História Discovery - Fantasy

Era segunda-feira quando finalmente deixei o apartamento da Camila em sua companhia. Ela não estava falando nada, mas tinha sua mão firme a minha. A respiração forte e gelada contra o ar ainda mais frio. Respirou fundo e olhou pra mim por segundos. Sorriu triste. Baixou o olhar. Balançou nossos braços. Deu seus passos primeiro para fora do elevador.

Não me era estranho estar assim com ela depois de algum tempo. Eu podia sentir a diferença entre ter estado com a Camila, ter estado com a Halsey e ter finalmente voltado para alguém que eu via um lar. As vezes eu a olhava adormecer e ela me parecia um mistério. As vezes eu a olhava e ela era clara como água cristalina. As vezes eu não a entendia e as vezes eu queria devorar sua mente de tão linda.

Ela não seguiu os passos de sempre. Eu a olhei estranho e ela deu de ombros enquanto atravessávamos a rua. Sua mão permaneceu a minha. Ela a um passo na frente que eu me mostrando a que caminho seguir.

Caminhamos 3 quarteirões e finalmente descemos as escadasostação. Camila respirou fundo outra vez. O aperto na minha mão foi mais forte. Seus olhos fecharam por 3 segundos e então deu mais alguns passos até o guichê para comprar o Tickets da viagem.

- Por que estamos usando o metrô? – Perguntei enquanto ela aguardava a mulher do caixa a entregar os bilhetes.

- Pensei em fazer algo diferente. – Respondeu dando de ombros.

Camila agradeceu após receber os Tickets e o troco. Me entregou um deles e entrelaçou o braço ao meu enquanto parecia querer se aquecer ao lado do meu corpo. Eu lembrei da primeira vez em que ela fez isso em pouco tempo depois de começarmos a trabalhar juntas.

Parou a poucos passos da faixa amarela da plataforma. Descansou a cabeça no meu ombro e se aproximou mais de mim. Eu não podia tirar meus olhos dela ou parar de seguir cada movimento seu. Camila era a pessoa mais bonita do universo. Não me entendam mal. Eu sei que estou apaixonada e que toda pessoa apaixonada vai dizer que a pessoa que gosta é a mais bonita do mundo. Sim, eu sei que é clichê e talvez eu tenha dito isso antes para alguma das meninas que eu “namorei” durante o ensino médio, mas eu também sei que tudo agora é diferente. Diferente de um modo extraordinário. Ela é algo novo e algo que eu pareço lembrar desde sempre. Eu descubro algo novo sobre ela todo dia e ao mesmo tempo é como se eu soubesse de tudo e nada ao seu respeito. Ela é a pessoa mais bonita do universo porque ela é apenas ela de uma forma única e inimaginável. Ela é única e extraordinariamente bonita, por dentro, por fora, de frente, de costas e de todas as formas possíveis. Camila é uma obra de arte. A melhor de todas elas.

- Lauren! – Puxou meu braço com força e me encarou com um sorriso confuso. – Onde você estava? Estou te chamando faz tempo.

- Desculpa. Eu.. Eu estava pensando. – Sorri. Ela arrumou a bolsa sobre o ombro e voltou a agarrar meu braço.

- Sobre o que pensava? – Olhou para fora da plataforma.

- Você. Eu estava pensando sobre você. – Voltou o olhar para mim. Sorriu suavemente. Os olhos com um brilho diferente. Eu amava esse brilho em seus olhos. Era como se eles fossem só meus.

- Sobre mim? O que estava pensando sobre mim então? – Descansou a cabeça de novo no meu ombro.

- Eu estava apenas pensando sobre o quão bonita você é. De todas e tantas formas diferentes. Você é simplesmente a pessoa mais bonita do universo. – Falei com calma. Ela parecia sorrir. Negou com a cabeça.

- Não seja boba, Lauren. Eu não sou a pessoa mais bonita do planeta. Você deveria se olhar no espelho mais vezes.

- Eu gosto de me ver através dos seus olhos. Eu fico mais bonita neles e na minha opinião, você é sim a pessoa mais bonita do universo. Não tente discutir. Talvez um dia você aceite. – Beijei o topo da sua cabeça. Ela abraçou meu braço.

- Você é linda. – Falou abafado contra seu casaco que eu vestia. – Eu posso te perguntar algo?

- Você acabou de perguntar. – Recebi um tapa em resposta. Gargalhei. – Pergunte.

- Não vou mais perguntar. – Soltou meu braço para cruzar os seus. Uma expressão brava e brincalhona ao mesmo tempo em seu rosto.

