História Discovery - Emerald Eyes

Fui desperta por um movimento rápido sobre mim. Algo pesando sobre meu tórax, então segundos depois, mãos quentes e macias acariciaram o meu rosto enquanto eram espalhados beijos carinhosos sobre minha face. Eu sorri e finalmente senti seus lábios encontrarem os meus em um beijo rápido.

- Você sabe que dia é hoje? – Perguntou animada e deixou mais alguns beijos no meu queixo e maxilar.

- Que dia? – Murmurei sorrindo ainda de olhos fechados.

- O primeiro dia da sua exposição. – Outro beijo rápido. - Vamos, amor. Levante. Eu preparei o seu café da manhã.

Camila tinha as pernas ao lado do meu corpo envolvendo minha cintura enquanto seu tronco se inclinava para alcançar meu rosto. As mãos se apoiaram dos lados da minha cabeça a trazendo equilíbrio. Tinha apenas um dos meus olhos abertos e meu sorriso permaneceu a beleza insana daquela mulher sobre mim. O seu cheiro me embriagando quase fazendo perder os sentidos. Por um momento eu deixei de me perguntar como alguém poderia ser tão lindo pela manhã, mas então me dei por vencida. Era apenas ela. Era Camila. O que mais eu deveria esperar?

Ela sorriu. O nariz franziu. Os olhos diminuíram e então ela me olhou firme outra vez. Eu mergulhei no tom de castanho mais bonito do universo inteiro. Ela me levava para cima e para baixo apenas com o seu olhar e eu não cansaria desse jogo até a minha morte. Respirei fundo. Ela teve o meu sorriso de volta.

- Vamos! Tenho várias coisas para fazer e você também. Levante o bumbum daí e tome um banho. – Rolou para fora da cama e puxou os cobertores me deixando com frio. – Seus pais estarão aqui ao meio dia para o almoço. Vamos visitar a Danny de tarde e convidar mais gente para a sua noite.

Camila estava percorrendo o quarto tentando organizar qualquer bagunça, mesmo que mínima, do ambiente. Recolheu algumas roupas da poltrona e as levou para o cesto de roupas sujas do banheiro.

Estávamos agora no meio de Outubro e o outono com suas temperaturas diminuindo a cada dia me faziam mais animada para a proximidade do inverno. Faltaria pouco para que fizesse um ano em que nos conhecíamos e mesmo com tão pouco tempo, era como tê-la por uma vida inteira e um segundo ao mesmo tempo.

- Preciso arrumar a bagunça que as garotas fizeram ontem de tarde na sala. O sofá ficou cheio de pipocas e tem garrafas por todo lado. Alguém precisa colocar essas roupas para lavar ou não teremos o que vestir na próxima semana. – Voltou fazendo seus planos em voz alta, mas sem direcionar o olhar pra mim. Eu permaneci sorrindo. Ela sempre tão agitada o tempo todo. Quando ela se daria um momento livre? - Amor, levante. O banho está te esperando e a comida também. ... O café!!

Correu para fora do quarto atravessando o corredor em segundos e então sumiu. Eu gargalhei suavemente. O quarto estava limpo, não havia tanta bagunça, mas então eu duvidei muito da sala realmente pela tarde de filmes com as garotas ontem. O que eu posso os contar de novidade? Ally, Dinah e Normani realmente haviam virado minhas amigas também, é claro que Camila tinha ciúmes, mas ela também ficou feliz que todas nós pudéssemos ser boas amigas.

Dinah sempre permaneceria a ser a mais louca entre todas e a que mais puxaria o meu tapete por querer me ver envergonhada com algo, mas se alguém fosse tentar piorar a situação, então ela me defenderia como uma irmã mais velha. Eu não a podia entender as vezes, mas ela certamente tinha um dos melhores abraços.

- Vamos, garota. O café está te esperando. – Gritou do início do corredor e finalmente eu me arrastei para a borda da cama e sentei enquanto me espreguiçava. Um arrepio quando meus pés tocaram o piso frio. Camila continuou falando algo no corredor, mas deveria estar falando sozinha agora.

