História Dias Empoeirados - Viagem de trem

Há apenas dois tipos de pessoas nesse mundo, as presas e os predadores. Ainda estou tentando entender em qual dois eu me encaixo, sei lá, as vezes penso que isso depende de perspectiva. Um urso parece um predador para um peixe em um rio, mas pra mim, é só outro lanchinho semanal. Não, não é crueldade, é apenas o instinto, como eu disse anteriormente, existem apenas dois tipos de existência. Em uma delas você tem que viver escondido e sozinho, porém com a consciência limpa, no outro voce pode corre livremente, fazendo o que tem vontade, mas suas mãos estarão sujas com sangue inocente. 

As vezes tento me colocar no lugar dele, é uma coisa que faço constantemente com todos, pra mim sempre foi muito fácil, saber o que a presa sente, foi em parte por isso que eu desisti dessa vida. Enfim, não sei quanto tempo isso durará, mas no que depender de mim vou até o inferno e viro meretriz do próprio diabo pra fugir dele. Um calafrio sobe a minha espinha. Preciso parar de ter esses pensamentos, foi por isso que me meti nesse suplício pra começo de conversa. -Senhorita Miranda!- me viro imediatamente pra pessoa sentada ao meu lado. -Oh, desculpe-me, o que você falou Amélia?. Vejo que está destraida como sempre. Estava dizendo que deveríamos ter ficado no campo, olhe como Yorkshire é linda, teríamos uma vida mais pacata, e você poderia sair mais, além disso, as pessoas sempre nos alertam  de como Londres é suja ainda mais com aqueles nobres ditando regas, você sabe que nunca segue nenhuma delas, pelo menos no interior terei menos vergonha. Onde ja se viu, uma jovem de apenas 18 anos agindo como um homem! Tive que me desculpar mil vezes com o senhor Brimigan na Primavera passada depois daquele incidente, jurei que nunca mais botaria os pés pra fora de casa. - Estou cheia com esse seu drama, desde que saímos de Roma foi a mesma coisa, eu já me desculpei por aquilo, vou me comportar, prometo, além disso eu já tenho 18 anos a mais tempo do que você. Londres é um bom lugar para disfarçar meus rastros. Agora que já conversamos espero que me deixe aproveitar o resto da viagem e não me aborreça com esses detalhes tolos. 

Passaram-se mais alguns instantes antes aquela velhota parasse de resmungar, ela consegue me dar nos nervos com essas futilidades, e daí se eu fui pega nos jardins conversando sozinha com o filho dos Birmigans, até parece que eu sou uma garotinha boba que nao consegue defender a própria honra, chega uma hora que essas coisas param de fazer sentido, pra mim pararam há uns 200 anos. 

O resto de viagem foi agradável, a paisagem hora de desfazia com a chegada de algum vilarejo, hora de recompunha em uma mata verdejante, alta e densa, o ar estava bastante úmido, podia sentir o cheiro almiscarado do chão depois de uma boa chuva. Não posso negar que Amélia estava certa, os interiores são melhores, mas o meu cheiro de torna fácil de rastrear, em Londres seremos mascaradas pela multidão, assim espero.