História Diário de uma Pop Star ⭐ - Pela sua irmã

- Chegamos. - falei, olhando para Eliza e Xaveco, quando estávamos perto da Raquel, escondidos atrás de uns arbustos. Xaveco olhou para a Eliza que estava muito concentrada no momento com o seu binóculo.

- Você está ridícula - ele falou, rindo. Ela nem retrucou, talvez nem tenha ouvido.

- Nosso alvo está indo para a cozinha. - Eliza se pronunciou. Depois de um tempo a Raquel volta para onde estávamos. - Nosso alvo está comendo uma maçã. Lembrei que estou com fome - ela tirou o binóculo e olhou para o Xaveco, depois pra mim. - Quero comer!!

- Ah, não, Eliza! Você disse que ia se comportar! - Xaveco revirou os olhos. - Daqui a pouco a gente compra comida, okay? Ou vai estragar todo o plano...

- Gente, gente - chamei. - Por que a gente tá escondido se viemos falar com ela? Não é mais fácil ir até lá? - eles pararam por um minuto, sem falar nada.

- Faz sentido. - Xaveco concluiu.

- Certo, vamos. - olhei para a Eliza. - Seja discreta. - ela concordou com a cabeça.

Saímos daqueles arbustos e fomos até ela, finalmemte.

- Raquel... - Xaveco foi o primeiro a falar mas não terminou. Ela se voltou para ele e ficou esperando ele concluir. Confesso que ela pareceu surpresa, mais do que o normal. E quando viu a Eliza então...

- Eu... Nós queremos...

- Você é nossa irmã? - Eliza falou de uma vez.

- Eliza!! - Xaveco bateu a mão na própria testa. Eu queria sacudir a Eliza até ela desfalar aquilo. Raquel ficou branca, depois roxa, depois azul, depois rosa.

- O quê... - ela nem conseguiu terminar uma frase, ficou encarando a Eliza de olhos bem abertos, sem acreditar. Voltou a olhar o Xaveco, buscando explicações. - ... Do quê sua irmã tá falando?

- Como sabe que ele é meu irmão? - Eliza veio com mais uma.

Me baixei para ficar da altura dela e sussurrei:

- Lembra do que falamos sobre discrição, fofinha?

- Eu nem sei o que é isso - ela respondeu sussurrando também. Levantei, voltei a ser do meu tamanho e me levantei os braços em rendição.

- Eu desisto! - falei.

- Raquel, nós desconfiamos que você é minha irmã, é isso - Xaveco se pronunciou. - Vai, fala alguma coisa. É verdade? - ela continuou sem dizer uma só palavra.

- Ô garota, fala logo de uma vez! - ela me olhou com um olhar de desdém. Continuou muda. E minha raiva só aumentou aí. - Se eles são seus irmãos mesmo, se você tem o mínimo de consideração, fala, garota! Fala! Eles precisam de você!

- São! - ela se levantou de uma vez depois de quase gritar isso pra mim. Nem cogitou a possibilidade de olhar para eles porque devia saber a cara de decepção que eles estavam, afinal, foram abandonados. - Mas o que você tem a ver com isso? - ela me encarou bem dessa vez antes de continuar - É só mais uma menininha fútil, só se importa com quantos likes teve na última foto e se seu vídeo está nos em alta no YouTube. Não sabe nada sobre a vida, sobre problemas, sobre família - ela parou um pouco para respirar. - ...sobre amor.

Ela ameaçou continuar, mas dessa vez eu não deixei.

- Amor? Você quer falar sobre amor? - Xaveco tentou me parar falando que não valia a pena mas eu tinha muito o que falar para aquela garota há muito tempo. - Enquanto você abandonava sua família, se escondia em um reality que te proporciona dinheiro e até fama, enquanto seus irmãos tinham que cuidar um do outro sozinhos e ainda da avó doente, a menina fútil aqui ajudava eles a encontrar você. Mas não porque essa menina gostava de você, é só porque a avó deles, ou melhor, a sua avó, faleceu. E você sabe disso não, sabe? Você foi no velório dela, não é? - ela se desconcertou com o que falei, mas ainda tentou encontrar uma desculpa.

- S-Sim, mas eu não...

- Ah, então você sabia, certo? E em algum momento passou por essa sua cabeça egoísta que sem a avó eles não tem nenhum responsável legal? Que eles podem ir para um orfanato? E pior, orfanatos diferentes!? - dessa vez, ela nem tentou responder. Dessa vez, ela não tinha esse direito. - Claro que não.

- Denise... - senti a mão do Xaveco no meu ombro. Ele estava tremendo. - Chega... Vamos embora!