Eu literalmente corri para o banheiro e tomei uma ducha rápida enquanto fingia para mim mesma que hoje a noite não seria nada muito grande pra mim, mas era claro que eu estava nervosa o suficiente para quase vomitar meu estômago após me olhar no espelho.

- Você precisa de saltos novos e mais confiança. Sabe disso, certo? – Ela me puxou de volta para cima e me abraçou forte me fazendo segura outra vez. – Os saltos novos não são mais um problema. Mani me ajudou a os escolher para você ontem e sua confiança... Bem, eu estarei lá com você e todo mundo que te ama também, então relaxe, eu sei como se sente.

- Sabe? – Perguntei nos encarando no espelho acima da pia.

- Sei. Eu me senti assim na minha primeira reunião. A Danny parecia me matar com o olhar e todo mundo riu de mim por ser uma garota nova louca querendo falar sobre um evento quase inexistente na cidade, mas sabe o que aconteceu depois que a Danny aceitou minha matéria e tivemos uma das maiores vendas de campanhas? Parece que toda a cidade decidiu acolher novamente um velho costume que estava sendo esquecido e o evento voltou a crescer. Você vai se sair bem, amor. Confie em você mesma, porque todos nós já confiamos em tudo o que faz. – Deixou um beijo no meu ombro e sorriu pra mim. - Vamos, você precisa comer um pouco. Eu vou terminar de organizar as coisas.

- Camz... – A chamei quando ela estava prestes a deixar o banheiro. – Obrigada por tudo. Eu não sei o que faria sem você.

- Me agradeça mais tarde, garota. – Piscou e me deu um sorriso malicioso. Eu ri enquanto ela gargalhava pelo corredor. – O café vai esfriar, Lauren.

Camila era quem costumava tomar café pelas manhãs, mas eu certamente precisaria de um pouco de cafeína agora. Ou isso me deixaria melhor ou meu coração explodiria para fora do meu peito.

Eu vou os contar o que aconteceu com a Danny durante as últimas semanas. Ela havia sido liberada na terça. Hoje é sexta, se vocês estiverem perdidos no cronograma. Camila cedeu espaço para que James se fizesse mais presente na vida da Danny e ela aceitasse total apoio vindo dele. Eles eram bons amigos e James estava virando quase o cachorrinho mais obediente de toda a América do Norte. Não que Danny fosse mandona, mas vocês devem saber que aquela mulher pode os fazer querer morrer se ela lhe der um olhar repreendedor. O que importa aqui é que tudo estava bem agora. Ela havia refeito exames antes da alta do hospital e os restos do tumor realmente haviam desaparecido com o início do tratamento que finalmente ela aceitou fazer. Dizem que as pessoas ficam horríveis com esse tipo de tratamento, mas a Danny parecia um caso fora do padrões. Ela continuou linda como sempre foi.

Lembro da primeira vez que ouvi sua voz por telefone. Eu havia chegado do curso de fotografia no meu último dia. Tinha meu diploma em mãos e ela perguntou se eu aceitava fazer uma entrevista com ela para sua revista. Papai não havia me avisado antes que ele tinha falado com ela, então eu fiquei realmente surpresa me perguntando como ela havia conseguido meu número e como conhecia algumas das minhas fotos. Eu esperei sua chamada de vídeo para a entrevista online e pensei que ela tinha uma voz elegante e pedi que não fosse uma senhora que não se encaixasse em sua voz bonita, então ela surgiu na tela após eu ter aceitado sua chamada. Bem, Danny era mil vezes melhor do que eu estava esperando. Ela esteve na capa de uma revista nos anos 80. Lembrem, nos anos 80 apenas as mulheres realmente bonitas estavam em capas de revistas.

Era o meu dia e eu tentei não fazer disso grande coisa. Camila estava recolhendo as garrafas do chão quando eu a ajudei a limpar a sala antes mesmo do meu café, o que fez com que ela brigasse comigo sobre isso, mas eu apenas ri enquanto ela parecia brava. Ela ficava ainda mais bonita assim. Eu nunca casaria de a olhar.

- Pare de me olhar assim, Lauren. Coma logo isso. O café deve estar parecendo um chá gelado. – Ela tinha a melhor e mais engraçada expressão de raiva no rosto. – Pare de sorrir. O que é engraçado?

