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História Divã - Um leve progresso


Escrita por: UchihaSpears e Icunha

Notas do Autor


Oi gente :)
Cá estou eu com capítulo novinho em folha procês <3
Demoramos um pouquinho, então me desculpem (como sempre né, Ingrid HSUASHUSAHSA)
Quem tiver dúvidas nas falas em italiano podem me perguntar, eu tô com uma leve preguiça de traduzir HEUEHUEHEU.
Agradecer a UchihaSpears que escreveu com todo amor, e me xingar, porque era pra eu ter postado ontem (13/10). No mais é isso!
Boa leitura.

Capítulo 6 - Um leve progresso


Por Sasuke,

 Quase não há movimento a noite. Levanto a manga da minha camisa e olho no relógio de pulso, são poucos minutos para as duas da manhã. Estou em um Audi A4 preto, que não é o melhor carro e passa longe de ser um dos meus favoritos, mas como é para um “serviço” tive que optar por esse.

 Naruto está de tocaia atrás de uns arbustos, e por ser noite não será notado. Ouço um barulho e logo pego minha pistola semiautomática de 9 mm, que ganhei de presente de um amigo de Israel, lá eles levam armas muito a sério e são meio que paranoicos com segurança.

 O ruído se aproxima, e eu logo estou atento e apontando, mas é só a merda de um gato e isso vira motivo de riso para o Naruto. 

 — Quer matar um gato, Sasuke? — disse, entrando no carro.

 — Vai para o inferno. — respondo, colocando a pistola sobre minha coxa — Esse cara já deveria ter aparecido. — digo impaciente e logo bocejo.

 — Ele está vindo, saiu da boate agora.

 — Espero que ele tenha se divertido o bastante, e que tenha visto muita puta bonita por lá.

 Estamos seguindo um “pilantra”, ele é do ramo da construção civil e importante na cidade, resolveu confiscar um terreno que pertencia à família de um velho amigo nosso, que pediu por justiça.

 Nosso colega é envolvido com jogatinas ilegais e recentemente tentou enganar Itachi. Assinando definitivamente sua sentença de morte.

 — O número de mortos no terremoto de ontem a noite cresceu mais de duzentos. — Naruto comentou, ele estava lendo noticias em seu smartphone para passar o tempo, serviços de tocaias ás vezes são entediantes.

 — Mamma ligou ontem dizendo que sentiu algo. — olhei pelo retrovisor do carro.

 — Ela já perdoou você, por ter furado no seu aniversário?

 — Não. Disse que sou o filho sem coração de sempre. “Io preparei uma bela festança para você, figlio ingrato. Você fez desfeita para mim e os convidados, tinha até chamado um buffet.” — disse imitando-a — Dane-se.

 Konan me avisou sobre os planos de minha mãe para o meu aniversário, mas claro que minha irmãzinha não me deu essa informação a custo de nada. Com certeza ela quer que eu procure pelo noivo dela ou conte a verdade. E se era o que ela queria, eu contaria tudo.

 Ela não é mais uma criança e sabe que o dinheiro para as roupas e sapatos importados dela vem da máfia, no entanto, papa quer poupar sua bambina disso.

 — Ela quer o seu bem.

 — Ela quer encher minha paciência e não senti merda de abalo nenhum.

 — Neji estava em Roma — comentou, mudando de assunto —, sentiu e até filmou o lustre balançando no hotel.

 — Que caísse na cabeça dele. — vejo uma luz aproximando-se ao longe, é o farol de um carro. Espero que seja o cara, já estou com um puta sono. — Ele conseguiu firmar o acordo com o transporte de cargas lá em Roma?

 — Sim, ele convenceu depois de muita negociação. Será bom para nós.

 — Espero que seja.  — digo, passando a mão no rosto, meus olhos já estão ardendo. — Como eu queria dormir agora.

 — Parece que a psicóloga conseguiu um milagre.

