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História Do I Wanna Know!? - Norminah - The Smiles Lie


Escrita por: FarofeiraHansen

Notas do Autor


Hey Sweets 💜

Antes de tudo, queria dizer que uma parte desse capítulo, foi baseado no vídeo "#RESPECT FIFTH HARMONY|CHEGA DE RÓTULOS", porém foi modificado por mim mesma em alguns momentos. Deixarei o vídeo nas notas finais.

Qualquer erro será devidamente corrigido mais tarde.

Enjoy 😋

Capítulo 4 - The Smiles Lie


Fanfic / Fanfiction Do I Wanna Know!? - Norminah - The Smiles Lie


Point Of View Normani Kordei
Miami, Flórida, 27 de Março de 2016.

Pode parecer insano, louco ou até absurdo, mas aos meus olhos, meu ambiente de trabalho era aquele no qual mais me tranquilizava durante poucos dias na semana. Nunca pude ser o "orgulho" da família, jamais se passou pela minha cabeça seguir uma carreira como médica, cursar direito ou até mesmo pensar em ser uma jornalista. Desde muito jovem tinha um pequeno sonho de fazer aquilo no qual mais gostava, dançar, parecia vulnerável quando fechava os olhos, pois só ali era proporcionado a mim, sonhar com um futuro que tanto desejava. Cortei as barreiras e arrisquei até perder totais esperanças, o perigo muitas vezes é necessário, quando o final é desejado mais que muita coisa nessa vida. 

Desde o nosso nascimento a sociedade nos impõe rótulos e somos forçados a possuí-los para o resto de nossas vidas. E chega um momento em que todos nós adquirimos esses rótulos...Nós os digerimos, engolimos, convivemos, toleramos...'Aceitamos' esses rótulos...Sem se quer duvidarmos deles, contra gosto, má vontade, ou por mais subestimados que sejam...Mas aí que está o problema. Rótulos não definem quem somos, não demonstra o nosso verdadeiro rosto por trás de uma máscara, uma camada de maquigem ou até mesmo um sorriso 'sincero', rótulos são apenas esteriótipos, é recíproco, melancólco. E quem somos de verdade, não é a cor da pele ou o cabelo, nossas roupas ou o batom que cobre nossos lábios. Me desculpe, mas não consigo enxergar uma lógica ou qualquer orgulho em me definir ou julgar alguém pelos rótulos que nos dizem. Pois quem somos de verdade, se encontra no nosso interior, não em nossa face ou detalhes de nosso corpo. 

Agora eu lhe pergunto: Quem você seria, se a sociedade nunca tivesse lhe dado esse rótulo?  Você seria branco? Negro? Latino? Polonês? Olhos claros ou escuros? Cabelo Liso? Ondulado? Cacheado? Crespo? Curto? Longo? Loiro? Castanho? Ruivo? Seria alta? Baixa?  NÃO. Você seria apenas...Você. Esses rótulos apenas nos impedem de ver uma pessoa como ela realmente é. Atitudes falam mais que palavras.

Eu não sou lésbica, sou apenas eu mesma. 

Eu não sou uma vadia, sou apenas eu mesma. 

Eu não sou negra, sou apenas eu mesma.

Eu não me exponho, sou apenas eu mesma.

Eu não sou santa, sou apenas eu mesma. 

Eu não sou de direita, sou apenas eu mesma.

Eu não sou de esquerda, sou apenas eu mesma.

Eu não sou certa, sou apenas eu mesma.

Eu não sou errada, sou apenas eu mesma.

Eu não sou descartável, sou apenas eu mesma.

Eu não sou de um padrão, sou apenas eu mesma.

Nos livrar desses rótulos é essencial, libertador. Lembre-se sempre dessa pequena história: A lagarta sentiu a mesma coisa antes de quebrar o seu casulo, e se transformar em uma borboleta maravilhosa. Então esses rótulos são como casulos e nós precisamos nos quebrar esses casulos, para que possamos finalmente abrir nossas asas. Não fomos feitos para sermos rotulados, fomos feitos para ser livres. 

"Gosto de experimentar os piores venenos, das bebidas mais amargas das drogas mais mortais, sentir as piores dores e as cicatrizes em meu corpo não negam, poderia me jogar de um penhasco sem o medo de morrer, ou desperdiçar minha vida, pois essas asas, foram feitas para voar. Não me deem as fórmulas certas, não tenha medo disso."

E somente quando todos forem removidos, e pararmos de viver e pensar tão pequeno, nós seremos livres para vermos a nós mesmos e aos outros por quem nós realmente somos: Amor, únicos, humanos. Apenas...Nós mesmos. Subestime seus rótulos, acredite em seu interior. Por mais difícil que seja para todos entenderem, o que basta, é estar livre de qualquer consciência negativa. 

Suspirei balançando a cabeça para me afastar de pensamentos importunos. 

:- Dança é disciplina, precisão... - Dizia enquanto observava os rostos cansados á minha frente, ao menos era Sexta-Feira e de uma hora para outra, todo o cansaço era consumido sem ao menos houver explicação. - E equilíbr... - Iria prosseguir porém meu olhar automaticamente voltou-se para a porta sendo aberta.

A pequena garota de olhos claros e pele bronzeada adentrava com certa pressa na sala, vestia seu tão monótono uniforme com detalhes em preto e branco, o emblema em seu peito esquerdo fazia um pequeno sorriso se forma em meus lábios, tinha um certo orgulho de mim mesma por com muito esforço e vontade própria para fazer tudo acontecer. Seus longos cabelos loiros estavam metade presos e metade completamente desgrenhados, provavelmente com a "pequena" corrida que deve ter feito em direção ao local. 

Era uma bela miniatura de Jilly. 

:- Desculpe, Srta. Hamilton. - Elevou uma mão ao seu peito falando totalmente ofegante e com tamanha dificuldade. Franzi o cenho na medida em que me aproximava.

A diferença de tamanho era o suficiente para me abaixar a sua frente e poder tocar seu rosto avermelhado. Ri baixinho depositando um pequeno beijo sobre sua testa me levantando logo em seguida. 