- Você. É. Linda. – Sussurrei e a puxei pela cintura na minha direção. Ela não conteve o sorriso no canto dos lábios, mesmo que tentasse permanecer com a expressão anterior e me empurrar para longe. – Eu só estava tentando te ajudar. Por que está tão agitada?

- Deus, os seus pais estão vindo para o almoço. Eles nunca estiveram aqui. E se eles acharem que eu não sou alguém bom pra você? Eu tenho que ter tudo em ordem. – Eu ri a deixando se afastar novamente. Ela parecia surtada.

- Os meus pais já te conhecem. Nós fomos lá na Páscoa, não lembra? Pare com isso. Eles te adoram e sempre comentam o quanto estão felizes por estarmos juntas. – Finalmente sentei para comer algo. Ela correndo de um lado para o outro pegando panelas no armário para preparar o almoço.

- Mas eu tenho que ter um bom lugar para você morar ou eles vão te mandar para outro apartamento. – Falou quase desesperada. – Eu estou te deixando nervosa? Eu não quero te deixar nervosa. É que eu quero ser boa o suficiente.

- Você tem um apartamento lindo. É um ótimo lugar para nós duas e eles vão amar tudo. Você não está me deixando nervosa, mas deveria se acalmar. Você já é bem mais do que o suficiente, Camila. – Dei um gole no café e ele realmente estava frio, o que me fez fazer careta.

- Eu disse que esfriaria. Eu vou esquentar pra você. – Tomou a xícara da minha mão e despejou o café de volta na cafeteira para o esquentar. Ela pareceu pensativa por alguns segundos. Eu dando uma mordida na torrada. – Sabe o que me deixaria mais calma?

- Hum..? – Camila sorriu e deu a volta para ficar atrás de mim. Segurou meus ombros e se aproximou da minha orelha direta me fazendo inclinar suavemente a cabeça pelo arrepio que se espalhou pelo meu corpo com sua respiração contra minha pele.

- Você naquelas roupas de coelho. – Sussurrou fazendo sua voz sair baixa e rouca. Meu corpo arrepiou mais um vez. Eu sorri engolindo o resto da torrada em minha boca. – Obrigada por me fazer lembrar da Páscoa. Realmente é algo que eu nunca poderei esquecer. Eu mal posso esperar pelo próximo feriado.

- Eu não vou usar fantasias de novo. É a sua vez. – Dei de ombros tentando parecer séria, mas é claro que a lembrança me tentou não só a mente.

- Você é uma estraga prazeres, Lauren. Me deixe fantasiar. – Bateu no meu braço e correu de volta para a cafeteira enquanto eu gargalhava.

- Como pode me chamar de estraga prazeres se eu sou a única pessoa a te dar prazer? – Elevei uma sobrancelha enquanto a encarava.

- Quem disse que é a única? – Sugeriu de volta me fazendo apertar a mandíbula. O que ela estava tentando fazer?

- Não sou a única? – Ela riu. - Camila!

- Você tem que descobrir. – Piscou. Eu a encarei séria. Ela permaneceu rindo. – Eu estou brincando com você, sua boba. É claro que é a única. Eu nem tenho tempo para outra pessoa e nós sempre estamos juntas, então seria impossível que eu estivesse saindo com outra pessoa. Passamos quase as 24 horas dos dias juntas.

Continuou sorrindo. É claro que a mínima ideia de a imaginar com outra pessoa mexia com a minha mente. Ela era apenas minha. Não poderia ser de mais ninguém. Colocou meu café de volta a minha frente e descansou a cabeça sobre as mãos apoiadas pelos cotovelos no balcão para manter meu olhar.

- Sabe que eu estava só brincando, certo? Não vá ficar estranha. – Disse em uma voz suave. Eu não mantive seu olhar. Seu decote a minha frente estava desviando toda minha atenção. – Lauren.

- Eu sei. Não estou estranha. – Dei de ombros. Outro gole no café agora realmente quente.

- Então fale comigo direito. – Um sorriso suave.

