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História Disable - Flashback - IV


Escrita por: littlediao

Notas do Autor


Oioi, desculpem a demora. Eu gostei bastante de escrever esse capítulo porque a Kristen e o Richard se conhecem e fazem amizade, e também porque nosso passarinho esquisitinho chamado Kristen vai voar finalmente e cagar na cara da Bárbara -q É nois.

Capítulo 13 - Flashback - IV


Fanfic / Fanfiction Disable - Flashback - IV

 Kristen abaixou a cabeça, pensativa sobre a pergunta do garçom quase que debruçado na bancada, curioso. Por algum motivo que ela não se deu ao trabalho de pensar sobre, tinha simpatizado com aquele rapaz.


Que lance? Não tem nenhum lance. Pigarreou, balançando os pés que não alcançavam o chão por conta da altura da banqueta giratória. Richard levantou uma sobrancelha, não se dando como convencido.


Sei. Vai falando. Insistiu, sabendo que ela estava mentindo. Kristen mordeu o lábio inferior enquanto fitava o balcão sujo, com os pensamentos longe dali.


Tá legal. Mas isso é um segredo ok? Sussurrou, chegando um pouco mais perto dele. Suas mãos estavam espalmadas no balcão, Richard a fitou com um ar superior.


Que segredos uma garota de treze anos pode ter? Debochou, arrancando uma careta da menina em sua frente. Percebeu que ela não estava brincando pela expressão séria que esboçou quando ele tirou sarro. Tudo bem, desculpa. Pode falar.


Ela abria a boca para tentar falar mas não conseguia. De repente todas os prós e contras vieram como uma onda avassaladora, com mais contras que prós. Não tinha porquê falar sobre uma coisa tão pessoal com alguém que mal conhecia, mas aquilo a sufocava a tanto tempo, que realmente não tinha mais como segurar dentro de si. Richard ficou esperando que ela dissesse algo, levemente acanhado pelo silêncio e a expressão de Kristen que parecia ser uma mistura de apreensão e incerteza.


Eu não sei por onde começo. Ela ficou séria de repente, o garçom ficava cada vez mais curioso com aquilo conforme as reações estranhas dela.


Bom… Ele coçou a nuca, abandonando sua expressão irônica. Pelo começo?


Kristen levantou uma bochecha, e inclinou a cabeça para o lado, como se analisasse a pergunta com atenção. Não tinha exatamente um começo, ou tinha? Se tinha, ela certamente não sabia qual era.


Meus pais me prendem no porão. Suas palavras saíram como um raio de dentro de sua boca. Com toda aquela enrolação em decidir o que dizer, como dizer, acabou soltando a primeira coisa que veio na sua cabeça. Ela ficou olhando para Richard, esperando uma reação, com os olhos arregalados.


Ele franziu o cenho, e entreabriu os lábios, olhando-a de cima a baixo, como se não acreditasse no que ela disse. Um senhor que tinha acabado de chegar no bar interrompeu o momento de choque, pedindo uma dose de licor. Richard o serviu sem dizer nada, apenas continuou fitando o chão com uma expressão completamente confusa.


Eu não devia ter dito. Ela levou as mãos no rosto, num ato deplorável. O garçom voltou até onde estava após servir o homem, e colocou as duas mãos no balcão, chamando a atenção dela.


Que? Foi tudo o que ele conseguiu dizer. Sua cabeça estava uma confusão, não é sempre que uma garota de 13 anos aparece num bar stripper dizendo que seus pais a prendem no porão.


É complicado… Esfregou os olhos, cansada. O garçom respirou fundo, e deu um sorriso estranho de desespero.


Tá, vamos ver. Ele levou as mãos em frente ao corpo, em sinal de paz. Eles são traficantes de pessoas?


O que? Não! Disse ela, achando a suposição ridícula. Richard suspirou aliviado.


Então por que eles te trancam no porão? Que tipo de pais fazem isso? Você não tá mentindo tá? Acusou-a, apontando o dedo em sua direção. Kristen afastou sua mão de seu rosto.