:- Qual o motivo do atraso, Kristen? - Dei as costas seguindo para um bebedouro ao canto esquerdo da sala, completei um copo descartável com água gelada. Embora a primavera estivesse apenas começando, o clima costumava ser abafado. Maneei com a cabeça indicando que se aproximasse, e assim fez. 

Lhe entreguei o mesmo, que rapidamente se esvaziou com a velocidade na qual ingeria o líquido, dei risada do leve desespero ao se engasgar com certa proporção de água. Dei pequenos tapas sobre suas costas, fracos, sem a intenção de lhe machucar, apenas para melhorar a situação. Novamente se desculpou com um sorriso doce nos lábios. 

:- Para ser sincera... - Fez uma pausa dramática, encarando um ponto fixo sobre o chão amadeirado devidamente encerado e límpido. - A preguiça tem o dom de dominar meu corpo. - Amassou o copo, ecoando o barulho de plástico se contraindo entre si, logo o jogando na pequena lixeira ao lado, essa que roteirizou adultamente as falas de seus pais. 

Suas palavras me fizeram rir mais uma vez enquanto voltava ao centro da sala. Todas as garotas já devidamente enfileiradas com suas posições ao lado da extensa barra de ferro que se localizava fixa a parede branca dando destaque em todo o ambiente. Deixei ecoar a música ecoar por meio de todo o ambiente, tão monótona a ponto de decorar cada nota de tantas vezes na qual ouvia todas as semanas.

Bati palmas tendo a atenção de pequenos olhares curiosos sobre mim. Se aproximaram formando um círculo sobre o chão, me acomodei ao lado de algumas das garotas, que me encaravam perplexas. 

Já disse o quanto amo crianças?

:-  Sei que muitas aqui são iniciantes. - Comentei deixando que uma menor sentasse sobre minhas coxas, elevei ambas minhas mãos aos seus cabelos ondulados, desfazendo o pequeno penteado já devidamente bagunçado. - Todos os anos participamos de uma das maiores competições do país, estamos próximas das estaduais e queria contar com a ajuda de todas. - Meu olhar encarou cada rosto jovial enquanto refazia o pequeno coque nos longos cabelos da garota em meu colo. - Gostaria que se esforçassem, pois o prêmio não é só meu... 

:- É nosso. - Meu olhar pairou sobre Sofia, uma das amadoras, esteve na maioria das competições, cotinha um sorriso empolgado que a qualquer momento poderia romper seus lábios. Aumentei a curvatura de meus lábios com um sorriso mais sincero ao cortada enquanto maneava levemente com a cabeça ao concordar com tais palavras.

:- Sinto que ficará no comando durante toda a apresentação. - Seus olhos brilharam de vivacidade enquanto me concentrei em finalizar o penteado com um laço preto detalhado com algumas pérolas. Senti os braços de Sofi envolverem meu pescoço em um pequeno abraço, que não hesitei em retribuir. 

Gargalhei baixo ouvindo suas incontáveis ideias soando em meu ouvido, sorria empolgada batendo palmas entre pequenos gritos, bem agudos por sinal. Por um breve momento pude ver Camila de anos atrás, empolgada por finalmente ser convidada para o baile anual por quem mais desejava. Não era atoa que Sofia fosse um espelho da irmã mais velha.

 

:- Deixa eu adivinhar. - Falei vendo Camila andar totalmente desengonçada com livros e mais livros em suas mãos, pelo corredor, que se encontrava movimentado pois o ultimo sinal havia sido tocado minutos atrás e logo a próxima aula iniciaria. - Aula de história? 

:- Eu já estudei sobre o Holocausto. - Bufou jogando os demais dentro de seu armário, fechando a força a porta metálica. - Se fizer um resumo sobre o menino do pijama listrado, Sr.Fields irá perceber que ignorei completamente o documentário da aula passada? - Comentou girando a chave contra a fechadura, logo conferindo se a porta estava devidamente fechada. 

Pressionei meus lábios tentando não rir de seu desespero repentino, sabia o quanto odiava o fato de passar uma aula inteira ouvindo a voz melodramática do professor e piadas que farão sentido de risadas apenas próximo de idosos, nos quais sentiria pena. 

O inverno em Miami nunca chegou a ser tão exagerado como nas grandes cidades do país, embora as temperaturas chegassem a ser baixas, tinham grande efeito sobre aquele acostumados anualmente com o calor em toda a cidade. A morena ajustou o sobretudo em seu corpo, deixando que ambas suas mãos pousassem dentro dos bolsos.

Mila sempre foi uma garota de bons valores, seu corpo em principal, chegava a ponto de dar inveja á qualquer uma. Barriga chapada devido aos treinos excessivos nos quais eram cobrados todas as semanas, curvas avantajadas e bem delineadas, exceto seus seios, que poderiam ser comparados a azeitonas, de tão minúsculos. Cabelos naturalmente ondulados, em um tom de castanho escuro, olhos penetrantes e intensos não fugindo daquela tonalidade, porém mais clara, digamos que, um pequeno charme. 

:- Era uma realidade triste. - Indiferente lhe respondi. Sendo seguida pela mesma, que andava ao lado de meu corpo, locomovendo-se na mesma lentidão. - Deveria pesquisar mais sobre, sabe, creio que sirva para algo em algum momento da sua vida. - Movimentei os ombros voltando a olhar para frente.

Sempre fui o tipo de garota motivada nos estudos, bom, quando queria. Não que não desejasse fugir dos livros e jogar tudo pelos ares, por uma noite, por mais única que fosse, simplesmente esquecer de minha vida debruçada sobre uma carteira escrevendo sobre as folhas brancas de meu caderno, pegar a primeira garrafa de vodka a minha frente, e jogar aquela xícara completa por chá, direto pela privada. Ser livre e não ter medo das consequências, ultrapassar o toque de recolher e correr para o pub mais próximo. 

Simplesmente, viver sem medo. 

