História Discovery - Can you call me back?

Halsey estava me esperando em frente ao elevador. Camila ainda focada em seu trabalho. Peguei minha mochila e levantei. Lhe dei um sorriso de despedida antes de me afastar em direção a Halsey que piscou pra mim assim que nossos olhos se encontraram.

- Então, tem esse restaurante legal aqui perto e eu estava... – Falou ao dirigir para longe da editora. 

- Eu só queria deitar um pouco e dormir. A gente saiu faz 3 dias. – Falei fechando os olhos e relaxando meu corpo no banco do carro. 

- Era só um jantar. – Riu. – Te levo em casa então?

- Pro meu apartamento. – Eu disse a olhando rapidamente. 

- Ei, eu sei. Eu só errei o caminho da última vez e estacionei na minha garagem. – Ela gargalhou e eu liguei o som do carro. 

Nós conversamos sobre música o resto do caminho inteiro. Halsey se despediu com um beijo mais próximo da minha boca possível enquanto lhe devolvi um sorriso atrapalhado e desconfortável. Ela não perdia uma oportunidade quando possível. 

“Finalmente você atendeu.” Eu disse sorrindo enquanto subia o último lance de escada para o meu andar. Não usei o elevador por julgar precisar de algum exercício físico todos os dias e as escadas realmente ajudavam. 

“Aconteceu alguma coisa?” Camila perguntou com a voz preocupada do outro lado da linha. 

“Não. Está tudo bem.” A respondi enquanto abria a porta do meu apartamento. 

“Tem certeza? Você parece... Ofegante.” Eu sorri mais forte e me joguei no sofá. 

“Eu tive que subir pro meu andar usando a escada. As vezes o elevador demora demais.” A respondi deixando a mochila cair para o chão vagarosamente. 

“Está no seu apartamento? Pensei que tivesse saído com a Halsey.” Comentou indiferente. 

“Ela só me deu uma carona. O que está fazendo?” 

“Ahh... Uma carona.” Ela riu. “Estava terminando de digitar o conteúdo da matéria para a segunda.” 

“Onde você está?” Perguntei outra coisa. 

“Na editora. Por que está me interrogando? Quer saber o que eu estou vestindo também?” Ela gargalhou e eu deixei meu sorriso crescer no rosto. 

“Eu sei o que você está vestindo, Camila. Só liguei pra te avisar para voltar pra casa e dormir um pouco. Já é tarde e você precisa de algum descanso.” Eu dei de ombros, mas meu sorriso permaneceu. 

“Só ligou para me mandar ir embora?” Riu outra vez. 

“Você não vai embora?” 

“Eu estou prestes a entrar no elevador e ficar sem sinal. Obrigada por ter ligado e ter me lembrado de voltar pra casa.” Sua respiração bateu quase contra o meu ouvido. Ela estava longe demais pra eu sentir sua respiração de verdade.  Uma pena.

“Você pode me ligar quando chegar no seu apartamento para eu ter certeza de que você está bem?” Levantei do sofá e caminhei para a cozinha a procura de algo para comer. 

“Vai ser minha mãe agora me lembrando o horário de dormir? Eu sou a mais velha, Lauren. Sou eu quem cuida de você.” 

“Você não é tão velha assim, Camila. Quantos anos você tem?” Peguei minha comida congelada e horrível e solitária de microondas outras vez. 

“Quantos anos você acha que eu tenho?” Ela riu e me fez sorrir. 

“Responda de uma vez antes que perca seu elevador.” 

“Na verdade, ele acabou de descer de novo, então espero que tente adivinhar minha idade antes que ele volte.” 

“Deixou o elevador descer sem você dentro, Camila?” Gargalhei pressionando o botam de 3 minutos no microondas. “Qual o seu problema?” 

“Você ainda não disse quantos anos acha que eu tenho.” 

“20.” Sentei no balcão de frente ao microondas e encarei os segundos diminuírem. 

“Não.” 

“Vamos, Camila. Só diga de uma vez.” 

“Droga, Lauren. Você não sabe brincar mesmo.” Ela gargalhou. “Eu tenho 23.” 

“Não tem não.” Falei imediatamente.

“Claro que tenho. Você quer saber minha idade mais do que eu mesma?” 

“Você não parece ter 23.” 

“Bem, eu te ligo para continuarmos essa discussão sobre eu ter ou não ter 23 anos quando eu chegar no meu apartamento. O elevador voltou. Até mais, garota.” 

“Você não tem 23.” Eu disse antes de ela gargalhar outra vez e então desligar a chamada. 

Me vi sorrindo por dois minutos até que o barulho do microondas me fizesse voltar a realidade e sair de um pequeno mundo de fantasias na minha mente. 

Eu comi minha comida sem gosto enquanto encarava o celular esperando que ela retornasse a ligação mesmo sabendo que ela demoraria algum tempo a mais para chegar ao seu apartamento. Foi como imaginar cada passo seu até enfiar a chave na porta e a destrancar. Dar seus passos para dentro. Empurrar a porta e então deixar a bolsa sobre a poltrona. Ela deveria lembrar de pegar o celular e me ligar. 

