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História Disable - Flashback - II


Escrita por: littlediao

Notas do Autor


Feliz Natal atrasado pessoal /o/Poucos devem ter notado, mas eu quase desisti da fanfic, cheguei até a excluir. A boa notícia é que a criatividade voltou, e foi bom poder restaurar a história e escrever um capítulo novo, de qualquer forma, é isso… Desculpem qualquer coisa.

Capítulo 11 - Flashback - II


Fanfic / Fanfiction Disable - Flashback - II


No dia seguinte, Bárbara foi bem cedo ao quarto de Kristen para verificar se ela ainda estava lá, como diariamente fazia na outra casa. Desceu as escadas que rangiam a cada passo, e abriu a porta com a chave que ficava guardada em seu bolso. A menina estava deitada na cama com um lençol por cima, de bruços. Sua perna estava para fora da cama, e o cabelo despenteado. Bárbara tossiu, colocando a mão na boca, para chamar a atenção de Kristen. Ela levantou a cabeça com os olhos meio fechados, sonolenta.


– Arrume sua cama e suba para o café, não demore. – Disse ela, fechando a porta novamente. Bárbara não gostava de descer ali, sentia-se presa, por conta de sua claustrofobia.


Kristen mal teve tempo de responder, assim que sua mãe saiu do porta, ela afundou o rosto no travesseiro novamente, injuriada. Alguns minutos depois levantou, pois se continuasse ali ia dormir de novo. Estendeu o lençol na cama, e cambaleou até a penteadeira, pegando sua escova para pentear os longos cabelos negros, olhando-se no espelho enquanto o fazia. Kristen passava a escova dentre os fios, olhando para aquele monte de cabelo, que ela detestava, mas de jeito nenhum poderia cortar. Se trocou após isso, e subiu até a metade da escada, Bárbara a viu, e fechou as cortinas da sala para que ela passasse. Kristen andou ainda sonolenta até a cozinha, que era separada da sala apenas por um muro elegante de mármore. Já não era mais estranho pra ela ter que se esconder, Kristen não se importava mais, afinal era sua rotina. Paul ainda não tinha ido trabalhar, e estava lendo um jornal enquanto sua xícara de café exalava vapor.


– Bom dia, filha. – Disse Paul, ele vestia uma camisa branca dobrada, deixando a mostra seu relógio, e para complementar o vestuário adequado para um dia de trabalho normal, uma gravata azul marinho. Ele sempre estava muito bem apresentado, Kristen se sentou ao lado dele com familiaridade.


– Bom dia. – Respondeu ela, passando as mãos no rosto. Paul pegou uma xícara que ficava no balcão atrás dele, e entregou a Kristen. – Obrigada, pai.


– E então, já sabe o que quer de aniversário? – Perguntou ele, a garota olhou pra ele com empolgação, mas quando abriu a boca para falar, travou. Sabia que o que ela queria de verdade ele não podia conceber. Liberdade. – Tudo bem?


– Tudo, claro. Eu não sei, podia tentar inovar esse ano, que tal pensar em algo por conta? – Falou, disfarçando o máximo que pôde. Paul largou o jornal sobre a mesa com um sorriso de canto no rosto, ele com certeza não era bom com presentes.


– Vou pensar. – Disse ele, simpático. Ambos terminaram o café juntos como uma família normal, enquanto Bárbara resolvia por telefone alguns assuntos pendentes da casa.


Paul foi para o trabalho, disposto como sempre, e Kristen voltou ao porão, que agora era seu quarto. Faltavam seis dias para o aniversário dela, e isso devia deixá-la ao menos animada, mas não deixava. Ela evitava pensar no assunto, mas talvez realmente estivesse na hora de começar a planejar sua vida dali pra frente, não existiam muitas opções, ou ficava ou fugia. Se tinha algo que ela tinha certeza, era de que Bárbara jamais permitiria que ela saísse dali, mesmo que o fato de mantê-la presa privasse-a tanto quanto privava a própria Kristen.