:- Como é seu vestido para o baile? - Camila tinha um certo dom de mudar totalmente o assunto, em tão pouco tempo. 

:- Algum motivo? - Deixei os livros sobre uma mesa livre já no pátio externo da escola. Estava bastante movimentado, foi como um sacrifício.

O gramado se encontrava verde e acomodativo, enquanto as árvores tinham suas folhas alaranjadas, algumas secas ao chão, outras mantinham sua estrutura original, nada exagerado. Miami conseguia ser tão bipolar quanto o humor de nossa diretora. 

:- Não quero ter o azar de aparecer com o mesmo vestido que o seu, Mani. - Suplicou exigindo uma resposta. 

:- Não irei ao baile. - A morena que deixava seus braços apoiados sobre a mesa, já pronta para esconder seu rosto do vento gélido entre os mesmos, parou no mesmo momento para me encarar com suas sobrancelhas arqueadas. - Quebrei minha unha. - abocanhei lentamente minha maçã, na qual havia pego minutos atrás.

:- Conta outra, Normani. - Disse entre risadas, o que me fez revirar os olhos. - Diz aí, qual a desculpa dessa vez? - Estreirou suas esferas castanhas em minha direção. 

Suspirei abaixando o olhar saboreando a fruta avermelhada sem pressa alguma.

:- Sei que quer que eu vá, exatamente pelo fato de ir acompanhada por Thomas. - Alto dos curtos cabelos castanhos escuros, sua pele era bronzeada e seus olhos penetrantes a ponto de me perder naquela imensidão obscura, jogador apenas por fama. Aparência poderia ser maravilhosa, perto da personalidade desprezível. 

:- Não é verdade. - Fez uma pequena pausa, sorrindo sem mostrar os dentes. Poderia ser a imagem mais fofa que havia visto naquela manhã, tinha os olhos semicerrados, devido ao vento que tomou uma pequena turbulência, as bochechas coradas assim como o nariz avermelhado, os cabelos seguiam a sintonia da brisa enquanto alguns fios pairavam sobre seu rosto. - E se fosse verdade, você iria de qualquer jeito. 

Desfiz meu sorriso saindo daquele transe, no qual tive em meus lábios enquanto lhe observava. Novamente tornei a comer encarando seus olhos sem expressão alguma no rosto.

:- Eu não sei. - Suspirei, desviando meu olhar para trás de seus ombros, como quem '"olhar o horizonte"

Ela se calou por um curto tempo.

:- Normani, não sabe o que? - Falou  quebrando aquele silêncio enquanto eu terminava a fruta que estava em mãos, joguei o restante em uma lixeira próxima e arrumei minha postura sobre o banco. Não queria ficar dolorida. - Eu não estou falando para você sair com meu primo Thomas que faz móveis de brinquedo por passatempo. - Sua voz soou de modo sarcástico. - É o Thomas, você já foi apaixonada por ele, e agora está lhe convidando para sair. Então pare de inventar desculpas. - Ordenou.

Respirei fundo cruzando meus braços abaixo dos seios, deixando-os mais elevados. 

:- Eu não estou inventando desculpas. - Ignorei completamente toda e qualquer palavra anterior. Tentando fugir do assunto. 

:- Então qual é o problema? 

:- Apenas não me sinto bem com isso. 

Deu de ombros enquanto rolava seus olhos. 

Se desvencilhou da mesa com certa rapidez vasculhando os bolsos de seu sobretudo, retirou de um deles uma pequena carta, entregou em minhas mãos e aproveitou o momento para ajustar a roupa sobre seu corpo. Franzi o cenho encarando o pequeno envelope, tinha pequenos relevos e flores violetas ao canto, na curiosidade abri o mesmo, rolando meus olhos pelas poucas palavras sem desfazer a feição em meu rosto. 

:- Camila... - Indaguei. 

:- Sim. - Sorria de orelha a orelha, parecia feliz apenas pelo brilho que tinha em seus olhos. 

:-  Não brinca. - Lhe devolvi a carta, na qual ignorou completamente e jogou seus braços no ar. 

Levei uma das mãos a boca evitando rir, me levantei por impulso acompanhada pela mesma, que rapidamente pulou em meus braços, apertando meu pescoço com tamanha força, capaz de me fazer perder o ar presente em meus pulmões. Com suas pernas envolveu minha cintura, em seu famoso "Abraço de coala", não hesitaria em retribuir, ouvia atenta com um sorriso nos lábios, era bom ver a morena feliz por ser convidada por aquele que tanto idolatrava.

Embora tenha se decepcionado dias depois. Mas eu estava lá para lhe reconfortar, era o nosso trato. 

:- Então... - Jogou brevemente sua cabeça para trás, podendo encarar com mais clareza meus olhos. - Vai aceitar Arin Ray, certo? -

Curvou seus lábios em um pequeno bico na expectativa de me convencer. Fechei meus olhos, contando mentalmente até 10.

Já disse o quanto é persistente ou muda de assunto tão facilmente?" 

 

Aqueles desvaeneios se foram, quando senti minha bochecha ser aquecida pelos lábios rosados da menina, logo a porta se fechou, dando-me a notícia de que já havia acabado meu turno. 

Alonguei meu pescoço acompanhando os braços enquanto me levantava sem auxílio das mãos, deixei que um grunhido escapasse por entre meus lábios enquanto pegava a bolsa nos fundos da sala, aproveitei para arrumar os cachos rebeldes em frente ao grande espelho que ocupava boa parte do ambiente, sorri satisfeita girando meu calcanhares podendo assim, seguir em direção a saída. 

Desci as grandes escadarias principais do local, poderia sim ter optado a grande caixa metálica, que em poucos segundos me deixaria onde desejado, mas não via motivos, podia muito bem descer degrau por degrau sem a preocupação de me atrasar para algo. Joguei uma madeixa de meus cabelos para trás dos ombros, enquanto passava pelo o saguão, o aroma das lavandas sobre o balcão da portaria, impregnou em todos os cantos, fazendo-me respirar fundo sentindo-o invadir minhas narinas sem nenhum pudor com um sorriso nos lábios. 

