História Diga que eu, sou seu! - A cobra

   Eu estava com o emocional abalado no dia anterior, chorei muito em meu quarto.

Harry me ligou umas 6 vezes, mais eu não queria falar com ninguém. Era aquela tristeza em que nunca sabemos o motivo exato, ela apenas veio e eu me deixei levar...

Talvez fosse a pressão de tudo aquilo que estava acontecendo de uma hora para outra, e movimentou demais minha vida, que antes era tão pacata, e simples ...

Estava caminhando para a escola, e logo atrás de mim vinha Júlia, ela nem olhava na minha cara, fiquei magoado.

Entrei e me sentei no lugar de sempre... olhei para trás e Harry me encarava, mais desta vez parecia querer me enforcar. Já esperava que ele fosse me xingar todo no intervalo.

Eu havia terminado o maldito trabalho de história durante minha crise depressiva de ontem. Aproveitei que hoje tinha uma aula de história e entreguei aquele trabalho borrado de lagrimas para a professora, ela o guardou dentro do diário.

O sinal bateu, e eu fiquei em meu lugar mesmo, esperando que Harry fosse se aproximar de mim para conversar, mais ele passou igual um " burro" sem nem me olhar na cara. Eu fiquei assustado, mais não fui atrás dele.

" Ele sabe o que faz... "

Três minutos depois sai da sala, quando cheguei na cantina, vi Harry sentado na mesma mesa que Júlia e Brenda. Elas estavam quase se jogando em cima do colo dele, que parecia não estar muito alegre no meio delas.

Me aproximei dos três para conversar, e não fui recebido com muito entusiasmo...

_ Oi gente!

_ Oi. - Disse apenas Brenda.

_ Ta tudo bem por aqui?

Eles demoraram a me responder, ficavam calados, se olhando como se eu fosse um " encosto ".

_ Ta tudo ótimo... - Respondeu Brenda novamente. _ Bom eu vou sair, e deixar vocês sozinhos...

Ela se levantou e saiu andando... Eu continuei encarando Harry e Júlia, mas parecia eles que nem notavam a minha presença.

_ Acho que eu vou para a sala... - Disse meio baixo, eles escutaram e apenas me olharam rápido. Peguei o pouco de orgulho que ainda tinha e voltei para a sala.

Chegando la, sentei em meu lugar, abaixei a cabeça e comecei a chorar.

Senti que tinha perdido Harry para sempre, e Júlia estava me dando um gelo sem motivos... Como sempre eu sendo injustiçado.

" Porque parece que todas as vezes que algo está indo super bem em minha vida, vem um terremoto e joga tudo abaixo? É incrível a capacidade da vida, de me deixar ferido..."

As outras aulas se passaram e eu permaneci de cabeça baixa, chorava baixo em meu canto, e ninguém se importava com minha tristeza.

Quando a aula acabou, esperei todo mundo sair para eu me levantar, estava com os olhos molhados ainda, e não queria que ninguém visse.

Abri os olhos e a claridade me incômodou um pouco, juntei meus materiais e saindo da sala topei de cara com Harry, encostado na parede do corredor me esperando.

Ele veio andando até mim quando me viu, eu limpei os olhos e continuei andando para frente.

_ Vinícius? - Eu não respondi. _ Vinícius, me espera...

Entrei no salão de dança fechando a porta na cara dele. E comecei a chorar de novo, todos os alunos da dança, inclusive Júlia me viram entrar soluçando de choro, para o vestiário.

Tudo ficou em silêncio. Escutava uma torneira liberando gotinhas no chão do banheiro, e aquilo era como contar os segundos em que eu estava ali dentro.

Abracei meus joelhos, e esperei o meu choro cessar, para retornar ao salão.

_ Vinícius, você não vai treinar hoje. - Disse Pâmela.

_ Porque Pãh?

_ Acho que você precisa ir para casa, e descansar...

Ela piscou para mim, e eu assenti saindo da sala.

Quando sai da escola, bati de cara com Harry novamente, eu apressei o passo, mais ele correu ate mim e me agarrou pelo braço.

_ Vinícius! Pare agora, e conversa comigo!

_ O que você quer comigo? Me deixa em paz, porra!

_ Porque está me tratando assim?

_ Vai la, conversar com seus amiguinhos, mais antes abra a sua carteira, porque sem ela, você é um " ninguém " como eu mesmo!

Ele soltou meu braço, e eu me encostei na parede da escola. Alguns professores que saiam pararam para ouvir nossos gritos...

_ Vinícius, para com isso, por favor! Eu só quero entender, porque você pirou assim, de um hora para outra...

_ Talvez, porque eu sou filho de uma louca descontrolada, porque eu sou pobre, ou melhor ainda... Talvez porque eu seja só um " viadinho "...

Ele tapou minha boca, e eu dei um tapa em sua cara.

Ouvi várias pessoas murmurarem após o tapa, que estalou longe.

Ele estava com o rosto abaixado, e eu fiquei travado de medo, e assustado, não podia acreditar que dei aquele tapa tao forte, na cara do garoto que amo.

Harry se levantou de vagar, tampou o rosto com as maos, e foi caminhando de volta para o carro que viera lhe buscar. Eu não tive forças para ir atrás dele ...

" O que eu fiz!? " .

Ajeitei minha mochila nos ombros e continuei rumo a minha casa, Harry já havia ido embora, e eu continuava não acreditando que tinha feito aquilo.

Quando cheguei minha mãe viu meu estado, e logo começou com um interrogatório, me tranquei no quarto e não dei ideia para ela.

Já dava 02:30 hrs da madrugada, e meu celular tocou.

- Alô?

- Oi Vinícius. Sou eu...

Conferi o numero, e vi que Harry havia me ligado em confidencial.

- Você me ligou em confidencial...

- Pensei que podesse, não querer me atender...

- Claro que não. Eu te atendo sempre.

- Ontem não. Te liguei varias vezes...

- Ontem não foi um dia bom pra mim, desculpa.

Ele ficou um tempo calado. E respirou fundo antes de continuar a conversa, parecia triste.

- Preciso conversar com você.

- Eu sei, amor... Quando?

- Amanhã mando um carro te buscar, vê se entra dessa vez...

- Tudo bem, eu irei.

Ele me deu um " Boa noite" tao seco, que quase chorei de novo. Quase 03:00 hrs da madrugada e eu estava acordado, sem um pingo de sono, não conseguia parar de pensar no que eu tinha feito...