- Não quero falar. – Desviei o olhar. Ela puxou minha mão sobre o balcão. – Você disse pra eu comer. Eu vou fazer isso.

- Eu não acredito que vai ficar assim por causa de uma brincadeira besta. – Umedeceu os lábios e sorriu sem jeito. Não, eu nunca iria suportar a ideia de ter outra pessoa a tocando como eu fazia. – Por favor, né!?

Minha mente esvaiu. Tudo desapareceu e a única coisa agora era Camila, seu decote e seus shorts minúsculos que me faziam querer os arrancar para a poder ver por inteiro de verdade. Ela estava enchendo algumas panelas com água para as colocar no fogão quando passei pelo balcão e a alcancei do outro lado. Minhas mãos foram firmes em sua cintura.

- Você não terminou de comer. – Sua voz saiu firme. Ela estava chateada por eu ter ficado “estranha”? Dei um sorriso curto. - Lauren, eu disse...

- Eu perdi a fome. Não quero mais comer aquilo. – A virei de frente pra mim com rapidez. Suas sobrancelhas franzidas. Eu respirei fundo o seu perfume. – Sou a única.

- É a única o que? – Revirou os olhos e pareceu cansada. Empurrei seu corpo contra a bancada ao lado da pia.

- Sou a única a te dar prazer. – Falei contra a pele do seu pescoço. Ela tentou segurar meus braços e me empurrar, mas desistiu tão rápido.

- Eu disse que era a única. Estava só brincando com você. Talvez tentando aliviar qualquer pressão. – Deixou a cabeça pender para o lado oposto me dando mais espaço para a beijar. Como um perfume poderia me fazer perder todos os sentidos e ser atingida por ele um milhão de vezes mais forte?

- Tenho algo em mente que pode ajudar muito mais a aliviar a nossa pressão. – Eu lhe mordi suavemente próximo ao seu ponto de pulso. Ela engasgou a respiração por segundos e a deixou sair mais pesada.

Me afastei apenas para a fitar os olhos. Eu estava prestes a ter o que queria, mas então como se tentasse tomar de volta o controle de tudo, suas mãos me empurraram para o lado e ela se livrou de mim.

- Eu preciso preparar o almoço, Lauren. Não temos tempo para isso. Infelizmente. – Suspirou. Eu sorri.

- Então compramos algo no restaurante aqui perto e servimos como se tivéssemos cozinhado. Eles não vão se importar. – A alcancei e trouxe seu corpo de volta para o meu. Outro suspiro. Um sorriso curto nos lábios mais lindos do mundo. - Vamos, amor. Eu preciso de você e não teremos que nos importar com o almoço.

- São 9 da manhã, garota. – Envolveu meus ombros com seus braços e deixou que seu sorriso crescesse junto ao meu.

- É exatamente por isso que não deveríamos estar tão preocupadas com o almoço. Teremos tempo. – Eu a beijei rapidamente os lábios e a trouxe para os meus braços. Suas pernas estavam de volta envolvendo minha cintura após ela dar um gritinho quando a puxei para cima. – Você está pronta para mim, srta. Cabello?

- Lauren, pare com isso. Não temos tempo. – Ela tinha o sorriso mais bonito do mundo estampado em seu rosto e mesmo que tentasse negar, seus olhos me diziam tudo o que ela queria.

Atravessei mais uma entre milhares de vezes aquele mesmo corredor com ela em meus braços. Eu podia sentir meu peito arder por dentro por finalmente estarmos nos encaixando em nossos tempos. Tudo ia tão bem. Era como estar sonhando e eu pediria encarecidamente a todos que não me acordassem jamais. Eu queria viver assim com ela ao meu lado para sempre. Eu e Camila. Camila e eu.

A amei outra vez, não como em todas as outras vezes em que eu a tinha entregue a mim. Todas as vezes eram diferentes, uma explosão, um sentimento novo. Era um pedacinho novo de nós duas se unindo apenas em um só com o passar do tempo.

Talvez ela estivesse cansada por não realmente ter tido de volta suas noites perdidas de sono, mas não era como se ela realmente pudesse recuperar todas essas noites sem dormir. Eu apenas a deixei adormecer em meus braços e fitei o teto do quarto com meu sorriso maior. Podia sentir meus batimentos por todo o meu corpo. Sua respiração suave, calmamente encontrando minha pele nua. Eu poderia simplesmente viver assim para sempre.