Muito melhor que a poluição do lado de fora daquela porta de vidro. Pude ouvir a pequena conversa de uma mulher uma estatura maior que a minha, tinha longos cabelos castanhos escuros possuindo alguns cachos, não tão formatados como os meus. Não consegui ver muita coisa, pois a mesma se encontrava de frente ao balcão, de costas ao saguão.

:- Boa tarde, estou a procura da responsável por... - Abaixou seu olhar para um pequeno cartão em suas mãos, poucos segundos deixaram que o silencio tomasse conta de todos. - Hamilton's Dance Academy. 

Falou após ler tais palavras escritas. Foi o momento exato para fazer-me girar os calcanhares e travar meu maxilar. Estava um pouco receosa, porém deixei que a sensação de aflição fluísse ao ver ao lado da mulher, uma garota um pouco menor, tinha cabelos negros e ralos, era magra, nada em excesso. O modo no qual havia pigarreado, foi o suficiente para que ambas, acompanhadas da senhora antipática por trás do balcão revestido em madeira, olhassem em minha direção, não muito distante. 

Nunca ousei em perguntar o nome da senhora, bom, não me importava muito. O silêncio pairava sobre o local, qualquer movimento brusco era possível ter mera atenção.

Retirei os óculos que encobriam meus olhos, dando mais clareza aos mesmos. Alguns raios solares atingiam a entrada, fracos, devido ao anoitecer próximo, também pelas nuvens cinzentas no céu. Típico daquela estação. 

:- Posso ajudar em algo? - Parei ao lado da de cabelos cacheados, que tinha seu cenho franzido. Porém sua expressão facil mudou ao ver o emblema sobre a jaqueta de malha sobre meus ombros. 

Maneou com a cabeça confirmando, enquanto lhe ofereci um sorriso sincero devido seu ato. 

Ela desviou seu olhar para a menor, que estava entretida com alguns panfletos, estranhou não ter movimento algum ao seu lado, elevou seu olhar a mais velha, que apenas estreitou seus olhos, fazendo-o organizar a pequena bagunça com os papeis similares a pequenos pedaços de cartolinas, mais finas e menos resistentes. Movimentou seus ombros sorrindo amarelo vindo a frente de sua mãe, creio eu, que pousou ambas suas mãos sobre os ombros, devidamente tensos, da filha. 

Observava completamente calada, apenas seguindo-a com o olhar. 

:- Essa é Regina, minha filha. - Apertou levemente os ombros da menina tímida, estendeu sua mão direita em minha direção, que prontamente apertei em cumprimento. - Está interessada pelas aulas de dança. - Limpou a garganta. - E bem...Gostaria de saber como funciona. 

Meu olhos pararam sobre a menor, analisando-a enquanto deixava todo o peso de meu corpo, apoiado sobre minha perna direita. 

:- Ow, é um prazer conhecê-la, Regina. - Falei sorrindo intercalando meu olhar da menor á mais velha. - É prazer lhe conhecer também. - Levei uma das mãos a nuca, vergonha alheia.

Ela deixou uma risada escapar, tendo seus olhos fechados. Observei a caena sorrindo, gostava de observar sempre todos os detalhes. Nesse meio tempo Regina repreendia a própria mãe, que se encontrava com as avermelhadas.

:- Desculpe. - Relaxou seus ombros e sorriu radiante. - Milika, Milika Hansen. - Apertou tão forte minha mão, a ponto de sentir a mesma formigar. 

Ao desfazer seus atos, cruzei meus braços abaixo dos seios, deixando ambas minhas mãos deslizarem sobre meu antebraço em um movimento importuno, na esperança de aquecer meu corpo. Apenas esperança mesmo. 

E com pouco esforço, lembrei-me da origem daquele sobrenome, sendo mais sincera, da pessoa na qual lhe pertencia. A loira de todas as Segundas-feiras, das xícaras de café expresso com creme, dos lábios carnudos e das coxas fartas. Era costume passar por lá todas as manhãs, observar por poucos minutos, apenas pelas Segundas, não sabia o motivo ao certo.

Mas no mesmo momento, poderia haver a dúvida. Miami é enorme, talvez pertencem á famílias diferentes, embora os traços sejam os mesmos. 

:- Ficarei feliz em lhe ter em minhas aulas. - Comentei me sentando em um sofá almofadado revestido em palha seca. 
Guiei as duas para a área externa do aposento, era similar a uma escola de artes, tinham alguns esportes como natação, aulas nas quais me pegava observando pequenos aspirantes pelo prazer de sentir o corpo leve sobre a água, que aos meus olhos se transformava em algo turbulento, de tanto baterem seus braços na esperança de manter um "equilíbrio", ou simplesmente não afundar. 

Era um local reconfortante, costumava chamar de "refúgio", pois era para onde eu fugia, quando queria o mínimo de barulho próximo aos meus ouvidos, ou até então, simples pensamentos que costumavam me torturar. É um apelido carinhosamente concedido pela minha pessoa. Tenho vontade de quem sabe um dia, carregar uma criança em meu ventre, senti-lá crescendo dentro de mim e em pouco tempo, ter o prazer de lhe dar a vida. Sabe, como aquela luz no fim do túnel, luz na qual nunca encontrei.

Queria ser aquela em receber a capacidade de ouvir o silêncio, adivinhar sentimentos e encontrar a palavra certa nos momentos incertos. Fortalecer quando tudo ao redor parece ruir, sabedoria para proteger e amparar.

Ao observar pequenos rostos com respingos de água, tinha sempre um sorriso nos lábios, não que fosse indiferente com as crianças em minhas aulas, simplesmente tinha uma atração por crianças e a simplicidade em enxergar o mundo, com os detalhes, minimadamente atentas. Transmitir com um simples ato, o afeto desmedido e incontido. Pois sei que ainda sou jovem o suficiente, sozinha demais e totalmente desprevenida. 