 Talvez ela tenha conseguido sim, mas isso não muda o fato de que ele me enrolou com interrogatório enorme somente pra dizer que ela não é apta para prescrever medicamentos. Respiro fundo ao lembrar-me do tempo que perdi, e recordo que Naruto ainda precisa ouvir poucas e boas por ter me indicado ela.

 — Isso. Queria falar sobre isso com você. — ele ergue a sobrancelha curioso — Belo consigliere você é! Psicólogas não receitam medicação, e sim, psiquiatras.

 — Eu apenas achei que era tudo a mesma coisa.

 Eu também achei.

 — Mas não é. Há uma diferença enorme. — bocejo outra vez — Ela me deu um encaminhamento para um psiquiatra, que me indicou os remédios depois que viu as análises dela.

— E já que está funcionado, deixará de ir ás consultas?

— Não, não vou sair agora. Sabe que o Itachi está no meu pé e tenho que ir até o fim.

Deixar de ir às consultas, nesse momento, me parece uma boa ideia, porém, meu irmão diria por um bom tempo que deixei vazar informações secretas, e muito, provavelmente, iria atrás dela para matá-la. E eu, apesar de não ligar para o que aconteceria com ela, não o deixaria cometer tal ato sem uma confirmação concreta de que ela sabia de algo. Matar pessoas inocentes não é do meu fetio.

— É o cara. — Naruto diz rapidamente, enquanto ele estaciona o carro em frente da casa.

Saio do carro acompanhado do Naruto. Está frio aqui, abotoou meu sobretudo preto e coloco a pistola em punho. O homem abre a porta da garagem e eu apareço na lateral da sua janela.

Buonasera. — digo, e Naruto posiciona-se do outro lado. Mostro meu sorriso forçado, demonstrando que estou sem nenhum pingo de paciência. Graças a esse filho da puta, eu estou sem dormir.

— O que quer? — ele diz já assustado. Eu gosto de ver essa cena, o cara está apavorado, suas pupilas dilataram-se e ele me encara. — O que quer cara? — ele aumenta o tom de voz.

— Psiu, silêncio.  — digo, mostrando minha arma e bato vagarosamente na janela do carro dele, dano um sinal para ele abaixar o vidro. O rádio do carro está ligado, e está tocando uma música do AC/DC, ao menos ele tem bom gosto musical. — Vim falar cordialmente sobre o terreno próximo à Luigia Sanfelice.

— Eu não sei nada sobre isso. — é sempre assim, negação. Daí eles passam para segunda fase. — Estou na frente da minha casa, minha família está dormindo aí dentro. — apelação para família. Eles nem continuam argumentando sobre não saber de nada, apenas apelam pela força divina. — Por Madona, tenha misericórdia. — e depois voltam para o início. — Io non so nulla.

— Para quem você fez o serviço? — ele leva as mãos ao rosto desesperado.

— Te imploro, io non so.

— Hm. Sabaku no Gaara? — menciono o nome de um dos chefes da máfia rival e o corpo dele enrijece. — Então o conhece?

— Eu não o conheço, minha mulher está dormindo lá dentro. Per favore, per favore pelo papa. — miro minha pistola na cabeça dele. — Per Madona.

Atiro em sua têmpora esquerda á queima-roupa, não há barulhos, pois minha pistola tem silenciador, e seu corpo tomba em direção ao volante.

— Foi uma grande perca para o Gaara. — diz Naruto, voltando ao celular dele, provavelmente foi informar ao Itachi sobre o serviço pronto. — E um excelente aviso.

And you shook me all night long.— canto o refrão da música, guardando minha pistola no bolso interno do sobretudo. — Vamos ver como aquele frutinha irá reagir.

— Itachi não responde. — caminhamos de volta para o nosso carro.

— Claro. Essa hora ele está fodendo a Izumi de quatro. — falo sacanamente e ele sorri.

