História Discovery - A long and wonderful future

O inverno havia se iniciado em Nova Iorque. O clima frio e a neve estavam de volta por todos os lados, mas não havia tanta neve se amontoando pelas ruas ainda. Lembro que quando cheguei na cidade, já passava do meio de Dezembro e o final do ano era bem mais próximo. As ruas eram cobertas por neve e a cidade tinha seu jeito apaixonante e festivo como nos globos de neve da cidade.

Era uma manhã fria e preguiçosa para mim, mas a mulher tagarelando a minha frente parecia movida a cafeína desde muito tempo atrás. Ela estava questionando um vestido para mais uma das demais reuniões do ano. Eu lutando para não fechar os olhos outra vez e cair no sono.

- Lauren, me ajude aqui. Qual o melhor? O preto ou o vinho? – Perguntou novamente elevando o tom de voz enquanto mostrava o vestido preto já ao seu corpo e sacudia o vinho na outra mão.

- O preto está bom, mas o vinho combina mais com os seus saltos novos. – Respondi totalmente sonolenta.

- Muito obrigada pela ajuda. Agora eu estou mais indecisa ainda. – Voltou a caminhar pelo quarto até parar em frente  ao grande espelho próximo ao banheiro. Eu fechei os olhos por alguns segundos. – Se eu usar o preto... Ele é mais social, mais clássico. Acha que é mais profissional? Mas eu amei o vinho e ele realmente combina com os meus saltos novos. Você não acha que...?

Silêncio. Finalmente ela havia parado de falar e eu poderia voltar a dormir. Eu quase sorri com a calma que invadiu o ambiente. Mas ela me fez despertar.

- Lauren, você deveria me ajudar e não dormir. Eu vou com o vinho. Me ajuda a abrir esse zíper. – Virou de costas para mim na cama e tentou desastrosamente alcançar o zíper na parte das costas do vestido. – Lauren!!

- Eu estou indo. Você precisa parar de gritar. – Sentei com rapidez, o que acabou me deixando tonta e desci o zíper do seu vestido a livrando dele. – Pronto.

- Eu preciso sair em 15 minutos. Estou quase atrasada. – Tirou o vestido preto e o jogou para a poltrona do quarto. Arrastou o vinho por cima da cabeça e o fez deslizar pelo corpo. Ela tinha alguns arranhões na lateral do corpo. Sorri cansada. – Está sorrindo por que?

- Eu não posso sorrir? – Perguntei voltando a me jogar na cama.

- Claro que pode. Eu até prefiro que esteja sorrindo o tempo todo. O seu sorriso é lindo e me acalma, mas não me faz voltar no tempo para não estar atrasada. Você não tinha que estar se arrumando também, garota? – Perguntou correndo atrás dos saltos e tentando colocar os brincos no caminho.

- Estou cansada. Não da pra ligar e pedir pra remarcarem a reunião? – Fechei os olhos e afundei o travesseiro sobre o rosto.

- Não sou sua secretaria, amor. Você cresceu e tem que resolver sozinha agora os assuntos das próximas exposições. Vamos, levante esse bumbum da cama e tome um banho. Eu vou deixar café pronto pra você antes de sair. – Ela estava fazendo muito barulho para uma manhã fria e preguiçosa. Eu queria a puxar de volta para o meu lado na cama e não sair de lá pelo resto do dia.

Por que infernos temos que crescer, trabalhar, acordar cedo, fazer compras, sair para reuniões? Eu poderia apenas passar o dia na cama com ela. Camila fez seus saltos ecoarem pelo quarto e eu abri os olhos novamente jogando o travesseiro para o lado.

- Nem venha me olhar assim. Foi você quem começou ontem a noite. Eu te avisei que tínhamos compromisso pela manhã. – Deu de ombros quando a olhei quase a culpando pelo meu corpo dolorido.

- Você não deveria ter aceitado fazer o que eu pedi. – Choraminguei já prestes a sair da cama.

- Vou usar aquela cinta em você quantas vezes você pedir. Sabe que é um pedindo irrecusável. Agora vem, levante e tome um banho quentinho pra relaxar mais o corpo. – Me puxou rapidamente pelos ombros e me beijou os lábios em um beijo breve demais para o meu gosto. Eu sempre iria querer mais dela em minha boca. – Droga, amor, você lembra onde eu coloquei aquele... Esquece, eu já achei.

