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História Dias de Desespero - (1x02) - Infiltrados


Escrita por: Roger64

Notas do Autor


Este é o segundo capitulo da minha história, e sim, irei continuar, boa leitura a todos!

Capítulo 2 - (1x02) - Infiltrados


16 de Março de 2015

A lua estava grande, poucas nuvens rodeavam o céu, as estrelas podiam ser vistas.

Uma madrugada de tensão, luto e perdas.

O assassino Eugene matou 9 pessoas. Entre eles, faxineiros, médicos e enfermeiros inocentes, um crime cruel não explicado.

Ninguém tinha respostas, Edgar se matou.

***

O.S.E, Estados Unidos.

01h50min AM

- Eu juro que eu não sei o que está acontecendo, eu não fiz nada! – Disse Jefferson com a voz alta. – Por que vocês estão desconfiando de mim?

Jefferson estava sentado, algemado. Seu olhar era de medo e mexia sua perna constantemente.

O diretor Michel também estava sentado no outro lado da mesa em uma cadeira confortável.

Tinha vários curativos que cobriam as feridas de seu rosto e, além disso, sua mão estava enfaixada.

Ashley de pé ao lado de Michel, com um lápis e um bloco de notas nas mãos. Sua expressão estampava preocupação.

- A ONDE VOCÊ ESTAVA QUANDO AQUELAS PESSOAS DA ENFERMARIA FORAM MORTAS!? – Michel gritou.

- Michel, se acalme um pouco. – Ashley o acalmou.

- Eu estava no banheiro! – Jefferson colocou as duas mãos na cabeça, angustiado. – Eu já falei isso pra vocês, eu não fiz nada de errado, Jesus!

Jefferson tentava convencer aos superiores de que era inocente.

- Como você conheceu Helena Stanford? – Ashley perguntou, contraindo os olhos.

- Eu não conheço essa mulher, droga! – Jefferson estava ficando nervoso. – Dá onde vocês tirarão essas coisas?

O diretor se levantou, indignado e disse:

- Temos provas que você estava se comunicando com Helena Stanford, ela é suspeita de terrorismo, e que a ultima vez que você se comunicou com Helena foi pouco tempo antes de você vir para cá!

Jefferson ficou de boca aberta e arregalou os olhos.

- EU NÃO SEI DE NADA DISSO, INFERNO, PORQUE NÃO ACRETIDAM EM MIM! EU NÃO MACHUQUEI AQUELAS PESSOAS, FOI AQUELE PSICOPATA LOUCO. 

Michel e Ashley se entreolharam.

- Eugene pode ter os matado, mas com certeza foi mandado por alguém e por algum motivo. Temos confirmação absoluta de que Eugene não poderia entrar sozinho naquela enfermaria sem a ajuda de alguém daqui de dentro. – Disse Ashley.

- Não acredito que vocês desconfiam de mim, eu sou um agente da O.C.T.

Mesmo estando em uma situação desesperadora, Jefferson gostava de se sentir superior.

- É mera coincidência que no mesmo dia dos assassinatos você veio para cá?

- Não tenho culpa que o médico de vocês ficou ferido e que eu tive que substitui-lo. – Disse curto e grosso

O interrogatório foi interrompido quando duas batidas atrás da porta foram ouvidas.

- Entre. – Michel permitiu.

Era o hacker Mike Pitterson.

- Senhor, como você está? Sua mão ainda doí? – Mike parecia preocupado.

- Agradeço a preocupação Mike, mas quero saber se você conseguiu rastrear da onde veio as mensagens enviadas para Helena.

O hacker mostrou uma maleta preta, era a mesma que o médico arrogante carregava anteriormente.

- Essa é a minha maleta! – Jefferson confirmou.

Dentro dela, havia um notebook de cor cinza e parecia ser caro.

- Por que diabos você trouxe um notebook para a nossa base, doutor Jefferson? – Ashley o questionou, desconfiada.

- VOCÊ FOI DESCOBERTO! – Michel apontou para a sua cara.

- ISSO É RIDICULO! – O coração de Jefferson começou a bater mais forte. - EU NUNCA VI ESSE NOTEBOOK! COLOCARAM DENTRO DA MINHA MALETA SEM EU SABER E EU TENHO PROVAS...

Sem poder continuar a frase, Michel perguntou:

- Que provas!?

- Dois de seus seguranças conferiram a minha maleta antes de eu entrar na O.S.E. – Ele sorriu cinicamente. – Pergunte á eles se esse notebook estava lá dentro.

Michel ficou sem palavras. Enquanto Ashley esperou ele dizer alguma coisa.

- Armaram pra mim. – Jefferson insistia.

- Nós vamos perguntar aos seguranças, mas isso não impede de você ter trazido esse notebook para cá de outra forma. Ou seja, não é o suficiente para nós.

Jefferson fez uma expressão de raiva.

- O que isso quer dizer?

O careca não o respondeu.

- Senhor, acabei de receber a informação que os outros 2 técnicos já acordaram. – Mike lembrou.

O diretor Michel acenou com a cabeça e começou a falar:

- Ashley, quero que peça ao Ian que interrogue esses técnicos, eles provavelmente conheciam Edgar, peça para ele arrancar todas as informações que poder!

A loira não disse nada e rapidamente saiu pela porta, obedecendo.

- Mike, continue sua busca nos dados do computador de Helena, acho que tem mais informações importantes lá dentro que podem ser cruciais para a gente.

- Sim senhor!

Após Mike sair da sala, o superior diretor levantou-se e chegou até Jefferson, segurando-o pelo braço.

O médico teve que ficar de em pé.

- Pra onde você vai me levar? 

Jefferson queria fazer alguma coisa contra á isso, mas pouco podia fazer, estava algemado.

Sem respostas, Michel o empurrou levemente para frente, apressando o passo.

- Como ousa fazer isso, seu completo idiota! – Jefferson xingou. – Isso é um incrível erro de sua parte!

- Eu sei exatamente o que eu estou fazendo e se você não calar essa maldita boca irá sofrer mais do que devia. – O diretor Michel enfrentou.

Jefferson sentiu raiva crescendo dentro de si.

Ambos percorreram um corredor até chegar em frente de uma porta.

Uma pequena janela podia ser vista e, nenhuma iluminação penetrava lá dentro.

Jefferson tinha noção do que estava acontecendo.

- Eu juro que se você me colocar ali dentro eu vou....

Repentinamente, Michel abriu a porta e empurrou Jefferson para o lado de dentro.

O rapaz caiu de joelhos no chão.

- Você ficará aí dentro até eu mandar você sair. – Michel ordenou.

Jefferson estava pronto para iniciar a troca de farpas:

- Seu diretor incompetente! – Gritou.

Jefferson levantou-se e partiu para a porta, mas ela foi fechada antes que pudesse sair.

Michel trancou a sala.

- Eu juro que quando eu sair daqui eu falarei ao meu chefe tudo o que está fazendo de injustiça comigo. –Jefferson Ameaçou.

Michel escutou suas palavras, mas preferiu seguir em frente, sem demonstrar algum sentimento sequer.

- VOCÊ IRÁ PERDER SEU CARGO E VAI SER PRESO POR ISSO, SEU DESGRAÇADO.

Ele batia inúmeras vezes na porta, tentando sair, mesmo sendo inútil. As batidas fortes foram se tornando fracas, até Jefferson desistir.

Raiva, raiva e mais raiva... O que Jefferson sentia naquele momento era impossível de explicar.

Escorregou lentamente suas costas sobre as paredes até descer ao chão, se sentando. Não conseguia ver nada, estava escuro, sem nenhuma iluminação.

Ele fechou os olhos e pensou consigo mesmo.

- Vai ficar tudo bem, daqui a pouco meu chefe chegará e aquele cara será demitido. – Disse baixo.

Seria Jefferson o verdadeiro traidor?

***

Desconhecido, Austrália.

02h00min AM

Sua cabeça doía, os olhos verdes-escuros se abriram lentamente sob a luz forte da lâmpada no teto de madeira, recobrava a consciência aos poucos, os cabelos loiros cobriam todo seu rosto, conseguiu tira-los da sua visão com a mão direita.

Alice Jacob acordava em um lugar desconhecido após receber um golpe na cabeça.

Deitada sobre um monte de palha, ou, melhor dizendo, um monte de feno, ela percebeu que seu pulso estava amarrado em uma corda que levava até uma pequena cerca.

Ela estava em um celeiro vazio.

Colocou a mão na cabeça, expressando dor e estava sozinha.

- Merda, merda, merda... – Sussurrou.

As ultimas lembranças que Alice conseguia se lembrar era o seguinte: A morte de seus pais, monstros matando e pessoas sendo assassinadas,  um acidente de carro, Marcos machucado e Drake sumido, a voz de um homem desconhecido ameaçando-a e uma forte pancada na cabeça.

Não precisava ser inteligente para perceber que ela foi vítima de um sequestro.

- Drake, Marcos, cadê vocês? – Ela os chamou.

Tentou levantar, mas seu pulso amarrado a impedia.

Ninguém estava a vigiando, o celeiro estava vazio, era a oportunidade para sair dali sem ser vista.

- Tenho que encontrar eles e sair daqui... – Falou sozinha.