Vai se fuder. Eu pareço estar mentindo pra você? Ela o olhou séria, Richard contraiu o maxilar, e fitou o chão, constrangido por ter de alguma forma duvidado dela.


Ok, me desculpe tá legal, é que é estranho sabe. Afirmou, mostrando a maturidade que Kristen tinha quase certeza que ele não tinha. Mas de qualquer forma… Por quê?


Finalmente pareceu o momento certo para contar a ele. Mas sentiu medo, ele podia facilmente sair correndo e gritando por um padre, ou rir da cara dela. Essas duas opções pareciam ser as mais prováveis reações dele.


Eu sou diferente. Eles não me aceitam. Disse, fitando o balcão. Richard a olhou, sentindo pena. Não sabia o que realmente acontecia com ela, mas pela tristeza que seus olhos mostravam, era algo horrível. E eu vou fugir.


Não é a solução. Disse ele, como se falasse por experiência própria. Kristen levantou a cabeça, e o encarou.


Como sabe? Questionou. Richard pigarreou, e franziu o cenho, como se aquela pergunta tivesse cutucado uma ferida que não devia ser cutucada. E tinha.


Por que estou falando com você? Eu nem te conheço. Revirou os olhos, cruzando os braços, agindo feito criança. Kristen levantou as sobrancelhas, e balançou a cabeça, concordando com ele.


É, mas se você parar pra pensar, eu e você nunca mais vamos nos ver. Eu te contei algo que nunca contei a ninguém, afinal eu não vejo ninguém… Fez uma pausa, enquanto Richard prestava atenção em suas palavras. Mas é como se você não tivesse contado sabe, eu não vou te julgar.


Ele a fitou, cabisbaixo.


Então por que eu devo te contar? Perguntou, ainda de braços cruzados, encostado no armário de bebidas.


Pra tirar esse peso que é guardar tudo. Disse ela, reflexiva. Ele respirou fundo, Kristen tinha razão e ele sabia disso. Guardar tudo pra si dói. Depois de alguns segundos de silêncio, ele resolveu dizer algo.


Quando eu tinha mais ou menos a sua idade, minha mãe fugiu pra Cuba com o namorado, e eu fiquei com meu pai, um bêbado imprestável. Enojou-se apenas de falar sobre o pai. E…


Ele a olhou, percebendo que ela estava realmente interessada no que ele estava dizendo, e isso de certa forma o deixava confortável para terminar.


De um mês pra cá, ele anda estranho, some e volta só dias depois sabe, é como se eu não o conhecesse. E eu penso em sumir, sabe, mas é tão complicado... Disse, decepcionado. Droga o que eu tô fazendo.


Tudo bem, continua. Assentiu, concentrada na história dele. Richard soltou uma risada fraca, balançando a cabeça negativamente.


Você já sabe o bastante. Disse, a fim de encerrar de vez o assunto. Kristen não quis insistir mais, dava pra ver como ele se sentia mal com aquilo.


Eu tenho uma pergunta. Como sabe que fugir não é a solução se não tentou? Questionou, metediça. Richard pegou a garrafa de licor, e deu uma segundo dose ao homem que havia pedido, logo voltou ao seu posto de antes.


Eu não sei. Afirmou. Feliz agora?


Acho que sim. Debochou, com um olhar travesso de criança. Olha, você quer fugir, eu quero fugir…


Garota você é burra ou o que? Eu não te conheço, você não me conhece, eu posso muito bem ser um psicopata. Disse ele, se atropelando entre as palavras. Kristen deu risada, subestimando-o.


Eu não disse nada. Só pensei que talvez a gente pudesse se ajudar, depois cada um toma seu rumo. Bebeu o último gole de energético em seu copo, já começou a se sentir mais agitada.


Sua mãe não te ensinou a não confiar em estranhos? Perguntou ele, debochado. Kristen abaixou a cabeça, tentando não se abalar com a pergunta. Richard se tocou da merda que tinha feito. Q-Quer dizer-


Foda-se ela. Ela desceu da banqueta, sem se deixar ficar magoada. O garçom a olhava curioso.