A garota passou a tarde toda no quarto fazendo as tarefas que sua mãe havia lhe passado, afinal ele não ia à escola, então Bárbara a sobrecarregava bastante com estudos, tanto escolares quanto religiosos. Mesmo sabendo muito sobre teologia, Kristen passou a não acreditar mais em Deus depois que Bárbara decidiu escondê-la, não entendia o porquê de todas as outras pessoas serem livres e ela não. À noite, Kristen estava deitada em sua cama, com os pés na cabeceira, ouvindo música em seu mp3, e folheando uma revista que já tinha lido tantas vezes, ambos foram presentes de Paul. O cantor favorito dela era o David Bowie, sempre que tinha a chance, pedia ao pai para trazer revistas sobre clássicos do rock, desde sempre o assunto a interessava. Paul incentivava-a trazendo DVDs, CDs, revistas, ele se sentia mal pois a única coisa que ele podia fazer era tentar manter a filha ocupada com algo. Bárbara detestava a ideia, mas não proibia ela de ter essas coisas, contanto que obedecesse as regras e desse prioridade a assuntos religiosos, Kristen fingia interesse para a mãe sair do seu pé.

Mesmo entretida com a música e a revista, ouviu passos, alguém estava descendo as escadas, em um movimento rápido, escondeu a revista debaixo da cama e pegou a bíblia que ficava na mesinha perto do abajur. Bárbara não ia gostar se a visse lendo revistas ao invés de “aprimorar” o conhecimento sobre a bíblia.


– Posso entrar? – Era Paul, e ele batia na porta antes de entrar, como qualquer pessoa com modos faria. A garota suspirou aliviada por não ser Bárbara.


– Claro. – Disse ela, se sentando na cama. O homem entrou, estava vestindo um terno preto, o que ele usava quando ia à igreja pregar. Ele se aproximou dela, e se se sentou ao seu lado, sem dizer nada, parecia apreensivo. – Algum problema pai..?


– Não. Só vim avisar que estamos saindo, o jantar está na mesa eu... Acho que vai ter que esquentar. – Kristen percebeu que ele estava sem jeito enquanto falava, tinha um palpite sobre o porquê mas não tinha certeza a ponto de perguntar.


– Tá, não se preocupe. – Disse ela, com as mãos entre as pernas. Paul se virou para ela, e suspirou, a olhando como se fosse algo precioso pra ele.


– Voltaremos logo, se cuide. – Ele se levantou, e foi em direção à porta, acenou para a filha antes de sair, ela correspondeu.


A verdade era que Paul se sentia um péssimo pai por permitir que ela vivesse naquelas condições, e em parte a culpa também era dele, por nunca ter tentado mudar as coisas. Mesmo com tudo que acontecia entre a família, Paul acreditava que um dia tudo ia ficar bem, e por isso não discutia com Bárbara sobre Kristen.

Ela esperou o barulho da porta da frente fechando para ter certeza de que eles já tinham ido, e subiu as escadas, já estava escuro, no relógio marcavam 20:47 PM. As janelas estavam abertas, porém as cortinas fechadas. A garota ficou no final da escadaria, apoiada na parede, olhando pela sala, conhecendo um pouco a própria casa. Foi até a cozinha, desta vez caminhando normalmente, sem medo de receber uma bronca ou ser vista. O jantar estava sobre a mesa como seu pai havia dito, mas ela não estava com fome, apenas pegou um copo de suco e foi andando pela casa para ver os outros cômodos, o lugar tinha dois andares, os quartos ficavam em cima, com exceção de um que ficava de frente para a sala, ele estava vazio, apenas com algumas caixas jogadas no canto, Kristen bebeu seu suco sem dar muita importância pra esse quarto, e subiu as escadas para ver o andar de cima, a escada helicoidal se finalizava num corredor estreito, dando caminho direto para o quarto dos pais dela, havia mais um quarto de hóspedes à esquerda.


