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História Diário de uma fã (versão Luan Santana) - Capítulo oitenta e quatro


Escrita por: ThataBernachi

Capítulo 84 - Capítulo oitenta e quatro


Chovia forte, e eu caminhava em direção a algum lugar desconhecido. Meu vestido rosa estava encharcado e eu não conseguia enxergar direito. Onde estava? Continuei andando, até ouvir uma voz há alguns metros dali. Alguém estava cantando, e por mais que estivesse distante, meu coração reconheceu ser a voz mais linda que meus ouvidos já puderam ouvir, aquela que tocava no fundo do meu coração, a voz de Luan. 

Comecei a andar mais rápido tentando segui-la, tentando saber de que direção ela vinha, pois a única coisa que queria era poder chegar até lá. Até que eu finalmente o encontrei. Luan estava no que parecia ser uma clareira, sentado na grama e com o violão no colo, tão lindamente concentrado que chegava a me tirar o ar. Ele estava vestido todo de branco, mas o que chamava a atenção era que tudo a sua volta estava seco e iluminado, como se o sol brilhasse apenas para ele. 

Eu tentei chegar mais perto, mas não conseguia me mover, era como se correntes invisíveis estivessem prendendo os meus pés, me impedindo de me aproximar. Por mais que tentasse eu não conseguia sair dali, não conseguia chegar até ele. Eu gritava tentando chamar a sua atenção, mas ele não me ouvia, ele continua cantando maravilhosamente, me deixando entorpecida. 

Sem que ao menos pudesse perceber, me sentei no chão, ainda sentindo a chuva forte sobre mim, e fiquei admirando-o, como se fosse a única coisa que eu precisava fazer na vida, como se nada mais tivesse importância, enquanto eu estivesse ali, olhando meu anjo cantar.

Acordei assustada, tinha a impressão de que havia caído da cama, mas continuava no mesmo lugar. As imagens do sonho passavam pela minha mente se misturando a realidade, confundindo ainda mais a minha cabeça. Tudo estava tão confuso e nebuloso quanto aquela chuva, e eu tinha medo de que aquele fosse o destino que eu havia escolhido para mim. 

Ouvi a porta do meu quarto se abrir, e me sentei na cama, sentindo os raios solares incomodarem os meus olhos. Julia se sentou a minha frente, me olhando receosa.

- Você está bem? - Perguntei.

- Estou, só um pouco estranha.

- Isso se chama ressaca.

- Eu dei muito trabalho? – Ela perguntou fazendo uma careta.

- Não, tudo bem. Foi uma ótima noite.

- Foi sim, o show foi lindo.

- E por que você bebeu? – Questionei.

- Não sei, eu apenas quis. – Ela disse, e eu sabia que estava me escondendo alguma coisa, mas resolvi não insistir. – Mas acho que não farei isso nunca mais, pelo menos não nessa vida! – E então nós duas rimos.

- Minha mãe já acordou?

- Acordou, já é bem tarde Luiza, nós que dormimos demais. – Olhei no relógio da parede me assustando, era quase três horas.

- O Fred e a Cris chegaram?

- Ainda não. Eu vou para casa, minha mãe deve estar surtando, mais tarde eu volto.

- Tudo bem, até mais. – Ela balançou a cabeça e saiu do quarto. 

Levantei e fui cambaleando até o banheiro, aquele era meu último dia no Brasil, haviam muitos coisas que eu ainda queria fazer. Minha mãe fez varias perguntas sobre onde havíamos ido e que hora tínhamos chegado, mas no fim pareceu aceitar as minhas explicações. É claro que ela poderia desconfiar que tivéssemos chegado tarde, mas nunca imaginaria o quão longe eu havia ido. Eu me sentia mal em ter que mentir, mas não queria deixá-la preocupada. Prometi que um dia contaria a ela todas aquelas minhas aventuras atrás de Luan, mas eu sentia que por mais que já estivesse casada e com filhos, ela ainda me deixaria de castigo. 