Eu poderia, mas não seria tão egoísta a esse ponto com o resto do mundo. A deixei adormecer na cama e segui fazendo o que ela provavelmente faria antes do meio dia. Tinha as roupas na lavanderia do prédio. A sala em ordem e limpa. A cozinha sem nada fora do lugar.

Me vi parada em frente a porta do quarto que ela mantinha trancada, mas que agora já não tinha mais sua chave. Empurrei a porta vagarosamente para dentro. Não era mais um quarto escuro, um pouco estranho, mas não mais tão sombrio. Talvez apenas precisasse de uma pintura nova.

Havíamos jogado o seu painel de tortura fora. Haviam apenas boas pequenas lembranças as quais ela lutou para recolher de volta o que pudesse reencontrar da sua família. As cortinas escuras já não mais pertenciam ao ambiente e sim deram espaço para cortinas finas em um tom de amarelo claro. Eu abri as janelas e quando o vento soprou contra o meu rosto, senti um abraço estranho em minha alma. Eu sorri encarando o céu azul e os prédios grandes ao redor. O ar cheirou a terra molhada e folhas secas, talvez fosse o cheiro do outono. Eu fiz minha oração para que sua família ficassem em paz sempre, pensei que assim Camila também pudesse ficar. Ela estava melhorando e eu esperei ser sua ajuda. Sim, eu podia a livrar dos seus demônios.

O barulho da campainha me fez saltar para trás e levar a mão ao peito com o susto. Respirei fundo e verifiquei o relógio no celular uma última vez. Ainda não era meio dia, mas meus pais tinham mania de chegar antes da hora. Franzi o nariz enquanto corria até a porta principal do apartamento torcendo para que fosse a refeição que eu havia pedido no restaurante algum tempo atrás. Meu sorriso para o rapaz do outro lado me certificou que nada fugia o controle.

Recebi a comida e paguei o rapaz que logo desapareceu em direção ao elevador enquanto eu empurrava a porta com os pés e caminhava para a cozinha.

Estava colocando o almoço em travessas quando surgiu uma Camila curiosa na entrada da cozinha. Ela parecia procurar algo, passou o olhar por mim três vezes e então soltou o ar com certo alívio.

- Por que não me acordou? Pensei que fossem eles. – Perguntou caminhando em minha direção. Ela vestia uma blusa que estava literalmente ao contrário e uma de suas saias sociais que estava amassada.

- Você precisava dormir um pouco, Camz. Está tudo em ordem e temos o nosso almoço como eu havia dito. – Sorri dando de ombros. Ela se apoiou ao meu lado na bancada.

- Me levou pra cama para que eu dormisse? – Fez uma expressão confusa e serrou o olhar na minha direção de uma forma divertida.

- Sim e não. – Gargalhei. – Eu precisava relaxar um pouco e você também, e é claro que um pouco de sono te ajudaria a ficar mais calma, então quando você dormiu, eu só te deixei descansar mais e fiz o que você ainda tinha que fazer.

- Eu estou vendo. Não precisava ter feito tudo sozinha. Eu poderia ter ajudado. E obrigada por abrir as janelas do outro quarto. Eu estava pensando em algumas coisas para ele. – Pareceu pensativa. Caminhou até a geladeira e pegou uma garrafa de água. – O que acha se fizermos um escritório de verdade lá? Podemos dar algum uso a alguns móveis. Eles são confortáveis e bonitos e eu gosto deles.

- É claro que podemos fazer um escritório lá, amor. O apartamento é seu. – Mais uma vez ela pareceu pensativa. Apenas concordou enquanto eu jogava as embalagens de viagem da comida no lixo. – O que foi?

- Você nunca vai ver esse apartamento como seu também? Ele é tão meu quanto seu. Moramos juntas. – Sua expressão era séria.

- Eu só estou dizendo que você morava aqui antes. Pode fazer o que quiser com o apartamento. Eu fico feliz que tenha me deixado morar com você aqui, mas ele ainda é seu. – Me aproximei segurando seus ombros. Ela se manteve séria.