Após olhar ao redor pelo celeiro, viu que a única saída era a porta dupla que ficava a alguns metros de distância. Ela escutou trovões e raios por fora do celeiro e pingos de chuvas começando.

Teria que tentar de se soltar de alguma forma.

Vários pensamentos rodeavam a sua cabeça do que ela iria fazer, mas parou quando viu manchas de sangue em cima de sua calça jeans, na parte do joelho.

Ao verificar, percebeu um caco de vidro de tamanho médio grudado no seu joelho, estranhamente, não sentia dor.

- Essa vai ser a única forma de cortar essa maldita corda.

Cuidadosamente, retirou o caco e começou a esfrega-lo na corda.

- Eu sabia que aquele curso de escoteirismo ia servir pra alguma coisa na minha vida... – Pensou.

Finalmente a corda foi cortada e ela estava livre.

Rapidamente se levantou e correu para a porta dupla.

- Por favor, que esteja aberta.

Ao tentar abrir, não obteve sucesso, bateu umas três vezes na porta, mas logo em seguida parou, não podia fazer muito barulho naquele momento.

Infelizmente, estava trancada por fora.

Alice colocou sua mão esquerda no queixo, pensativa.

- Tem que ter outra saída.

A jovem de 17 anos começou a vasculhar o celeiro em cada canto que passava.

As janelas não podiam ser abertas, trancadas de alguma forma.

Entretanto, ela avistou um pequeno buraco na parede de madeira, perto de um monte de feno.

Muitas pessoas não seriam capazes de passar por ali, mas Alice era magra e pequena, passaria sem dificuldade.

Rastejou sobre o buraco.

Ao sair do celeiro, percebeu que estava tendo uma forte chuva com tempestades e raios, foi molhada por inteira.

O lugar onde ela estava era uma fazenda, o pátio era um campo bastante aberto.

Ela avistou uma casa de três andares consideravelmente grande e velha por fora, a uma distância não tão longe.

Dentro dela, as luzes nos cômodos podiam ser vistas e vultos apareciam.

- Drake e Marcos só podem estar dentro da casa... – Pensou novamente

A garota não perdeu tempo e começou a caminhar em direção á casa, com bastante cautela e fazendo o mínimo de barulho.

Esgueirou seu corpo para baixo com a intenção de não ser vista.

Era um risco que ela estava correndo.

***

França.

7h30min AM

Os raios de sol e o clima extremamente agradável predominavam a cidade de França, Paris. Por incrível que pareça, estava calor.

O espião Mohammed, Vulgo Erick Eichelwald, conseguiu concluir a primeira etapa de sua missão.

Entrar Na Hydra, departamento de defesa do governo da França e trazer informações sigilosas que podiam ser vestígios de terrorismo.

O espião árabe disfarçado conseguiu enganar e seduzir Helena Stanford, a filha do chefe do departamento.

Dentro do apartamento dela, sentado sobre um sofá de luxo e caro, bebia um ultimo gole de vinho enquanto acompanhava o nascer do sol através de uma grande janela de vidro.

Ouviu passos se aproximando.

- Ainda bebendo? – Helena riu.

Seus olhos mostravam que ela a recém acordou e vestia apenas calcinha e sutiã.

Seu corpo tinha curvas como a de um violão.

- Só um pouco. – Ironizou, se levantou.

Ficaram frente-a-frente e a luz do sol refletia neles.

Mohammed se preparou para manipular a mulher:

- Foi uma noite incrível. – Enganou sem demonstrar.

Enquanto ele sorria, ela o encarou, franzindo a testa.

- Erick eu não me lembro de nada. – Estava desapontada.

O moreno soltou as seguintes palavras de sua boca com facilidade:

- Você bebeu demais.

- Eu acho que sim. – Confessou.

A francesa dos olhos claros ficou de braços cruzados, suspirando e fechando os olhos por alguns segundos.

- Eu... fiz algo errado? - O mentiroso a questionou, confuso.

Helena abriu os olhos e caminhou lentamente á frente, passando por Erick até chegar perto da janela.

A vista era incrível.

- Tudo isso foi um erro, vá embora!

Helena disse enquanto via a movimentação das ruas de Paris pela janela.

- Mas... – Ele tentou argumentar.

- VÁ EMBORA AGORA! – Gritou.

O grito foi tão alto que Mohammed chegou a se surpreender.

Ela continuava a olhar a vista de sua janela.

Ele simplesmente largou sua taça de vinho, pegou seus pertences sobre uma mesa de vidro e foi embora sem olhar para trás.

Helena esperou alguns minutos na mesma posição.

Até avistar Erick caminhando pela rua, pegando seu carro e indo para longe.

- Posso ser burra, mas nem tanto. – Disse seriamente.

Caminhou rapidamente até a cozinha, que era bem ao lado da sala de estar.

Foi até a frente de uma das gavetas do balcão e a abriu.

Tirou dali uma caixa pequena cheia de pílulas, provavelmente era remédios.

Talvez os remédios explicassem a grotesca mudança de humor da moça, já que ela poderia ter algum problema psicológico ou algo do tipo.

Sem pensar muito, rapidamente pegou três pílulas e as engoliu, sem água ou outro liquido para ajudar a descer.

Logo após isso, ela sentiu uma sensação de prazer.

Ao mesmo tempo, ela pensava se Erick sabia que existiam câmeras em toda parte do apartamento.

Ela iria ver o que realmente aconteceu na madrugada, já que tinha certeza que foi dopada.

A francesa sorriu friamente.

***

6h55min AM

Dentro do departamento, na sala principal onde a maioria dos agentes trabalhavam, Michel Bryans e Ashley May caminhavam juntos.

- Eu sinto que... – O careca pensou um pouco antes de falar. - Se eu tivesse avisado alguém na hora que eu vi os corpos, o doutor Thomas poderia estar vivo neste momento.

- Não lamente agora, Michel. – Opinou Ashley. – Você tentou salva-lo, mas Eugene te impediu e, além disso, você está praticamente todo quebrado, deveria tirar um descanso.

O superior olhou profundamente nos olhos da loira.

- Nos conhecemos há oito anos Ashley, você sabe que eu não desisto fácil. – Acenou com a cabeça negativamente.

Enquanto ambos conversavam, Ian surgiu rapidamente no lado deles.

Eles pararam de caminhar.

- Interroguei os outros dois técnicos que foram atordoados pelo Eugene. – Ian revelou.

- O que descobriu? – Ashley e Michel perguntaram ao mesmo tempo.

- Os caras conviveram com Eugene por muito tempo, foi descrito como ‘ um cara legal ‘. Nunca suspeitaram de nada sobre ele, a única coisa que me contaram foi que ele tinha muitos problemas na família. – Ian suspirou, como se não tivesse conseguido nada importante.

Ashley cruzou os braços, contraindo as sobrancelhas, dizendo com um ar interrogativo:

- A onde a família dele mora?

- Na cidade do México. – Ian suspirou novamente.

O superior soltou um riso no canto da boca, olhando para Ian.

 O agente de campo já sabia do que se tratava.

- Acho que o nosso melhor agente de campo está muito tempo sem entrar em ação. – Disse em tom firme. – Agente Ian, preciso que você e a Agente Charlotte vão agora até a cidade do México para interrogar a família do assassino e investigar pistas que possam nós dar alguma informação valiosa.

- Sim senhor! Irei me preparar.

Após a saída de Ian, Ashley argumentou:

- Ian e Charlotte no mesmo lugar?

- Eu tenho certeza que a dupla funcionará melhor do que nunca. – Afirmou.

Michel verificou o relógio de seu pulso.

- Já se passaram seis horas e até agora Jefferson dos Santos não abriu a boca. - O homem de meia idade começou seu percurso até a sala onde o médico permanecia.

***

A pequena sala continuou com nem um pouco de iluminação, totalmente escuro.

O interruptor foi ligado e a luz dominou o local.

Jefferson dos Santos estava bem ali, no centro da sala, suas mãos estavam amarradas sobre as guardas de uma cadeira de escritório e seus pés presos no sustento. O resto da sala estava vazia, apenas um espelho na parede que refletia tudo de dentro da sala, atrás do espelho, outra sala, um pouco maior, mostrava que alguns agentes da O.S.E monitoravam tudo, até os batimentos cardíacos do rapaz.

O médico tinha uma expressão sonolenta e dormente no rosto, como se estivesse confuso.

 Ele forçou suas mãos e seus pés para tentar livrar-se da corda, pouco adiantou.

Jefferson virou sua cabeça para a direção do diretor e disse:

- O que eu tenho que fazer para sair desse inferno? – Seus olhos estavam inchados.

- Confesse que você é um infiltrado mandado por Helena Stanford. – Insistiu mais uma vez. – O tempo está acabando Jefferson, se você não nós dizer nada, teremos que tomar medidas supremas.

O amarrado gritou:

- Eu não sou francês, seu retardado, nunca fui para aquele pais mixuruca, nasci no Brasil e aos meus 18 anos fui viver na Inglaterra, como você acha que eu posso estar trabalhando com o governo de lá? – Sua voz mostrou cansaço. – Onde está o meu chefe?

Michel Bryans tentou manter a paciência, mas estava se esgotando a cada palavra que o suspeito falava.

Enquanto discutam, a porta foi aberta aos poucos e a cabeça de Ana Pitterson surgiu no vão.

Notavelmente a prima de Mike não era muito alta, 1,55 era sua medida.