Senti um aperto no peito ao ter que retirar a pulseira do show do meu braço e guardá-la na minha caixa de recordações, como prova concreta de um dos dias que eu nunca tiraria da memória. No final da tarde já estava com tudo pronto e minhas malas já estavam encostadas na parede do meu quarto. Eu partiria naquela noite, e com muito esforço havia conseguido convencer meus pais a me deixarem ir sozinha até o aeroporto, não queria ter que me despedir de ninguém lá, não achava que seria forte o suficiente para isso. 

Como meu pai, Fred e Cristina estavam demorando a chegar, disse a minha mãe que daria uma rápida volta pelo bairro, e caminhei até a pequena praça que me trazia tantas lembranças. Ao chegar lá senti meu coração acelerar no meu peito ao ver aquele banco a onde havia passado momentos felizes com Luan. Me sentei ali e fiquei perdida em pensamentos, em memórias, em saudades, e então aos poucos as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. 

Ali sentada pude ver a parede do mercadinho a onde nossos nomes ainda estavam rabiscados em preto e vermelho, e um sorriso se formou no meu rosto ao me lembrar daquele dia, mas que logo se transformou em dor por saber que ele nunca mais iria se repetir. Havia tanto de Luan naquela praça que eu quase podia sentir o seu cheiro no ar. Era como se aquele lugar fosse feito apenas para nós dois, nosso espaço, nosso refúgio, destinado a guardar para sempre a nossa história consigo. 

Depois de algum tempo, me levantei procurando pela torneira, enchendo de água o pequeno regador que levava na mão, e me sentando ao lado daquele canteiro tão conhecido, para regar pela última vez a nossa plantinha do amor. Ela já havia crescido alguns centímetros e eu passava o tempo imaginando que dali há alguns anos ela seria um lindo ipê rosa, presenciando o amor de muitos casais naquela praça. 

Não sei quanto tempo passei ali, conversando com aquela pequena árvore sem me importar que me chamassem de louca por isso, mas já estava anoitecendo quando voltei para casa, deixando ali naquela praça um pedaço a mais do meu coração.

Assim que entrei pelo portão notei que tudo estava escuro, e receei que todos tivessem saído e me deixado para trás, mas quando atravessei a porta fui pega por um coro de “Surpresa!”, me deixando imóvel no lugar.

- Eu… vocês… nossa! – Tentei dizer alguma coisa assim que as luzes se acenderam, mas não conseguia pronunciar nenhuma palavra que descrevesse o que eu estava sentindo. 

Havia balões espalhados por toda a sala e uma enorme faixa me desejando boa viagem em letras grande e coloridas estava pregada na parede.

- Não podíamos deixar você ir sem uma festa de despedidas! – Cristina disse me abraçando.

- Eu nem sei o que dizer Cris, está lindo. Obrigada! – Além da minha família, também estava ali Guilherme, Julia, Makelly e Larissa, que me surpreenderam ao me dar um pequeno embrulho para abrir.

- Vocês não precisam me dar presentes! – Protestei.

- Não é um presente, é uma lembrança. – Makelly disse.  

Abri o embrulho, tomando cuidado para não rasgar o papel cor-de-rosa, e nele encontrei um porta-retrato todo enfeitado, com a foto que nós três havíamos tirado no último dia de aula do curso de Francês.

- É lindo, obrigada! – Disse abraçando as duas de uma vez só.

- Para você colocar no seu quarto em Provença. – Larissa falou sorrindo, enquanto eu tentava segurar as lágrimas com toda aquela emoção. 

Passei as últimas horas que tinha no Brasil observando a todos a minha volta, eles haviam comprado salgadinhos e refrigerantes e diziam que ia ficar comigo até a hora de partir. Eu observava cada palavra, cada movimento, cada mínimo detalhe, queria poder gravar tudo em mim, para levá-los para a minha nova vida. Eu sei que teria novos ares, um novo país, uma nova cidade e uma nova casa, mas eu ainda seria a mesma Luiza, contendo os mesmos sentimentos e o mesmo coração. Algumas pessoas precisam de mudanças na sua vida para se sentirem felizes, mas eu só queria poder continuar a minha no mesmo lugar. 

