História Diferentes - Salva - 2015

PARTE I - PERDIDA

- P-por favor. - Gemi, tremendo. - E-eu preciso... c-comer a-a-algo.
- Ah, coitadinha! - O moço colocou uma nota de cinco dólares em minha mão. - Espero que isto a ajude. É tudo o que eu tenho no momento. - Claramente ele mentia. Todos fazem isso.
- M-muito obri-gado. - Tremi e vi ele se afastando.

Eu estou morrendo. O inverno aqui está me matando. A neve pousa em meu corpo e me faz tremer mais do que nunca. Estou usando apenas uma jeans rasgada, uma sapatilha com o mini-salto quebrado, uma regata e um casaquinho por cima e um gorro rasgado.

Imunda, abandonada, sem ninguém além de mim mesma. Mendigando durante o dia, passando a tarde inteira na estrada, fugindo de algo que nem sei o que é, muito menos por que me quer. A noite paro no primeiro lugar que encontro para comer e pago a coisa mais barata que tiver. Hoje consegui apenas quinze dólares.

Estou exausta, mas não posso dormir. Nem sei mais onde estou, vivo nesta rotina já faz um ano.

Olhei rapidamente um dos relógios das pessoas que passavam na rua, passava do meio-dia. Vi uma das placas: Salem - 106 Km.

PARTE II - A NOITE TUDO É PIOR

Estou congelando. Este inverno está me matando. Faz seis graus negativos, meu nariz está pingando pois estou resfriada, não paro de tossir e só tenho uma refeição por dia. Acabei de comer uma coxinha com um gosto horrível, mas não julgo mais comida: Desde que seja comida, eu já engulo tudo em menos de duas mordidas.

Estou andando nesta estrada que parece não ter mais fim. Que saudades de ter um carro, uma família. Não. Não posso pensar assim. Não mais. Tenho que amadurecer, se eu viver do passado, irei morrer. O presente já é duro demais.

Do meu lado há um bosque imenso. Ouvi uns barulhos, e senti que me estavam observando. A estrada estava vazia, apenas eu. Um carro ou outro passavam, mas na maior parte do tempo, era só eu.

Ouvi um bip, muito alto, e logo depois, um barulho ensurdecedor. Meu ouvido começou a apitar e minha visão estremeceu. Olhei para o lado oposto da estrada. O que eram aquilo? Uns cinco sei lá o que, de dois à três metros de altura, negros como a noite e com olhos vermelhos. Vinham em minha direção, muito rápido.

Me joguei para dentro do bosque.

PARTE III - Jéssica

- AAAAAAAAAAAAAAAAAH - Berrei, correndo entre as árvores. Agora eram sete daqueles monstros.

Não, eram dez. Eu estava rodeada, fechei meus olhos, me concentrei e joguei todo meu poder. Era a segunda vez que eu usava, ainda não sei controla-los. Uma grande luz roxa saiu de mim e acertou os monstros, eles caíram, mas logo se levantaram.

Suas mãos viraram grandes lâminas e vieram em minha direção. Fechei meus olhos e esperei a morte. Tive a sensação de que meu corpo flutuava, meus cabelos voavam contra o vento. Até que parou. Isso que era morrer?

Abri meus olhos. Eu estava muito longe, não reconhecia onde eu estava. Havia uma garota ao meu lado.

- Q... Quem é você? - Perguntei, assustada.
- Meu nome é Jéssica. Quantos anos você tem?
- O-onze.
- Meu Deus. - Ela parecia indignada. - Eu tenho quatorze.
- P-por favor... V-você t-tem a-algum c-casaco? 
- Tenho sim! Acabei de assaltar uma loja de agasalhos.

Ela me deu um casaco e uma japona enorme. Me vesti rapidamente e lembrei como é o calor. Respirei fundo.

- Você é uma aberração que nem eu? - Perguntei.
Ela olhou no fundo de meus olhos. - Não. Eu sou Diferente.