- Senhor Michel, o superior extremo da O.C.T está aqui e quer falar com o senhor, está te esperando na sala de monitoramento. – Sua voz era bastante aguda.

- Senhor Lincoln? – Jefferson se meteu. – O meu chefe?

Não houve respostas, Michel diretamente saiu da sala, desligou a luz e Ana fechou a porta.

Jefferson se desesperou e ficou com medo de continuar confinado dentro daquela maldita sala.

Começou a berrar várias vezes:

- NÃO, NÃO, NÃO, ISSO É UMA TORTURA, VOCÊS ESTÃO ME MATANDO AQUI.

O superior extremo da central de defesa vizinha aguardou impacientemente na sala de monitoração:

Acima do peso, vestia terno com uma gravata chamativa, bochechas grandes, pequeno e com jeito desengonçado, aparentava ter a mesma idade de Michel.

- Senhor Lincoln. – Michel o cumprimentou.

O senhor de terno estava confuso.

- Porque um dos meus melhores médicos está preso na sala? – Apontou para lá.

Michel explicou tudo o que aconteceu.

Lincoln se surpreendeu.

- Escute-me Michel. – Pediu atenção. - Eu convivi com Jefferson dos Santos á uns 2 anos e acho difícil ele ser um traidor de nosso país, mesmo sendo bastante arrogante e desaforado as vezes.

Michel cruzou os braços, rolou seu olhar para o elemento preso da outra sala e disse:

- Se Jefferson não nós dizer nada e nenhuma prova confirme que ele é inocente aparecer, terei que chamar William Cox.

- Quem é William Cox? – Perguntou curioso.

- O nosso torturador.

***

Austrália.

2h30min AM

A chuva não parou e a tempestade só ficou mais forte.

Alice engatinhava com cuidado, seus braços e pernas estavam cobertos por barro e suas roupas ficaram encharcadas por causa da chuva.

Ela sentia frio e ao mesmo tempo, medo.

Ela tentava achar outro caminho para entrar na casa, pois seria encontrada caso entrasse pelas janelas ou portas.

Alice encontrou outra rota alternativa.

Embaixo da casa, pilares de madeira a sustentavam, ou seja, tinha uma pequena área ali embaixo, era suficiente para Alice passar.

Tomou coragem e passou por debaixo dos pilares, ainda se esgueirando, pois a área era pequena e baixa.

Ao entrar, viu um alçapão, uma espécie de escotilha de madeira acima de sua cabeça, provavelmente era uma entrada para casa.

- Que eu não faça barulho, por favor... – Disse insegura.

Alice posicionou suas mãos na frente do alçapão e empurrou levemente para cima.

Abriu sem dificuldades.

Segurou nas bordas e apoiou os braços para dentro.

Deixando apenas eles e sua cabeça á mostra.

O lugar onde ela estava era um tipo de deposito da casa, sujo de poeira e pouco ar circulava, bem provável que ninguém limpava a um bom tempo.

A iluminação era precária, uma luz estava ligada, mas ao mesmo tempo era fraca.

Certificou que estava vazio e subiu completamente.

- Uau... – Sussurrou espantada.

Um grande estoque de comida era guardado ali.

Aquilo não era apenas um simples estoque, era um estoque com uma quantidade enorme de alimentos enlatados e sacos de grãos.

- Quem mora aqui tem bastante comida, até demais.

Ao ver uma porta, ela teria que continuar a busca se quisesse achar Drake e Marcos.

Suspirou profundamente, balançou e segurou seu pingente dourado com força, mostrando nervosismo.

Aproximou-se da porta, encostando seu ouvidos para escutar se tinha alguém próximo.

Não escutou nada.

Puxou a maçaneta com cuidado e entrou no próximo cômodo, era uma sala de estar.

Diferente do deposito, a sala era bonita e bem cuidada, os móveis eram bem conservados e traziam um ar de clima sútil.

Os abajures de vidro iluminavam o lugar por completo.

Era possível ver que logo após a sala, havia uma cozinha um pouco mais para trás e uma escada larga que levava ao segundo andar.

A porta de saída também podia ser vista.

Os sofás vermelhos cercavam uma TV desligada.

As janelas mostravam que a tempestade continuava forte.

Tudo aquilo deu uma pequena sensação de alívio para Alice, talvez as pessoas que moravam ali não sejam monstros como aqueles outros da cidade de ontem.

Caminhou lentamente até uma das janelas, ao olhar para fora, avistou um grande trailer branco que estava sendo molhado pela chuva, enquanto no fundo era possível ver uma mata extensa.

Era evidente que o local é uma fazenda bem afastada das cidades e de outras casas.

Onde será que estamos? – Pensou.

Depois de tirar a visão da janela, avistou vários retratos pertos de alguns dos abajures da sala.

Um deles, o maior, chamou-a atenção.

O lugar do retrato era claramente a mesma fazenda onde Alice está agora, só que no lado de fora da residência, ao lado do trailer.

No centro da foto, toda uma família sorria para a fotografia, usavam roupas de verão, o que indicava que era calor.

Um casal de pessoas consideravelmente velhas estava de pé no meio da foto, abraçados, na cerca de 60 anos, o velho tinha barba e cabelos brancos, vestia um traje tradicional de fazendeiro e a mulher dos cabelos escuros e olhos castanhos também, ambos estavam felizes.

Uma jovem bonita que aparentava ter uma idade parecida com a de Alice também estava na foto, de joelhos abaixo do casal, fazia gesto de tranquilidades com as mãos enquanto ria.

Tinha cabelos pretos com uma franja, olhos castanhos, pele branca, nariz fino, boca carnuda e mesmo de joelhos parecia bem mais alta do que Alice, mas não tão magra.

A moça não tinha idade suficiente para ser filha do casal, ou seja, provavelmente uma neta.

A família era tradicionalmente fazendeira, ou aparentava ser.

- Esses são os donos da casa... – Alice deduziu.

De repente, vários passos barulhentos vindo da escada foram ouvidos.

Alguém estava descendo os degraus.

O que eu faço? – Pensou novamente.

O som dos passos foi se tornando mais alto e logo em seguida duas pessoas apareceram:

Na direita, um homem idoso desceu os últimos degraus das escadas, era o mesmo que apareceu nos retratos da casa.

Ele era baixo e corcunda.

Provavelmente estava calmo, mas ao mesmo tempo, seus olhos avermelhados entregaram que lágrimas saíram dali a alguns minutos atrás.

Em seu pescoço, havia uma comprida cruz de cor escura.

Na esquerda, a mesma jovem dos retratos já descia das escadas.

Vestia uma touca cinza cobrindo o cabelo, apenas a franja aparecia e o resto de suas roupas eram pretas.

De braços cruzados, diferentemente do idoso, ela parecia nervosa e furiosa. Sua aparência física era praticamente igual a do retrato, ou seja, a fotografia foi feita á pouco tempo.

- Isso é maluquice, pai! – A garota falou alto, deslizando as mãos sobre a nuca.

O idoso ficou cara-a-cara com a filha e disse com seu forte sotaque:

- Não me interessa o que você acha, nós já conversamos sobre isso, Eva! – Apontou o dedo na cara dela. - Não quero mais ouvir reclamações da sua parte, mocinha!

A cara de indignação de Eva ficou pior do que já estava.

- Presta atenção nas coisas que você está dizendo, cê tá querendo trazer pessoas desconhecidas para dentro da nossa casa, PESSOAS DESCONHECIDAS PAI! – Dramatizou.

A calma do idoso fazendeiro começou a se esgotar.

A revoltada não poupou mais palavras:

- CÊ SÓ TA FAZENDO ISSO PORQUE SE SENTIU CULPADO PELA MORTE DA MAMÃE! MAS ELA FICOU DOENTE PAI, VIROU UM MONSTRO! FICOU FORA DE SI QUE NEM AQUELAS OUTRAS PESSOAS DA TELEVISÃO, O FIM DO MUNDO ESTÁ ACONTECENDO E TU QUER TRAZER PESSOAS QUE PODEM SER PERIGOSAS PRA NOSSA CASA! – Disse gritando, jogando a raiva para fora.

O velho se irritou:

- Cala essa boca e me escuta! Continue falando da sua falecida mãe de novo e continuar com essas besteiras, pra tu ver o que vai acontecer contigo, você já tem dezenove anos, não é mais uma criança, é uma adulta.

Ele deu uma pequena pausa, suspirando, mas logo continuou.

 – O FIM DO MUNDO NÃO ESTÁ ACONTECENDO COMO VOCÊ PENSA, JESUS NÃO VAI DEIXAR O MUNDO ACABAR, JAMAIS IRÁ!

Eva se sentiu surpreendida após o xingamento, mas isso não deixaria abalada tão facilmente. 

Preparou para prolongar a discussão, mas antes disso, algo chamou sua atenção.

Os olhos de Eva se direcionaram para trás do fazendeiro.

- Cê abriu a porta da dispensa? – Perguntou para seu pai, confusa, apontando para o deposito aberto.

- O que? – Virou-se para trás.

- Acho que alguém entrou ali. – Eva deu um palpite, inconformada.

Pai e filha sabiam que algo errado estava acontecendo, pois além da porta aberta, um rastro de barro foi encontrado, a direção ia para dentro do deposito, até o alçapão.