- Xaveco! Eu não abandonei vocês! - Raquel foi ignorada por ele. Xaveco nem a olhou, apenas pegou a Eliza no colo e deu as costas. A Raquel se apressou e repetiu o que ele fez comigo, pegando em seu ombro. Ele tirou a mão dela bruscamente e se virou.

- Não encosta - a voz do Xaveco soou o mais frio possível. Ele finalmente a olhou. - Você não vai nos ajudar. E não é só porque você não liga para nossa família, muito menos para nós dois, é porque eu não quero. Não quero sua ajuda, não quero suas explicações, não quero te ver nunca mais. Se puder nunca mais aparecer nesse reality eu te agradeceria. Sabe, só pra não correr o risco de ligar a tv sem querer e me deparar com você. Seria a única vez na minha vida que eu te agradeceria. - ele fechou os olhos e os apertou forte. Respirou fundo, se virou e dessa vez realmente foi embora. A Eliza foi junto, chorando.

- A culpa é sua. - Raquel concluiu. - Toda sua. Sempre é você. Sempre destrói nossa família. - ela sussurrou, não sei se pra mim ou pra ela mesma. - Sempre destrói minha vida.

- Você conseguiu fazer isso sozinha, não me dê os méritos.

- A culpa não é minha! Ele nem deixou eu me explicar!

- Então muda, caramba! Faz alguma coisa! Vai deixar eles irem embora? Vai deixar por isso mesmo? - ela revirou os olhos.

- Vou. Não tem o que fazer. Você fala isso porque não sabe de nada. - ela chegou mais perto. - Eu fiz isso porque era o melhor a ser feito. Porque eu amo eles. E eu vou continuar seguindo meu plano, vou me vingar de você e infelizmente isso vai custar meus irmãos em um orfanato, porque eu não vou pegar a guarda deles. Eu tenho uma vida sem eles agora.

- Acontece que eu também amo eles. E não vou deixar alguém como você impedir a felicidade daqueles dois. Nem que pra isso meu nome tenha que estar estampados nas próximas manchetes de blogs de fofoca: "Denise vaza áudio onde participante de reality confessa que é irmã de dois jovens menores de idade e não quer assumir a guarda. Ah, ela também quer se vingar da cantora e colocar os irmãos em orfanato!".

- Você tava gravando!? - ela tenta pegar meu celular do bolso bruscamente, mas eu dou uns passos para trás por reflexo. - Eu tenho as fotos de você pegando meu pai, garota nojenta! E eu converso muito com o Zeca, sabia? O toscão já deixou escapar que o namoro de vocês é puro marketing. E se o seu nome acabar nos blogs por outro motivo? Imagina: "Denise é traída por Zeca com participante de reality, mas nem deve ser considerado traição, afinal era tudo marketing".

- Ah, então você consegue o que quer sendo baixa. Foi assim quando você decidiu usar um nome falso também, Raquel? Ou eu posso te chamar de Xabéu mesmo?

- Como você...

- Eu vi nos seus documentos que estavam dentro da caixa branca. A mesma que estavam as fotos que você tirou e eu queimei. - o canto da minha subiu, num sorriso.

- Você venceu. Eu vou embora.

- Se quiser levar o Zeca também eu nem vou reclamar. Aquele papo de ficar com ele era sério mesmo? Se for eu posso até te dar um abraço.

- Depende. O papo de amar o Xaveco era verdade? - ela sorriu ironicamente.

- Esquece o abraço, já te odeio de novo. Vai fazer suas malas. - ela riu e ficou séria de novo.

- Te odeio também mas posso ficar com o Zeca se você der um jeito no bv do Xaveco. - ela deu uma batidinha no meu ombro e riu antes de ir embora.

Quando nem vilões me levam a sério...

***

- Denise chegou, babies! - entrei no carro depois dos dois me esperarem lá por dois séculos. - Fiquem tranquilos. Resolvi tudo sem nem precisar arrancar cabelos e etc. Ela parece ser gente boa até.

Depois de explicar tudo para os dois, e com todos os detalhes como a Eliza insistiu, chegamos na casa deles. Deci para levá-los até a porta, mas não sem antes contar o final da história.

- Licença, Eliza - peguei ela no colo para não precisar ficar abaixada e tampei seus olhos com minha mão. Com a outra mão, puxei o Xaveco pela camisa para um beijo demorado. Mas nem tanto porque a Eliza estava rindo atrás da minha mão. Confesso que se ela não estivesse ali poderia ter demorado mais. Depois que eu o soltei, ele meio que não sabia se me olhava, se sorria, se enfiava a cabeça no chão, se corria, se me batia por ter feito isso com a Eliza ali. Ele não me disse nada disso mas imaginei. - Isso foi pela sua irmã. - Eliza não parou de rir. - As duas.