História Discovery - Is she going to survive?

Haviam passado dois dias desde que Camila havia desaparecido. Ela não retornou e nem atendeu nenhuma das ligações de ninguém. Sua caixa de mensagens estava cheia pelo número de recados de voz que eu havia deixado e entre alguns deles, era quase óbvio o desespero na minha voz por não ter notícia alguma dela.

Fora o fato de não ter notícias da Camila, Danny esteve piorando seu estado durante os últimos dois dias também. Era como se tudo realmente não pudesse ficar pior. A revista estava de cabeça para baixo, tudo estava fora de ordem mesmo que James tentasse se organizar para lançar a próxima campanha sem Danny e Camila. O clima na editora era um dos piores de todos os tempos. Todos brigavam entre si, eu me escondia na minha pequena mesa e encarava o computador esperando que eu fosse teletransportada para fora daquele ambiente transformado pelo caos.

Não quis permanecer no apartamento sozinha e com aquele quarto estranho ainda com a porta destrancada. Era como se um ar pesado tivesse tomado conta do apartamento inteiro ou então eu deveria estar louca.

Para que James conseguisse tentar resolver todos os problemas do lançamento da próxima campanha, eu me ofereci para passar mais tempo ao lado da Danny no hospital. Dinah fez uma pequena troca comigo durante o segundo dia, mas ela estava insuportável quando começava a falar sobre Camila poder voltar a qualquer momento. Como diabos ela voltaria a qualquer momento se para chegar a Seattle era uma viagem de mais de uma dia de carro? Isso tudo se não tivesse engarrafamento nas estradas. A mulher havia enlouquecido com a ideia de atravessar o país na pior época possível do ano.

A chuva tomou conta de Nova Iorque pelo resto dos dias. Eu tinha meu notebook ligado sobre as pernas e tentava ao máximo me esforçar para selecionar as melhores fotos possíveis feitas na Europa para enviar a Lucas que aceitou receber tudo por e-mail deixando claro sua compreensão com toda a situação desastrosa do momento. Ele me certificou de que tentaria ao máximo adiar uma reunião com o resto dos gerentes e todo o pessoal para que eu pudesse tentar me organizar melhor. Eu só queria voltar pra casa e chorar nos braços da minha mãe.

- Garota mimada. – Dinah falou sem que eu ao menos tivesse percebido sua presença no quarto, o que me fez assustar. – Você está bem?

- Eu pareço bem para você? – Perguntei sem humor algum. Ela riu e caminhou para o outro lado do quarto enquanto se aproximava da cama da Danny.

- Deveria estar melhor já que eu cheguei, não acha? – Disse em ironia. Ergueu uma sobrancelha e acariciou o rosto da Danny enquanto trocava seu olhar para ela e respirava fundo em ar de preocupação.

- Eu estava bem melhor antes de você aparecer. Estou tentando terminar meu trabalho. – Eu não deveria ser tão rude, mas Dinah e eu poderíamos sair nos tapas se não permanecêssemos apenas com o jogo de palavras.

- Você é muito chata. Eu queria que a Camila te namorasse porque ela estava insuportável, mas agora a insuportável é você. Ta todo mundo surtando, garotinha. Não se ache a especial apenas porque sua namorada ficou louca e sumiu. Ela também é minha melhor amiga e eu conheço essa aqui a bem mais tempo que você. Relaxa essa bunda aí, gatinha. Vai ficar tudo bem. – As vezes eu realmente queria voar sobre ela e esmurrar seu maldito rosto bonito, mas não o faria ou eu surtaria ainda mais.

- Não estou me fazendo de especial. Eu só quero que a Camila dê algum sinal de vida e a Danny faça o mesmo agora. – Tentei relaxar os ombros. Meu corpo inteiro doía tenso demais com toda a confusão dos últimos dias. Nada. Isso era tudo o que eu sabia. Nada.

- Ela vai voltar. Danny vai...

- Danny vai ficar bem e vamos viver esse conto de fadas que você insiste em acreditar na sua mente. – Revirei os olhos. Dinah sorriu. – Vou buscar um café. Eu estou morrendo de sono.