Bons jovens têm sonhos ou disciplina. Jovens brilhantes têm sonhos e disciplina. Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas, que nunca transformam seus sonhos em realidade, e disciplina sem sonhos produz frustações, que fazem tudo automaticamente e sem pensar. E bem, eu realmente não havia pensado, desperdicei todos os 'eu te amo', por medo, medo esse de não aprender a amar, sendo sincera, nunca pude sentir o verdeiro 'amor', quando tentei, me frustei, frustei a ponto de desistir de todas as palavras não ditas, ou ausência delas, pois são poucos aqueles que sabem o significado de "amar", por mais que muito se dizem realizar. Menos ainda, são aquele que realmente sabem fazê-lo acontecer.

E quando feito, me arrependi a ponto de pensar jamais amar alguém, talvez isso não fosse tão possível quanto os contos de fada nos quais assistia quando criança.

Maldito marketing.

Elevei o copo com água em direção a minha boca, bebendo calmamente o líquido incolor, pousei o mesmo sobre o a mesma de centro após alguns goles. Gina, como preferia ser chamada, estava ao meu lado, enquanto dona Milika, em uma poltrona a nossa frente. Deixei milimetricamente organizadas sobre meu colo, algumas folhas brancas, enquanto recuava meu corpo, até sentir o mesmo apoiado sobre a acomodação do móvel no qual me encontrava sentada.

:- Você já fez alguma aula de dança ou ginástica antes? - Fitei a menor que pareceu pensar em sua resposta

:- Minha irmã mais velha, quando eu saía do banho, ela aparecia em meu quarto, para dançar em frente ao espelho enquanto penteava meus cabelos. - Disse divertida com um sorriso que poderia rasgar seus lábios. Ri baixo assistindo a cena. - Usávamos o pente como microfone, às vezes ela soltava a voz e queria enfiar ele pela garganta da mesma. - Gargalhou encolhendo seus ombros e rapidamente desfazendo suas feições de felicidade. Franzi o cenho, bipolaridade? - Bom, costumávamos fazer isso, quando...Quando ela tinha tempo.

Engoli em seco, tentando não transparecer indiferença, ou falar algo que piorasse a situação. Assinalei o formulário abaixo de tal pergunta.

:- Tenho certeza que terão momentos únicos como esse, talvez até melhores, o tempo vai lhe responder. - Sorrio amigável arrumando minha posição sobre o estofado. 

Ela tentou retribuir o mesmo, foi falho.

:- Pois bem. - Abaixei meu olhar para o formulário em mãos, cruzei as pernas enquanto mordia meu lábio inferior por justa mania. - Tem asma, ou falta de fôlego facilmente? 

:- Apenas quando me fazem cócegas, é como tortura. - Riu nasalmente enquanto analisava suas mãos. 

:- É simplesmente horrível. - Comentei estendendo o formulário em direção a Srt.Hansen.

Havia feito um pequeno questionário com algumas perguntas e informações necessárias, para que a pequena Hansen fosse aceita e pudesse o quanto antes começar com os treinos, afinal, tínhamos um campeonato se aproximando. Estava um clima tedioso para a mais velha, que se calou por longos minutos, haviam tantas perguntas, a ponto de relembrar da época em que meu pai deixava meus namorados contra a parede, literalmente. 

:- Isso ficará com a senhora, caso gostem do trabalho no qual dou vida a esse projeto. - Me levantei em um solavanco, sendo acompanhada por ambas. - Pois bem, caso essa pequena esteja disposta, podemos começar na próxima semana, os dias, horários e algumas regras e informações, estarão nessa ficha, espero que  gostem e saibam apreciar da melhor forma possível. 

Em momento algum desfiz o sorriso em meus lábios, parecia uma criança adorável. 


...

 

Sentir meus pés descalços na areia clara com desenhos de pegadas, fornecia a mim mesma, a sensação de "liberdade". A brisa do mar, o por do sol iluminando as ondas que se quebravam lentamente na maré baixa, sem relógio, despertador ou qualquer coisa que

me mostre o tempo passando. Sentia que precisava disso agora...

Andava sem rumo algum próxima a beira do mar, sentindo a areia mais molhada e escorregadia, era possível meus pés serem completamente enterrados lentamente caso resolvesse parar ali mesmo, devido a leve densidade. Hora ou outra, sentia a água gelada tomar conta de meus pés livres de qualquer barreira, para estarem devidamente encharcados. O sol tinha pouca luz, resultado das nuvens negras e acinzentadas a sua volta, que tomaram conta do céu tão rapidamente, que nem ao menos percebi. 

Mesmo com a luminosidade compacta e sem aquele mesmo brilho - que chega a queimar a pele nove horas da manhã - era possível ter a minha silhueta desenhada através da sobra atrás de meu corpo. 

Pude ouvir um pigarreio não muito distante, o que fez com que meu olhar fosse tomado para trás de meus ombros, estreitei meus olhos ao me deparar com a loira de dias atrás. 

:- Não havia percebido minha presença? - Se aproximou o suficiente para estar lado a lado comigo. 

Vestia roupas sociais, uma saia que ia em um comprimento um pouco abaixo de seus joelhos, tinha detalhes listrados diversificadamente em preto e vermelho, tendo a base em branco. Usava algo similar a um "cinto" provavelmente em conjunto a sua roupa, pois ia de seu quadril até abaixo de seus seios, ficando sobre uma blusa preta, com alças caídas nos ombros. Madeixas loiras naturais, em sintonia ao vento, uma maquiagem leve em sua face e os lábios curvados em um pequeno sorriso. Provavelmente havia saído de seu trabalho, no qual poderia ter uma certa ideia devido suas vestes.

Naquele mesmo momento, não consegui evitar o sorriso que se formava em meus lábios.

:- Eu costumo me perder em um mundo só meu. - Maneou com a cabeça concordando. - Pensamentos e alguns momentos, que geralmente me torturam. - Ri fraco desviando meu olhar do seu. 