Onde vai? Perguntou ele, encostando-se no balcão. Kristen ajeitou o casaco, e tirou o cabelo de dentro do mesmo, os fios lisos caíam como uma cascata em seus ombros.


Vou pedir um whisky a outro garçom já que esse não quer me dar. Disse ela, colocando as mãos no bolso. Richard semicerrou os olhos, e fez uma cara feia.


Ah é? Então vai. Quero ver se o segurança não te arranca daqui em dois tempos. Desafiou, cruzando os braços. Ele estava vestindo uma camisa polo verde escura, e um avental preto amarrado da cintura pra baixo.


Ela saiu, mostrando o dedo do meio pra ele sem olhar para trás. Era cativante como eles tinham acabado de se conhecer mas já se davam bem, de um jeito meio irônico. Richard não era muito mais velho que ela, tinha 16 anos, e só estava trabalhando ali porque tinha amizade com o dono, e também para sustentar a casa, já que seu pai não se prontificou pra isso.

Desde que sua mãe foi embora e o deixou com seu pai, ele aprendeu a se virar sozinho, amadureceu do pior jeito possível passando por tudo isso sem ninguém por perto, mas por outro lado, ele tinha se tornado alguém independente, e isso o favorecia. Deixou o colegial no primeiro ano do ensino médio para poder trabalhar, mas pretendia terminar o quanto antes. A vida dele não era nada fácil, seu pai saia a noite para beber e voltava de madrugada, completamente bêbado. Mas o que ele não sabia, era que a situação podia sim piorar. Seu pai tinha mudado do dia pra noite, saía de madrugada e só voltava dias depois, e não dirigia uma palavra sequer ao filho. No máximo um esporro. Richard estava estranhando muito tudo aquilo, como se seu pai tivesse sumido, e aquela fosse apenas a carcaça. Não tinha certeza do que faria em questão disso, mas no topo da lista estava: Sumir. Sair da cidade. Fugir. Desaparecer. Deixar tudo pra trás. Mesmo seu pai sendo um babaca do pior tipo, Richard não queria deixá-lo, pois apesar de tudo ele continuava sendo seu pai, mas as coisas tinham mudado. Ele não era o mesmo.

Kristen foi até o balcão ao lado, olhando de canto as strippers que se exibiam dançando de forma sensual mas barras de ferro, enquanto os homens babavam em cima delas como raposas famintas. Elas eram bonitas, e Kristen se sentia atraída. Desde que era mais nova, seus 8 anos de idade, quando ainda era uma criança normal, notava que suas coleguinhas tinham namoradinhos, e andavam de mãos dadas com eles, se gabando por tê-los. E ela não achava graça, não achava legal, era algo “bléh”. Mas já em questão de garotas era diferente. Ela sofreu um pouco na escola por preferir andar de mãos dadas com uma menina e não com um menino, como todas as outras garotas faziam. Desde sempre seu destino foi ser diferente dos outros, e isso era seu fardo, mas aos poucos, seus olhos estavam se abrindo, e ela começava a perceber que nem tudo era tão complicado e confuso.


 Me dá uma dose de whisky. Disse ela forçando uma voz mais grossa, sem levantar a cabeça, evitando contato visual com o garçom. Era um homem alto, aparentava ter meia idade. Ele estranhou o jeito o qual ela tinha feito o pedido.


Qual, moça? Perguntou ele, pegando um copo redondo e largo daqueles com o fundo mais grosso, especialmente usados para whisky.


Me surpreenda. Disse ela, ainda sem contato visual. Disse aquilo porque não conhecia os nomes das marcas de whisky, então não tinha como escolher um específico. Ouviu a risada rouca do garçom enquanto enchia o copo.


Kristen sentiu que estava sendo fuzilada pelos olhos de Richard de longe. O garçom entregou o copo a ela, e em seguida, a garota tirou uma nota qualquer do bolso e colocou no balcão, saindo dali a fim de evitar que ele fizesse alguma pergunta do tipo “Quantos anos você tem?”.


Isso não significa que venceu. O Dave é burro não ia notar nem que você fosse o Honey Boo Boo. Disse Richard, se referindo ao garçom que serviu o whisky a garota curiosa. Kristen riu, e se sentou de novo na banqueta.


