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História Diário de uma fã (versão Luan Santana) - Capítulo oitenta e um


Escrita por: ThataBernachi

Capítulo 81 - Capítulo oitenta e um


A semana após o ano novo pareceu a mais conturbada a agonizante, eu já começara a me despedir das pessoas e arrumar as malas, e assim parecia que a realidade começou a sufocar dentro de mim. Na quarta-feira terminei de arrumar todas as coisas que iria levar à França, não queria ter que deixar tantas coisas, mas teria que fazer cabê-las em apenas duas malas. 

A única coisa boa é que havia encontrado muitos objetos que achava ter perdido, e ficava imaginando com seria meu novo quarto, e de que forma iria decorá-lo. Separei alguns dos pôsteres que tinha de Luan para pendurar nas paredes, e peguei alguns bilhetes e cartões da minha caixa de recordação. 

No meio do guarda-roupa, embaixo de um casaco, encontrei a jaqueta preta de Luan que havia ficado comigo naquela noite em Araçatuba. A abracei, respirando fundo para aspirar o seu cheiro, e apesar de não conter mais o seu perfume, era como se de certa forma eu o sentisse ali, fazendo com que eu não conseguisse segurar as lágrimas. 

Peguei todas as fotos do painel e mais algumas outras da estante da sala, me certificando de que não estava faltando ninguém ali. Senti as lágrimas escorrerem novamente pelo meu rosto ao retirar o papel que havia colado atrás da porta com a frase que Luan havia citado para mim no dia em que havíamos ido ao cinema. Tudo aquilo me causava uma saudade incontrolável, e me dei conta de que não era só eu que estava cheia de lembranças de Luan, mas tudo a minha volta também tinha um pouco dele. 

Enxuguei as lágrimas ainda com o coração apertado e terminei de separar meus livros preferidos. A última coisa que coloquei na mala foi a caixinha de música, do qual passava todas as noites escutando antes de dormir, e havia colocado-a em uma caixa cuidadosamente para não quebrar. 

No sábado tudo já estava pronto, eu só teria que esperar a segunda-feira chegar para poder deixar minha vida para trás, e quanto mais se aproximava, cada vez menos a França parecia realmente um sonho. 

Eu estava praticamente sozinha em casa, Frederico e Cristina estavam para Araçatuba para passar o final de semana na casa do meu pai, mas voltariam a tempo de se despedir de mim, e minha mãe havia passado o dia inteiro no fórum, como Bortolloto estava viajando desde o natal para a casa da família no Mato Grosso, ela logo iria dormir. Então no fim da tarde peguei meu diário e me sentei na calçada em frente ao portão, observando as pessoas passarem na rua.

Querido diário,

São covardes aqueles que não lutam por amor? Sei que na maioria das vezes sim, mas o que seria lutar por amor? Fazer de tudo para ficar com a pessoa amada ou fazer de tudo para que ela seja feliz? Ultimamente minha cabeça anda mais confusa do que nunca, é como se meus pensamentos estivessem todos bagunçados e eu estivesse me movendo apenas por escolhas que não sou eu que faço. 

A cada segundo parece que meu medo de estar fazendo a coisa errada aumenta cada vez mais, mas sei que isso é apenas a dor deixá-lo, pois tem de ser a coisa certa a se fazer. Mas se é a coisa certa, por que tem que ser tão difícil? Parece que nada mais tem coerência, nada mais faz sentido. Eu só espero que assim que cruzar as fronteiras do país tudo possa se resolver, que tudo possa se reorganizar dentro de mim, e que a saudade não me devore aos poucos, mais do que já está acontecendo.

Virei a folha do diário, e então um papel caiu no meu colo, fazendo meu coração palpitar, era o ingresso do show de Luan. É claro que eu não havia me esquecido dele, mas estava reprimindo a vontade de ir, pois sabia que não seria possível. E mesmo que fosse, já era tarde demais. 