O rastro de barro pertencia a Alice.

- Vamos tomar cuidado, pode ter alguém com fome lá dentro. – Disse o velho.

- Que palhaçada, se fosse isso, a pessoa teria batido na porta e não entrado assim.

Ela roía as unhas, curiosa.

Ambos não se aguentaram e entraram no deposito, para conferir se havia mais alguém lá dentro.

Isso foi o tempo suficiente para Alice sair de trás do sofá, caminhar nas pontas dos dedos até a escada e subir para o segundo andar sem ser vista.

O corpo de Alice sentiu um intenso nervosismo, seus pés e mãos suavam, um calafrio subiu pela sua nuca, seus dentes batiam.

Queria que tudo aquilo acabasse, só precisaria encontrar seu irmão e amigo de infância e fugir dali sem ser vista.

Sabia que o idoso e a filha dele desconfiariam que alguém invadiu a casa, então seu tempo estava curto, a qualquer momento podia ser descoberta...  

Após subir o último degrau da casa, encontrou um largo e longo corredor com um tapete vermelho no chão, havia duas portas de madeira á cada lado, a visão da moça não permitiu que ela soubesse se o corredor terminava logo ali ou não, apenas avistou uma janela no final.

Bastante silêncio e nenhuma movimentação no segundo andar.

Com cautela, a órfã continuou a caminhar na ponta dos dedos suados, iria verificar todas as salas.

Mas teve de parar:

Mais passos e vozes foram ouvidos repentinamente, tudo indicou que vinha do outro lado do corredor.

A invasora agiu rápido, correu até a porta mais próxima e entrou dentro, fechando sem fazer nenhum barulho.

O banheiro era simples e pequeno, parecia ser para hospedes, tinha vaso, torneira, uma banheira cercada por uma cortina cinza e uma minúscula janela, Alice jamais passaria por ela.

Não tinha mais para onde fugir.

Escutou novamente os passos e as vozes, agora mais perto, percebeu que era a de um homem e de uma mulher.

Pensou:

Entrem em qualquer lugar, menos no banheiro, menos aqui.

Alice rapidamente puxou a cortina e pulou na banheira.

Ficou sentada, juntou as pernas com os braços e abaixou a cabeça.

Logo depois fechou a cortina.

Mesmo assustada, conseguiu manter sua respiração firme e silenciosa, fechou os olhos e ouviu o ruído da porta do banheiro se abrindo.

Desta vez, um casal surgiu da porta.

Alice não conseguia vê-los.

O homem era negro e alto, tinha uma expressão de agressividade no rosto que não causava uma boa impressão, assim como a camiseta do pai de Alice, ele vestia uma camisa de Beisebol azul e era do time ‘Diamondsbacks’, sua calça era marrom e de marca, também vestia um tênis caro.

Entrou no banheiro com as mãos para trás e se posicionou na frente da pia, abrindo a torneira e jogando água na própria cara.

Atrás dele, vinha uma mulher.

A mulher também era alta e de pele morena, cabelo curto crespo e os olhos pequenos causavam uma impressão de mistério e incógnita, sua roupa também era cara e de marca, o seu jeito era formal e andava sempre de cabeça erguida.

Massageava sua imensa barriga, pelo tamanho estava grávida de aproximadamente sete ou oito meses.

Ela fechou a porta do banheiro, e logo após, girou a chave da fechadura.

Ambos agiam normalmente, ou seja, não sabiam da presença de Alice no local, a invasora mantinha a mão na boca para não fazer barulho e rolou os olhos para o lado, apenas conseguia ver a silhueta do casal através da cortina.

A cortina por fora tinha muitas estampas, isso explicava o porquê dos dois não podiam ver o que tinha dentro da banheira.

O homem negro de aproximadamente trinta anos virou para trás, encarando a mulher e disse:

- Tem certeza que podemos fazer isso?

A grávida também o encarou e falou:

- Por acaso você está hesitando? – Disse sem nenhuma expressão.

O torcedor de Beisebol estava confuso e pensativo, acenava negativamente com a cabeça.

A futura mãe apenas o observava.

Alice escutava tudo.

- Vamos dar o fora daqui, nem sabemos se essa fazenda imunda é segura. – A voz masculina era preocupante.

- Confia em mim, nós estamos seguros. – A voz feminina era suave e leve.

Ela começou a dar passos em direção ao rapaz que se escorava sobre a pia.

- Aqueles caipiras são malucos. – Disse o homem.

- Eu sei. – A moça concordou e tirou um dos botões de sua camisa.

Uma voz com sotaque caipira ecoou pelo lado de fora:

- KATE? EZEQUIEL?

Kate reconheceu a voz e revirou os olhos.

Ezequiel se dirigiu em frente á porta, destrancou e a abriu.

- Sim? – Perguntou.

A pessoa do outro lado da porta era um rapaz com roupa de fazendeiro similares ao idoso e com um chapéu de cowboy.

Ele estava envergonhado.

- Ei, ahn... – As bochechas ficaram vermelhas. – Foi mal interromper o que cês tavam fazendo, é que Carlos descobriu que a menina que trancamos no celeiro fugiu e talvez esteja dentro da casa.

Neste momento, o coração de Alice acelerou.

- Oh, sério? Ok, irei ajudar a procurar. – Disse Ezequiel.

Alice avistou a silhueta do casal saindo do banheiro.

Ainda sim conseguiu ouvir uma última frase da voz masculina:

- Kate, se tranque no quarto, não sabemos com que tipo de pessoa estamos lidando, você e o bebe tem que se manterem seguros.

A infiltrada retirou a mão de sua boca e começou a respirar normalmente, sentindo-se aliviada.

Passou pela porta do banheiro, voltando para o extenso corredor.

Ninguém estava ali.

Nesse meio tempo, ouvia vozes altas vindo do primeiro andar que ecoavam no segundo, ouviu algo como:

Cadê aquela garota pai? Cê disse que tinha certeza que ela tava presa no celeiro. – A voz era de Eva.

Vamos manter o controle Eva, teu pai tá aguentando muita coisa nesse dia, não estressa ele. – A voz era parecida com a do cowboy de antes.

Alice não perdeu tempo ouvindo a conversa, apenas apressou seu passo e começou a vasculhar os quartos.

Tentou abrir a porta mais próxima, mas estava trancada.

Girou a maçaneta da segunda porta do outro lado, também trancada.

Correu até a terceira com esperanças, próxima do final do corredor e ao girar a maçaneta a porta se abriu para trás.

Um simples quarto, com uma cama de casal, uma enorme televisão, armários e gavetas, a decoração era antiga e tradicional.

Nada de Drake, nada de Marcos.

Lágrimas começaram a encher os olhos de Alice, ela não era a mais corajosa, se desesperava fácil.

Se algo de ruim acontecesse com eles, o que iria fazer?

Entretanto, ouviu uma voz chorosa, parecida com a de uma criança.

- DRAKE? DRAKE? – Ela gritou.

- ALICE, ONDE VOCÊ ESTÁ?

Felizmente, a voz era de Drake, e ela vinha de fora da janela.

Alice correu até a janela aberta e colocou a cabeça para fora.

E lá estava Drake, esgueirado sobre a janela do outro quarto da lateral, a distância era grande, Drake não conseguiria pular.

Ambos se viram através dos pingos contínuos de chuva que não parava, também ventava muito.

A criança chorava.

- GRAÇAS A DEUS DRAKE, VOCÊ ESTÁ BEM? ELES TE MACHUCARAM? – Perguntou em voz alta.

- NÃO FIZERAM NADA, APENAS ME TRANCARAM AQUI, EU NÃO SEI ONDE O MARCOS ESTÁ. – Disse com a voz trêmula. – ME TIRA DAQUI, ME TIRA DAQUI.

Alice percebeu que seu irmão mais novo era tão desesperado quanto ela.

- Fica calmo! – Tentou acalmar.

- Não consigo! – Disse chorando.

Eles começaram a pensar em alguma forma de Drake sair daquele quarto trancado.

A cara de Alice deu a impressão de como se ela tivesse tido uma ideia.

- Escuta, precisamos ser silenciosos, ninguém pode saber da gente. – Ela respirava com calma. – Você tem que pular pra cá.

Drake ficou de boca aberta.

- Você tá louca? – A criança disse com uma dose de raiva. – Eu não sou um super-herói.

- Eu consigo te segurar, olha, vai dar tudo certo, MAS VOCÊ TEM QUE PULAR AGORA ANTES QUE ALGUÉM CHEGUE.

Drake olhou para baixo e viu que a distância era o suficiente para a morte, assim como sua irmã, não era nem um pouco corajoso.

- Eu to com medo.

- Temos que encarar os nossos medos se queremos viver, nossos pais iam querer isso, pense neles Drake, pense neles! – Ela falou sofridamente. – Nós não morremos!

O medroso não ouviu a ultima frase da irmã.

- O que você disse?

- NÓS NÃO MORREMOS! – Falou com emoção, quase chorando. – Repita comigo Drake, NÓS NÃO MORREMOS!

Drake engoliu seco e tentou mandar o medo para longe.

- Nós não morremos. – Disse uma vez com um tom baixo.

- Nós não morremos. – Repetiu novamente, desta vez mais alto.

E antes de pular, finalizou:

- NÓS NÃO MORREMOS.