- Vê se tem uma soda bem gelada lá pra mim? Ou então um chá. Um chá seria bem melhor. Vai lá. Eu fico com a poltrona. – Me empurrou outra vez para fora da poltrona e eu respirei fundo para não a devolver com palavras mais rudes. Sorri falso e não abri a boca para falar mais nada. Apenas segui para fora da sala.

Um dia e meio passou. Agora eram 3 dias e meio depois que Camila sumiu. Eu estava me afogando em copos de café expresso enquanto tentava ficar mais um dia acordada ao lado da cama da Danny. O barulho da chuva lá fora deixou de ser tão incômodo e eu não sentia mais medo de nada sobre isso. Era apenas água.

Danny estava ligada a mais aparelhos e agora tinha visita de médicos e enfermeiros com mais frequência. Eu tinha que fingir prestar atenção em tudo o que eles diziam enquanto tudo o que eu fazia era rezar por uma notícia mais positiva do que a antiga. Nada outra vez. Ela ainda estava piorando e sem uma cirurgia ou tratamento que Danny havia se recusado, ela só pioraria cada vez mais.

As pessoas iam e vinham do quarto. Eu permaneci as últimas 28 horas inteiras. Café era meu único combustivo. O meu estômago queimava por não ter comida o suficiente para me manter mais viva, mas eu não estava com fome, mesmo lembrando que era importante comer. Eu mandei tudo para o inferno. Talvez fosse assim com Camila. Ela lutava contra o próprio corpo e mente e acabava permanecendo no mesmo lugar para não precisar se afastar de quem quer que estivesse precisando dela no momento.

Meus olhos fecharam sem que eu percebesse. Meu corpo inteiro pesou e eu relaxei por um segundo caindo em um cochilo rápido. Tudo estava agora tão calmo. O único barulho era das gotas de chuva na janela e a máquina ligada a Danny.

Foi bom adormecer um pouco. Eu quase entrei em um sonho feliz, mas fui desperta quando o furacão se iniciou outra vez e eu estava bem em sua frente.

A porta do quarto foi aberta rapidamente. Passos rápidos e pesados sobre o piso. Eu franzi as sobrancelhas observando as pessoas entrarem no quarto. Ela havia piorado? Não. Estava tudo como antes. O que era isso?

- Sim, mas eu não me importo com o que ela disse antes. Nós vamos fazer a cirurgia. Danny está desacordada. Ela não pode negar ou aceitar nada. Eu respondo por ela agora, exatamente como está descrito no documento. Vocês tem a sala de cirurgia pronta ou não? Eu não vou deixa-la morrer sem tentar algo. – Ela falou firme. Era a mulher das reuniões. Eu vi seus saltos pretos. Ela tinha seu poder de volta. Respirei fundo mas ainda estava sonolenta demais para ter reação alguma.

- Srta. Cabello, as coisas não são tão simples assim. – O médico falou e ela bateu o pé no chão fazendo meu corpo inteiro vibrar.

- Se não tiverem uma sala pronta, terei que pedir a transferência dela para outro hospital. Você está entendendo? – Firme outra vez. Eu engoli minha saliva e endireitei minha postura a poltrona.

- Precisamos da presença de um advo...

- Sim, aqui está o advogado da Danny e eu vou assinar autorizando a cirurgia de retirada do tumor. Eu sei que ela pode morrer durante o processo, mas também sei que eu fui a Seattle para buscar o melhor neurocirurgião da América para tentar acabar com esse tormento. Precisamos de mais alguma coisa? Vocês tem a sala? – Seus olhos passaram pela Danny por segundos antes de encontrarem os meus, mas logo ela desviou para encarar o homem a sua frente.

É claro que ele cedeu. Ela tinha tudo planejado desde sempre. O advogado ao seu lado. O melhor neurocirurgião para a cirurgia considerada impossível. Esse era o motivo de ela ter ido a Seattle?

