História Divided Heart - Do you think it makes sense?

Dessa vez eu peguei a chave do meu armário. Hoje eu cheguei ao colégio mais cedo do que ontem e resolvi passar na sala da diretora para pegar a chave do armário que eu tanto desejava. Adeus peso nas costas, adeus apostilas e cadernos que não precisarei mais levar para casa, agora é tudo flores, ou... Pensando melhor, eu acho que eu devia manter minha boca fechada.

- E aí gata, chegou cedo hoje – surgiu Park Jimin na minha frente. Eu juro que não sei de onde ele veio, ele só brotou no meio do corredor, na minha frente mais precisamente. Quanta sorte eu tenho, viu. Novamente lá estava ele com seu lápis de olho e claro, não posso esquecer seu sorriso e olhar convencido.

- É o que agora? Vai começar a monitorar os meus horários? Vai anotar quando eu saio e chego a certo lugar? Só falta começar a me seguir pra tudo que é canto – falei um pouco grossa de mais e desviei dele seguindo para o pátio.

- Olha que te seguir por aí não é uma má ideia – brotou novamente na minha frente. Dessa vez ele me empurrou para uma parede e me prendeu lá com seu corpo, dificultando a saída, principalmente por causa do meu tamanho. Seu olhar ficou ainda mais intenso e seus olhos não se desviavam por um estante dos meus. – Por que está fugindo de mim, gata? Não precisa ter medo, não farei nada que você não irá gostar – seu rosto começou a ficar mais próximo do meu e podia sentir sua respiração contra a minha pele. Por um instante eu quase fechei meus olhos e pensei “Tudo bem eu beijar ele, não é como se eu não tivesse beijado muitos meninos por aí, beijar ele também não vai fazer diferença alguma. Além disso, ele é bonito e deve beijar super bem”, mas então eu me lembro da promessa que fiz.

- Você é realmente louco, não é? – empurrei seu corpo para frente conseguindo abrir espaço entre nós e finalmente saindo de onde eu estava. – Não faça mais isso. Eu realmente não sei o que você quer comigo garoto, só me da um tempo. Não faz nem dois dias que cheguei aqui nesse colégio e você já está querendo brincar comigo – falei ainda ofegante por causa da situação em que eu me encontrara anteriormente.  Ele apenas me encarou por um tempo com um olhar confuso sem saber ao certo o que falar.

Vendo que ele não iria dizer mais nada, saí dali e fui em direção ao pátio. Acho que os alunos por aqui têm o costume de chegar cedo e ficar no pátio conversando cada um com seu grupinho até o sinal tocar, tipo em Mean Girls, porque já tem tanta gente aqui que está parecendo ontem no intervalo. Ontem na hora do intervalo o pátio estava parecendo a 25 de Março em São Paulo de tanta gente que tinha, estava abafado por causa da quantidade de pessoas no mesmo local, sem falar no barulho insuportável de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Nessa escola realmente há muitos alunos, deve ser por isso que há tantas salas de aula. Vasculhando um pouco mais o pátio acho um certo garoto de cabelo vinho que eu estava com vontade de ver novamente. Kookie estava falando com um cara de cabelo platinado e mais alto que ele, também parecia ser mais velho, resolvo ir até eles dar um oi.

- Kookie! Oi – disse sorrindo enquanto me aproximava dele, o abraçando em seguida. Soltei-me do abraço e vi que ele e seu amigo me olharam estranho. Ai claro, como eu sou burra, na Coreia eles não costumam abraçar as pessoas tão de repente assim. – Desculpa pelo abraço, é um costume que eu tenho. No Brasil é muito comum abraços e eu já estou acostumada a abraçar meus amigos.

- Não, tudo bem, eu... Só fiquei um pouco surpreso – falou ele com um sorriso doce e com as bochechas levemente coradas.

- Jeon Jungkook falando com uma menina? Essa é uma coisa que não vemos todos os dias – seu amigo falou rindo e pude perceber Kookie abaixando a cabeça envergonhado. – Vocês já se conhecem então... Como você conseguiu fazer com que ele falasse com você? Porque geralmente ele é muito tímido, principalmente com as meninas.