- Camz! Pergunte. – A puxei de volta para os meus braços.

- Não. – Sorriu.

- Por favor!! – Eu falei alto, mas ela provavelmente não ouviu quando o barulho do metrô se aproximando começou. Eu sorri junto a ela. Estava na minha lista de coisas favoritas para fazer com a Camila. Sorrir com ela.

Eu a puxei para dentro do vagão. Ela permaneceu sorrindo. Não haviam cadeiras vagas, como se era de esperar. Ela não se importou de se segurar em mim. Eu não me incomodei de forma alguma com ela estar se segurando em mim. Ela estaria sempre segura. Eu podia confirmar.

- Você poderia morar comigo. – Falou baixo segurando firme no meu casaco. Eu demorei alguns segundos para receber sua informação. - Sabe, você já passava mais tempo lá no meu apartamento do que no seu e o meu é maior, mais perto da editora e o bairro é mais seguro. Você pode ficar lá comigo e me fazer companhia. Se você quiser, é claro.

- Quer que eu more contigo? – Minha perguntou soou com um sorriso. Sua boca próxima ao meu queixo. Ela olhou minha boca por segundos até encontrar meus olhos outra vez.

- Você me faz sentir segura e... Eu fico mais feliz quando você está comigo. Não esqueço mais de dormir ou de comer algo. Nós podemos fazer compras juntas no supermercado e não deixar meus armários e geladeira vazios o tempo inteiro. Você já usa mais as minhas roupas do que as suas próprias. Os meus sapatos e meias. É como se já morássemos juntas, mas... Eu só queria que você não me deixasse mais sozinha quando eu estivesse lá. – Eu não a respondi de imediato. Seu olhar se tornou medroso segundos depois e então impaciente. – Diga alguma coisa.

- Tem certeza que nunca namorou uma mulher antes? – Ri e ganhei outro tapa em resposta. Estávamos parando em outra estação. Ela quase caindo por ter me soltado. Eu a puxei de volta e ela me abraçou forte rindo também.

- Eu vou entender se você não aceitar agora. Sei que foram apenas alguns dias, mas... Eu quero te ter todos os dias ao meu lado na cama.

- É claro que eu aceito, Camz. Eu aceitaria até um pedido de casamento seu agora. Sabe que eu sou trouxa por você. Eu te amo! – Beijei sua testa e ela sorriu largo. Me abraçou mais forte.

- Não vou te pedir em casamento.

- Por que não? – Eu queria ver seus olhos, mas ela olhava suas mãos na minha cintura.

- Você quem vai me pedir. – Sorriu. – Mas não agora, okay?

- Okay. – Sorri de volta quando ela olhou pra mim e beijou meu queixo. Outra estação e então nós descemos.

O caminho até a editora não era longo. Eu costumava fazer isso quando pegava o metrô. O caminho agora era mais divertido, porém. Camila estava outra vez abraçada ao meu braço e me puxou para a cafeteria em frente ao prédio da revista.

- Dois cafés e ... Amor, você quer um bolo, uma torta ou... Bolinhos confeitados? – Perguntou apontando para o balcão.

- A torta de amora parece ótima. – Respondi sem realmente olhar a torta de amora. Eu estava derretendo por dentro a ponto de cair no chão e me debater enquanto gritava sorrindo dizendo que a Camila havia me chamado de amor outra vez. Pessoa mais trouxa não deveria existir a esse ponto.

- 2 cafés e 2 fatias de torta de amora. – Fez o nosso pedido e aguardou até a receber o troco do pagamento.

- Eu não deveria te deixar pagar tudo pra mim. Eu posso pagar minhas próprias coisas. – Falei baixo e ela riu. Estive com saudades de a ver sorrir tão rápido.

- Guarde o seu dinheiro para coisas importantes. – Me puxou para o outro balcão enquanto esperávamos nosso pedido.

- Por que não faz isso com o seu?

- Estou gastando com coisas importantes. Você! – Beijou minha mão antes de solta-la para pegar os dois copos de café e o saco com as tortas.

- Está tentando me mimar?

- Estou cuidando de você também, garota. Tenho que te alimentar bem. – Tomei os dois cafés das suas mãos e ela voltou a nos guiar em direção a editora.

- Vai virar minha mãe agora? – Ri.

- Vai me chamar de mamãe na cama agora? – Ergueu uma sobrancelha pra mim e eu quase engasguei com minha própria respiração. Ela apertou meu braço enquanto ria e me puxava para o outro lado da rua. – Estou brincando, mas eu não reclamaria.