Makelly e Larissa foram embora mais cedo, mas me fizeram garantir que nos encontraríamos no meio do ano em París, como havíamos combinado. Estava deitada no sofá com a cabeça no colo do meu pai quando minha mãe me alertou que já estava na hora de me arrumar, levantei um pouco sonolenta e fui até o meu quarto. Assim que a água quente do chuveiro caiu sobre mim, todas as idéias pareceram retornar novamente para a minha cabeça, eu estava indo embora. 

Eu sentia uma pontada de desespero começar a se formar em mim, do qual eu me esforçava para reprimir. Comecei a olhar cada detalhe do meu banheiro, os azulejos brancos, o tapete rosa, a pia que vivia sempre bagunçada, eu não o veria por um longo tempo e nunca poderia imaginar que um dia sentiria saudades dele. 

A saia florida e a blusa branca que havia separado para a viagem já estavam em cima da cama, e enquanto me vestia todos os detalhes do meu quarto parecia me deprimir um pouco mais. Ele estava bem mais organizado do que o normal, mas ainda assim era tudo tão meu, era o meu refúgio e a onde passava a maior parte do dia. Por mais que tivesse outro quarto em Provença, sei que não seria a mesma coisa, seriam objetos diferentes, histórias diferentes e sentimentos diferentes.

- Quer ajuda? – Julia perguntou ao entrar no quarto no momento em que eu estava arrumando o cabelo.

- Não precisa, já esta tudo pronto.

- Sua mãe pediu para falar que a van já está chegando.

- Obrigada.

- Parece até que você está se arrumando para a guerra. – Ela falou me olhando pelo espelho e eu dei com os ombros. Sabia disfarçar muito mal minhas emoções, mas talvez fosse realmente isso que estava havendo, uma guerra. Não aquelas militares, mas uma guerra de sentimentos e confusões dentro de mim. 

Meu pai já havia levado as minhas malas para baixo e pela janela eu pude ver a van que me levaria até Campo Grande estacionar no portão da minha casa. Lá pegaria um vôo até São Paulo, e de São Paulo até a França. Peguei uma bolsa que havia separado pra levar na mão, um casaco caso sentisse frio, dei uma última olhada no meu quarto, respirei fundo e sai. 

Desci as escadas lentamente, deslizando as mãos pelo corrimão e observando todos se levantarem ao me ver. Ao chegar lá embaixo olhei demoradamente toda a sala e o pedaço da cozinha que conseguia enxergar pela porta, sentiria tanta falta daquilo que mal conseguia raciocinar. Parei em frente ao pequeno aparador no canto, a onde estavam meus dois peixinhos de aquário e mexi no vidro por algum tempo.

- Cuida bem deles. – Disse para minha mãe. – Não esquece que tem que dar a ração duas vezes ao dia.

- Não se preocupa, eu não vou esquecer. – Balancei a cabeça e me virei para olhar a todos aqueles rostos que me encaravam na sala. Chegara a hora que eu tanto temia, a hora de me despedir.

- Cadê o Fred? – Perguntei confusa não o vendo ali.

- Parece que ele se lembrou de alguma coisa e foi no quarto olhar. – Cristina respondeu.

- Frederico, sua irmã já está indo. – Meu pai gritou do topo da escada. 

Dei uma última olhada na sala, os quadros na parede, os balões coloridos, a faixa de boa viagem, e virei para ir em direção a porta antes que começasse a chorar, mas assim que saí ouvi Fred me gritando enquanto subia os degraus.

- Luiza, Luiza! – Ele me chamava afobado enquanto corria até mim. – Você passou!

- Passei onde? – Perguntei sem entender.

- No vestibular da UEL, saiu a terceira chamada.

- Eu pass… passei? – Mal podia acreditar no que ele estava me falando. Oh céus, eu passei no vestibular da Universidade Estatual de Londrina! – Tem certeza?

- Tenho, eu acabei de ver. Você não precisa mais ir, pode ficar e estudar medicina. – Minha cabeça dava voltas e eu não conseguia raciocinar direito. Eu sabia que aquela era uma notícia ótima, mas eu precisava seguir em frente.

- Isso é maravilhoso Fred, mas eu não posso, eu tenho que ir. – Me forcei a falar.

- Você não tem Luiza, desisti dessa ideia idiota. – Ele disse indignado enquanto todos se mantinham quietos. 