***

Estou parado em frente ao grande espelho de bordas douradas, claro que isso é mais uma das extravagâncias da minha mãe, Uchiha Mikoto, rainha das esdruxularias. Depois do serviço de ontem á noite, fui para casa e apaguei. Acordei com o toque do meu celular, era Itachi me ligando falando que haveria reunião pela manhã. 

Ajeito meu blazer, observando pelo reflexo do espelho a aproximação de uma criatura com madeixas roxas e ela me encara.

— O que quer, Konan?

— Gostei do blazer, lançamento da temporada. — ela diz, tocando o tecido e eu bato em sua mão — Para um ogro até que você tem estilo.

— O que quer?

— Bem, você sabe que quando eu contei sobre sua festa surpresa, eu automaticamente traí a mamma, e isso me partiu o coração. — paro olhar seu reflexo e me volto para ela — E sabe, essa informação foi muito valiosa para ter sido compartilhada ao vento.

A pequena mafiosa.

Mesmo não tendo o sangue Uchiha nas veias, essa faz juz ao nome da família. A menina interesseira que não faz nada de graça, porque afinal de contas, ninguém faz não é mesmo?

— E? — parece que sei onde isso vai chegar, sei em qual ponto a agulha irá.

— Quero uma informação em troca, e quero a verdade. O que aconteceu com meu noivo? — a pergunta não me surpreende — O que, de verdade, aconteceu com ele?

Nosso pai nos proibiu de contar para sua “princesinha”, que o seu noivo era um espião de outra máfia. Segundo ele, isso machucaria o coração da sua filhinha.

Desde que eles adotaram a Konan, floresceu um espírito de pai cuidadoso nele, Konan era sua menininha e ele fazia todos os seus gostos e em alguns casos, passava até por cima da mamma.

— Vocês o mataram, não é? — ela me encara séria e demonstrando um olhar autoritário. — Me responda, fratello!

— Konan, me deixa em paz. — saio de sua frente tentando evitar uma visível briga, mas ela puxa o meu braço.

— Responda! Vocês o mataram?

— Quer saber? Quer mesmo saber? — ela afirma com a cabeça — Sim, o matamos. Aliás, eu o matei na sala do papa. — seu rosto expressa um espanto e ela leva a mão a boca — Ele era um bastardo, um traidor da máfia da Siciliana. Ele te enganou sua anta. — digo, e ela me esmurra.

— O que aconteceu? — ótimo, agora o circo está completo. Minha mãe de as caras. — O que houve minha filha, por que está tão desesperada? — ela passa a me encarar — O que você fez com sua sorella, Sasuke? — questiona, enquanto abraça uma Konan chorosa.

— Que confusione é essa aqui? — diz meu pai ofegante, ele está acompanhado de Kisame, seu guarda-costas, provavelmente foi correr pelo bairro, o médico o receitou.

Papa. — Konan corre em sua direção sendo envolvida por seus braços.

— O que houve, figlia? — antes que ela responda, mamma toma a voz.

— Ela já estava assim quando cheguei, foi o Sasuke. — aponta para mim.

— Meu noivo foi morto, Sasuke o matou. — despeja, e eu vejo minha mãe levar a mão ao rosto, meu pai passa a me encarar com os olhos estreitos — Eu sou viúva, papa.

— Você nem casou com ele, sua idiota. — rebato, já de saco cheio desse pastelão italiano.

— Sasuke. — meu pai me repreende. — Figlia, vamos conversar.

Como sempre meu pai tentará aliviar o lado da Konan. Ele fez questão de criá-la escondendo o nosso mundo, mas claro que ele não conseguiria essa proeza para sempre.

Ela descobriu quando tinha uns quinze anos, meu pai disse que ela não iria se envolver e a colocou em uma redoma, mesmo com ela demonstrando interesse para ao lado obscuro da força.

O que foi um grande erro.

Ele não a preparou para o mundo, e sim, para ser a menininha da casa em seu mundo das maravilhas.

— Ela queria saber da verdade, por isso eu contei. — minha voz soa despreocupada.

