisas. Não importa quem ele seja, eu vou querer conversar, eu vou querer conhecê-lo. Eu não falo por mal, eu sou seu pai e me preocupo com você. – Ele falou calmamente, me apertando o coração.

- Não é tão simples assim. – Disse colocando o prato que estava segurando em cima da pia. Eu sabia que estava sendo menos sincera com meu pai do que ele merecia.

- Então me diz o que está acontecendo. Eu quero saber de você, eu não quero ler nas capas das revistas. – Respirei fundo e enxuguei as mãos.

- É justo. - Admiti. - Mas prefiro que a mamãe esteja presente. Assim já falo com os dois juntos. – Disse e ele concordou. Minha mãe estava na sala assistindo televisão, mas desligou assim que entramos. – Cadê o Fred? – Perguntei.

- No quarto dele. – Ela respondeu enquanto meu pai sentava no sofá.

- Ok. – Fui até a escada em espiral no canto da sala e gritei meu irmão. – Fred! – Se eu ia conversar com a minha família, era melhor que fosse com todos.

- O que foi? – Ele perguntou aparecendo no fim da escada.

- Sobe aqui um minuto?

- O que houve? – Fred perguntou assustado, subindo as escadas as pressas.

- Nada. Senta ali um pouco, eu quero falar com vocês. – Disse indicando o sofá. Ele me olhou confuso, mas não questionou, e se sentou ao lado da minha mãe. – Eu já volto. – Disse para os três e subi a escada para o meu quarto. 

Entrei direto no banheiro e me debrucei na pia. Não sabia o que e nem como falaria, mas sabia que não dava mais para adiar essa conversa. É isso mesmo que você quer fazer? Perguntei para mim mesma em pensamento enquanto encarava o espelho. Mas eu já sabia a resposta, ficar sem Luan era a coisa que eu menos queria no mundo, mas era isso que eu tinha que fazer. Lavei o rosto com água gelada, enxugando rapidamente. Respirei fundo, peguei a carta do intercâmbio em cima da cama e desci as escadas. 

Os três estavam conversando baixinho, mas ficaram calados assim que me viram. Me sentei no sofá que ficava de frente para eles, e coloquei a carta no meu colo, ainda não sabendo o que falar.

- E então? – Frederico perguntou receoso.

- Vocês sabem que muitas coisas difíceis andam acontecendo nesses últimos dias. – Eu tentava escolher as palavras certas, mas ficava cada vez mais complicado. – Mas vocês são a minha família, merecem saber a verdade, e acima de tudo saber por mim. – Eles ainda me olhavam quietos, e eu sabia o quanto minha voz estava soando estranha, até mesmo para mim. Mas ainda assim resolvi continuar, eu devia sinceridade aquelas pessoas que sempre estiveram ao meu lado, e que estavam me ajudando tanto naquele momento. 

Comecei contando como conheci Luan, sobre como ele havia me salvado naquela noite em Araçatuba, e percebi o olhar da minha mãe para o meu pai, que se mexia inquietamente no sofá. Contei a eles resumidamente quase tudo, sobre os encontros na praça de madrugada, sobre São Paulo e a nossa decisão de manter o que tínhamos em segredo. 

As únicas coisas que tomei cuidado para esconder foi a viagem até o Rio de Janeiro e a de Paulínia, por dois motivos. O primeiro por não saber como falar, e segundo porque não queria colocar a Cristina e maus lençóis, não era justo com ela. No final falei a eles sobre a decisão de Luan minutos antes do acidente, e que ele havia acontecido por minha culpa. Assim que terminei de falar eles ainda me olhavam quietos e catatônicos.

- Filha, eu nem sei o que te dizer. Mas não quero que você faça as coisas escondido. Nós nunca te proibimos de namorar e sempre te demos motivos para confiar em nós. – Minha mãe indagou.

- Eu sei mãe, me desculpa. – Percebi que eles não haviam entendido a ultima parte da minha explicação, e resolvi ser mais clara. – Isso não vai mais acontecer, até porque eu tomei uma decisão. Eu quero ir para a França.

- O que? – Meu pai perguntou confuso.

- Ficou louca? – Frederico me olhava como se estivesse constatando isso, enquanto minha mãe parecia estar em dúvida se dava risada ou levava a sério.

- Não, não fiquei. Vocês se lembram do grupo de intercambio que eu faço parte há um algum tempo, não lembram? – Meu pai assentiu. – Lembra da carta que a senhora que ajudou a redigir mãe?

- Lembro.

- Eles responderam.

- Responderam?

- Sim. Eu fui aprovada para fazer intercambio em Provença, na França. – Levantei entregando a carta para eles, e me sentando um pouco mais perto dessa vez. Eles a analisaram por algum tempo, e então olharam para mim preocupados.

- Quantas coisas mais você está nos escondendo Luiza? – Minha mãe perguntou.

- Só isso. – Disse me esforçando para que meu tom de voz escondesse a realidade.

- Filha, você não está sendo um pouco precipitada? – Meu pai perguntou com a carta na mão.

- Isso é uma loucura. – Frederico que até então estava quieto, disse em tom de revolta.

- Não pai, eu pensei bastante sobre isso, eu quero ir. – Menti.

- Então por que só agora?

- Por que antes as minhas prioridades eram outras.

- E agora?

- Agora as coisas mudaram. – Disse respirando fundo.

- Luiza, se isso é por causa do…

- Não. – Interrompi as pressas.

- Querida, você e o Luan são jovens, ainda tem muito o que viver. Se vocês se gostam, vão conversar e tudo vai ficar bem. – Minha mãe disse.

- Eu sei mãe, não é por isso. – Quanto mais falava, menos acreditava em mim mesma. – É só um ano, eu acho que vai ser ótimo para o meu currículo e para a minha carreira profissional. – Disse sem emoção.

- É isso que vai te deixar feliz? – Meu pai perguntou.

- É isso que eu quero. – Disse tomando cuidado para não mentir mais uma vez. Meus pais se entreolharam por alguns segundos, provavelmente procurando alguma resposta ou que decisão tomar.

- Se é isso mesmo que você quer, eu não vou me opor. – Disse meu pai.

- Será uma ótima oportunidade. – Minha mãe disse balançando a cabeça enquanto olhava novamente a carta, e eu soube que aquele era um sim. Me obriguei a sorrir como se estivesse feliz com a notícia, e eles sorriram de volta. 

Levantei dando um beijo em cada um, pois sabia que aquela decisão havia sido difícil para os dois.

- Não fica assim, você terá um ano com o controle só para você. – Disse desarrumando o cabelo do Frederico, que ainda estava quieto olhando para o tapete.

- Você está cometendo uma idiotice. – Ele disse duramente. Dei com os ombros e voltei a me sentar. Talvez fosse uma idiotice, mas se fosse por amor, qualquer loucura é válida. 

E eu sei que faria qualquer coisa por Luan, sei que poderia até parar de respirar se para ele faltasse o ar. Mas sei principalmente que deixaria de existir, se ele não fosse feliz. 

Meu pai ficou por mais algum tempo em casa, e eu tentei me mostrar empolgada com o intercambio, mas logo ele se despediu dizendo que voltava em uma próxima oportunidade. Assim que ele foi embora, subi para o meu quarto e fechei a porta, tirando aquela armadura de garota forte e desmoronando na minha cama, podendo assim chorar sem que ninguém mais pudesse me ver.



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