O sol que antes beijava o mar, agora era tomado pelo o horizonte, sumindo diante de nossos olhos. Encolhi meus ombros sentindo o vento forte colidir contra meu peito, era refrescante, se o clima não estivesse mais frio que o comum. 

:- Típico de pessoas inteligentes. - A loira sentou-se sobre uma rocha, parecia um tanto quanto desconfortável. 

Juntei as sobrancelhas tentando raciocinar melhor. 

:- Digo, conversar com si próprio. - Relaxei minhas feições, dando espaço a uma risada nasal. - Creio que pode ser mais inteligente que muitos. - Movimentou os ombros enquanto encarava firmemente o horizonte.

Seus cabelos se encontravam ao vento, privilegiando a mim, a visão de seu rosto com mais detalhes, tinha boas raízes e características. 

:- Costuma acontecer em muitos momentos. - Remexi meus pés cobertos pela areia, deixando-a marcada, enquanto pequenos grãos adentravam entre meus dedos. - Quando a falta de companhia ataca, mas pode ser algo bom. - Comentei.

Dinah - ainda lembrava-me do nome destacado em seu crachá. - sorriu ainda encarando aquele mesmo ponto fixo. 

O silencio prevaleceu, apenas o zumbido do vento era ouvido, como as ondas que quebravam agora com mais frequência e brutalidade, sentia pequenas gotículas de água caindo sobre minha pele, estava começando a mesma rotina entediante de todos os fins de tarde ensolarados.

Chuva. 

:- Oh minha chapinha... - Indagou colocando uma das mãos para encobrir seus olhos, sinal de proteção contra a chuva que ficava forte a cada momento. 

Pressionei meus lábios, evitando rir de seu desespero contínuo. Olhei em volta, pegando meus pertences sobre a areia, evitando que os mesmos molhassem, elevei a jaqueta na altura da cabeça, usando como proteção para molhar meu cabelo. Sem pensar duas vezes, girei meus calcanhares, aproximando-me mais da loira, que no mesmo momento ergueu seu olhos na minha direção, sorri um pouco sem graça e fiz um sinal para que se levantasse. 

:- Aceita uma carona? - Deixei o modo irônico tomar conta da minha voz.

Ela deixou escapar por entre seus lábios, um suspiro, que espero ser de alívio. Sua feição seguinte, lhe entregou completamente. Dinah passou um de seus braços em torno de minha cintura - devido ao pequeno espaço que o tecido em minhas mãos podia impossiblitar a chuva. - , fazendo-me sentir uma pequena sensação de 'eletricidade' subir por minha espinha. Passei a ponta da língua sobre meus lábios, deixando-os menos ressecados.

:- Hoje o dia não está para mim. - Bufou coçando seu nariz. 

:- Aconteceu algo mais terrível que sua chapinha e os cílos postiços desregulados? 

Ela riu baixo enquanto balança negativamente sua cabeça. 

:- Eu estou cheia de problemas, me atrasei devido ao trânsito congestionado logo pela manhã, atrasei para uma reunião de extrema importância. Os incontáveis relatórios para assinar e... - Parou para tomar ar. - Meu filho, á dias não consigo um tempo só nosso. 

Suspirou. 

Confesso sua última fala ter um pequeno efeito sobre mim, não sabia como, mas tinha certeza que errada eu jamais estaria.

:- Talvez seja a vida lhe testando, uma hora tudo se resolve. - Tentei lhe reconfortar, ela apenas forçou um sorriso. 

:- Esqueci de citar que meu carro precisou ir para o concerto, não deveria ter ultrapassado o sinal. - Mordo meu lábio inferior rindo baixo.

A loira iria revidar minha risada com alguma resposta, porém foi barrada pela grande proporção de água vindo em sua direção, virei meu rosto na esperança de não ser atingida, mas Dinah serviu como um escudo, quando vi sua roupa completamente encharcada e sua feição emburrada. Diria que era extremamente fofo suas bochechas vermelhas de raiva, porém não queria correr o perigo de levar um tapa na cara, e que mão hein? Já reparou naqueles dedos? 

E que dedos! 

Concentre-se Normani! . Suspirei deixando que meus olhos focassem em suas curvas até alcançarem o seu olhar, sorri quadrado percebendo estar em frente ao prédio no qual morava, destranquei a porta principal, ouvindo o 'click' para ter certeza que já não se encontrava mais trancada. Segurei levemente em seu pulso.

:- Vem, deixa eu te ajudar com isso. 

De alguma forma estava envergonhada, mas era incerta do verdadeiro motivo. Talvez pela mesma ter levado um verdadeiro banho sem ao menos pestanejar. 

Malditos taxistas.

Avançou alguns passos mas logo parou, sorrindo irônica em minha direção. Arqueio uma de minhas sobrancelhas um tanto quanto confusa. 

:- Por algum motivo vai me estuprar, me matar a sangue frio, esquartejar meu corpo, dar cada parte minha para cientistas fazerem experimentos ou até mesmo para saciar a fome de animas abandonados? 

:- Minhas mãos são capazes de muitas coisas. - Falei analisando minhas unhas. - E meus dedos são os principais. - Pisquei logo lhe dando as costas.

Pude ouvir sua baixa risada enquanto subia a pequena escadaria que nos levaria ao térreo, Dinah não hesitou em me acompanhar. Levei uma de minhas mãos, aos botões fixos a parede turquesa que dava mais 'vida' ao ambiente.

Pressionei o número "treze".

:- Isso é um pouco insano. - Sussurrou. 

:- Ao o que se refere? 

:- Lhe conheci tão rapidamente, como se fosse automático, poucas palavras e agora...estou aqui. - Riu devido ao nervosismo estampado em sua face. 

Toquei seu ombro direito, fazendo-a olhar para o mesmo. 

:- Podemos começar novamente, caso se sentir incomodada, é apenas ignorar essas pequenas lembranças. 

Assentiu em um movimento com sua cabeça, quando saímos daquele transe no momento em que as portas do elevador se abriram, adentramos rapidamente. Dinah arrumava suas madeixas úmidas em frente ao espelho, observei a cena apoiando minha cabeça na estrutura metálica. 