Não interessa, eu tenho uma dose não graças a você. Levantou o copo, logo antes de virá-lo em apenas um gole. Richard arregalou os olhos. Ela colocou o copo na bancada fazendo um estalo, e começou a tossir.


Nossa, isso foi tão genial. Disse ele, começando a secar os copos que estavam molhados no escorredor perto da pia. Kristen fechou os olhos com força, e suspirou.


Isso arde, mas é bom. Disse ela, analisando o copo antes cheio, e agora vazio. É assim que se bebe whisky não é? Pelo menos é assim que o James Hetfield bebe.


Já sei onde viu isso. Whiskey in the Jar. Resmungou, secando os copos sem muito ânimo. Kristen sorriu ao ver que ele conhecia a música.


Hum, você não é tão burro. Agora que eu já tomei um posso pegar outro? Perguntou, com um sorriso sacana. Richard sentiu vontade de tacar o copo que estava secando direto na cara dela.


Você pode parando, se pedir outra dose eu chamo o segurança. Disse ele, dando de dedo na cara dela, que levantou as mãos em sinal de paz.


Tá, sem whisky. Distraída, olhou para o relógio em formato de tampa de garrafa que estava na parede perto dos armários com as bebidas, ainda eram 21:35 PM.


Ela ficou ali por mais algum tempo, conversando com o garçom, que recebeu algumas encaradas do gerente por estar de papo durante o expediente. Conversaram um pouco mais sobre assunto delicados, como a situação dos dois com a família e etc. E assim que deu 22:10 hrs, Kristen resolveu voltar pra casa.


Eu tenho que ir. Disse, estralando os dedos da mão ao entrelaça-las. Richard bocejou, enquanto arrumava seu avental no quadril.


É, já tá na hora de criança estar na cama. Ele adorava provocá-la. Kristen desceu da banqueta num pulinho.


Pense sobre aquela coisa que eu disse. Disse ela, sorrindo de canto, não muito esperançosa. “Aquela coisa” que tinha dito, era sobre fugir, no caso de Richard, apenas sumir. E ele estava pensando seriamente no caso.


Lá vem você com essas idéias de novo. Zombou, como se fosse uma ideia completamente sem sentido. Kristen vestiu a touca, e sussurrou perto dele.


Eu nem te conheço direito, não acho certo eu sugerir isso logo de cara… Mas preciso de ajuda, não tenho muita opção, e você também parece precisar. Disse ela, sincera. Richard respirou fundo, concordando com a última afirmação. Então… A gente pode se ajudar, não precisa confiar em mim, só tenta me aturar durante o caminho.


Tá. Eu vou pensar. Ele se comoveu com as coisas que ela disse, mas não demonstrou. Ela sorriu entusiasmada, e colocou as mãos no bolso da blusa.


Volto aqui amanhã à noite. Confirmou, Richard assentiu. Até, Richard.


Até, Kristen. Eles acenaram um pro outro antes dela sumir no meio das pessoas no bar.


A garota voltou pra casa logo depois de sair do bar, andando com mais confiança do que antes, que sentia medo até de olhar nos olhos das pessoas. Tudo tinha ido bem, ela conheceu Richard, experimentou whisky, e saiu de casa. Mas algo martelava sua mente desde que havia entrado no bar, provocando um peso enorme na consciência.

A forma a qual ela tinha entrado, passando pelo segurança de uma forma, em eufemismo, “não honesta”. Não era necessário, ela podia ter dado meia volta e ido pra casa, evitaria ter manipulado aquela pessoa, como Bárbara sempre ensinou que não devia fazer.

Mas e se não tivesse feito? Não teria entrado, não teria conhecido o garçom irônico, e também não teria criado expectativas boas e esperançosas em questão de fugir. Fora a autoconfiança que conquistou só de sair de casa e pôr o pé na calçada, sentir o vento, ver as pessoas caminhando apressadas na rua, as lojas, os postes, a lua. Tudo que devia parecer normal, parecia incrível.