- Até que não foi tão difícil fazer com que ele falasse comigo. Eu o conheci ontem na sala de aula e me sentei ao lado dele, eu fazia perguntas para ele e me apresentava, mas Kookie só me olhava e não falava nada. Então eu praticamente implorei para que ele me respondesse, porque queria ter amigos nessa escola e não podia ficar sem falar com ninguém. Então ele começou aos poucos me responder – contei ao seu amigo e percebi que ambos estavam sorrindo com o que eu acabara de contar. Percebi então que não havia perguntado o nome do outro sujeito. – Hm... Você não me disse seu nome... O meu é Camilla Orlem.

- Ah, tinha me esquecido de se apresentar, meu nome é Kim Namjoon. Seu nome é bem diferente, você é bem diferente na verdade, das meninas daqui eu quero dizer. Você veio do Brasil certo? – ele me pergunta parecendo estar mais interessado. “Ele parece ser uma pessoa legal”, pensei.

- Sim, eu cheguei aqui em Seul esse final de semana, minha mãe recebeu uma oportunidade de emprego aqui, então viemos eu, ela e minha irmã.

- Então você não teve muito tempo de conhecer a cidade ainda, certo? – Namjoon me perguntou enquanto Kookie escutava atentamente a conversa, talvez ele estivesse interessado em descobrir mais coisas sobre mim e não perguntou antes por causa de sua timidez.

- É... Ainda não conheci nada da cidade, só tive tempo de conhecer um pouco da cultura local que pesquisei por uns três meses na internet antes de vir pra cá.

- Qualquer dia desses Jungkook podia te levar pra conhecer a cidade – Namjoon disse e Kookie rapidamente olhou para ele com cara de quem falasse: “O que você pensa que está fazendo?”. – Não me olhe desse jeito, você adora sair pros lugares na cidade, e pense que dessa forma você estaria ajudando a Camilla a se acostumar com a nova cidade.

- Olha que não é uma má ideia – disse sem ao menos perceber que aquilo havia saído em voz alta. – Isso é, se você quiser e puder  me levar Kookie – ele me olhou por um tempo, claro que não diretamente nos olhos, mas como se estivesse pensando em algo além do atual assunto.

- Cla-claro, por que não? – suas bochechas rosaram um pouco e sua voz falhava deixando a timidez de novo bem aparente.

- Ei, já disse que não precisa ser tímido na minha presença. Vai ser divertido. Eu sei ser divertida – sorri e vi um sorriso se formar no canto de sua boca. Namjoon só estava observando a situação toda com um sorriso, como se estivesse pensando outra coisa em relação à Kookie e eu, se é que você me entende, coisa que não vai acontecer, somos só amigos gente.

* sinal tocando *

O sinal tocou e então eu e Kookie nos despedimos de Namjoon, que é do terceiro ano, e seguimos para a nossa primeira aula.

Ok. Lingua coreana realmente não é o meu forte, ainda mais a escrita em hangul que é totalmente diferente do alfabeto que estou costumada a usar, fiquei praticamente a aula inteira pedindo por Kookie me explicar tal coisa, porque mesmo tendo feito aula de coreano antes, era bem difícil pra mim. Passei o intervalo com o Kookie e com o Namjoon e pude conhecer mais os dois, eles parecem ser bem amigos e parece que se conhecem muito bem também. Podia jurar que já vi esses dois em algum lugar, não só esses dois, Kim Taehyung e Park Jimin também. Jimin me parece muito familiar, mas não consegui reconhecê-lo de nenhum lugar, acho que deve ser só coisa da minha cabeça.

O intervalo acabou e cada um voltou pra sua sala, e eu acabei de ficar sabendo que a aula de musica aqui é uma matéria obrigatória e não opcional como eu pensava, o que eu achei muito interessante já que amo música, e é exatamente essa a nossa próxima aula.