Io acho que em minha outra vida, io devo ter atirado pedra na cruz, para ter um figlio como você, Sasuke. Madona me castiga com você.

É o que ouço antes de seguir rumo ao gabinete de meu pai, ficar ali alimentaria ainda mais discussões e, hoje, era o que eu menos queria.

— Que confusão foi essa lá fora? — estou na poltrona ao lado direito do Itachi. — Ouvi os gritos da Konan e da mamma.  — Naruto está sentado ao meu lado, também esperando por uma resposta.

— Contei para Konan, que eu matei o noivo dela.

— Você não deveria ter feito isso, Sasuke. — agora é a vez de meu irmão mostrar seu lado protetor com nossa irmã. — Não coloque a Konan nesse meio.

— Nesse meio? — digo irônico — Esse é o mundo real em que ela vive, e não o conto de fadas que o papai e o resto da família criaram para ela.

— Depois do sumiço do noivo, ela ficou um pouco cabisbaixa. Algumas vezes a vi chorando. — comenta Naruto — Mas, conhecendo o amigo que tenho, sei que jogou tudo na cara dela além de ter matado o noivo, isso não se faz. É pesado pra ela, que não é preparada para isso.

— Ela tem que ser forte, ela vive no antro da máfia e ninguém aqui, como você disse, a preparou para isso.

Assuntos como esses realmente me tiram do sério, porque eu e Itachi tivemos uma criação bem rigorosa. Nós brincávamos como crianças normais, tínhamos brinquedos caros, mas vivíamos no meio em meio à máfia, e por isso, nosso psicológico foi moldado para sermos insensíveis. Sentimentalismo atrapalha bastante, não podemos misturar família ou amigos com negócios. E desde cedo fui ensinado a separar as situações.

Infelizmente com a Konan não foi da mesma forma, talvez por ser a única menina da casa, ou porque quando ela chegou, nós já estávamos na faixa dos dez anos.

— Sasuke está certo, foi pelo papai ter a colocado em uma pelota, que ela quase foi enganada por aquele homem, e se não tivéssemos descoberto antes, teria nos trago um enorme problema. Eu vou conversar com ela sobre isso. 

— Qual é o assunto da reunião? — pergunto impaciente, nada como um show familiar para tinha minha paciência logo cedo.

— Neji e seu acordo em Roma. Teremos uma grande parte e muito serviço pela frente. — ele cruza as mãos em frente ao rosto, pensativo — E sobre o carregamento do porto?

— Consegui passar, e por um preço além do estimado. Naruto está com as promissórias.

Essa é uma das minhas funções nossos negócios da família, além de conseguir as mercadorias e negociá-las. Geralmente, somos procurados por comerciantes que precisam de algo e não estão dispostos a pagar tal preço, ainda por cima os impostos.

— O Fullbuster lá do centro disse que queria um Jaguar sedã. — completo.

— Naruto, fale com os nossos amigos dos Estados Unidos, acredito que eles podem conseguir um e com aquele valor de sempre.

— Há mais algum assunto?

— O delegado do nono distrito vai se aposentar, e outro eventualmente será escolhido. Seria bom fazermos uma visita cordial. — responde Naruto e Itachi acata.

— Já tinha pensando nisso. Mandarei um vinho do Porto, direto de Algarve. Os vinhos de lá são ótimos, suaves e tem um aroma frutado. Vou falar com o Deidara, ele enviará.

— Certifique-se de que ele não irá beber. — comento e Itachi revira os olhos, aquele loiro imbecil, protegido do meu irmão. — Estou liberado?

— Por que tanta pressa, fratello? — Itachi abre uma garrafa de vinho e serve-se, levantando e enchendo uma taça para Naruto e uma para mim. — Izumi trouxe quase uma adega de vinho quando foi para Portugal, aproveitei e trouxe uns para cá. São bons, mas não se comparam aos nossos.

— O que ela foi fazer lá? — pergunto curiosamente. A mulher do Itachi não é de sair e muito menos sem ele em seu encalço.