Joguei metade da comida outra vez fora. Aquilo de longe parecia uma refeição. Caminhei vagarosamente para o quarto. Sentei na cama e esperei ela ligar. 10 minutos. 

Tirei a roupa e entrei debaixo do chuveiro enquanto observava o celular sobre a pia pelo espelho. Deixei o banheiro e me enrolei na toalha enquanto caminhava para o quarto. O celular nas mãos outra vez. 

Eu estava quase caindo no sono quando o barulho alto do toque de chamadas invadiu o quarto e quase me fez saltar da cama. Era ela. 

“Hey!” Atendi. 

“Desculpa não ter ligado antes. Caso você tenha realmente ficado esperando eu ligar. Decidi comer algo e tomar banho antes de vir pra cama.” Ela pareceu se mover sobre os lençóis. 

“Não tem problema. Você está bem?” 

“Realmente se importa?” 

“Claro?” 

“Eu estou bem sim, garota. Só um pouco cansada.” Respirou fundo. 

“Por que está me chamando de garota?” Encarei o escuro do quarto. 

“Porque você é mais nova que eu.” 

“Você não sabe a minha idade.” 

“Okay, Lauren Michelle Jauregui Morgado. 19 anos. Natural de Miami, Flórida. Você estudou em uma ótima escola no ensino médio, não?” Ela riu. 

“Como sabe isso?” Eu me senti tonta por ela saber mais sobre mim do que eu imaginava. 

“Eu estava lá quando seu currículo chegou na sala da Danny. Ela demorou três minutos para ler. Estava contando como era amiga do seu pai nos tempos de universidade.” 

“Leu meu currículo?” 

“Li o seu nome e a sua idade. Danny leu o resto em voz alta. Você sabe, você só entrou porque eu precisei de uma nova fotógrafa.” 

“Devo te agradecer agora ou quando meu primeiro salário cair na minha conta?” Perguntei a fazendo gargalhar. Virei para o lado. Quase nenhuma luz passando pela janela. 

“Você pode agradecer mais tarde, garota.” Riu. 

“Pare de me chamar de garota, Camila.” Respirei fundo. 

“Mas você não é uma garota, Lauren?” Silêncio. Ela havia me pego. 

“Sim.” Respondi para então a ouvir gargalhar e se mexer do outro lado. 

“Certo, garota. Eu acho que preciso dormir e você deveria também. Foi uma longa semana.” Sua voz soou realmente cansada. 

“Espero que esteja menos nervosa agora sobre sua apresentação. Você sabe que é boa o suficiente para ganhar isso. Apenas relaxe e tente dormir um pouco.” 

“Obrigada, Lauren. O seu apoio é muito importante pra mim.” Eu sorri esperando que ela realmente sentisse isso. 

“Não precisa agradecer. Eu realmente sou fã do seu trabalho agora.” Ela riu suavemente. 

Nós ficamos em silêncio por algum tempo. Eu apenas a podia ouvir respirando cada vez mais suave. Talvez ela tivesse dormido. Talvez esteve pensando como eu. Talvez eu estivesse na sua mente também por pelo menos alguns segundos. Queria poder falar algo, mas eu não disse. 

“Lauren? Você ainda está aí?” Perguntou depois de um tempo. 

“Sim. Desculpa. Eu pensei que tivesse dormido.” 

“Eu dormi. Acabei de ter um sonho muito estranho com você.” Riu. 

“Vai me contar?” 

“Não. Você pode falar um pouco mais pra eu dormir de novo?” Ela me fez sorrir. 

“O que eu devo falar?” 

“Me conte alguma história da sua vida. Apenas me deixe ouvir sua voz.” O meu coração aqueceu e acelerou de uma forma inesperada. Eu engoli a saliva em minha boca e sorri mais largo ao mesmo tempo em que me sentia nervosa. Talvez eu tivesse ficado em silêncio por tempo demais quando ela me chamou de volta. “Lauren?” 

“Sim. Eu estou aqui. Estava tentando escolher algo para te contar.” 

“Você pode contar agora?” Sua voz soou tão fofa e sonolenta que eu senti vontade de abraça-la mesmo estando longe. Eu queria apenas abraça-la. 

“Teve essa vez quando eu tinha 8 anos e meu pai me trouxe...” 

Camila deve ter dormido no meio da minha história, mas eu contei até o fim. Permaneci na ligação por algum tempo depois de voltar a ficar em silêncio. Ainda podia ouvir sua respiração suave do outro lado. Eu não desliguei a chamada. Coloquei meu fones e dormi a ouvindo respirar esperando que fosse do meu lado. Era quase insano eu ter imaginando tanta coisa ao seu lado quando um beijo de ano novo havia sido tudo o que ela tinha me dado. 

Talvez eu estivesse me apaixonando de verdade. Talvez o seu sorriso, sua determinação e seu jeito tivessem me feito cair por ela exatamente como eu havia caído no sono naquela noite. Foi suave, tranquilo, vagaroso e rápido ao mesmo tempo. Eu me sentia em paz apenas em a ouvir respirar.