Kristen chegou em frente à sua casa, e passou pelo canto do muro, se abaixando um pouco para evitar ser vista.


Ei! Kristen! Seu coração quase saiu pela boca quando ouviu alguém gritar seu nome. Era Vivian.


Kristen correu até a parte de trás da casa antes que alguém mais notasse sua presença, Vivian foi atrás dela. Durante o percurso, caiu, dando de cara na grama.


Por que fugiu de mim?! Perguntou Vivian alcançando a garota caída no chão. Kristen apenas levou o dedo indicador a boca, indicando silêncio de forma desesperada. O que está fazendo no chão?


Droga Vivian. Se levantou, limpando a blusa com as mãos. Vivian a olhava confusa, foi tudo não rápido que Kristen nem notou que a garota estava de pijama. Tá fazendo o que aqui?


Eu te vi saindo e esperei você voltar, tive que sair pela janela para minha mãe não ver… Fez uma pausa, levemente arrependida. Não importa. Tenho que perguntar uma coisa importante. Ela cruzou os braços, enquanto a outra terminava de tirar os matos grudados na roupa.


Não. Eu é que tenho que te perguntar uma coisa importante. Kristen apontou o indicador pra ela, acusando a mesma, que não fazia ideia do que estava acontecendo. Você sempre descumpre promessas ou só não gosta de mim?


Vivian franziu o cenho, enquanto a outra a encarava de braços cruzados esperando uma resposta. Ficaram ali alguns segundos até a menor se tocar do que se tratava.


Mas era sua mãe, não pensei que teria problema, afinal vocês moram juntas. Disse ela, constrangida ao perceber que a outra estava brava. Seu rosto era carismático, sempre estava sorrindo, e sua voz quase sempre soava aprazível, doce. Kristen olhou para baixo e suspirou.


Por um momento tinha ficado com raiva e colocado a culpa nela pela briga que teve com a mãe, mas Vivian não sabia o que realmente acontecia naquela casa, não podia prever que Bárbara ficaria tão furiosa. E se soubesse, com certeza não o faria.  Kristen encarou seus olhos inocentes, que ela tanto gostava de encarar.


Me desculpa… Disse Vivian, juntando as mãos. Kristen sentiu um aperto no coração quando viu aquela expressão magoada.


Tá tudo bem, não tem problema. Afirmou, dando um sorriso fraco e coçando a nuca sem jeito.


Mas eu confesso que não entendi. Acrescentou Vivian, confusa com toda aquela situação. Kristen sabia que se continuasse conversando com ela, teria que dar algumas explicações. A garota era ingênua, poderia não entender, e isso deixava Kristen apreensiva.


Ok, Vivian, agora é sério. Se sentou na grama, encostando-se na parede da casa. A outra logo se sentou ao seu lado, deixando as pernas cruzadas, naquela posição que chamavam de “perna de índio”. Eu posso confiar em você?


Claro que pode. Disse ela, com um sorriso orgulhoso no rosto. Kristen jogou a cabeça para trás, que logo se chocou contra a parede, fazendo um som oco.


Minha mãe me odeia e eu fico presa no porão. Kristen tinha essa péssima mania de não saber explicar nada e atropelar as palavras, falando tudo de uma vez. Vivian ficou séria por meio segundo e começou a rir.


Tá. Revirou os olhos, enquanto ria. É sério agora, sem brincadeiras.


Vivian eu não estou brincando. Ela ficou séria o bastante para que a menor entendesse que não se tratava de uma brincadeira.


Mas… Não! Como assim? Você mora num porão? Vivian ficou perplexa, fazendo várias perguntas ao mesmo tempo. E Kristen já sabia que isso ia acontecer.


Ela explicou tudo, desde o começo. Desde quando foi trancada pela primeira vez, até aquele dia. Não tiveram exceções, ela contou inclusive a parte da manipulação, o que causou uma reação um pouco diferente do que ela esperava.


Isso é tudo verdade? A voz de Vivian soou baixa, mas mesmo assim podia-se notar o espanto que esbanjava. Kristen balançou a cabeça positivamente, tentando não olhar pra ela. A história toda lhe deixava constrangida.