— Foi em um casamento de uma amiga dos tempos da faculdade.

Izumi é graduada em Nutrição, antes de conhecer o Itachi ela exercia essa profissão, porém, quando se casaram, meu irmão a obrigou a deixar a profissão de lado.

A máfia ainda é extremamente machista em relação às mulheres, ainda costumamos a vê-las apenas como companheiras, destinadas a cuidar do marido e da família. Assim como minha mãe, que ensinava em um colégio antes de conhecer meu pai, depois do casamento ela tornou-se exclusiva para família.

Em partes concordo com esse pensamento.

— Vinhos portugueses costumam ser suaves. — ouço Naruto. Ele também fez o mesmo com Hinata.

— Tem algum compromisso hoje, Sasuke? — meu irmão sabe ser persistente como uma pulga, quando quer ser. — Ou tem alguma consulta com a sua psicóloga? — ele faz umas aspas quando se refere à palavra.

— E se eu tiver? Qual o problema?

— Nenhum. Aliás, que vida interessante ela tem. — o olho incerto — Eu disse a vocês que mandei o Rock Lee segui-la esses dias?

— Eu disse que cuidaria disso. — respondo, dando um gole no vinho.

— Acho que dormiu no ponto. Sabia que ontem, um homem tentou bater em sua psicóloga? — o olho, mas não esboço surpresa — Um cara ruivo a cercou ela e tentou agredi-la, mas o Lee interviu e deu um aviso para ele.

— Aquele mesmo cara da primeira vez? — pergunto, observando Naruto que parece surpreso com a informação e passa sua mão no queixo.

— Sim, aquele mesmo ruivo. Olhando bem, ele tem mesmo uma característica bem comum da família dos Sabaku, vou tratar de investigar isso melhor. — ele diz e joga a foto do tal ruivo — Parece que sua doutora tem uma vida bastante misteriosa, não acha?

— Eu não ligo para vida pessoal dela, ela que vá ao inferno. — digo, me levantando e colocando minha taça sobre a mesa.

— Preciso do nome dele. — diz Naruto intrigado, e Itachi balança sua cabeça confirmando seu pedido — Lee ainda está de tocaia?

— Sim, depois disso falei para ele não desgrudar dela.

— Também não é para tanto. — reviro os olhos.

“Também não é para tanto” — ele me imita ironicamente — Deixe o Gaara saber que um membro da máfia Uchiha, frequenta a clínica da merda de uma psicóloga, deixe o saber, e digo mais, se essa vadia tiver algo com a máfia rival irei matá-la pessoalmente. Tudo o que acontece nessa família tem que ser mantido em um sigilo absoluto.

— Ela não saberá. — sigo em direção à saída.

— Espero que não saiba mesmo, enquanto isso eu estou de olho nela. E sabe Sasuke, se eu fosse me consultar com ela, eu juro que já teria a feito chupar meu pau, deitaria no divã e mostraria uma arma bem potente pra ela. — ele bebe um gole do vinho — Onde já se viu mulheres manuseando armas? A única arma que a Izumi lida é com uma e está dentro de minhas calças.

— Você não presta Itachi. — respondo pela última vez, antes de me retirar da sala.

Saio de casa e entro em meu carro, quando estou prestes a sair minha mãe aparece na frente batendo no capô do carro. Encosto minha testa no volante e me seguro para não explodir de raiva.

Abro a janela a tempo de ouvir suas palavras: — Espero que você esteja bastante satisfeito pelo o que você fez. Konan está histérica lá dentro. Eu realmente espero que esteja satisfeito.

Mikoto Uchiha tem uma sorte incrível, ela é a minha mãe, pois se não fosse, eu já teria passado com o carro por cima. Antes que ela continue, eu piso no acelerador e o carro em menos de três segundos já está em alta velocidade, vejo que minha mãe caiu na grama.

— Merda! — digo irritado, e soco o volante.