Olhei para meu pai ao meu lado e ele colocou a mão no meu ombro.

- Você é quem sabe, se quiser desistir ainda da tempo. – Olhei para o portão aberto, a van me esperando do lado de fora, as minhas malas no chão e sabia que já tinha tomado uma decisão.

- Não, eu vou. – Disse indo em direção ao portão com medo de fraquejar. Meu pai colocou minhas malas na van e eu me virei para me despedir de todos. Abracei a Cristina que já estava em prantos e ela me apertou forte.

- Me escreve, toda semana.

- Escrevo. – Prometi.

- Vai com Deus. – Ela me disse. Dei um beijo no seu rosto e me virei para Frederico.

- É isso então pimentinha?

- É Fred. – Falei ao abraçá-lo. – Daqui um ano eu estou de volta.

- Se cuida.

- Eu vou sentir saudades. – Julia disse ao me abraçar.

- Eu também.

- Eu sei que não sou uma amiga… – Ele começou a falar, mas eu a interrompi colocando o dedo sobre a sua boca.

- Não, esquece isso. – Pedi.

- Obrigada, por tudo. – Ela disse enxugando as lágrimas. 

Abracei Guilherme fazendo um esforço incalculável para não chorar também, mas eu precisava ser forte, por eles.

- Nós vamos nos falar, não vamos? – Ele perguntou.

- Todos os dias Gui. – Meus pais me esperavam na porta da van e eu fui até eles sentindo meu coração despedaçar.

- O Ricardo não conseguiu voltar a tempo para se despedir de você, mas te desejou boa viagem. – Minha mãe disse.

- Está bem. – Eu não me importava tanto assim em não me despedir de Bortolotto, depois de todo aquele tempo nós ainda não nos dávamos muito bem.

- Me liga assim que chegar, não esquece. – Ela lembrou arrumando meu cabelo e minha blusa.

- Ligo.

- Vai com Deus meu amor. – Ela disse me abraçando.

- Não chora mãe. – Pedi, vendo as lágrimas nos seus olhos, e elas me causavam uma dor imensa. – Logo eu estou de volta.

- Eu sei querida, eu sei.

- Vai com Deus meu bem. – Meu pai falou me abraçando. – Se cuida direitinho, e não esquece de ligar.

- Está bem pai. – Dei um beijo no seu rosto e apertei a mão da minha mãe. – Tchau. – Disse para todos eles e entrei na van, acenando da janela assim que a porta se fechou. 

Olhei pela última vez para a frente da minha casa e para todas aquelas pessoas que tanto amava e que estava deixando para trás. Assim que o motorista virou a esquina senti todo o meu mundo desabar em cima de mim, e todos aqueles sentimentos que estava sufocando vieram a tona, me fazendo desmoronar. 

Havia tentado ser forte até aquele momento, mas ali no escuro daquele banco tudo parecia frio e doloroso e eu chorava baixinho para ninguém ouvir. Passei quase todo o caminho com os olhos fechados tentando não pensar em tudo aquilo que me causava dor, mas como sempre meus pensamentos havia ido até Luan sem que eu pudesse perceber. Me lembrava daquele último abraço, as ultimas palavras e a cratera no meu peito parecia arder em chamas. 

Já de manhã comecei a observar a paisagem pela janela, em menos de vinte e quatro horas estaria em outro país, em uma nova vida, e queria poder me lembrar de cada detalhe do Brasil, aspirando até mesmo o cheiro tão peculiar da natureza que havia ali. 

Ao chegar em Campo Grande senti uma dor cortante atravessar meu peito ao olhar aquela mesma placa, sabendo que dessa vez meu destino seria outro e que não estava indo ao seu encontro. Mas aquela altura já me faltava lágrimas para chorar, e a única coisa que me restava era aceitar a decisão que havia tomado para a minha vida. 

Meu pai havia conversado com o motorista da van, que me deixou no aeroporto e me ajudou com as malas. Pela primeira vez eu teria que resolver toda a parte burocrática sozinha, mas sabia que aquele era o primeiro passo para a minha nova vida e o meu crescimento pessoal. Respirei fundo, enxuguei o meu rosto que ainda estava molhado e me encaminhei até o balcão para fazer o check in.



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