- Mas tem suas coisas também. Tem suas fotos, suas roupas... São nossas coisas por todos os lados. É o nosso apartamento. – Falou firme. Eu sorri e ela voltaria a falar outra coisa se não fosse pelo som da campainha soando novamente.

- Okay, é o nosso apartamento. Amor, sua blusa está ao contrário, eu consigo ver seu sutiã preto e sua saia está uma bagunça também. Está certa de que vai receber meus pais assim? – Perguntei divertida. Ela arregalou os olhos e olhou o próprio corpo antes de sair correndo de volta para o quarto. – Vamos estar te esperando na sala.

Ganhei mais uma vez dois dos meus abraços favoritos em todo o mundo. Meus pais trouxeram uma garrafa de vinho, o que eu realmente agradeci por não ter pensado na bebida antes e um presente para Camila, o que me deixou enciumada, mas feliz por eles estarem tentando a agradar da mesma forma que ela tentava fazer. Eles se adoravam e ficavam caindo em jogos bobos.

- Que cheiro maravilhoso. – Mamãe comentou antes de eles se sentarem no sofá. Eu sorrindo com os lábios pressionados por deixar que pensassem que havíamos feito algo e não apenas comprado.

- Sim, o cheiro está incrível. – Papai concordou e eu dei de ombros sentando na poltrona ao lado do sofá.

Deixei que o silêncio se instalasse. Eles estavam avaliando o apartamento. Observavam tudo ao redor e eu os deixei fazer sabendo que eles gostariam de tudo.

- Onde está a Camila? – Mamãe perguntou em um sussurro quando sentiram falta da minha namorada.

Um barulho no fim do corredor e um grito desastroso anunciou sua chegada. “Mas que droga!” Pudemos a ouvir praguejar antes de seus saltos começarem a ecoar pelo corredor antecipando sua aproximação. Eu sorri e fechei os olhos. Eu amava o barulho dos seus saltos contra o piso. Poderia reconhecer os seus passos apenas ao som dos saltos.

- Olá! Me desculpem a demora. – Cumprimentou meus pais com um abraço carinhoso e agora todos tinham um sorriso animado nos lábios. – Vocês querem beber algo?

- Não, estamos bem. Obrigada. Como você está? – Mamãe iniciou uma conversa calma enquanto eu os observava.

Mamãe usava uma calça jeans, blusa social, seu inseparável cinto e havia deixado seu casaco sobre a bolsa ao seu lado. Papai estava como costumava se vestir para ir a qualquer lugar. Também de calça jeans, camisa social clara e seus sapatos também sociais. Eles estavam bem casuais na verdade para as vestimentas que a outra mulher tinha. Ela tinha uma maquiagem leve ao rosto, o cabelo caindo perfeitamente sobre seus ombros, o vestido justo social indo até um pouco acima dos joelhos e tendo mangas curtas, sendo completado por seus saltos agulha e um sorriso poderoso a faziam a mais alta do ambiente.

- Sim, eu entendo claramente. – Eles riram me fazendo voltar ao ambiente. – O que acham de darmos início ao almoço? Eu espero realmente que a comida não tenha esfriando e antes de ser injusta, não fomos nós que cozinhamos. Lauren preferiu fazer o pedido em um restaurante aqui perto.

- Camila... – Eu baixei os ombros quando todos levantaram e meus pais riram. – Eu queria apenas ter algum crédito até que você contasse tudo.

Ela apenas riu elevando as sobrancelhas para os meus pais que a seguiram até a cozinha. Séria bom usar a minúscula mesa de jantar.

- Espero que não se importem em termos comprado a refeição, mas foi um início de dia puxado. É de um restaurante que frequentamos, então eu realmente espero que gostem da comida. – Formal demais como sempre. Eu gostava de ter uma Camila versão mais casual só pra mim. – Por favor, sentem-se. Eu vou os servir.

Mamãe me olhou com um sorriso como se estivesse elogiando a mulher a quem eu namorava e é claro que eu tinha orgulho de tê-la em minha vida. Eu não poderia imaginar alguém melhor.