Irritação define muito bem o que sinto agora. Ultrapasso acima da velocidade permitida na avenida. Lembrando-me da cena de minha mãe que caiu sentada na grama, agora ela vai querer me crucificar de vez.

Olho no retrovisor do carro e vejo uma viatura atrás de mim com as sirenes acionadas. Reduzo a velocidade e vou em direção ao acostamento.

— Sabia que nessa rodovia o limite é oitenta? — o guarda aparece e o outro ao seu lado cochicha algo para o oficial que me abordou. — Entendo. Uchiha, não é? — afirmo – Na próxima vez evite chamar tanta atenção. — a policia da cidade é quase toda subordinada da minha família.

— Deixa comigo. — dou a partida no carro, seguindo meu caminho.

***

— Como foi seu fim semana? — ela me encara, está com as pernas cruzadas e hoje veio de calça. Estou deitado em seu divã, mexendo minha perna esquerda freneticamente, e me atento para sua estante de livros.

— Já leu todos? — pergunto, e ela passa a olhar.

— Grande parte.

— Hn. — aceno com a cabeça.

“A troco de quê alguém bateria nessa vaca?” Eu penso ao encontrar seu olhar sério. Talvez algum paciente irritado por não gostar dela ou não ter sentido progresso na terapia.

Bom, eu gosto do coque dela. Reflito e olho ao redor.

— No que está pensando? — sua voz sai suavemente.

— Quer mesmo saber?

— Se quiser me contar. — ela muda de posição e olha alguma coisa na prancheta.

— Eu estou pensando em como eu te foderia nesse divã. — ela mantém o olhar sério e não demonstra surpresa — É isso que estou pensando. — eu estou puto sim, ainda mais com minha mãe. Desde ontem meu celular não para de tocar e é papa, Itachi e o hospício todo vieram falar comigo e segundo meu irmão, mamma disse que eu tentei a atropelar. — Com você ali de quatro e eu puxando esse seu coque.

— Pelo tom de sua voz, percebo que está com raiva. — ela transpareceu um pouco de constrangimento.

— Não acho. Porque eu estaria com raiva? Querer foder alguém significa raiva?

Eu tentaria manter o assunto o mais longe possível de minha vida pessoal.

Se eu deixá-la continuar, tenho certeza que acabarei falando mais do que devo sobre minha vida. Bastam minhas respostas anteriores, ela provavelmente não acreditou em quase nada do que eu disse.

Ela me parece ser esperta, e muito, aliás.

— Você sempre foge das perguntas, mas seu comportamento sempre demonstra seu estado de espírito. Você está com um tique nervoso na perna esquerda, indicando algum tipo de ansiedade. Não tem dormido bem?

— Sim, o remédio funcionou. — passo a encara-la — Me defina raiva.

— A raiva é sempre causada pelas expectativas que depositamos no outro ou em alguma atividade em que falhamos. — responde serenamente — O que mais gera raiva dentro de nós é o nosso sentimento de impotência, frente a nossa falha em controlar uma pessoa, uma situação ou a nós mesmos.

— Hn. — meneio a cabeça positivamente. — Capito.

— Quer falar sobre isso? — ela ainda continua neutra e mantendo sua pose, parece que não absorveu as palavras que falei no meu momento de raiva.

Estralo todos os meus dedos. Falar? Como se falar sobre alguma coisa resolveria. Meu problema atualmente só tem um nome: Minha família e o destaque vai para Uchiha Mikoto.

Olho no relógio e ainda tenho exatos vinte e três minutos dessa tortura. Ela está aguardando uma resposta, mas percebe que não irei responder.

— É um homem realizado, Senhor Yoshida? Sente-se realizado? — ela muda de assunto, e eu ajeito-me no divã, respirando fundo. Talvez eu tenha que ceder um pouco.

— Sou. Tenho um bom apartamento, um bom carro, dinheiro e tenho qualquer mulher à minha disposição.

— Sim, mas vamos para a parte pessoal. Está realizado pessoalmente, seus sentimentos, ambições?

