História Discovery - There is not a way back

Camila não voltou a dormir tão rápido quanto antes. Ela havia arranhado meu braço na tentativa de me fazer ficar cada vez mais perto dela e mesmo que aquelas pequenas marcas vermelhas no meu braço estivessem doendo com seu aperto, eu não chorava pela dor física e sim pela dor que Camila transmitia.

Ela se quebrou forte o suficiente para me deixar perdida. Eu não soube o que fazer. Não havia sentido na minha mente. Eu só a pude abraçar cada vez mais forte. Ela se desmanchando em lágrimas e dor em meus braços. Não quis imaginar como seria no fim de tudo. Como seria sua dor quando a Danny tivesse que realmente ir. 

Dormi primeiro que ela provavelmente, pois não a lembro de ter visto dormir ou ao menos lembro de quando apaguei. Acordei muito cedo. Camila não estava mais ao meu lado e meus saltos não estavam mais nos meus pés como ontem a noite. 

Caminhei silenciosamente até a sala e lá estava ela. Camila tinha uma xícara apoiada na janela e parecia observar a rua ainda pouco movimentada em que morava. Eu me senti em casa a observando de longe. Ela pareceu tão real e ao mesmo tempo uma fantasia. Tive medo sem motivo. Talvez houvesse um motivo, talvez eu tivesse medo de o descobrir. 

- Camila? – A chamei enquanto me aproximava. Ela rapidamente limpou o rosto e respirou forte abraçando o próprio corpo e se encolhendo para um lado da janela. 

Ela estava vestida com seu roupão branco, mas estava frio demais com o ar gelado entrando pela janela. Era difícil continuar me aproximando com o frio vindo direto nas nossas direções. Ela não estava com frio? 

- O que está fazendo aqui? Está congelando. Não sente? – Perguntei quando estava a um passo de distância dela. A toquei o braço e ela tremeu como se só agora percebesse o quão frio estava. Seu olhar ainda era distante para fora do apartamento. – Cami... 

- Eu sinto... Eu sinto muito, Lauren. – Sua voz soou tão fraca que quase não a ouvi. O vento soprou mais forte. Ela fechou os olhos deixando que as lágrimas em seus olhos rolassem pelo rosto. – Eu sinto muito por ter de fazer todo mundo ir. 

- O que está falando? – A encarei confusa. Ela virou na minha direção. 

- Todos que eu amo ou já amei na vida... Todos eles morrem ou quase isso. Você não vê? Meus pais, minha irmã, meus cachorros, a planta que eu ganhei da Cris, o James, agora a Danny. Todos morrem. – Ela sussurrou como se me contasse um segredo. A dor expressa em sua voz como um tiro contra a minha alma. Aquilo doía em mim e a matava também. – É tudo culpa minh... 

- Não! Não é culpa sua. Pare de dizer isso. Nada disso é culpa sua. – Eu a puxei contra o meu corpo a abraçando forte outra vez. Ela voltou a chorar. Eu podia sentir suas lágrimas deslizarem pela minha pele. Seu rosto contra o meu pescoço. – Não é culpa sua, amor. Está tudo bem. Você não é a culpa por nada disso. 

- Eles só morreram por minha causa. – Tentou me empurrar. Eu a apertei em meus braços. Seu corpo gelado cortando minha respiração enquanto congelávamos com o vento vindo pela janela. 

- Não diga isso, Camila. Ninguém morreu por culpa sua. Foi um acidente. Você não teve culpa. Não teve culpa. – Repeti outra vez e ela soluçou voltando a arranhar minha pele me apertando. – Vai ficar tudo bem. Calma. 

Ela não falou nenhuma palavra. Seus soluços eram tudo o que eu ouvia e aquilo machucava mais do que tudo. Eu estiquei o braço apenas para fechar a janela e fazer com que o apartamento voltasse a esquentar. Camila continuou grudava ao meu corpo enquanto eu nós guiava até seu sofá. Ela sentou quase sobre mim. O rosto ainda enfiado na curva do meu pescoço. 

- Camila, você vai ficar... 

- Você prometeu que não iria me deixar. Você não vai me deixar. Não vai. Vai quebrar sua promessa? – Falou baixo entre soluços. A puxei mais contra mim e beijei seu cabelo. 

- Não vou te deixar, Camz. Eu estou bem aqui com você e eu vou sempre estar. 

- E se você encontrar alguém melhor? Você vai mentir e eu... 

- Não vou encontrar ninguém melhor. Você não sabe, mas... – Respirei fundo. Ela parou de chorar entre a minha pausa. – Eu te amo, Camila. Não vou te deixar. Eu juro. 