Senti as lágrimas queimarem meu rosto enquanto imaginava como seria, imaginava o nervosismo e ansiedade de Luan e as surpresas que ele havia preparado. Me perguntava como seria o palco e cada detalhe que nele teria. Me lembrava dos shows que já havia ido e a saudade parecia transbordar dentro de mim. Naquele momento mais do que nunca eu queria poder ir naquele show, queria poder me despedir dele como fã, alguém que faria qualquer coisa só para ouvir o seu ídolo cantar. 

Ouvi passos vindo em minha direção e me virei vendo Guilherme.

- Oi. – Ele disse se sentando quase a minha frente na calçada.

- Oi Gui. – Disse enxugando as lágrimas.

- O que houve?

- Nada. – Tentei disfarçar, mas era praticamente impossível esconder algo de Guilherme.

- Ninguém chora por nada.

- É só saudades.

- De que? – Respirei fundo e entreguei o ingresso a ele.

- Ganhei da Cristina de natal.

– É hoje? – Ele perguntou analisando-o.

- Sim.

- E você não vai?

- Não.

- Por quê? – Ele parecia confuso.

- Não tem como, e além disso, não da mais tempo.

- Não fica assim Luiza. Se eu pudesse eu te levava, mas meu carro está sem placa ainda.

- Tudo bem Gui, não se preocupa, eu só estou um pouco triste, mas a culpa é minha mesmo.

- Não fica se culpando.

- Tudo bem. E você iria dirigir daqui a Campo Grande por mim? – Perguntei mudando de assunto.

- E por que não? Eu estou doido para dirigir na pista logo.

- Tem o carro do Fred, ele deixou aqui e foi com o da Cristina. – Disse numa súbita ideia maluca.

- E sua mãe deixaria nós irmos?

- Acho que não, a menos que fossemos escondido.

- Isso não é muita loucura? – Ele disse intrigado.

- É verdade. – Concordei cabisbaixa.

- Mas quer saber – Guilherme disse se levantando. – você já está indo embora mesmo, uma loucura a mais ou a menos não vai fazer diferença. Vamos fazer de tudo para você ir nesse show. – Ele disse como se fosse uma promessa.

- Você tem certeza que quer se meter nessa? – Eu perguntei intrigada, mas emocionada pelas palavras dele.

- Eu vou ficar um ano sem ver a minha melhor amiga, isso é o mínimo que posso fazer. – Ele disse. Me levantei num pulo do chão e abracei Guilherme, quase não me aguentando de felicidade.

- Obrigada Gui, nem sei como te agradecer. – Disse soltando-o.

- Não precisa, há algum tempo eu venho preocupado com você Luiza, acho que você precisa disso. Agora vamos pensar em um bom plano.

- Vamos. – Nos sentamos de volta na calçada e passamos alguns minutos bolando um plano perfeito para irmos ao show sem minha mãe desconfiar, e quando já estava quase tudo certo, Julia chegou nos surpreendendo.

- Oi. – Ela disse sorridente.

- Oi Ju. – Falei um pouco sem graça.

- O que vocês estão fazendo? – Ela perguntou. Olhei para Guilherme e ele fez sinal para que não falasse nada a ela, mas eu sabia que ela não iria desgrudar de nós tão fácil e precisávamos agir rápido.

- Senta ai. – Disse, e contei a ela todo o nosso plano. Julia pareceu bastante animada, dizendo que iria junto, e apesar de Guilherme ter ficado contrariado, ele concordou.

Assim que eles foram embora, eu subi até meu quarto, deixei o diário e parei no corredor para observar o que minha mãe estava fazendo. Pelo barulho da televisão conclui que ela estava acordada. 

Olhei no relógio e vi que era sete e quarenta da noite, como ela havia passado o dia inteiro no fórum, eu sabia que ela estava cansada e logo iria tomar o remédio e dormir. Parei sorrateiramente na porta do quarto da minha mãe e vi que ela estava sentada na cama já de camisola, lendo algum livro como sempre fazia antes de dormir.

- Mãe. – Chamei.

- Oi. – Ela respondeu sem tirar os olhos do livro.

- Tudo bem se eu sair com o Guilherme e a Julia hoje? – Perguntei tentando não gaguejar.