— Sentimentos... — deixo-a no vácuo.

— Todos nós temos sentimentos e frustrações, esses pequenos desapontamentos nos causam raiva. Temos raiva por situações que vemos e não podemos ajudar, ás vezes lemos os jornais e ficamos tristes com ás notícias, políticos, máfia, esses agentes que atuam ao nosso redor e, claro, temos os nossos problemas pessoais que nos desanimam, algum problema financeiro, que não é o seu caso, problemas de saúde. Por exemplo: quando chegou aqui estava enfrentando um problema com o sono, os remédios funcionaram e agora está conseguindo dormir, mas alguns efeitos que o sono desencadeou ainda persistem. Seu estresse ainda é visível, tem algo que o incomoda. — ela afirma, e faz uma pausa.

— Ás vezes, me sinto um pouco pressionado. — solto de uma vez.

— Em relação ao trabalho?

— É um pouco complicado ás vezes, sabe como é. Ainda mais quando tem a família.

— Você disse que seu relacionamento familiar era bom.

— Tem seus altos e baixos. — ultimamente anda lastimável.  

— Tem algum relacionamento?

— Não. — respondo rápido, isso já está começando a me encher.

— Apenas casos. — ela conclui.

— Agora você é a minha mãe? — altero o tom de voz, levando minha mão ao cenho.

— Sua mãe? — ela diz lentamente e escreve em sua prancheta.

— Ela que vem com essas merdas sempre, me enche a paciência. — encosto minha cabeça na poltrona.

— Tem problemas com sua mãe em relação a relacionamentos?

— Ela que me arruma esses problemas. — eu bufo, e faço um gesto com as mãos como tivesse estrangulando alguém — Ela se intromete na minha vida.

Agora que ela tocou na minha “ferida”, talvez eu não consiga frear minhas palavras. Nunca acreditei que guardar as coisas só para mim, seria tão cansativo. Agora eu vejo como as coisas são.

— É perfeitamente normal, por ser uma relação que tem inicio de maneira absolutamente simbiótica, como um sendo parte do corpo do outro, é difícil, principalmente, para a mãe entender que aquele ser a quem deu vida, é um ser diferente e independente dela. É comum haver esses atritos.

— Ela que cuide da vida dela, da minha vida cuido eu.

Eu gostaria que nossas vidas fossem assim. Cada um cuidando do seu cada qual. Eu, definitivamente, odeio o fato de ter que estar ligado constantemente a eles, que se apegam a esse motivo para se intrometerem nas decisões que tomo, ou nas coisas que decido fazer.

— Parece que tem uma relação bastante conturbada com sua mãe, pelo simples relato que me contou, sua mãe mantém certa toxidade, ela é excessiva e controladora. Esse tipo de relação sempre deixa marcas em ambos. Na próxima sessão podemos trabalhar em cima disto.

— Por que na próxima? — questiono confuso.

— Seu tempo acabou.

— Claro. — confirmo a informação em meu relógio. Levanto-me e ela faz o mesmo, guiando-me até a porta.

— Tenha uma boa semana, senhor Yoshida.

— Igualmente, mercenária. — fecho a porta com força, antes que ela diga alguma coisa. Encontro o olhar curioso da secretária da clínica, mas o ignoro saindo rapidamente da recepção.

Sinto como se, a qualquer momento, ela fosse desvendar toda minha vida dentro daquela pequena sala. Eu poderia simplesmente ter me calado, ou olhado para o teto como sempre fiz, mas eu idiotamente me deixei levar por suas perguntas repetidas.

Itachi encherá meu saco se souber disso.

Logo estou em meu carro dirigindo altamente irritado, por não ter cumprido com o que deveria. Agora ela estava sabe mais do que necessita, e eu sou um maior culpado disso. Dei espaço para que ela se aproximasse perigosamente dos meus segredos e problemas.


Notas Finais


Diga-me o que acharam!
Até a próxima.


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