– Hunf, como se fossem receber hóspedes aqui. – Debochou, falando sozinha no corredor escuro. O quarto estava quase que completamente mobiliado, sem propósito nenhum.


Hesitou alguns segundos olhando para a porta aberta no quarto de seus pais, e pensou se deveria entrar ou não, mas a curiosidade falou mais alto. Ela se aproximou do cômodo, e entrou, o quarto estava muito bem organizado, havia uma porta de vidro que permitia ir a sacada, Kristen ficou tentada a ir até lá, mas seria muito arriscado, alguém podia vê-la. O quarto em si era arejado e muito agradável, sobre a estante que ficava de frente para a cama, haviam algumas lembranças, como objetos, fotos e certificados. Kristen se aproximou de uma foto que chamou sua atenção, e pegou o porta retrato, era uma foto de Paul e Bárbara, eles pareciam tão felizes, ela percebeu que a foto era antiga pelas aparências deles, provavelmente a garota não tinha nascido na época. Ela por um momento se sentiu culpada por ser daquele jeito, se não fosse por isso, eles seriam uma família comum como todas as outras. Já com os olhos se enchendo d'água, guardou a foto no lugar, e se agachou no chão perdendo um pouco da noção de espaço, sua cabeça estava doendo, parecia que toda a dor que estava adormecida dentro dela tinha sido acordada por uma lembrança ruim, tudo por conta do uma foto. Começou a pensar sobre como não fazia sentido ela continuar vivendo daquele jeito, não tinha porquê ela viver. Se levantou com a mão na boca, evitando que saísse o som de seus soluços contínuos, e saiu dali esperando que seu desespero passasse.

Enquanto isso, na igreja, Paul pregava no altar enquanto Bárbara assistia da primeira fileira de bancos, eles não conheciam ninguém da região, mas todos tinham sido muito bem receptivos com eles, afinal, era um casal tão simpático.


– É seu marido? – Uma senhora que estava sentada ao lado de Bárbara, a cutucou levemente com o cotovelo, sussurrando, referindo-se à Paul.


– É sim. – Disse Bárbara, com um sorriso orgulhoso no rosto. Ela era boa em forjar emoções.


– Você tem sorte. Tem filhos? – Perguntou a senhora, inocentemente. O sorriso de Bárbara se desfez quase que por completo, mas ela disfarçou ajeitando o cabelo.


– Não, não temos. – Respondeu, soou tão suave que nem de longe alguém diria que ela estava mentindo descaradamente.


Paul terminou sua pregação, e recebeu muitos aplausos, o que para ele era uma conquista e tanto. Não é fácil falar perante tanta gente, mesmo quando se é acostumado com isso. No final da noite, o casal se apresentou aos líderes de igreja que ainda não conheciam, e foram convidados a continuar pregando ali, tudo estava indo perfeitamente bem.