Drake saltou como um canguru, sentiu um enorme impulso do seu corpo para frente, ele jogou seus braços na direção da janela, o coração quase saía pela boca, seus cabelos loiros foram molhados pelos pingos de chuva gelada que deslizavam pelo teto.

Seu corpo decaiu para baixo.

- Te pe-peguei.

- HOW-HOW!

O corpo de Drake balançou pelo ar, suas mãos foram seguradas pelos braços esticados de Alice, que fazia força para puxa-lo de volta.

- Eu consegui! – Drake sorriu de felicidade, mesmo ainda estando pendurado.

Alice, com toda a força de seu corpo, puxou o irmão para cima rapidamente.

Gemeu de força.

- Vamos, vamos... – Ele apressou.

Quando metade do corpo de Drake entrou pela janela, Alice forçou novamente, fazendo com que a criança entrasse pra dentro da casa.

Ambos caíram para trás sobre o tapete marrom do quarto e finalmente estavam juntos.

- OBRIGADO, OBRIGADO. – Dizia enquanto abraçava a irmã no chão.

- Vamos sair desta casa. – Ela se levantou, segurando a mão do irmão.

Eles começaram a correr para a porta.

- Mas e Marcos? – Perguntou, franzindo um pouco a testa. – Vamos deixar ele pra trás?

- Eu já vasculhei TODA ESSA CASA, não o achei em lugar nenhum. – Ela disse firme, ainda balançando seu pingente.

Os fugitivos, de mãos dadas, dobraram após sair da porta, entrando no extenso corredor avermelhado.

Ninguém havia percebido a presença dos dois até então e Alice acreditava que o barulho forte da chuva fez com que ninguém os escutasse.

- Faça silêncio agora, acho que tem uma mulher dentro dos quartos.

- Certo. – Concordou baixinho.

Desaceleraram a velocidade da corrida aos poucos.

Andando lado-a-lado, era notável perceber que a diferença da altura entre os dois era mínima, mesma pra grande diferença de idade.

Chegaram perto dos degraus das escadas, mas algo fez com que Alice parasse.

Ela puxou Drake consigo e apontou para a parede, onde uma sombra de um homem armado se aproximava aos poucos.

- QUEM TÁ AÍ EM CIMA? – Gritou a voz masculina vindo das escadas.

Alice e Drake se entreolharam e obviamente nem pensaram em responder.

Um gelo subiu pelas costas do menino e ele ergueu os ombros, apavorado.

A voz daquele homem fez com que Alice tivesse um Flashback em sua mente.

Na noite anterior, quando Alice, Drake e Marcos foram sequestrados, alguém apontou a arma na sua cabeça e ela escutou sua voz.

O mesmo homem que a ameaçou e a golpeou ontem é o mesmo que subia as escadas.

- E agora? – Drake sussurrou.

Alice puxou Drake pelos braços e o posicionou em frente, olhando em seus olhos.

- Tenho uma ideia. – Alice falou com calma e destreza.

Começou a cochichar em seu ouvido.

Enquanto isso, a silhueta ficava cada vez mais próxima.

A voz gritou novamente:

- ESTOU ARMADO, APAREÇA QUEM QUER QUE ESTEJA AI!

Drake sabia que o plano da irmã louca era um absurdo, mas pouco podia fazer, é a única opção que eles tinham.

A silhueta foi sumindo e o homem definitivamente apareceu nos últimos degraus da escada.

Garry Calvin surgiu no segundo andar, terminou de subir o ultimo degrau daquela escada.

Em suas mãos, apontava uma enorme espingarda para frente, seu dedo mantinha-se no gatilho e atiraria em qualquer um que seria uma ameaça.

Ele se deparou com Drake Jacob sozinho estirado sobre o chão no meio do corredor, desacordado.

- Ei, garoto? – Chamou por ele, nada aconteceu.

Com cautela, foi dando passos lentos para frente em direção ao corpo.

Todas as portas estavam fechadas e a lâmpada piscava, dando um ar sombrio e aterrorizante.

Ele viu os olhos da criança se abrindo.

Alice Jacob saiu de uma das portas, com um abajur nas mãos e bateu rapidamente com o objeto na cabeça do homem.

Ele não teve tempo de reação.

Apenas deixou a espingarda cair e se ajoelhou sobre o chão, gritando de dor.

A garota não teve remorsos, acertou novamente com o abajur na parte de trás do crânio do rapaz.

Desta vez, o sangue espirrou sobre o abajur e o homem desmaiou instantaneamente, caindo de cara no chão.

Seu boné azul voou pelos ares.

O plano deu certo.

Drake se levantou e gritou:

- VOCÊ O MATOU?

Alice ignorou o grito do irmão, ela fez o que tinha que ser feito para proteger sua família.

Ela largou o abajur no tapete, que se quebrou.

Empurrou o rapaz ferido para o lado com força e pegou sua espingarda.

Novamente, Drake gritou furiosamente:

- VOCÊ NEM SABE USAR ISSO!

- É só apertar o gatilho, agora fica quieto e vamos dar o fora, com certeza quem estiver aqui dentro ouviu tudo isso.

Ela ajeitou a espingarda nas mãos e Drake passou correndo por ela, descendo as escadas.

E não demorou muito para Alice seguir Drake pelo mesmo trajeto.

Ao descerem, Alice apontou para a saída e disse:

- POR ALI!

Drake correu o mais rápido que podia até lá, Alice também, mas, algo a fez parar.

A garota de touca e o Cowboy de chapéu estavam no outro lado da grande sala. Ambos se assustaram e encararam Alice com um olhar preocupante.

- NÃO FAÇA NENHUMA BESTEIRA! – Disse o Cowboy.

Alice lançou um olhar frio e apontou a arma na direção dos dois.

- SE VOCÊS SE APROXIMAREM, EU ATIRO.

Sem tirar a mira dos alvos, ela caminhou cuidadosamente para trás, chegando até a saída aberta que levava para fora.

Saiu da casa e fechou a porta bruscamente.

Alice começou a correr desesperadamente sobre o extenso campo da fazenda.

Sentiu todo seu corpo sendo encharcado pela chuva novamente. Escutava vários raios e trovões.

Drake também corria feito um leopardo em uma velocidade surpreendente sem olhar para trás, ele passou pelo lado do celeiro e tinha como destino um matagal fechado a alguns metros de distância.

Longe um do outro, Alice conseguia manter a visão no irmão.

A corredora tropeçou uma, duas, três vezes sem motivo, mas não perdia o ritmo da corrida e continuou com a espingarda nas mãos.

Ela correu pelo lado direito do celeiro, se aproximando do matagal em que Drake entrou á alguns segundos atrás.

Drake esperava por Alice ansiosamente.

- ALICE, PARA!  - A voz de Marcos chegou aos seus ouvidos.

Imediatamente parou de correr e se virou para trás.

E lá estava o sumido Marcos, acompanhado do idoso que Alice viu anteriormente.

Eles estavam juntos, perto da porta aberta do celeiro onde acabaram de sair.

Alice se chocou e ergueu a espingarda.

- Vo-você es-está com eles? – Gaguejou com a voz trêmula.

- Está tudo bem Alice! – A voz de Marcos era tranquila, como sempre. – Nós estamos seguros nessa fazenda, confia em mim!

Alice arregalou os olhos, espantada.

Foram dez segundos de silêncio no meio daquela chuva até Alice entender o que estava acontecendo.

- SEGUROS? – Ela franziu as sobrancelhas. – Um deles apontou a arma na minha cabeça e me bateu, depois disso sequestraram a gente pra essa fazenda, me trancaram no celeiro como se eu fosse uma maldita prisioneira E VOCÊ ME DIZ QUE ESTAMOS SEGUROS?

A desconfiança predominou o clima.

A espingarda da sua mão tremia.

Marcos mantinha a calma e tentou explicar a situação:

- Escuta Alice, pra nós conversamos como pessoas normais temos que sair dessa chuva e voltar para a casa.

Ele começou a se aproximar dando passos largos.

 – Mas abaixe a arma, ninguém quer te fazer mal!

Alice queria se manter longe o possível, andava para trás.

Drake acompanhou tudo á distância atrás de algumas árvores do bosque, sem ser visto.

- E este homem? – Ela perguntou, olhando para o velho, desconfiada.

- O senhor Carlos é o dono da fazenda, conversei com ele á pouco tempo, ele é gente boa Alice, nos convidou para ficarmos na fazenda até tudo se acalmar na cidade. – Tentou a convencer.

A cada passo que Marcos dava, Alice ia para trás sem abaixar a espingarda.

O velho Carlos se atreveu a falar:

- Minha jovem, não tem motivos para você tá assustada, foi tudo um mal entendido, a nossa intenção era descobrir que tipo de pessoas que vocês eram, nós não poderíamos arriscar, com todos esses monstros rodeando a área, ficamos confusos.

- O que vocês fizeram com a gente foi um absurdo! – Posicionou o dedo no gatilho.

- LARGA A ARMA. – Marcos ordenou.

- NÃO ACREDITO QUE ESTÁ CONTRA MIM MARCOS... - Disse indignada. – Venha, vamos sair dessa fazenda, vamos até a base dos meus pais.

Marcos suspirou firme, colocou as duas mãos na cintura e começou a pensar.