Nós fomos para a sala de música e fiquei ao lado de Kookie, e no seu outro lado se encontrava Park Jimin que me olhava às vezes, mas não falava nada, nem fez brincadeirinha nenhuma comigo ou tentou me irritar, acho que ele entendeu o recado, melhor assim. Os alunos foram entrando e em seguida a professora, uma mulher de uns 40 anos muito magra e alta, que rapidamente passou entregando uma folha com duas musicas para cada aluno. Como estava tudo em hangul e eu não conhecia nenhuma das músicas, preferi não cantar e só observar os outros alunos. A professora se dirigiu ao piano, começando a tocar as primeiras notas da música. Todos começaram a cantar exceto eu que rapidamente olhei para Kookie que estava cantando maravilhosamente bem. Mesmo tendo esse monte de aluno cantando junto, eu conseguia ouvir sua voz já que ele estava sentado ao meu lado, uma voz tão linda que eu podia ficar ouvindo por horas. E então novamente tive a impressão de já ter ouvido ela antes, mas não conseguia me lembrar onde. Acho que fiquei o encarando por um bom tempo, pois quando voltei aos meus sentidos, percebi que ele me olhava enquanto cantava e que suas bochechas estavam rosadas. Ele continuou cantando e me olhando, e por algum motivo, eu não conseguia desviar o meu olhar do dele, não sei como não notei isso antes, mas ele tem um rosto muito bonito, e seus lábios são tão lindinhos... Não, para, não pense sobre isso. Espantei meus pensamentos e comecei a encarar a folha de música, como se eu fosse cantar alguma coisa.

Quando aquela música acabou, eles cantaram outra um pouco mais agitada, e depois a professora passou algumas técnicas vocais e de aquecimento vocal, coisa que eu acho que ela deveria ter passado antes das músicas. A aula acabou e para terminar o dia tivemos aula de matemática, só porque é algo que eu gosto muito também, sabe. Antes que eu fosse embora, Kookie veio falar comigo e por um tempo não pude parar de reparar na sua beleza.

- Hum... Sobre o que o Namjoon disse hoje... – ele dizia com as bochechas rosadas enquanto passava a mão em seu pescoço. – Podemos sair na sexta-feira pra eu te mostrar um pouco da cidade, se você quiser, é claro.

- Claro! – respondi rapidamente sem me dar conta de que estava sorrindo. – Por que não? Vai ser divertido.

- Ótimo – pareceu surpreso por um tempo, mas logo em seguida um sorriso apareceu em seu rosto. – Te pego as 18:00 na sua casa sexta. Só vou precisar do seu endereço.

Passei então meu endereço e meu celular, para que facilite as coisas caso precisemos combinar algo, ou até mesmo só para conversar por mensagem, quem sabe. Antes que fossemos embora, me despedi dele com um beijinho rosto.

- Costumes brasileiros – disse a ele rapidamente e então saí da sala.

Estava andando no corredor e pensei “Não vi Taehyung hoje”, então resolvi procurar por ele no colégio, por algum motivo eu queria vê-lo de novo, não me pergunte, também não consigo explicar, eu sei que só o vi uma vez e que isso foi ontem, mas eu sinto essa necessidade. Passei no pátio, no jardim, em algumas salas e ele não estava em nenhum dos lugares, mas faltava a quadra ainda e foi exatamente lá que o encontrei com uma bola de basquete na mão, correndo de um lado pro outro da quadra e tentando fazer cestas que facilmente acertava. Eu fiquei parada por um tempo na entrada, o observando jogar, pensando que ele não tinha notado a minha presença ali ainda “Espero que ele não me note, ele poderia achar estranho se me visse parada aqui só o observando jogar”, pensei.

- Olá princesa – falou enquanto tentava arremessar a bola na cesta. Olhei para os lados e a única pessoa que estava na quadra além dele, era eu, então sim, acho que ele me percebeu parada aqui igual um poste. – O que faz por aqui?

- Hm... Eu estava te procurando... – falei enquanto ia na sua direção.

- Você estava me procurando? Por quê? – ele para a bola, que agora segura em suas mãos, e se vira ficando de frente pra mim.

- Não sei... Eu meio que não te vi mais ontem e não tinha te visto hoje e por algum motivo eu senti vontade de te ver, você parece ser uma pessoa interessante.

- Quer dizer então que você se interessou por mim? – ele falou sorrindo, o que me fez sorrir também e o chamar de bobo, só de brincadeira. Ele tem um sorriso tão lindo, que não ligaria de ficar mais tempo só o observando. – Mas eu te disse que não costumo ir muito às aulas.

- Por que não? Eu sei que algumas são chatas, mas isso não te prejudica? Sei lá, você não aprende o conteúdo e fica com muitas faltas.