Ela se inclinou próxima a poltrona do quarto e eu observei como suas pernas ficavam mais quentes naquela posição e sobre aqueles malditos novos saltos. O vestido me impedindo de ver mais do seu corpo. Eu quase choraminguei de novo, mas foi por perceber novamente o quão fodidamente quente aquela mulher era.

- Tenho mesmo que ir? – Perguntei baixo. Ela gargalhou.

- Pare de drama. Você fez coisa pior comigo antes. Eu quase não fiz nada. – Riu olhando pra mim enquanto colocava seu colar.

- Camila, eu mal posso andar. Você esteve literalmente me fodendo até o amanhecer. Eu merecia um dia de folga. – Falei séria e pensativa.

- Me dê um dia de folga também antes que essa cidade vire um caos daqui uns dias. Céus, ainda nem compramos a decoração de natal. – Levou a mão a cabeça e bateu suavemente contra a própria testa. – Que horas acha que está livre? Podemos ir comprar tudo hoje e arrumar o apartamento no final de semana.

- Estarei livre quando você quiser. – Finalmente me pus de pé. O piso frio abaixo dos meus pés. Eu tremi.

- Ótimo, eu te aviso quando eu sair de reunião e ficar livre. A Danny nos convidou para o Dia de Ação de Graças. Você quer ir? – Perguntou jogando o roupão pra mim.

- Tem como negar algo que a Danny pede? – Elevei uma sobrancelha e ela concordou rindo novamente. – Sinto falta de ficar na editora o dia todo enquanto vocês correm feito loucos para todos nos lados quando está perto de uma nova campanha.

- Sinto falta de te ver em sua mesa também e de te fuder na minha mesa. Woow, sim, eu sinto muita falta disso. – Ela quase me derrubou de volta para a cama quando me abraçou e riu contra o meu pescoço. Suas mãos quentes tocando a minha cintura nua. Eu tive que rir e concordar que eu também gostava disso. Era como fazer algo proibido e o nível de excitação ultrapassava as paredes da sua sala.

Camila correu para terminar de se arrumar para mais um dia de trabalho na editora. Eu me arrastei para o banheiro para tomar banho e me arrumar para mais uma reunião em galerias de arte. Eles queriam uma exposição antes do Natal e eu agradeceria se o dinheiro também viesse no mesmo tempo. Minha namorada merecia um presente ao nível de tudo o que ela havia me dado.

Eu ganhei um beijo de despedidas enquanto fechava meu sutiã. Ela sorriu e limpou a marca de batom que havia deixado em meus lábios. Soprou outro beijo no ar e seguiu fazendo os planos para o dia.

Terminei de me vestir e arrumar o rosto e cabelo. Eu parecia uma louca virada de várias noites, mas isso havia sido apenas uma madrugada com Camila Cabello. Estávamos tão felizes que tudo no final do dia era motivo de comemoração e nós tínhamos a melhor forma para o fazer.

Tomei um pouco de café que ela havia me deixado antes de sair como combinado e senti a cafeína fazer seu trabalho minutos depois. Peguei minha bolsa e as chaves do apartamento e do carro e desci para o estacionamento.

Eu amava esse carro. Era um dos meus presentes favoritos. Eu podia ir para onde quisesse e podia ouvir minhas músicas no volume que quisesse. Eu também podia ter Camila no banco traseiro do carro e isso era ótimo para quando se está excitada demais para poder esperar.

Hoje ela havia aceitado carona da Halsey e da Beth, que estavam conseguindo manter bem seu relacionamento sério. Parecia engraçado ver a Halsey esnobar qualquer outra mulher porque Beth estava do lado, mas ela era mulherenga demais para entrar na linha da noite para o dia. Elas brigavam as vezes, mas tudo acabava em beijos e amassos no banheiro da editora.

Tive de pisar no acelerador para não chegar atrasada e mesmo assim passei uns 3 minutos a mais presa no trânsito caótico do centro da cidade. Eu não podia reclamar, as exposições de fim de ano pareciam bastante convidativas e é claro que eu faria algo bom para os dar um trabalho fantástico.

A parte difícil de virar ou ser um artista é que seu trabalho tem que ser sempre algo inovador. Você não pode simplesmente copiar o trabalho de alguém e esperar que ninguém note qualquer semelhança. Você tem que tirar sua alma fora e a jogar em algo na tela para criar algo bom, no meu caso, eu tentava o fazer da melhor forma possível para expressar algo através do meu olhar capturado pela lente da minha câmera.