Drake saiu do bosque, se aproximando do trio aos poucos, ainda assustado.

Marcos já tinha tomado sua decisão:

- Nós não podemos sair assim Alice! – Disse balançando a cabeça negativamente. – Você viu aqueles monstros? Nós seremos mortos, precisamos da ajuda deles, ficar em grupo é a melhor opção no momento.

O velho apenas observava.

A garota da touca e o homem metido a Cowboy também se aproximavam aos poucos, curiosos.

Alice também teria que decidir sobre o que iria fazer, duas opções a dividiam:

Fugir com Drake e ir até a base dos seus pais sem Marcos ou ficar na fazenda com desconhecidos e o destino seria incerto.

Ela escolheu a ultima opção.

Lentamente largou a espingarda, que caiu sobre o gramado úmido do campo.

Não aguentou a pressão de tudo aquilo que estava acontecendo.

Alice foi se ajoelhando sobre o gramado, deprimida.

Havia se rendido.

- Alice, o que houve? – Drake disse enquanto cutucava o ombro da irmã.

Ela não o respondeu e olhou para o chão.

Os últimos pingos de lágrimas escorreram sobre sua bochecha.

Marcos preferiu dar a resposta certa:

- É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo Drake.

Ele se ajoelhou na frente de Alice, ficando na mesma altura que ela.

– Temos que ficar juntos e ser fortes, prometi proteger vocês até o final.

Marcos enrolou os braços sobre Alice, que permanecia imóvel.

Drake também se juntou ao abraço.

- Nós ainda temos muito que conversar. – Disse Carlos, presenciando o momento.

A terrível tempestade forte agora parava aos poucos.

Os três se levantaram e o quarteto iniciou a caminhada de volta para a casa.

***

6h00min PM

México, Cidade do México.

O carro simples e de cor vermelha passava por cima dos buracos da rua de chão batido, estreita e irregular, subia pelo morro.

Casas pobres e mal construídas rodeavam o lugar, isso faria alguns tipos de pessoas chiques e ricas se incomodarem.

Becos nas extremidades também eram vistos, em um deles, na extrema direita, cinco crianças jogavam futebol brasileiro, animados e energéticos, a bola passando pela goleira era motivo de risos e alegria.

Uns moradores locais se cumprimentavam escandalosamente e seus tons de vozes eram altos, mesmo assim pareciam ser felizes.

Alguns cachorros surgiram do nada, passando pelo meio da rua, fazendo o carro parar bruscamente.

No banco do motorista, uma bela mulher, sossegada e tranquila, de cabelos alaranjados mantinha suas duas mãos claras sobre o volante, usava uma roupa preta de espiã, que também tinha um decote provocante.

Na parte dos ombros estava escrita a palavra “ O.S.E “.

Este era o primeiro trabalho de Charlotte Lewis após retornar das férias.

Ao seu lado, no banco de passageiros, Ian de Palma era o seu parceiro.

- A família do assassino mora no fim do mundo, praticamente. – Disse enquanto verificava o GPS.

- Não seja insensível, muitas pessoas aqui não tem condições financeiras boas e tem que morar em lugares como a favela. – Charlotte girou o volante normalmente, dando uma curva.

- Insensível? Jura? Só estava fazendo uma piada. – Ele deu uma risada.

- Que foi muito ruim, por sinal.

Ela riu, enquanto Ian fechou o sorriso, desanimado.

O carro foi estacionado na frente de casas humildes em uma lomba bastante alta.

Os dois saíram do carro.

Charlotte carregava consigo um objeto pequeno grudado em sua orelha, uma espécie de comunicador. Ela o ajeitou cuidadosamente, ativando um pequeno botão no centro.

- Estou na escuta, consegue me ouvir? – Ela perguntou.

- Sim, sim, perfeitamente. – A voz de Mike chegou aos seus ouvidos. – Consigo ver vocês pelo meu drone á distância, modificado e especializado para esse tipo de missão.

Ian avistou o drone vermelho de tamanho médio voando próximo deles, acima das casas do outro lado da rua.

Acenou para o drone em um gesto de humor, mas a máquina não respondeu.

Outro automóvel surgia no lugar.

A van azul parou e estacionou no final da rua, á uma distância média, mas o suficiente para avistar Ian e Charlotte.

Mike estava dentro da espaçosa van, ele controlava o drone com um tipo de controle remoto, enquanto na sua frente estava posicionado laptops onde conseguia ter a visão de drone sobre todo o lugar onde ele passava.

Outro laptop, distante dos outros, fazia uma função diferente, ele escaneava automaticamente as misteriosas mensagens entre Jefferson dos Santos e Helena Stanford.

Pois Mike tinha suspeitas que as mensagens poderiam ser falsas, mesmo não tendo certeza.

Charlotte e Ian começaram a caminhada até a casa simples de dois andares que seria a residência da família do falecido Eugene Potter.

A casa estava em fase de construção, pois era apenas de tijolos, tinha um andar e era possível ver um alto terraço, aberto pelas laterais e a queda daquela altura seria mortal.

Também tinha paredes mal feitas ali.

Charlotte seguia na frente, enquanto Ian atrás, apreciando a mulher.

- Pare de olhar pra minha bunda, Ian. – Disse sem olhar pra trás.

Ian deu uma gargalhada e disse:

- Você é muito convencida mulher, acha mesmo que o mundo gira ao teu redor?

- O seu mundo sim. – Sorriu sem se sentir ofendida. – Vamos nos concentrar no que viemos fazer aqui.

Eles chegaram até a porta da casa, Charlotte deu duas batidas rápidas nela.

Esperaram alguns segundos, não obtiveram respostas.

- Mike, acho que não tem ninguém lá dentro. – Ela sussurrou discretamente.

- Isso é IMPOSSÍVEL! – Mike revelou. – Acabei de ver uma movimentação no segundo andar pelo drone.

No alto, a direção do drone estava virada para uma das janelas da casa misteriosa.

- Bem, a janela está aberta. – Ian apontou para cima.

Charlotte novamente deu três batidas fortes na porta.

- Nós somos da organização de segurança dos Estados Unidos, viemos interroga-los sobre Eugene Potter, e se vocês não abrirem a porta agora, teremos que abri-la sem permissão. – Falou com o tom alto.

O drone vermelho começou a se aproximar dos dois agentes, sua direção virou para o chão de terra batida.

- Charlotte, olhe para seus pés. – Mike pediu pelo comunicador.

Charlotte avistou uma rasa poça de sangue sobre seus tênis.

- Que merda... – Ian se chocou.

A poça de sangue vinha de baixo da porta da casa e levava até um beco próximo, na lateral.

- Acho que algo de errado aconteceu por aí. – Mike falou, olhando pelo laptop.

Ian pegou uma arma da sua cintura e a manteve em suas mãos.

Em um movimento rápido e ágil, Charlotte deu um pequeno salto e chutou a porta com extrema força.

Ela se quebrou facilmente, abrindo-se para trás.

- Uau! – Mike e Ian falaram ao mesmo tempo.

Charlotte deu um sinal com a sua cabeça e Ian entendeu.

Tiveram de se separar.

Ian seguiu rapidamente o sangue até o beco.

A agente sacou duas pistolas do arsenal pesado de suas costas, entrando na casa com cautela, apontando para todos os lados, sem medo.

Ela avistou a sala de estar completamente destruída, quadros, vasos, televisão, mesas de vidro, lâmpadas, tudo estava quebrado sobre o chão.

Se sentiu surpreendida, mas não apavorada.

- Mike, a sala dessa casa foi desmoronada. – Disse, tentando manter a calma.

- É, estou vendo. – Informou.

O drone entrou pela porta, indo para o lado oposto de Charlotte, que seguia em direção á cozinha.

As paredes estavam arranhadas, parecia ser marcas de alguém que tentava se segurar com as unhas, deslizando ali.

Eram marcas de luta e Charlotte sabia disso.

Entretanto, escutou um ruído pelas suas costas.

Charlotte rapidamente se virou e avistou três homens na frente da porta com um uniforme preto, cobrindo rosto, somente os olhos apareciam.

Apontavam três revolveres em direção á ela.

Foi tudo muito rápido com movimentos inesperados:

Charlotte apertou uma vez o gatilho das duas armas e rolou seu corpo para trás, dando uma cambalhota e entrando no outro cômodo, ficando fora de vista.

Os três vilões dispararam varias vezes e varias vezes com a intenção de acertar Charlotte, mas as balas não a acertaram, apenas furaram a parede da sala.

O trio não parava de atirar furiosamente, eles se aproximavam lentamente até a cozinha onde a mulher se escondia.

O drone controlado por Mike apareceu silenciosamente por trás deles, duas espécies de canos saíram de suas laterais.

Um dos atiradores que estava mais perto do drone, se virou e avistou a máquina.

- Mas o que é isso? – Disse confuso.

Duas balas saíram do drone e acertaram brutalmente a testa do homem, espirrando sangue pra todo lado.

Seu corpo caiu de costas no chão, sobre os objetos quebrados.

- GEORGE, NÃO! – O atirador que aparentava ser japonês gritou.

Tiros saíram de seu revolver, tentando acertar o drone, mas já era tarde de mais, o objeto voador saiu rapidamente pela janela.

- Vá atrás do drone, eu procuro a mulher. – Disse o japonês para o parceiro mais alto

O homem correu e saiu pela porta.