Nunca tinha se aberto assim com ninguém, mas a sua falta de convivência com pessoas a fez sentir falta disso, e quando finalmente teve esse contato, acabou se soltando demais sem pensar. Acabou falando coisas que talvez pudessem ficar guardadas. Ou talvez não.

Sem dizer completamente nada, Vivian a abraçou com toda a força que tinha, e não era muita. Kristen se assustou de início, estranhando a reação inesperada dela, mas contribuiu. Ela percebeu que Vivian era muito sensível, conforme ela foi contando sua história, os olhos da menina enchiam-se d'água, e ela se esforçava para não deixá-las cair.

O gesto dela foi muito bonito na percepção de Kristen, ela a abraçou com tanta vontade, com tanta emoção. Sentiu medo de estar fazendo a coisa errada antes em contar um segredo tão obscuro à uma quase estranha, mas ali ela viu que Vivian era uma boa pessoa. Não a julgou, não a humilhou, não a chamou de aberração. Não fez nada que Bárbara dizia que fariam se ela contasse.

Com apenas um abraço, Vivian abriu os olhos de Kristen. A fez ver que ser diferente só é um fardo, se você decidir que é. Não importa o que você faz, como você é, como age, o que importa realmente é o que te preenche. Raiva, amor, ódio, bondade.


– Obrigada. – Apoiou o rosto no ombro de Vivian, enquanto suas mãos estavam nas costas da mesma. A menor a abraçava como se fosse um urso de pelúcia, sem receios, apenas a abraçava a fim de confortá-la.


Você precisa sair daqui. Disse Vivian, com os olhos cheios d’água. Kristen se separou do abraço para poder olhar nos olhos dela. Assim que o fez, segurou seus ombros frágeis e fitou seus olhos castanhos.


Eu sei que preciso, preciso a muito tempo fugir disso. Mas nunca tive confiança em mim mesma. Eu só precisei sair para finalmente pensar com a minha própria cabeça. Dizia, Vivian a olhava com pena. E você me ajudou.


Ajudei? Falou, entre um suspiro contente. Kristen assentiu, sorrindo como nunca tinha feito antes.


Sim. Agora me sinto mais confiante pra sair daqui. Olhou para a casa, como se aquele lugar fosse assustador. E era, pra ela.


Que ótimo. Eu posso falar pra minha mãe, e-eu posso pedir- Dizia, misturando empolgação e choque em sua expressão. Kristen a interrompeu.


Vivian, não. Ninguém pode saber, eu preciso sumir sem que ninguém saiba para onde vou, entende? Só assim eu posso realmente fugir disso. Disse, uma mecha de cabelo caiu em seu rosto enquanto falava. Vivian a olhava admirando a beleza diferente que ela tinha, os cabelos pretos escorridos sem corte, e os olhos mesclados num azul profundo e um castanho inconfundível, herdado de Paul. Vivian?


Desculpe. Então você vai embora? Perguntou, decepcionada. Kristen respirou fundo, e soltou os ombros dela.


Eu acho que sim. Respondeu, fitando o chão. Ambas estavam uma de frente para a outra com as pernas cruzadas e os rostos devidamente próximos. Kristen brincava com as mãos enquanto falava.


Kristen, eu sei que não quer falar sobre isso mas… Ela falava com pausas, nervosa. Então você… Manipula as pessoas?


Eu não vou te fazer mal Vivian. Disse ela, apreensiva. A menor riu, mostrando que não era isso que a preocupava.


Sei disso, mas mesmo assim… É estranho. Mas é muito legal! Ela mantia a mente aberta, o que era muito bom.


Elas ficaram ali conversando até ouvirem o barulho do carro dos pais da Kristen que tinham chegado. Se despediram rápido, e cada uma entrou por uma janela. Vivian pela de seu quarto, e Kristen pela do porão.

 Era engraçado como aquela coisa de fazer tudo escondido tinha algo de bom envolvido, a adrenalina que causava.


Notas Finais


Eu só queria dizer que a partir do próximo capítulo a coisa vai ficar insana e pegar fogo (literalmente). Até \o/


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