A reunião foi como as demais, falamos sobre datas, temáticas, preços, tempo, disponibilidade, divulgação e toda a parte que envolvesse qualquer rastro presente para uma boa exposição. Eu queria viajar de volta para visitar o Museu de Louvre outra vez. Mesmo que tivéssemos feito uma visita rápida para um Museu tão grande, eu podia dizer com total certeza que sentia falta de tudo o que havíamos experimentado em Paris. Talvez pudéssemos repetir a viagem e eu esperei que fosse muito em breve.

Almocei com Normani em um restaurante próximo a editora. Eu fiz o percurso sentindo saudades de poder entrar naquele prédio e estacionar o carro durante algumas horas. Encontrar vaga de estacionamento em pleno horário de almoço em Nova Iorque parecia uma tarefa totalmente impossível. Tive que pagar caro para poder o deixar em um estacionamento privado, mas talvez fosse mais seguro e confiável. Não queria muita neve sobre o carro mais tarde, mesmo que os flocos ainda fossem finos.

Tentei adiar mais tempo possível o término do nosso almoço na esperança de que Camila também ficasse livre após o meio dia, mas isso não aconteceria como previsto. Me despedi da Mani e caminhei alguns poucos metros até o prédio da revista.

Lá estava eu esperando que o elevador me levasse ao 16° andar e quando as portas abriram, mesmo não tendo passado muito tempo, uma nostalgia avassaladora me atingiu como se fizessem anos que eu não pisava ali. Eu deveria ter vindo aqui na semana passada.

Cris logo deu seu grito anunciando minha chegada e eu dei meu melhor sorriso a todos os antigos colegas de trabalho, muito deles haviam realmente virado bons amigos. Danny acabou no embalo de todos e me liberou por algum tempo na editora. Eu sabia que era errado estar ali interrompendo seus trabalhos já que a correria estava de volta e uma campanha estava quase pronta para sair do forno. Eu só não queria passar a tarde sozinha.

Uma nova fotografa havia sido contratada no meu lugar. Senti ciúmes? Claro que não. Eu estava feliz por ela, mas sentia falta do meu antigo dia agitado editando fotos e legendas e revisando páginas para ver se havia tudo no seu lugar correto e estava bom para que Camila pudesse dar as ordens finais antes da impressão.

A nova fotografa era uma mulher, mais experiente que eu, claro, bastante bonita também. Tinha cabelos loiros, pele clara deixando suas sardas no rosto bem aparentes. Ela vinha do Alaska e estava bem mais acostumada a fotos externas e não em estúdio o que me havia feito realizar algumas sessões fechadas para a revista. Eu me sentia bem em poder fazer essas coisas rápidas para os ajudar.

Tomei um chá quente com a Danny enquanto Camila ainda estava em reunião. Pelo visto, minha namorada estava ambiciosa, confiante e otimista demais para fechar negócios com novos sócios e Danny a havia dado total liberdade para assumir a reunião sozinha. Eu não quis pensar sobre o quão quente ela deveria ficar tão confiante em reuniões assim. Minha mente foi desperta quando Danny gargalhou e me mostrou uma foto antiga dos meus pais e ela quando mais novos. Era uma fotografia realmente engraçada e eu gostaria de poder zoar um pouco meus pais, que também me faziam muita falta, assim como meus irmãos.

Três batidas na porta e a mulher mais sexy do planeta deixou que seu corpo deslizasse para dentro como se flutuasse no meu olhar, mas foi apenas eu sendo trouxa ao extremo. Ela pareceu animada e sorriu ao me ver sentada no sofá da Danny.

- E então? – Danny perguntou em expectativa.

- Feito. Teremos ótimas mudanças e tudo vai sair exatamente como planejado. Eu mal vejo a hora de poder iniciar esse novo projeto. – Jogou pastas sobre a mesa da mulher mais velha e virou em nossa direção enquanto unia as mãos a cintura. – Todos os documentos estão devidamente assinados e prontos para serem arquivados. Você precisa que eu faça isso ou o James pode fazer?

- O James pode fazer. Acho que tem feito demais por essa revista, Camila. Pelo menos eu sei que se eu tivesse morrido, você não a teria vendido em um leilão qualquer. – Gargalhou sozinha. Não gostávamos de relembrar que ela havia quase nos deixado pouco tempo atrás. – Vocês são caretas demais. Isso foi uma piada. Riam, pelo amor de Deus.

- Hahaha. Que engraçado. Estamos rindo, não vê? – Camila revirou os olhos, mas sua expressão era de diversão. Danny deu de ombros e continuou sorrindo. – Consegue baixar os arquivos que a Halsey enviou pro e-mail? Estou sem internet na minha sala. O garoto da TI não consegue encontrar o erro.