:- Então como podemos começar novamente? - Girou seus calcanhares em minha direção enquanto cruzava seus braços aguardando por uma resposta.

Encarei o chão límpido pensando no que realmente lhe responder, parecia ser complicado. Questão de prática.

Bem, eu espero.

:- Não nos conhecemos o suficiente para ter tanta intimidade, mas me preocupo e tenho certeza que está longe de casa. - Assentiu e suspirei. - Me pego pensando em certas coisas, eu não quero ser uma formiga, sabe... - Juntou as sobrancelhas entreabrindo seus lábios para contestar algo, porém fui mais rápida em prosseguir. - Eu quero dizer... nós passamos pela vida esbarrando uns nos outros, sempre no piloto automático, como formigas. Não somos solicitados a fazer a fazer nada verdadeiramente "humano" - Joguei meus indicadores no ar, fazendo aspas. - Pare. Siga. Ande aqui. Dirija ali. É para a esquerda. Agora direita. Dê a volta. - Contava nos dedos, enquanto me acompanhava estreitando seus olhos em meus atos. - Toda comunicação servindo para manter ativo esse padrão desumano, de modo civilizado. 

:- Mas o que realmente quer d... 

Elevei meu indicador em frente aos seus lábios, exigindo um breve silêncio. Ela pareceu entender. 

:- Papel ou plástico? Crédito ou débito? Aceita ketchup? - Reprimiu uma risada.

A porta finalmente havia sido aberta, dando á nós, a visão do extenso corredor abrigando diversos apartamentos, ao sair, seguimos em direção a porta desejada por mim. Não tão desejada como minha cama, nesse exato momento. 

:- O que quero realmente dizer, é que quero momentos humanos, verdadeiros! Eu quero ver você, que você me veja. - Peguei a chave após vasculhar a bolsa que tinha sua alça sobre meu ombro, coloquei na fechadura, girando sentido anti-horário. - Não quero ser uma formiga, entende? 

Girei a maçaneta, deixando espaço livre para que entrasse primeiro. Ela me agradeceu com um sorriso enquanto analisava cada canto de meu apartamento, era simples, porém o suficiente para mim. Fechei a porta com auxílio dos pés e deixei a bolsa sobre a bancada da cozinha. 

:- Eu gostaria de começar novamente. - Sorriu radiante, retribui. - Mas não posso fazer isso, nesse estado. - Desceu seu olhar para seu corpo, fiz o mesmo.

Ela gargalhou gostosamente, minha vontade era de apertar suas bochechas. Era incrível cada detalhe, o modo em que fechava os olhos ao rir ou sorrir, como suas bochechas ruborizavam tão rápido, como cruzava os braços e analisava meus olhos, procurando algo além deles. 

:- O banheiro fica por ali. - Apontei em direção a porta branca um pouco distante. - Irei organizar o necessário e deixarei em meu quarto, fique a vontade. 

Estava prestes á seguir em direção ao mesmo, porém ela segurou em meu pulso como havia feito minutos atrás. Tão sutilmente que poderia sentir a suavidade e textura de sua mão. 

:- Você é maravilhosa. 

:- Sempre me falaram isso. 

Riu do convencimento e seguimos juntas em direção ao quarto. 


...

 

:- Você me aparenta falar muito. Qual o motivo do silêncio? 

Fazia pouco tempo que Dinah -  e o vapor da água quente acumulado dentro das quatros paredes -  havia saído do banheiro, Vestia um moletom no qual havia lhe emprestado, ia até a metade de suas coxas, encobrindo o short curto no qual usava. 

:- Eu não sei o que falar. - Brincava com os cordões da vestimenta em seu corpo. 

Pousei a bandeja sobre a mesa de centro, me acomodando no sofá após ter pego a caneca completada com chocolate quente. O suficiente para transparecer calor através da cerâmica em minhas mãos. Olhei em direção a mulher ao meu lado, assoprava sua bebida na esperança de queimar sua própria língua. 

:- Me fale sobre você. - Elevei a caneca aos meus lábios bebendo em pequenos goles, sentindo a bebida descer rasgando por minha garganta.

Mordeu o lábio apreensiva provavelmente pensando por onde começaria. Desviei meu olhar para o objeto em mãos, deixando que poucos cachos negros caíssem sobre meu rosto. 

:- Moro distante daqui, trabalho no centro de Miami, tenho uma irmã mais nova e uma mãe que lota minha cabeça com motivos para morar junto á ela, pois insinua eu não ser responsável o suficiente para cuidar de meu filho. 

:- Ela quer seu bem. - Curvei meu corpo para frente, levando minha mão á mesa de centro, pegando um cookie. 

Logo retomei á minha posição anterior. Ela movimentou os ombros calada.

:- Você é daqui de Miami mesmo? - umedeceu seus lábios, fazendo com que rapidamente, meu olhar caísse sobre os mesmos. 

Carnudos e atraentes.

:- Não, sou do Texas. Mas moro por aqui desde muito nova. - Respondi enquanto saboreava o cookie com algumas gotas de chocolate. - Mas com o passar dos meses, consegui abrir meu próprio negócio na academia como sempre desejei. 

Ela bebeu longos goles da bebida quente, enquanto deslizava seu polegar pela cerâmica, provavelmente morna naquele momento.

Deixou a mesma sobre a mesa central e se aconchegou, abraçando uma almofada ao seu lado.

:- O que espera de seu futuro? 

:- Que tipo de pergunta seria essa? 

:- Pergunta de uma garota extremamente curiosa. - Disse simples.

Estalei a língua, absorvendo suas palavras.

:- Boas lembranças se possível. 

:- Filhos? 

:- Requer gastos, quem sabe quando eu realmente estiver preparada para ter responsabilidade de cuidar de uma vida. Deixei um cacto morrer! - Ela riu. - Eles precisam de muita pouca água. 

Riu mais ainda de minha indignação. 

Responsável, não!? 

:- Acredite, eu também pensava assim. - Apertou a almofada contra seu peito encolhendo suas pernas do vento frio que adentrava através da sacada. - Viagens? 