Ela nós serviu até as taças de vinho, após agradecer da forma mais formal possível e se desculpar por não ter nada para os oferecer como presente de volta. Ela nem havia recebido seu presente de verdade ainda.

A refeição foi animada. Camila usou um tom mais casual após a segunda taça de vinho. Acho que ela estava se sentindo mais a vontade agora. Eu os fotografei após o almoço e todos reclamaram enquanto eu gargalhava, então posaram de verdade para mim quando fiz um retrato deles. Seria uma das minhas fotos favoritas certamente.

Lá estava ela sem saber como agradecer ao presente dos meus pais e se recusando a aceitar por não ter nada ao que oferecer de volta. Papai deu de ombros e a abraçou dizendo que o melhor presente que ela os poderia dar, era me fazer feliz. Eu ganhei dela um olhar e sorriso apaixonados quando resolveu aceitar ser presenteada.

Partimos para a casa da Danny após mais duas horas de conversas animadas sobre os planos e expectativas para a noite. É claro que Camila se mostrou mais do que animada, eu só teria tudo isso hoje graças a ela.

Na casa da Danny tudo foi uma loucura. Nós não estávamos realmente indo apenas visita-la e sim participar de uma festa surpresa em comemoração a minha primeira exposição. Eu me vi surpresa porque tinham velhos amigos meus de Miami, os meus irmãos, meus amigos da editora e nossas garotas, todos reunidos para celebrar algo de extrema importância pra mim.

Danny estava ótima, mas ainda precisava da ajuda de James para a maioria das coisas. “Não tirem seus olhos dela durante esses 3 primeiros meses. Ela precisa recuperar a cabeça, seus bobos.” Lembrei da mensagem divertida do Dr. Shepherd e o agradeci mais uma vez por nos trazer Danny de volta.

Camila não me deixou chegar perto das bebidas. Recusou qualquer tipo de álcool por nós duas, enquanto o resto pareceu não se importar em ir para galeria de artes e beber um pouco mais. Haviam salgados e doces sendo servidos também, o que me foi liberado, mas em quantidade pequena. Segundo Camila, eu não deveria comer muito ou acabaria vomitando tudo assim que pusesse os pés em frente a galeria.

Não precisei por os pés em frente a galeria. Eu estava passando mal nervosa muito antes e Camila ria enquanto segurava meu cabelo e dizia que eu não deveria temer a nada pois ela estaria sempre ao meu lado. Eu levantei depois de não ter mais nada no estômago. Ela me enfiou um comprimido goela abaixo enquanto eu fazia careta e me arrastou de volta para o apartamento enquanto nos despedíamos do resto do pessoal brevemente até que nos encontrássemos na exposição.

Me empurrou para o banheiro e fechou a porta me deixando sozinha enquanto desaparecia para outro cômodo. Tentei respirar fundo e relaxar mais durante o banho, mas imaginar várias pessoas avaliando algo que eu fiz e julgando se valeria a pena o ter em suas paredes no final da exposição, era algo que me deixava nervosa.

- Vamos, Lauren. Sua roupa está na cama. Eu vou te preparar um chá. – Deu batidas leves na porta e mais uma vez seguiu seu caminho.

Me envolvi com seu roupão branco e deixei o banheiro direto para o quarto. Havia um vestido longo vermelho sobre a cama, as peças íntimas do lado, os saltos no chão e uma caixa preta provavelmente de veludo com um laço dourado por cima. Eu me senti confusa. Não era a roupa que eu havia escolhido para hoje a noite.

Depois de avaliar a roupa uma última vez e vestir apenas as peças íntimas, decidi que poderia vestir tudo e me olhar no espelho para ver como ficaria e ao fazer isso, Deus, eu me senti nas nuvens. O vestido havia caído incrivelmente bem ao meu corpo ressaltando tudo o que deveria. Os saltos me trouxeram confiança extrema. Sorri ao meu reflexo no espelho. Eu poderia me beijar agora.

- Deus!! – Um sussurro se fez na entrada do quarto. Eu virei rapidamente para encontrar sua expressão e olhar em admiração. – A Dinah e a Mani estiveram certas. Você ficou magnífica nessas roupas.