Enfermeiros e médicos levaram Danny para fora do quarto. Camila respirou fundo e olhou para o alto logo fechando os olhos com força e dando um sorriso suave ao cirurgião. Eles estavam a levando para a cirurgia. Eu mal havia acordado. O que diabos havia acontecido de verdade? Isso era ainda o meu sonho?

As pessoas se foram. Camila beijou a mão da Danny rapidamente antes de ela finalmente seguir para a sala de cirurgia. A de olhos castanhos pediu licença ao advogado que lhe cumprimentou em despedida. Me olhou rapidamente e entrou no quarto caminhando vagarosamente em minha direção.

- O seu carro está na garagem do hospital. – Esticou o braço na minha direção e me ofereceu a chave do veículo de volta.

- Você dirigiu até Seattle? – Perguntei ainda confusa demais para poder a perguntar questões mais importantes. Ela sorriu.

- Não, garota. Você está louca? Eu não perderia meu tempo dirigindo até Seattle quando eu podia pegar um avião e chegar lá mais rápido. O seu carro estava no aeroporto esse tempo todo. – Respirou fundo outra vez.

Eu fiquei em silêncio a encarando enquanto ela me observava sem dizer uma palavra a mais. Tudo era silêncio. Eu me perdi na minha mente. Ela havia voltado e estava bem.

- Desculpa por ter ido daquele jeito, mas eu não podia deixar que me impedisse. Eu precisei ir. – Ela pareceu querer se aproximar, mas não o fez. – Você deve estar achando que eu sou louca, mas eu não sou. Eu pesquisei sobre esse cirurgião e ele pareceu bom o suficiente. Eu o liguei e expliquei o caso da Danny. Ele disse que podia tentar se eu o encontrasse para conversarmos melhor. Precisei ir. Mostrei todos os exames e ele aceitou vir e fazer sua cirurgia. Eu não estou louca, Lauren. Eu preciso que a Danny fique bem.

- Você precisa tirar tudo daquele quarto, Camila. Você poderia ao menos ter me dito sobre seu plano. Não teria te impedido, mas sim, você pareceu uma louca quando me deixou trancada no apartamento e a Dinah também parece uma louca falando sobre você e seus planos. – Levantei da poltrona e todo o quarto girou. Ela segurou meu braço me apoiando para que eu não caísse para o lado. – Eu estou bem.

- Eu estou vendo. – Sorriu. – Dinah disse que não tem comido nada a não ser beber café o dia inteiro. Eu acho que posso começar a te chamar de Camila.

- Isso não é engraçado. – Cortei seu sorriso. Ela afirmou que não era. – Eu preciso ir ao banheiro.

- Eu vou com você. – Falou tentando segurar meu braço outra vez. Eu desabei porque não sabia o que fazer agora. Chorei porque tudo estava louco outra vez. Eu me senti perdida até ela me abraçar. – Eu não queria ter te deixado daquele jeito, mas a Danny é tudo o que eu tenho depois de você e eu não posso a perder.

- Poderia ter falado comigo antes de ir e não ter apenas desaparecido daquele jeito. Eu pensei que você pudesse não voltar ou... Você tem ideia de tudo o que passou pela minha cabeça? – Não podia ver seu rosto agora, mas o meu certamente estaria vermelho e minha voz foi cortada milhares de vezes entre soluços enquanto ela me abraçava e mantinha minha cabeça em seu ombro como se me confortasse. E ao mesmo tempo que me confortou, também me machucou pensar que não havia confiança alguma para questões assim. – Deveria ter me contado.

- Eu sei que sim, amor, mas... Olha pra mim. – Deu um passo para trás e segurou meu rosto em ambas as mãos. Eu não queria que ela me visse chorar outra vez. A voz da Dinah me chamado de garota mimada voltou a minha mente e talvez eu realmente fosse, mas isso era tudo novo. Eu nunca havia tido experiências assim antes e é claro que eu desejei ter meus pais comigo agora para me fazerem mais fortes. – Não estou acostumada tendo que contar tudo sobre mim ou sobre as loucuras que tenho na cabeça. É algo novo pra você, não? Mas não esqueça que é pra mim também. Eu não cheguei a nenhum nível de relacionamento assim. É tudo tão cheio de individualidade e segredos. Nunca precisei... Nunca precisei compartilhar tanto com alguém como fazemos agora. Me desculpe se te assustei outra vez. Eu estou sendo a pior namorada do mundo ultimamente. Eu sei. Eu...