- Camila!

- Okay. Eu parei. – Sorriu e cumprimentou os seguranças e funcionários da recepção do prédio antes de aguardamos o elevador.

- Meninas. – Danny se juntou a nós duas no elevador um pouco antes de ele finalmente aparecer. Eu me senti tensa por ter lembrado dos nossos últimos acontecimentos e de como Camila havia ficado realmente pra baixo.

- Danny!! – Camila a abraçou forte e ela também a abraçou de volta. – Estou feliz em te ver.

- O que aconteceu com você? – Danny perguntou rindo confusa.

- Só estou feliz por ainda estarmos aqui. Você sabe, temos que aproveitar tudo o que temos. – Deu de ombros sorrindo. – Sabia que eu convidei a Lauren pra morar comigo e ela aceitou?

- Mesmo? – Danny olhou pra mim. Eu sorri tímida e senti meu rosto aquecer. – Ela disse que vocês não estavam namorando.

- Mas não estamos. Ela só vai morar comigo. – Deu de ombros outra vez.

- E eventualmente ela vai parar na sua cama sem roupa, certo? – Gargalhou sozinha enquanto eu fiquei ainda mais vermelha e Camila sorriu maliciosamente olhando pra mim. – Vocês deveriam saber que o salão de festa tinha câmeras por todos os lados e conseguiram pegar vocês no lugar mais escuro e afastado.

- Como? – Eu falei alto surpresa. Danny gargalhou.

- Está tudo bem, meninas. Eu entendo essa fase e sei como os hormônios funcionam. Principalmente os seus agora, Lauren. Eu pedi para excluírem as gravações. Ninguém vai expor vocês na internet. – Piscou pra mim e Camila riu sozinha.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos até finalmente o elevador parar no 16° andar.

- Dan, nós podemos conversar? – Camila perguntou quando deixamos o elevador. O andar ainda pouco movimentado.

- Claro. – Sorriu fraco. Ela provavelmente soube sobre o assunto certo que Camila traria de volta agora com mais calma e ela também sabia que Camila era a dona das questões detalhadas.

Danny seguiu para a sua sala e Camila me acompanhou até a minha mesa. Ela quase colocou sua bolsa sobre sua antiga mesa de volta, então sorriu quando percebeu que não éramos mais colegas de mesas de escritório.

- Sente a minha falta, garota? – Perguntou quando joguei a mochila para o lado da minha cadeira.

- É claro que sim. Quem eu vou ficar assistindo trabalhar loucamente o dia inteiro? – Ela sorriu puxando minha cadeira e me empurrando para eu sentar.

- Eu gostava quando você me assistia. Era interessante a certo ponto. – Rodou sua antiga cadeira e a empurrou pra longe. – Okay, eu vou conversar com a Danny um pouco antes que comece o horário de trabalho. Pode comer se não quiser me esperar, mas eu me esperaria se fosse você.

- Eu vou te esperar. Pode ir. Só não demora muito ou o café esfria. – Eu sorria para o seu sorriso perfeito.

- Comam logo. Depois você vem falar comigo, Cabello. Eu não vou sair do meu lugar agora. – Danny passou por nós em direção as salas de reuniões. Camila sorriu fraco.

- Acho que não precisamos esperar. – Puxou sua antiga cadeira de volta e sentou de frente pra mim. Ela aproximou sua cadeira outra vez exatamente como já havia feito antes. Os joelhos batendo quase entre as minhas pernas.

Me deu um beijo gelado e rápido e se afastou com seu café na mão. Eu sorrindo feito boba. Sorrindo exatamente como eu deveria sorrir em todos os beijos que ela fosse me dar e eu esperei realmente que fossem muitos beijos. Eu queria a beijar toda hora.

Nós comemos rapidamente. Camila falando besteiras e eu rindo outra vez de qualquer coisa que ela falasse. Era estranho talvez nos ver assim agora.

Danny estava morrendo e sabíamos disso agora. Camila não chorava mais e parecia mais animada do que qualquer outro dia em que eu a tenha visto na editora. Eu rindo do nada porque Camila parecia feliz. No fundo todas nós sabíamos também. Não havia felicidade alguma para nós no momento. Era tudo uma fantasia enquanto tentávamos nos acostumar com os novos fatos. Me doeu pensar que ela não estava tão feliz e animada por dentro. Me doeu mais saber que ela cairia outra vez chorando nos meus braços e talvez eu também precisasse cair um pouco na mesma hora. A queda dava medo por não parecer estar longe e ser tão incerta no tempo. Não deveria tudo ser também fantasia?