Em casa, Kristen estava na banheira, apenas com metade do rosto para fora d'água, enquanto olhava para a navalha sobre a pia, lutando consigo mesma para não levantar dali e fincá-la na jugular. Afundou o rosto por completo, colocando as mãos no mesmo. Pensar em suicídio naquelas condições era inevitável, talvez fosse a única forma de fugir dali, ou pelo menos a mais fácil. Ela se levantou ainda na banheira, alguns respingos de água caíram no chão, Kristen puxou a toalha e enrolou-se nela, se secando para vestir o pijama e ir dormir, já que sua mente a atormentava tanto. Geralmente, ela esperava seus pais chegarem para dormir, mas naquele dia eles estavam atrasados, então ela não deu muita importância. Deitou-se na cama com o rosto levemente inchado e os olhos vermelhos de tanto chorar, pegou seu mp3 e colocou uma música qualquer na esperança que lhe ajudasse a dormir, funcionou. Não demorou muito para a menina cair no sono, minutos depois, Bárbara e Paul chegaram, seu pai desceu para ver como ela estava, e quando viu que estava dormindo, saiu sorrateiramente do quarto para não acordá-la. Kristen acordou no meio da noite com pesadelos, e não conseguiu dormir mais, no relógio marcavam 03:08. Não tinha nada para fazer, a não ser ficar olhando para o teto irregular de madeira do porão. Ela olhou para o lado, e viu suas botas jogadas num canto, as que havia usado no dia anterior, o que tinha conhecido Vivian. Se lembrou dos cabelos loiros e do sorriso inocente da garota tão carismática, e sorriu sozinha,talvez devesse ter ido pra fora de novo vê-la, porém era arriscado. Faltavam exatamente quatro dias para o aniversário de Kristen, e ela finalmente começou a pensar em algo que realmente fosse um presente, liberdade. Pegou um papel e uma caneta, acendeu o abajur, e começou a planejar o que ia fazer, se quisesse fugir dali teria que ser tudo bem planejado, Bárbara não era burra, qualquer descuido e ela não saía daquele porão nunca mais. Depois de algumas alternativas de fuga, chegou à um resultado que parecia ser o mais confiável, porém precisaria de ajuda, e já sabia com quem contar.

Já de manhã, Kristen ainda não havia dormido, saiu do quarto assim que Bárbara a chamou para o café, subiu as escadas livremente, assim que chegou no final da escadaria ouviu uma batida na porta, e desceu dois degraus rapidamente, se escondendo atrás da parede, ela não podia descer mais, pois a escada faria barulho e isso poderia ser suspeito. Bárbara abriu a porta, Kristen não estava vendo nada, apenas ouvindo, com o coração disparado, com medo de que alguém a achasse ali.


– Bom dia, garotinha. – Disse Bárbara, amigavelmente. Kristen colocou o pé em outro degrau lentamente, tentando entrar no quarto sem fazer barulho, mas era impossível a escada não ranger.


– Bom dia, senhora. – Kristen sentiu uma pontada no estômago ao ouvir a voz da pessoa na porta, era Vivian, impossível não notar. – Ah, a Christine está?


– Kristen. – Sussurrou Bárbara, involuntariamente, olhando para o nada chocada, Kristen passou a mão no rosto em desespero, não fazia ideia do castigo que Bárbara a daria por ter saído, tudo estava arruinado.


– Isso! Eu estou brincando com meus irmãos, e eu queria saber se… – Vivian começou a falar, parecia empolgada, não fazia ideia do que realmente estava acontecendo ali. Bárbara ferveu de raiva por dentro, mas por fora tinha que parecer tranquila para manter o disfarce.


– Querida acho que errou de casa. Não tem nenhuma Kristen aqui. – Disse ela, apertando a porta com força para tentar não ser grosseira, a garota escondida na escada respirou fundo, parecia que seu coração ia sair para fora.


– Não, eu tenho certeza que é aqui! Foi aqui que a vi. – Insistiu Vivian, parecia contente. Bárbara ficou séria por alguns instantes, encarando o chão.


– Não tem ninguém aqui. Com licença, tenha um bom dia. – Bárbara fechou a porta com força, Vivian achou estranho, e ficou confusa com aquilo.


Enquanto isso Kristen ainda estava no mesmo lugar, como se estivesse prestes a explodir. Ouviu os passos de Bárbara chegando perto, e criou coragem para encará-la e não abaixar a cabeça desta vez. Subiu os dois degraus que faltavam, e deu de cara com sua mãe, ergueu a cabeça e a encarou, Bárbara a olhava com tamanha frieza, como se quisesse matar a própria filha naquele exato momento, Kristen correspondeu com o mesmo olhar. Não sabia o que ia fazer, nem como ia enfrentar sua mãe, mas já estava mais do que na hora de tentar, ou jamais teria dignidade. 


Notas Finais


A partir do próximo capítulo as coisas vão ficar maneiras, prometo. -q


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