Meu coração batia nos meus ouvidos e mesmo assim a minha dificuldade maior era de respirar e receber tudo o que ela falava. Camila tinha uma expressão calma no início, a mesma que ela usava sempre para se desculpar por seus milhares de erros, mas não podia a julgar, eu também erro, todo mundo tem direito de errar. A expressão perdida em seu rosto, a transformando em confusão e mágoa quando ela se viu perdida nas próprias palavras, me doeu também. Ela se questionou naquele segundo. Eu pude ver.

- Camila... – Eu tentei dizer, mas fomos interrompidas por uma enfermeira meio agitada demais. Meu coração errou a batida até ela sorri sem jeito. Camila se afastou e tomou de volta sua postura formal.

- Algum problema com a Danny? – Perguntou apreensiva.

- Não. Está tudo bem. Quer dizer... Vai ficar tudo bem. Você nos trouxe o melhor neurocirugiao do mundo. É claro que sua mãe vai ficar bem. – Sorriu mais animada do que deveria realmente estar para a situação. Eu lhe devolvi um sorriso suave enquanto limpava as lágrimas do meu rosto. Camila manteve sua expressão séria e firme. – Desculpe. Certo. É... Nós só precisamos que assine o resto dos documentos. Ela entrará em cirurgia em alguns minutos e precisamos que assine tudo autorizando o procedimento.

- Tudo bem. – Respirou fundo. Sorriu também curto. Me olhou vagarosamente parecendo me avaliar. O seu olhar foi estranho o suficiente para que eu soubesse que teríamos longas conversas quando tudo se acertasse aqui, mas eu soube que não era o momento ainda. – Você quer voltar pra casa ou ficar aqui?

- Vou ficar aqui. – Respondi firme. Eu não deixaria esse hospital até que Danny terminasse sua cirurgia e estivesse viva, para ser precisa.

- Certo, nós podemos ir. – Falou outra vez e indicou que eu caminhasse na sua frente, o que eu fiz rapidamente para seguir o caminho guiado pela enfermeira mais animada do hospital. Talvez Camila tivesse realmente arrastado uma celebridade para cá, mas esse também não era um hospital pequeno em Nova Iorque. Talvez a enfermeira fosse nova na profissão e isso justificaria sua felicidade em ver tanto movimento e discussão sobre uma paciente terminal que agora estava na sala de cirurgia porque Camila havia cruzado o país para o encontrar e o trazer até aqui.

Encontramos outros médicos e o neurocirurgião quase pronto para entrar na sala. Ele sorriu quando nos viu e acenou. Nos aproximamos. Camila tinha uma das mãos nas minhas costas. Isso me fez sentir mais segura de qualquer forma.

Eles trocaram palavras positivas. O homem não me era estranho. Eu deveria o ter visto em algum lugar. Uma revista talvez? Camila assinou alguns documentos enquanto esperava que o advogado da Danny terminasse de ler as letrinhas miúdas do final da página. Eles sempre colocariam as partes importantes nas letras miúdas e você sempre morreria se não as lesse.

Estava tudo pronto. Eu vi a confiança que Camila sentia pelo neurocirurgião na troca de olhares deles antes de ele finalmente entrar na sala. Ela havia ido buscar o melhor. Eu sabia disso agora.

Não era como se ter o melhor da América fosse nos deixar menos nervosas sobre tudo o que aconteceria. Danny teria sua cabeça aberta e é claro que milhares de coisas podiam dar errado em qualquer fase do procedimento. Camila estava nervosa, o advogado mantinha as pernas balançando em nervosismo e eu sentia meu estômago queimar mais uma vez no dia enquanto algo sufocava meu peito. Seus olhos voltaram na minha direção. A sala de espera é o pior lugar do mundo.

- Você ainda precisa ir ao banheiro? – Finalmente ocupou a cadeira ao meu lado após ter dado infinitas voltas pela sala.