- Como não? Ele é ótimo em resolver esses probleminhas. Eu vou ver se consigo pegar tudo pra você do meu computador mesmo. – Danny deixou o sofá e se direcionou a sua mesa. Camila pulou por cima de mim e sentou onde antes ela estava. – Eu quase sinto o seu peso sobre as minhas pernas, Camila. Nem pra esperar eu me levantar direito.

- Você já está sentada em sua poltrona, não reclame. – Gargalhou. – Ahh, sobre o convite de Ação de Graças, Lauren e eu estamos confirmadas na lista. Aquele peru que você serviu ano passado estava simplesmente divino. Eu tenho certeza que recebi minha graça vinda daquele peru.

- Pensei que não gostasse mais de perus, Camila? – Eu disse sugestiva e ela me deu um tapa no braço enquanto Danny explodia em uma gargalhada alta. – Mas você ainda gosta?

- Cale a boca, garota. O que veio fazer aqui? – Me puxou como sempre pelo casaco e me deu um beijo rápido nos lábios. – Como foi sua reunião? Melhorou das dores musculares?

- Sim, foi bem tranquila e está tudo certo para o meio de Novembro. Sobre as dores, os relaxantes musculares estão fazendo efeito, mas eu espero por uma massagem mais tarde. – Sorri divertida e ela beijou a ponta do meu nariz.

- Eu acho que se vocês pudessem engravidar de verdade uma da outra, teríamos dezenas de crianças correndo por aí. O que acontece com os hormônios de vocês? – Danny perguntou parecendo curiosa, mas acabou rindo.

- Não estamos aqui para falar sobre nossa vida sexual. Vê se consegue os documentos. Eu vou arrastar a Lauren por uns minutinhos na minha sala. – Camila elevou as sobrancelhas para Danny e levantou do sofá me puxando pela mão enquanto eu ria.

- Mais um filho imaginário. Eu não sei porque inventei de te dar uma sala com uma trava na porta, Cabello. Eu não sei. – Deixamos a sala da Danny, mas acabamos parando para resolver probleminhas pequenos da próxima campanha e mal tivemos realmente tempo para conversar depois disso.

Usei meu tempo livre para os ajudar. Consegui resolver o problema de conexão de internet no computador da Camila e ajudei a nova fotografa com as fotos da nova campanha. As 18h Camila e eu deixamos a editora e seguimos para um shopping. Compramos alguns itens de decoração natalina e coisas sem utilidade, mas que pareciam divertidas. Escolhemos um presente legal para Danny e alguns amigos. Jantamos em um restaurante e ela fez questão de pedir pizza alegando que eu a tinha feito cumpri sua meta para o novo ano e ela estava com saudade de pizzas. Tive que aceitar. Eu também estava com saudades dessas comidas genéricas.

O resto do mês passou talvez em um piscar de olhos. Eu tive minha nova exposição aberta em uma galeria maior. Camila e eu comemoramos o lançamento de sucesso de mais uma edição da revista e até saímos juntas em um artigo de jornal da cidade. Não era o The NYT, mas era de grande importância para nós.

O dia de Ação de Graças foi realmente especial. Nós servimos almoço para desabrigados em um bairro mais necessitado da cidade ao lado de Dinah e as outras garotas. Foi divertido e especial ouvir algumas histórias realmente inspiradoras. Voltamos para casa refletindo um pouco mais sobre toda nossa vida. Então a noite, Danny fez seu jantar tradicional para a festividade. Tinha muita gente em sua casa, mas acabou sendo algo realmente bom por podermos passar uma data importante ao lado de pessoas especiais e fazendo o bem sem esperar algo em troca.

Dezembro chegou com toda a neve possível na cidade. As ruas já tomadas pelo branco e as cores natalinas iluminando quase todos os lados, era simplesmente encantador demais para não querer dar uma volta de mãos dadas pelo Centro e ver alguns atrativos da época.

Tudo continuou corrido para todos os lados, mas Dezembro era um mês bom. Era o último mês do ano e no último dia, eu esperei realmente saber o que fazer. Havia tanta expectativa para Natal e Festas de ano novo. Eu só conseguia pensar em fazer algo para a mulher que me beijou em um banheiro na virada do ano. Queria fazer tudo novamente, viver tudo novamente, mas eu queria muito mais, ter um futuro ao seu lado. Um longo e maravilhoso futuro.