- Você acha? – Perguntei ruborizando. Eu estava confiante, mas a opinião e avaliação infinita daqueles olhos castanhos sobre mim, sempre contariam mil vezes mais.

- Sim, amor. Você está maravilhosa. Linda demais. – Se aproximou vagarosamente com um sorriso suave. – Eu ainda te prefiro nos meus pijamas, mas você é maravilhosa o tempo todo, então... Eu só queria dizer que você é a mulher mais linda que eu conheço.

Seus olhos prenderam o meu olhar por alguns segundos até eu sorrir mais forte e ela respirar fundo desviando o olhar de volta para a cama.

- Ahh... Você ainda não abriu? – Perguntou puxando a caixa preta para suas mãos.

- Não, eu estava olhando a roupa. – Sorri de volta para minha imagem. Se ela havia gostado, então eu estava pronta.

- Eu te comprei um outro presente para usar essa noite. Sei que disse que não seria preciso comprar nada, mas a roupa e os saltos foram as meninas. Esse aqui é meu presente para você. Quero que saiba novamente o quão orgulhosa eu me sinto sobre tudo o que você é e o seu trabalho incrível. – Voltou a minha frente segurando a caixa nas mãos, então ela a abriu junto a um sorriso largo em seus lábios. – É apenas o começo, garota.

Haviam um par de brincos e um colar dentro da pequena caixa. Os brincos e o colar eram dourados com esmeraldas sendo o principal ornamento das peças. Eu a encarei incrédula.

- Camila...

- Eu sei, eu sei, eu sei... Você não precisa surtar. São esmeraldas, mas isso foi bem mais barato que o seu carro. Por favor, aceite. – Respirou fundo me encarando em ansiedade. Ela só poderia ser louca.

- Você não precisa me comprar coisas caras. Eu não posso... Eu não sei.. Eu... Isso é muito caro. Eu aceitei o carro porque ele também é seu, mas isso...

- Eu uso também depois se você quiser, mas hoje você precisa os usar. Eles são pra dar sorte. Eu sempre achei esmeraldas lindas. Elas são incríveis, mas mesmo vendo agora elas de perto, seus olhos sempre serão minhas coisas favoritas em todo o mundo. Aceite, amor. Só por hoje, okay? Nós reversamos o uso depois. – Riu tirando o par de brincos da caixa e os colocando na palma da minha mão. Eu estava literalmente sem reação. - Coloque-os. Você vai ficar ainda mais incrível com eles.

Coloquei os brincos me olhando no espelho enquanto ela sorria atrás de mim. Retirou o colar da caixa também e o fechou para mim antes de dar um beijo suave no meu ombro e me olhar pelo nosso reflexo.

- Você é linda! – Seus braços envolveram minha cintura e eu sorri um pouco nervosa sobre aceitar outro presente caro. – Você é muito linda.

- Você também é linda. – Sorri. Ela me abraçou um pouco mais forte. – Obrigada.

- Obrigada você por fazer parte da minha vida. – Beijou meu pescoço rapidamente. – Eu vou tomar um banho rápido e me arrumar também.

Apenas concordei com a cabeça e permaneci me encarando. Ela voltou com meu chá antes de seguir para o banho e se vestiu depois enquanto eu a observava quase me sentindo tonta demais por ter alguém como ela. Tudo o que eu havia aprendido em menos de um ano. Tudo o que eu havia descoberto em tão pouco tempo. Tudo era ela. Ela era tudo. Sorriu seu melhor e meu favorito sorriso enquanto terminava de calçar seus saltos pretos. Ela também estava magnífica. O meu coração bateu mais rápido no peito. Camila é magnífica!

Eu terminei meu chá antes de seguirmos para a sala e pegar nossas bolsas de mão. Ela havia me emprestado uma. Eu não costumava ir a eventos importantes assim e muito menos ser a principal da noite.

- Aqui vamos nós, baby. – Beijou minha mão suavemente antes de ligar o motor do carro e sair da garagem do nosso prédio. Eu respirei fundo e fechei os olhos. Sim, essa seria a minha noite.