- Não. Estou bem. – Olhei meus dedos pálidos. O esmalte escuro nas unhas estava desgastado. Eu deveria ter o tirado antes, mas limpar o esmalte desgastado das unhas era a última das minhas preocupações.

- Vou buscar algo pra você comer. Está mais pálida que o normal, Lauren. – Puxou minha mão para a sua. Sorriu triste. – Você está sem comer a quanto tempo? Suas mãos estão geladas.

- Eu estou bem. – Afirmei novamente. Seu olhar queimou a lateral do meu rosto.

- Eu volto daqui a pouco com algo pra você comer. – Levantou da cadeira ao meu lado e olhou para o advogado, que também era amigo da Danny, como metade da cidade era e respirou fundo. – Jacob, você quer um café ou chá?

- Se você achar conhaque no caminho, seria a melhor coisa do mundo. – Sorriu nervoso. – Espero que tenhamos feito a coisa certa, Cabello.

- Fizemos a coisa certa. Eu vou ver se tem conhaque no café servido em algum lugar por aí. – Sorriu. – Volto em poucos minutos.

Seus saltos ecoaram para longe. Eu não a acompanhei sair. Apenas fui deixando de ouvir o barulho dos seus passos e então ela havia sumido de vista. Jacob me deu um sorriso amigável minutos depois. Talvez Camila fosse se trancar em algum banheiro e chorar, mas isso era algo que eu faria e não ela.

Quando voltou outros minutos depois, trouxe consigo mais gente, incluindo James, Dinah e suas outras duas amigas, Halsey, Beth, Cris e Dave. Foram cumprimentos rápidos até cada um ocupar uma cadeira da sala de espera mais próxima a sala de cirurgia da Danny.

Camila entregou o café para Jacob e sentou ao meu lado com um saco de lanche sobre o colo. Cheirava bem. Cheirava muito bem. Ela sorriu de lado quando me viu respirar forte o cheiro da comida. Deus, eu estava faminta.

- Ei, garota mimada. Come um pouco aí. – Dinah me cutucou com o ombro e sorriu.

- Dinah, pare. Agora não. – Camila a repreendeu e a amiga deu de ombros voltando seu olhar para Ally e Normani. – Você pode comer só um pouco? Eu sei que eu passo os meus dias sem comer direito, mas só porque você vive comigo agora, não quer dizer que pode fazer o mesmo. Seu corpo pede por mais alimento, Lauren. Coma só um pouco e você vai se sentir melhor.

É claro que eu comi. Iria vomitar todos os meus órgãos se não o fizesse. Ela me acompanhou para a varanda externa do andar para que o cheiro de alimento não invadisse a sala de espera. Seria algo chato e eu não iria comer ali de qualquer forma.

Seus olhos não me abandonaram. Era estranho ser observada comer, mas não me importei porque realmente precisei colocar algo no estômago. Ela tinha meu copo de suco na mão e nosso olhos se encontravam apenas quando eu pedia por um outro gole.

- Melhor? – Sorriu suavemente após eu terminar de comer.

- Sim. Obrigada. – Eu deveria parecer uma criança perdida e esfomeada antes e agora mais feliz por ter o estômago cheio, mas estava quase vomitando por ter comido rápido demais.

- Melhor. – Respirou fundo e desviou o olhar.

- Como o encontrou? Quero dizer.. O cirurgião da Danny. Como o encontrou? – Tentei trazer algum assunto quando o silêncio que se fez presente não me foi confortável.

- Estava lendo sobre casos parecidos e em alguns deles, o nome dele estava citado como responsável pela cirurgia. Ele perdeu apenas 3 pacientes em 12 cirurgias semelhantes a da Danny. Seattle tem um dos melhores hospitais/escola de todo o país e eu não pude perder tempo quando vi que talvez pudesse o trazer pra cá porque eu não podia levar a Danny até ele. Não foi fácil, mas ele aceitou vir. Eu fico feliz que eles tenham que fazer aquele juramento após a faculdade. Sabe, esse onde eles tem que salvar vidas. – Riu olhando para o nada. – Ele vai salvar a Danny e vai ficar tudo bem.