- No momento não estou ligando muito pra isso, quando as coisas ficarem mais complicadas, talvez eu apareça nas aulas. – ele fala e começa a bater a bola no chão novamente, indo em direção à cesta. – Mas não vamos falar de escola agora, por favor. Vem aqui, você sabe jogar?

- Hm... Não muito, eu gosto bastante de basquete, mas por causa da minha altura eu não consigo fazer cesta, então na minha outra escola quando o professor passava basquete eu era a que ficava só passando a bola pras outras fazerem sexta – respondi indo até ele, que me esperava na frente da cesta. – Eu sou boa em futebol só.

- Você sabe jogar futebol? Legal. Podemos jogar qualquer dia então, mas hoje eu vou te ensinar a arremessar a bola na cesta – ele me da a bola e começa a me dar algumas dicas. – Independente do seu tamanho, se você arremessar a bola certo, você consegue fazer cesta. De impulso com suas pernas fazendo com que você pule o mais alto que conseguir e ao mesmo tempo faça força nos seus braços pra arremessar a bola.

Eu faço o que ele me pediu, mas como era de se esperar, a bola não subiu quase nada e nem chegou na altura da cesta.

- Eu disse que não consigo acertar – falei com um leve sorriso.

- Você está fazendo do jeito errado. Deixa eu te ajudar – então ele me passa a bola novamente, só que dessa vez ele fica atrás de mim me puxando pra mais perto dele, colando minhas costas em seu corpo e como se não bastasse isso, colocou suas mãos sobre as minhas que estavam segurando a bola e pude sentir uma onda de calor percorrer o meu corpo todo com seus toques. – Segure a bola assim. Agora é só fazer força e jogar – em nem estava pensando mais na bola que eu tinha que arremessar na cesta, eu só conseguia pensar na forma em que seu corpo estava colado com o meu. – Vamos, eu te ajudo – então ele me ajudou a fazer um movimento pra arremessar a bola pra cima e que por um milagre entrou na cesta. – Viu, eu disse que você conseguia.

- Só com a sua ajuda – respondi meio sem me importar com a bola.

A bola já tinha sido lançada, mas nós continuamos naquela posição, e agora, parecia que ele estava me abraçando por trás. Eu não sei por que estávamos desse jeito ainda, mas parece que eu não conseguia sair dali, me dava uma sensação boa, e sinto que ele também estava pensando isso. Ficamos em silencio por um momento, a única coisa que dava pra ouvir, eram nossas respirações ofegantes. Não estávamos fazendo contato visual, a única coisa que estava em contato, eram nossos corpos, e só agora fui perceber que suas mãos estavam delicadamente segurando as minhas. Ok. Eu preciso acabar com isso.

- Hm... Eu acho melhor eu ir embora antes que achem estranho eu ter chegado mais tarde que de costume em casa – falei finalmente saindo do “abraço”. Que desculpa horrível você deu em Camilla, rainha das desculpas você.

- Ah... Ok – percebi por um segundo uma pontinha de tristeza em seu rosto, mas logo um sorriso sem dentes formou-se em sua boca. – Nos vemos amanhã então, tome cuidado.

- Sim... – agora eu estava dando uma de tímida aqui. Peraí. Ele disse "nos vemos amanhã" e "tome cuidado" pra mim? Que? Ouvi bem? Resolvi falar logo "tchau" pra ele, quando mais rápido eu saísse dali, melhor. Dei tchau e em seguida um beijo em seu rosto. – Costume brasileiro – expliquei pela segunda vez no dia.

Enquanto deixava a quadra e ia em direção à saída, percebi que seria melhor se eu não tivesse lhe dado o beijo no rosto, mas está no automático isso, é uma coisa que estou acostumada a fazer com todos. E eu também acho melhor eu me controlar, ou não conseguirei comprimir a promessa que fiz. “Mas se bem que, não estarei descumprindo minha promessa se eu realmente gostar dele”. Calma. O que eu to pensando? Conheci ele não fazem nem dois dias, é impossível eu estra gostando dele. Ou realmente posso estar gostando dele. Não, não estou. Eu tenho que parar de pensar um pouco, estou tão confusa, quando mais eu penso nele, mas fico confusa, isso faz sentido?