***

- CHARLOTTE? CHARLOTTE? – Mike gritou pelo comunicador. – Você está bem?

Demoraram três segundos e a voz da moça foi ouvida.

- Estou, você me salvou, consegui correr quando o drone apareceu, obrigada. – Por incrível que pareça, a voz era calma.

Os olhos de Mike rolaram para frente.

No meio da rua, o alto homem armado o olhava, desconfiado.

- Ah droga, ACHO QUE FUI DESCOBERTO. – Mike se apavorou.

O atirador percebeu o desespero de Mike dentro da van e não demorou muito pra ele deduzir que ele também era um agente da O.S.E pelo uniforme.

Ele apontou o revolver na direção da van enquanto Mike girava desesperadamente a chave na ignição do automóvel.

Deu ré para trás, mas foi impedido quando viu que o tiro atravessou o pneu, furando e deixando nenhuma alterativa para o hacker fugir.

Mike saiu do banco de motorista, indo para o fundo da van.

- Charlotte? – Ele a chamou. – Preciso de uma ajuda aqui, EU SOU DOS COMPUTADORES, NÃO UM AGENTE TREINADO PRA LUTAR!

Charlotte não o respondeu, ele apenas escutou vários chiados e ruídos vindo do comunicador, provavelmente ela foi pega.

- Não, não, não. – Lamentava.

O gênio da informática tirou uma minipistola do suporte da cintura.

A arma poderia parecer inofensiva, mas fazia tanto estrago quanto um revolver normal.

Ele destravou a arma e escutou vozes do ameaçador no lado de fora da van, entretanto, não entendia nada, pois o idioma era diferente, parecia ser Português.

Ele escondeu a minipistola de volta na cintura, cobrindo-a com a camisa.

A porta dupla traseira da van foi bruscamente aberta, causando um enorme estrondo dentro do automóvel.

Mike soltou um curto berro de susto.

O oculto armado apontava a arma para o rosto de Mike em frente á porta da van e começou a falar várias palavras em Português, soando como uma ameaça.

Mike tentava manter o controle:

- Ei, ei, abaixa essa arma cara, eu não estou armado.

O atirador se irritou e começou a falar novamente.

Ele puxou o braço de Mike, levando-o para fora da van.

O hacker não fez nada, lutar contra ele não era uma opção, perderia fácil, pois, não sabia como se defender.

Caiu no chão de terra batida.

Mike sentiu a ponta da pistola na sua cabeça, forçando-o seu rosto para o chão, não conseguia se virar.

Se ninguém aparecesse para ajuda-lo, coisas extremamente ruins aconteceriam.

O homem alto terminou de falar e preparou-se para apertar o gatilho.

Mike fechou os olhos, respirando ofegantemente e escutou um disparo rápido.

A ponta do revolver saiu de sua cabeça, caindo no chão.

O ameaçador também caiu lentamente de joelhos para o lado, desnorteado, a frente da sua camisa encheu-se de sangue, aparecendo um vermelhão, tinha levado um tiro.

Ian de Palma foi quem cometeu o ato.

Mike avistou seu salvador ao lado do beco, a uma distância média, ele se surpreendeu quando percebeu graves ferimentos no agente de campo.

- Ian? – Chamou Mike.

O rosto de Ian estava arranhado, seus dois olhos estavam roxos, sua boca inchada e tinha várias manchas de sangue de outra pessoa sobre sua roupa.

Ele cuspiu sangue, soltou a arma e repentinamente desmaiou.

Mike correu para ajudar.

***

A situação de Charlotte acima daquele terraço, sozinha, escondida atrás de uma parede mal acabada era complicada: Após conseguir correr até lá, descobriu que as munições de suas duas armas acabaram, mas aquilo não tinha sentido algum, ela apenas disparou duas vezes.

Arremessou suas armas para perto da beira do terraço.

Escutou passos vindos atrás da parede, era o japonês.

A única forma que Charlotte tinha como vencer o combate era lutando.

O japonês caminhava com cautela, até escutar um som de tiro, se distraiu e olhou ao redor.

Charlotte saiu de trás de parede a aproveitou a distração.

Segurou a arma de sua mão e chutou a barriga do oponente, que se desequilibrou para trás.

Foi pego de surpresa e a arma caiu para fora do terraço.

Mike, na rua, avistou a pistola caindo.

Charlotte tentou desferir um soco na cara do japonês revoltado, mas ele foi ágil e conseguiu segurar sua mão.

- VACA! – Ele xingou.

Começou a torcer a mão de Charlotte aos poucos.

A agente gritava de dor, sem reagir.

O lutador empurrou a mulher para o chão.

Foi uma adversária fácil, também, além de ser uma mulher, era fraca e sem agilidade – Pensou o maníaco.

Entretanto, os gritos de Charlotte foram uma armação: A mulher fingiu ficar atordoada.

O Japonês correu para pegar suas duas pistolas (que estavam sem munição, mas ele não sabia) perto da extremidade do terraço.

Ela rapidamente ergueu sua mão e retirou um pequeno arco-flecha do arsenal de suas costas.

Ao mesmo tempo, o rapaz, perto da beira do terraço, pegou suas duas pistolas e mirou para a caída.

Ela terminava de puxar a flecha.

E o previsível aconteceu:

Disparou as duas pistolas primeiro, mas nenhuma bala saiu.

Ficou chocado e arregalou os olhos.

Charlotte soltou a flecha e o disparo foi rápido e intenso.

A flecha acertou o olho arregalado do japonês.

Ele berrou, gritou e chorou de dor.

Seu corpo foi para trás, caindo do terraço e sumindo do campo de batalha.

Charlotte escutou o barulho do som do corpo batendo no chão e suspirou aliviada.

***

Austrália

12h00min PM (Meio Dia)

A cozinha da família Bartzen tinha um certo clima de desconfiança, cisma, receio e dúvida.

Na mesa de jantar, havia dois lados:

No lado direito, lá estava Alice, Drake e Marcos sentados.

No outro lado, estava o velho Carlos, a rebelde Eva, o cowboy.

E Garry Calvin, que estava com uma faixa cobrindo do queixo até a cabeça, cobrindo as feridas.

Também mantinha um saco de gelo pressionado sobre a cabeça, encarava Alice com um olhar amedrontador.

Deste mesmo lado, mais para o fundo, Kate e Ezequiel apenas observavam o momento.

Discretos, escorados sobre a parede, eram os únicos sossegados daquela cozinha.

Alice não conseguia evitar o olhar de Garry.

- Olha, eu sei que te machuquei e já pedi desculpas. – Ergueu as sobrancelhas. – Mas você também me acertou naquela estrada, apenas me defendi.

- Não te bati com tanta força. – Disse Garry.

- Já chega vocês dois. – Marcos interviu.

Carlos iniciou uma apresentação:

- Bem, vamos recomeçar, prazer! – Ele estendeu a mão até Alice. – Meu nome é Carlos Bartzen.

Alice apertou sua mão e sorriu forçadamente, até porque ela estava no local só por causa de Marcos.

- Esta é minha filha. – Ele apontou para a jovem de touca. – Eva Bartzen.

Eva não quis os cumprimentar. Cruzou os braços e desviou o olhar.

- Esse é o namorado dela, Steve Jensen. – Mostrou o Cowboy.

Steve acenou para o trio. Apenas Drake retribuiu.

- Acho que vocês já conhecem o Garry. – Franziu a boca.

- Pois é! – Disse Drake, imitando a expressão do velho em um toque humorístico.

- Esses aqui de trás, também são novos por aqui como vocês, Ezequiel e sua esposa grávida Kate.

- Nós viemos até a Austrália em negócios quando toda essa bagunça começou a acontecer. – Revelou Ezequiel. – Nosso carro atolou em uma poça de barro quando fugíamos e Steve veio nos ajudar.

Depois da apresentação, Alice levantou uma discussão:

- Sabe como toda essa história de monstros surgiu?

Carlos disse a verdade:

- Sinceramente, não, bem... – Deu uma pequena pausa. – Minha falecida esposa virou um daqueles monstros á algumas horas atrás.

- Credo. – Disse Drake.

- Como isso foi acontecer? – Marcos perguntou.

Eva encarou seu pai, fazendo um gesto para ele não falar.

Ignorou e disse:

- Era uma noite normal, vimos um noticiário na TV falando que a Austrália estava vivendo um caos, como nossa fazenda fica bem afastada do resto da cidade, não sabíamos de nada.

- A mãe de Eva surtou, seus olhos ficaram esbranquiçados e sangue começou a sair de todo seu rosto, pulou pra cima da Eva, queria a machucar, tivemos que parar ela. – Steve contou triste.

Todos que não sabiam disso ficaram chocados.

Alice iniciou a conversa sobre a base secreta de seus pais.

- Acho que aquele lugar, pode ser seguro, ou talvez, alguém possa nos ajudar.

Todo mundo concordou com a ideia, exceto Eva, é claro que a jovem achou tudo aquilo um absurdo imenso.

Ora bolas, porque diabos confiaria nessas pessoas desconhecidas, que podiam ser ladrões ou até mesmo psicopatas. (Pensamento de Eva)

Mas ela preferiu não se posicionar, seu pai com certeza a mandaria calar a boca ou algo assim.