- Sua família vai te perdoar?

- Talvez. – Olhou os próprios pés.

- Sabe que não precisa fazer isso, certo? Não foi sua culpa. Você não...

- Me ajuda a tirar aquele painel do quarto? Eu não vou jogar as coisas dos meus pais e da minha irmã fora se é isso o que quer que eu faça. Eu posso tacar fogo no painel e todos aqueles jornais, mas os móveis e objetos ficam. Isso nunca me machucou. É a única forma que tenho para lembrar deles, de os sentir mais próximos. A poltrona do meu pai havia sido vendida e eu tive que ir buscar em Nevada. As outras coisas também estiveram espalhadas por aí e foi difícil reunir tudo. A única coisa que eu mantive após o acidente foi o urso da Sofi. – Seus olhos falaram mais do que sua boca. – Eu vou tentar me livrar daquilo, mas por favor, esteja comigo quando eu o fizer. Eu não acho que posso o fazer sozinha.

- Eu vou estar lá e nunca te pediria para se livrar das coisas da sua família, apenas... Aquele painel não é algo bom. Você não deveria fazer daquele lugar algo... Ruim. Tente abrir as janelas, deixar ar puro entrar. O sol iluminar tudo um pouco. Talvez se sinta melhor.

- Sim, eu vou tentar. – Sorriu de lado. Eu tive um nó na garganta quando James apareceu com uma expressão aflita.

- Vocês tem algum cigarro aí? Eu vou ficar louco. – Falou arrastando os dedos entre o cabelo já grande os penteando para trás.

- Um quer conhaque, o outro quer cigarro. O que mais vocês vão me pedir? – Camila revirou os olhos e bateu o pé no chão. – Ninguém aqui tem cigarro, James. Deixe de ser idiota. Você sabe que isso vai te matar um dia.

- Bem, temos Camila Cabello de volta. O que acha, novata? – Ele sorriu brincando com a referência que fez sobre o início do ano onde Camila e ele brigavam por quase tudo e eu era conhecida apenas por ser a novata da editora. Eles deveriam saber até o nome dos estagiários, mas não o meu.

- Que engraçado você, Jay. Alguma notícia lá dentro? – Os dois se encostaram no parapeito da varanda e respiraram fundo ao mesmo tempo.

- Nada. Eu estou surtando com tantas paredes brancas. Me sinto sufocado. – Ele desabotoou um botão da camisa social.

- Agoniante. – Camila concordou. – Vocês não precisavam ter vindo ainda. Vai demorar um tempo até que a cirurgia termine.

- Está tudo bem, Camila. Todo mundo quis vir, mas só trouxe os mais próximos. Não ia caber toda a editora na sala de espera. As pessoas amam a Danny mais do que a odeiam, então é fácil dizer que há orações por ela em todo lugar.

- Certo. – Eu deveria estar caindo de sono agora com a conversa deles.

Camila perguntou sobre a revista, James a contou que havia resolvido tudo e que a próxima campanha estaria nas gráficas pronta para impressão amanhã. Eu lembrei da minha reunião e senti a pior dor se cabeça do mundo com tanta coisa ainda para se preocupar. Ela segurou minha mão forte e me encarou com confiança. As vezes eu costumava me perguntar se Camila poderia ler mentes.

As horas não voaram dessa vez. Era como se cada minuto fosse uma hora e demorava uma eternidade para passar. Todos estavam reunidos de volta na sala de espera. Eu piscava os olhos vagarosamente quase caindo realmente no sono. Camila não havia me deixado beber mais café durante o resto do dia. Dinah conversava com as amigas. James e Jacob se entreolhavam com expressões cansadas. Fui puxada para um abraço de lado onde Camila me fez descansar a cabeça em seu ombro. Ela me beijou a cabeça suavemente e acariciou meu cabelo. Não havia volta, ela só havia ajudado para que eu apagasse literalmente e eu o fiz relaxando um pouco mais aos seus braços. Espero acordar com alguma notícia boa.