- Sair para onde?

- Não sei, eles estavam pensando em dar uma volta, é o meu último sábado aqui. – Eu era péssima com mentiras, então tentei não dar muitas informações.

- Está bem, mas não volta tarde. – Ela disse me olhando por cima dos óculos de leitura.

- Tudo bem. – Dei um meio sorriso, reprimindo a vontade de sair pulando pela casa. Fechei a porta e voltei para o meu quarto, me jogando na cama e dando gritinhos de felicidade abafados pelo travesseiro. Mas logo me lembrei que precisava me arrumar rápido e levantei a procura de alguma roupa para usar. 

Escolhi o vestido que minha mãe havia me dado de natal, uma sandália de salto preta e os coloquei em cima da cama. Tomei banho as pressas quase não me aguentando de ansiedade. Por sorte eu já havia secado meu cabelo mais cedo, então me troquei rapidamente, passei um pouco de maquiagem e perfume, coloquei o colar que Fred havia me dado, um brinco e uma pulseira dourada. Peguei uma bolsa de mão em tom pastel, e dentro coloquei o meu celular, minha câmera nova, dinheiro e o ingresso do show. E desci correndo para sala esperar por Guilherme. 

A cada minuto que passava o meu nervosismo aumentava, e eu andava de um lado para o outro mal acreditando que estava fazendo mesmo aquilo. Subi as escada umas duas vezes e na segunda percebi que a televisão do quarto da minha mãe já estava desligada, provavelmente ela já havia ido dormir. Quando estava voltando para sala ouvi meu celular tocar, era Guilherme. Rejeitei a ligação e corri para abrir a portão, o encontrando do lado de fora, elegantemente vestido em uma camisa xadrez.

- Xadrez? – Perguntei surpresa.

- É, minha mãe que me deu. – Ele deu com os ombros. – Está tudo certo?

- Está. Acho que ela dormiu.

- Ótimo.

- Tem certeza mesmo que quer fazer isso? – Perguntei receosa.

- Absoluta. – Sorri para ele em forma de agradecimento e então avistei Julia virando a esquina, usando um lindo vestido azul turquesa.

- Oi. – Ela cumprimentou.

- Está bonita. – Eu disse assim que ela se aproximou.

- Obrigada, você também. – Ela falou sorrindo.

- Vamos então. – Guilherme disse impaciente. Peguei as chaves e abri o portão da garagem. 

Como o carro do Fred estava na frente, teríamos que tirar primeiro o da minha mãe. Guilherme abriu o carro, soltando o freio de mão, e o empurramos devagar até o meio da rua. Eu tinha sorte de o meu bairro não ser muito movimentado, ou seriamos pegos pelos vizinhos. Quando estávamos retirando o carro do Frederico, Julia esbarrou em um dos vasos de flores artificiais que havia ali, derrubando-o no chão e nos assustando com o barulho.

- Julia! – Protestei baixinho.

- Desculpa. – Ela disse. Ficamos alguns segundos parados, receando que minha mãe tivesse acordado, mas parecia estar tudo normal. Após retirar o carro de Fred, guardamos de volta o carro da minha mãe na garagem, fechei cuidadosamente o portão, e empurramos o carro mais umas três casas, antes de finalmente entrarmos e seguirmos para Campo Grande. 

Meu coração batia acelerado e o frio na barriga parecia aumentar cada vez mais. Eu nunca havia cometido aquele tipo de loucura, mas sabia que valeria tudo para poder ver Luan. A viagem demoraria cerca de três horas, e se nenhum imprevisto acontecesse conseguiríamos chegar a tempo. Julia foi tagarelando por todo o caminho, irritando Guilherme que tentava se concentrar na estrada. Eu sabia que por mais que ele não quisesse demonstrar, o nervosismo dele por estar dirigindo pela primeira vez em um rodovia estava imenso, aumentando ainda mais a tensão do carro. 