E então, o grupo de oito pessoas se preparou para a jornada até a base, onde partiriam apenas ao anoitecer.

***

11h30min PM

Mohammed (Erick) a recém saia de uma cafeteria, pois gostava de beber café á noite, dirigia sua caminhonete em uma avenida movimentada, ao lado de uma floresta, tinha como destino seu suposto apartamento que ficaria por alguns dias na França.

O espião ligava várias vezes para o número de Mike para relatar o comportamento estranho de Helena.

Mas ninguém atendia, estranhou.

Repentinamente, seu celular começou a tocar, a imagem nele era de Helena e seu número.

Atendeu.

- Helena? – Erick perguntou.

- Olá Erick. – A voz de Helena causou calafrios em Mohammed.

- O que aconteceu com você hoje cedo? Porque me tratou daquela forma? – Questionou.

- VOCÊ AINDA ME PERGUNTA, SEU MONSTRO! – Disse com raiva. – EU REALMENTE GOSTAVA DE VOCÊ ERICK, SE ESSE FOR MESMO SEU NOME.

Mohammed perguntou a si mesmo se Helena descobriu sua identidade.

- Como assim? – Se fez de desentendido.

- Acha mesmo que eu ia deixar um estranho entrar na minha casa e mexer nas minhas coisas sem eu descobrir? Já ouviu falar em câmeras? – Confessou Helena.

- Parece que você caiu no meu truque, eu consegui fazer com que você pensasse que Jefferson era um traidor da O.S.E.

A frase de Helena fez com que Mohammed tivesse certeza:

Ele foi descoberto como um intruso da Hydra e teria que voltar para a O.S.E antes que fosse emboscado.

Droga, então Jefferson não é o traidor da O.S.E (Pensamento de Mohammed)

- E então ele não é o traidor? – Perguntou Mohammed sem pensar.

- É claro que não, se fosse, você não descobriria tão fácil. – Helena riu.

E por fim, Helena finalizou antes de encerrar a chamada:

- ADEUS ERICK...

Mohammed avistou outro carro de cor preta chegando próximo ao seu.

Tentou ficar longe, mas já era tarde de mais.

O carro preto colidiu na lateral do automóvel propositalmente.

Não conseguiu controlar, o carro saiu da avenida e entrou na floresta, descendo ladeira á baixo.

Bateu com a testa no volante e a visão escureceu.

Caiu numa emboscada feita por Helena.

***

11h50min PM

O.S.E

Anna Pitterson, sentada sobre a cadeira de Mike, com os pés apoiados na mesa do computador, comia uma saborosa rosquinha de chocolate e com a outra mão digitava no celular, também usava fones de ouvidos.

Como não tinha nada para fazer, a agente descansava e tomava conta da sala, enquanto seu primo ficava fora.

Até porque, não teria responsabilidade nenhuma, nada de mais aconteceria quando estivesse dentro daquela sala.

Balançava a cabeça de um lado para o outro, seguindo o ritmo da música de Hip-Hop, distraída.

A tela do computador de sua frente começou a apitar em um som estridente.

Ela se assustou, cuspiu um pedaço de rosquinha e limpou a boca.

Clicou em “Atender Chamada” de transmissão ao vivo de um número desconhecido.

O espião árabe surgiu no outro lado da tela, na mesma floresta, ferido e angustiado, olhava para todos os lados, escondido atrás de um arbusto.

- Jesus, Mohammed o que aconteceu com você? – Anna gritou, chocada.

- Meu disfarce foi descoberto, estão me perseguindo nos arredores da floresta de Sharwood! – Disse desesperado. – Cadê o Mike?

- Ele não pode falar com você agora, está no México!

- Droga! Me escuta Anna, diga tudo isso ao diretor Michel: JEFFERSON NÃO É UM TRAIDOR! FOI TUDO UMA ARMAÇÃO FEITA POR HELENA! ELE É INOCENTE!

- Certo, mas, onde você tá? Temos que mandar uma equipe de resgate. – Ela perguntou.

- Eu...

A imagem ficou fora de ar, saindo da transmissão.

Anna arregalou os olhos.

Ela levantou rapidamente e correu até a porta.

Seu celular começou a tocar, ela atendeu sem olhar quem era.

A voz era a de Mike:

- ANNA? ACABEI DE RASTREAR AS MENSAGENS ENTRE HELENA STANFORD E JEFFERSON DOS SANTOS E ELAS SÃO FALSAS! REALMENTE ARMARAM PRA CIMA DO MÉDICO.

- Ah, Mohammed já me contou. – Disse com deboche.

- O que? – Ele ignorou. – Você precisa informar ao diretor Michel, A-G-O-R-A.

- Ah merda, acho que o doutor está sendo torturado pelo William Cox no interrogatório nesse exato momento. – Lembrou-se do fato.

- O QUE ESTÁ ESPERANDO SUA RETARDADA?  IMPEÇA ISSO ANTES QUE ALGO REALMENTE RUIM ACONTEÇA. – Apressou.

Tudo aquilo era muita informação para a cabeça de Anna.

Começou a correr desengonçadamente á sala de interrogatório.

Passou pela sala central, onde havia vários funcionários e gritou para três agentes que estavam no caminho:

- SAIAM DA FRENTE! – A voz aguda ecoou no local.

Mas mesmo assim, ela esbarrou neles.

Foi chamada de louca e doente, continuou correndo até seu destino.

Outros funcionários a viram e começaram a comentar entre si o estranho comportamento de Anna.

***

11h57min PM

Na sala de monitoramento, Michel Bryans e o chefe da O.C.T estavam lado-a-lado, não tiravam os olhos do interrogamento.

Sentada mais pro fundo da sala, em uma cadeira, Ashley May verificava os batimentos cardíacos em uma tela á sua frente.

- Os batimentos de Jefferson estão muito alterados. – Revelou.

No outro cômodo, o torturador William Cox fazia seu trabalho.

Ele apertava inúmeras vezes em um botão vermelho, que ligava á vários fios conectados pelo corpo de Jefferson dos Santos, da cabeça aos pés.

Cada vez que apertava o botão, um choque elétrico tomava conta de Jefferson, deixando-o machucado e psicologicamente instável.

Já eram 7 choques elétricos seguidos.

- Não, não... – Jefferson não tinha mais forças para falar alto.

William Cox era amedrontador e intimidador, seu olhar era parecido com a de um psicopata.

Pela última vez apertou o botão vermelho e disse:

- Cansei dessa moleza, vamos ir para um assunto mais sério. – Sussurrou para Jefferson.

Michel não tirou os olhos deles.

William abriu sua caixa de ferramentas, tirando um alicate, ele o analisou e fechou a caixa.

- Você gosta dos seus dedos? – Perguntou rindo.

Jefferson não escutou mais nada, estava confuso, perturbado, abalado.

O torturador se aproximou novamente de Jefferson, posicionou o alicate em seu dedo e preparou para puxar.

- NÃO FAÇA ISSO! – O grito impediu o ato.

Anna Pitterson entrou na sala e correu até William Cox, puxando sua mão para trás, salvando Jefferson.

- Mas o que essa louca está fazendo lá dentro? – Perguntou Ashley, curiosa.

Michel imediatamente saiu do monitoramento e foi até o interrogatório, apressado.

- ELE É INOCENTE! – Gritou mais uma vez.

- Você tem provas? – O diretor perguntou.

- Mohammed falou comigo! Foi tudo uma armação de Helena Stanford, ele não é o verdadeiro traidor! – Ela disse ofegante.

- Você devia ter nós avisados antes. – Disse Michel.

- AGORA QUE EU FUI AVISADA, E ALÉM DISSO, MIKE CONFIRMOU QUE AS MENSAGENS ERAM FALSAS. – Ela disse sorrindo, mesmo não sendo conveniente.

O chefe de Jefferson também entrou na sala, dizendo:

- Eu sabia que Jefferson nunca seria um traidor de nosso país. – Se aproximou do doutor.

William Cox foi dispensado e Jefferson começou a ser libertado daquela cadeira.

Foram 24 horas preso injustamente naquele inferno, mas felizmente sobreviveu.

***

França

11h55min PM

Mohammed estava entocado atrás de um arbusto.

Lembrou-se de quando ficou inconsciente, após acordar, cinco pessoas armadas o seguiram até aos arredores da floresta.

O carro havia explodido e aquilo fez com que o espião ganhasse tempo

Conseguiu ser rápido, mas agora não tinha para onde fugir.

Ouviu passos se aproximando.

Era matar ou morrer.

***

Austrália

Já eram três horas de viagem, estranhamente, o grupo de oito pessoas não acreditaram quando não encontraram ninguém pelas ruas desertas de Reese Wood.

Dentro da Van, Drake dormia no colo de Alice, que estava escorada no ombro de Marcos.

Mas a soneca foi interrompida por uma voz alta:

- Chegamos na base, Alice! – Disse Carlos, no banco de motorista.

Todos saíram da van rapidamente.

Os olhos de Alice se fixaram no departamento de testes científicos.

11h59min PM...

00h00min AM.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Bem, se vocês leram tudo até aqui, é bem provável que estejam ansiosos para o capitulo 3, em breve será postado, muito obrigado por lerem e comentem teorias, opiniões, tudo o que for possível para ajudar na construção da trama.
OBRIGADO NOVAMENTE!


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