O silêncio invadiu o apartamento. Ela não chorava mais, mas não se afastou ou se moveu. As mãos segurando meu corpo como se ela me soltasse, eu fosse simplesmente desaparecer. Eu a segurando contra meu corpo como se tentasse tirar toda a sua dor. Os minutos correram. Ela ainda em silêncio. 

- Camila, eu... 

- Eu também te amo. – Sussurrou outra vez. Eu não soube reagir a suas palavras. Talvez fosse o mesmo motivo da sua falta de reação a minutos atrás quando ela simplesmente parou de chorar de uma hora pra outra após eu dizer que a amava. Eu senti meu corpo aquecer com ela abraçada a mim. Meu coração pulsou mais rápido do que eu imaginei que pudesse bater. Ela beijou suavemente meu pescoço e se afastou. Meus braços a deixando ir. – Eu te amo! 

Eu sorri sem jeito. Meus olhos com lágrimas que não havia percebido. Minha voz presa em minha garganta. Ela devolveu um sorriso curto pra mim. Os olhos ainda nos meus. Queria gritar. Ela me amava, mas ainda estava quebrada e eu não sabia como a consertar. 

Me deu um beijo rápido segundos depois enquanto eu permanecia sem reação. Sorriu um pouco mais e levantou do sofá segurando minha mão. 

- Está com fome? – Perguntou me encarando. Eu confusa. 

- Camila, você está bem? – Levantei a sua frente. Ela olhou meu vestido e passou a mão livre vagarosamente sobre o tecido. 

- Não, mas eu vou ficar. Vou ficar bem exatamente como fiquei das últimas vezes. Certo? – Olhou em meus olhos. Ela precisava ter certeza de que ficaria bem e se eu fosse sua certeza, eu estaria lá para ela. 

- Sim. Você vai ficar bem. – Afirmei rapidamente. Apertei um pouco mais sua mão. Ela limpou a última lágrima que escorreu dos seus olhos. – Está com frio? 

- Um pouco. – Respondeu depois de alguns segundos. – Por que não toma um banho enquanto eu te preparo algo para o café? 

- Por que não toma banho comigo e saímos para tomar café? Você não tem nada na cozinha. – Ela serrou os olhos na minha direção. 

- Lauren, eu não estou no clima para tomar banho e.. 

- Só vamos tomar banho, Camz. Eu só vou cuidar de você. Não espere que eu esteja no clima para isso também. A Danny é uma grande amiga. – Camila afirmou com a cabeça. – Você pode tomar banho primeiro, se quiser. 

- Não, tudo bem. Você pode cuidar de mim. – Sorriu suavemente e foi minha vez de afirmar. Nos guiei até o seu banheiro no corredor. 

Ela deixou o roupão de lado e entrou no debaixo do chuveiro. Eu tirei meu vestido e lembrei que ela havia ficado com a minha calcinha durante a festa. A observei enquanto ela se molhava. 

- Onde colocou minha calcinha? – Perguntei quando ela olhou pra mim outra vez. Ela balançou a cabeça rindo e chorando ao mesmo tempo. Me arrependi de ter perguntado algo. – Hey, o que foi? 

- Eu queria que a noite tivesse sido diferente. – Respondeu quando me aproximei. Ela me abraçou. A água quente batendo contra nossos corpos. 

- Eu também queria, mas está tudo bem. – Beijei sua testa. – Vamos ficar bem. 

O banho não foi longo. Eu a ajudei a se ensaboar e a lavar o cabelo rapidamente. Camila me observou enquanto eu terminava meu próprio banho logo após ela. 

Nós nos vestimos rápido. Meu estômago me lembrando da fome pela manhã e Camila parecendo triste e perdida enquanto eu terminava de calçar uma de suas botas. 

Caminhamos abraçadas até o café mais próximo. Camila preferiu ocupar uma das mesas do lado de fora e eu entrei para fazer nosso pedido e agradeci quando ele não demorou muito. 

Ela tinha o rosto cansado e o olhar pesado lembrando o quanto já havia chorado. Eu não conseguia desviar meus olhos dela enquanto ela olhava a rua agora um pouco mais movimentada. Como eu a ajudaria agora e mais tarde? Como eu seria tão forte por nós duas? Haviam coisas as quais eu ainda precisava descobrir e aprender e eu o faria se Camila fosse o meu motivo e o meu objetivo. Eu estaria lá para ela quando fosse fácil e quando fosse difícil. Eu a havia prometido algo e eu lutaria contra tudo para cumprir minha promessa. Não havia mais volta.