Eu já conhecia muito bem aquela ansiedade que me invadia antes de cada show do Luan, ela gerava borboletas no estômago, fazia as mãos suarem e o coração acelerar quase a ponto de sair pela boca. Não era como se eu fosse encontrar qualquer pessoa, eu iria encontrar uma das pessoas mais importantes da minha vida, e o motivo pela qual eu acreditava que ainda valia a pena sonhar. Pensava que um dia talvez me acostumaria com aquela ansiedade em vê-lo, mas no fundo sabia que não importa em quanto shows eu fosse, em cada um deles ela aumentaria um pouco mais. 

Enquanto as horas passavam os quilômetros parecia nunca chegar ao fim, fazendo a minha agonia transbordar.

- Falta muito Gui? – Perguntei batendo o pé inquieta.

- Mais ou menos. – Ele disse olhando pelo retrovisor.

- Faz só duas horas que saímos. – Julia disse entediada. Mas é claro que eu sabia disso, eu olhava no relógio a cada cinco minutos com medo de não dar tempo.

- Não dá para ir um pouco mais rápido?

- Eu quero chegar vivo Luiza. – Guilherme protestou e eu fiz uma careta, sabia que ele estava certo. 

Tentei mexer no som do carro para me distrair, mas nada parecia tomar a minha atenção, todos os meus pensamentos estavam direcionados a Luan e a expectativa de vê-lo novamente em cima de um palco. 

O silencio se abateu dentro do carro, enquanto eu olhava pela janela. Mas toda aquela paisagem que tanto me prendia a atenção havia desaparecido, dando lugar apenas a escuridão, e a única coisa que se podia ver eram os carros que vinham da pista contrária. 

Estava mexendo no rádio a procura de uma música quando senti Guilherme enrijecer ao meu lado, olhei para frente e mesmo com dificuldade pude ver que estava havendo uma blitz policial há alguns quilômetros de distancia.

- E agora Gui? Tem algum problema? – Perguntei aflita.

- Que problema? – Julia quis saber.

- O documento do carro está ai? – Guilherme perguntou ignorando-a. Abri o porta luvas revirando os papéis e logo o encontrei.

- Está.

- Então acho que não. – Ele disse vacilante.

- Qual sua dúvida?

- Vocês são menores de idade.

- Será que ele pode… – Perguntei receosa.

- Acho que não, não sei. – Ele respondeu antes que eu terminasse de falar.

- Nós podemos ser presos? – Julia disse, e podia-se notar o desespero se formando na voz dela.

- Ninguém te pediu para vir junto! – Guilherme retrucou ainda irritado com ela.

- Calma, ninguém vai ser preso. – Eu disse tentando tranquilizá-los, por mais que meu coração estivesse a ponto de sair pela boca. 

Permanecemos em um silencio cortante até chegarmos ao local da blitz e um dos policiais nos mandarem encostar. Guilherme entregou os documentos do carro e ele os analisou por um longo tempo, olhando para cada um de nós em seguida. Ele pediu para que Gui ligasse os faróis, verificou o porta malas, perguntou para onde estávamos indo e após olhar novamente os documentos, nos liberou pedindo para que dirigíssemos com cuidado. 

Andamos mais alguns quilômetros em silêncio, como se o susto ainda não estivesse passado, a após sairmos do campo de visão do policial, Guilherme estacionou no acostamento e debruçou sobre o volante.

- O que foi Gui? – Perguntei preocupada.

- Minhas pernas estão tremendo. – Ele disse, e todos rimos nervosamente. Mas realmente era como se pudesse respirar de novo.

- Por um momento eu achei que ele fosse nos prender. – Julia disse.

- Eu já podia até ouvir minha mãe gritando comigo e me perguntando a onde foi parar o meu juízo. – Guilherme disse levantando a cabeça.

- Juízo! – Zombei. – Acho que ele nos abandonou essa noite.

- Então é melhor irmos antes que ele volte. – Guilherme disse ligando o carro novamente. 

Apesar da hora que passava cada vez mais rápido, os próximos quilômetros foram mais tranquilos, e até fomos conversando sobre assuntos aleatórios. Mas quando vi a placa de Campo Grande senti um frio na barriga como há muito tempo não sentia.



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