História Diário de Viagem de uma Brasileira na K0R34 - O dinheiro nunca dorme

— Eu cansei dessa vida — minha melhor amiga falou, pegando o notebook e o abrindo de modo agressivo. 

— Se fosse só você, o mundo seria bem melhor — afirmei me jogando na minha cama e olhando pro maravilhoso teto branco acima de mim. Escutei aquela praga digitando que nem louca no teclado. — Que cê tá fazendo agora? 

— Eu tô falando sério, Rachel, eu cansei dessa vida, eu cansei da escola, eu cansei dos meus pais, eu vou pra Coreia. 

— Mano, você nem fala coreano, cê é trouxa? 

— E é por isso que eu comprei ISSO! — gritou, jogando em mim um enorme livro amarelado. 

— "Coreano para leigos" — declarei. Wow, ela estava realmente seria nisso. — Você acha que aprende até sua "viagem"? 

— Esse livro não é pra mim, é pra você — ela falou. — Você sabe o básico do coreano e sabe ler Hangul, vai aprender essa merda bem mais rápido que eu e vai me ensinar de um modo ainda mais para leigos. 

— Agora tudo faz sentido — declarei ao olhar pra minha parede. — Mas eu não tenho dinheiro pra ir pra Coreia, você quer que eu vá como? De busão? — espiei o computador e percebi que aquela retardada estava realmente em um site de passagens de ônibus. Bati em minha própria testa. 

— De qualquer jeito — ela disse, fechando a aba e abrindo outra pra passagens de avião. — Você senhorita inteligente bolsista pobre não tem dinheiro, mas eu tenho e é isso que importa. 

A porta do meu quarto foi aberta — Quem vem lá? — perguntei com voz zoada. 

— S-sou só eu e a Giulia — Satoshi, nosso amigo asiático falou, chegando com uma menina mais alta que no caso era brasileira que nem eu e a Rebeca. 

— Que vocês tão fazendo? — Giu perguntou. 

— O cambada, é o seguinte: Eu e a Rachel tamo fugindo pra Coreia, quem quiser ir se pronuncia agora ou calem-se para sempre. 

— Caralho, vocês vão pra Coreia? Já tô lá, compra minha passagem aí — Giulia falou, colando na morena do computador. — Vou chamar a Maira e a Isa também, aguenta aí. 

— Eu não sei se meus pais vão deixar — o menino que era sempre mais correto declarou com a voz baixa. 

— Vão sim, sua mãe é a Rachel e eu acabo de te comprar pelo mercado negro — Rebeca disse. 

— Que??! — perguntou assustado enquanto me olhava. Eu dei de ombros. Não é como se ele precisasse saber que estava para pré venda no mercado negro. Que? Nada. 

— Giulia, recebi sua mensagem — Maira falou brotando. 

— Menina, tu veio do inferno? — Beka falou assustada com a mão no peito.

— Lógico, você acha que demônios vem da onde? 

— Justo — declarei. — Giulia, não esquece de chamar a Naju. 

— Já tô chamando — ela falou. — E vê se pega lugares na executiva Rebeca, porque classe econômica não é pra mim não. 

— Pó dexa. 

— Gente, eu não tenho esse dinheiro não seus bando de ricos — falei enquanto foliava o livro de coreano. — a gente vai de econômica pra não dar gasto pra Beka. 

— Rachel, eu sou rica, eu faço a poha que eu quiser e nois vai de executiva sim — ela declarou clicando continuando a teclar. 

— Alguém disse fugir pra Coreia? — Isadora perguntou chegando do nada no meu quarto. 

— Meio atrasada, mas sim, fugir pra Coreia — Maira falou. — Já tamo comprando as passagens. 

— A gente vai de avião?? Ah merda, não tenho essa grana. 

— Malditos bolsistas — Rebeca resmungou. — Eu pago, caralho. 

— Cheguei nessa porra — Najua falou, abrindo a porta. — Eu vou também, quando a gente viaja? 

— Pelas passagens que a Rebeca comprou, a gente vai daqui três dias — Giulia disse. 

— Acabei de comprar uma casa gigante com uma vista do caralho, aguardem que minha vida tumblr está prestes a começar — Rebeca falou. — A casa ja vem mobiliada e já mandei as pessoas que trabalham lá começarem a arrumar. 

— Mas são quatro horas da manhã lá — Satoshi falou, olhando em seu relógio do celular. 

— O dinheiro nunca dorme. 

— Certo, mas Rebeca, o que a gente vai fazer por lá? — Satoshi perguntou. — Tipo, a gente vai estudar lá, né? 

— Se você quiser, eu vou é procurar um curso de designe de moda pra mim — ela disse. — Já que o ensino médio não é obrigatório, nois tá suave. Podem até vender miçanga na praia de quiserem. 

— E vocês querem que a gente pobre aqui faça o que? Tome conte da casa? Nem fudendo — Isadora falou. 

— Olha, a Rachel vai cozinhar pra gente, isso é certeza. Se quiserem fazer um curso ou algo assim a gente arranja pra vocês — Naju disse. 

— Anajú, sabia que eu te amo? — Isadora perguntou com a mão no coração.

— Todos me amam — ela respondeu mandando um beijinho.