Levantei em um solavanco seguindo em direção a sacada, podendo assim fechar a porta de vidro, quebrando qualquer brisa, vento, ou barulhos importunos que pudesse nos atrapalhar.

:- Gostaria de conhecer o mundo inteiro. Um desejo de infância. - Suíça, dizem que os melhores chocolate vê de lá. - Prossegui após um longo suspiro.

:- Não ofenda os belgas, eles tem sentimentos também. - Brincou fazendo-me rir. 

:- Mas gostaria de algo diferente, porém nunca parei para pensar no lugar ao certo. - Ela afirmou concordando. - Afinal, de onde vem? Tenho certeza que não tem descendências americanas. 

Gargalhou afirmando mais uma vez.

:- Meus lábios me entregam. - Porque negaria? Ela tinha razão. - Tenho origens polinésias. 

Entreabri minha boca levemente, jamais imaginaria algo tão...Exótico? 

:- Um bom lugar para se conhecer. Creio eu...

Apenas sorriu deixando que o silêncio tomasse conta de nós. Encarei a caneta em mãos, dando meu último gole, agradecendo mentalmente por não ter esfriado, pois seria terrível. 

A chuva do lado de fora, parecia ter acalmado um pouco. 

:- Estilo musical? - Indaguei a troca constante de assunto. 

Me analisava dos pés a cabeça, não que aquilo me incomodasse, apenas acha um tanto quanto estranho. Joguei minha cabeça para trás, podendo deixá-la apoiada no encosto do sofá, enquanto a mesma desviava seu olhar para o visor de seu celular, que vibrava como se não houvesse amanhã. 

:- Não escolho um estilo em si, posso ser bem bipolar quando quero. - Rio baixo. - Beyoncé é aquela na qual mais idolatro. 

:- Beyoncé? - Afirmou com a cabeça. - Vejo que temos algo em comum. 

:- Talvez mais do que você imagina. - Pude ver sua bochechas brutalmente avermelhadas. - Eu amei o novo clipe dela. - Mordi o canto da minha boca.

:- Yeah... Combina bastante com você. - Sorriu sem mostrar os dentes. 

:- Em qual sentido? - Novamente o celular começou a vibrar, aparecendo em seu visor, a imagem de uma garota tão branca como papel, e de um par de olhos verdes vibrantes. - Acho melhor atender, pode ser importante. 

Ela concordou, mas antes prosseguiu enquanto pegava o aparelho ao seu lado. 

:- Determinada, capaz de destruir a vida de alguém usando as próprias mãos. Apenas para... - Pensou por alguns momentos. - Para devolver na mesma moeda o que lhe fez sofrer. 

:- Sinto que descreveu você mesma... Sabe, pela convicção. - Tentei explicar-me ao receber seu silêncio.

:- Talvez sejamos iguais.

Ela levantou-se lentamente, podendo atender a devida ligação um pouco mais afastada. 

Eu posso parecer forte a todo momento, ser aquela que não desiste e não tem medo de enfrentar desafios. Mas na verdade sou uma mulher indefesa, cheia de feridas do passado, carente de um amor. Aprendi a ter pose de 'mulher crescida', parecer forte a todo momento, não se abalar com qualquer dúvida ou mágoa por mais próxima que esteja. Queria um amor só meu, que me ame como eu sou com minhas imperfeições e complicações, quero poder ter a fragilidade de uma mulher, quero que uma vez na vida , alguém se importe em cuidar de mim.

Você sente que precisa desabafar, mas precisa parecer forte diante das pessoas. Você olha para os lados e e sabe que precisa silenciar. E sente que esse silêncio é o que mais machuca, mas precisa lembrar. Ser forte, que amanhã pode demorar a chegar, mas quando vir, tomará o lugar dessa dor para sempre, sem precisar de remendos frequentes. 

Aprendi a sorrir na sala e chorar no quarto, ninguém precisa saber que estava a sofrer, ninguém seria capaz de solucionar meus problemas, então não aparento ser fraca, por mais frágil que esteja. Vou sempre levar um sorriso estampado em seu rosto, por mais que meu coração esteja a transbordar de dor. Foi a maneira menos dolorosa.

E eu continuo sendo a que retém os sentimentos, mascara as fraquezas, se faz parecer forte. 

Defesa.

É a que parece nunca ter preocupação, e que ainda crer que aceitar as coisas do jeito que são, é qualidade e não falta de opinião.  Que continua expondo pensamentos inacabados querendo ser compreendida, atuante com complexidade, mas é seu olhar que sempre lhe denuncia.

É o silêncio te dando a mais sincera resposta. Sempre a garota comum, mas nem sempre com a mesma proposta.

Saí daquele transe quando a voz de Dinah se aproximava a cada passo voltado a mim. 

:- Desculpe, Normani. - Suspirou guardando o celular no bolso traseiro do short no qual vestia. - Preciso resolver algumas coisas, meu pequeno está morrendo de saudades. - Riu fraco e me levantei. - Foi um prazer o tempo que passei aqui, espero não ter lhe incomodado. 

Sorri lhe guiando em direção a porta, destranquei a mesma sem pressa enquanto deixava aberta para Jane. 

:- Incomodo algum, podemos nos ver mais vezes se possível. - Ela envolveu tão forte minha cintura em seus braços, que poderia sentir meus órgãos lutando contra si para garantir espaço. Retribuí de tal modo e ficamos ali por alguns minutos. 

:- Obrigada. - Jogou o cabelo para o lado e beijou brevemente minha bochecha. - Marcamos algo assim que possível. - Piscou e saiu pela porta logo em seguida. 

Observei a mesma saindo de meu campo de visão, enquanto tinha meu corpo apoiado na batente da porta, os braços cruzados e um sorriso no rosto. 

Estranhamente ajudei uma estranha, estranhamente coloquei-a para dentro de casa, acolhi-a e ainda lhe dei liberdade para abraçar-me em minutos. Estranhamente não agia assim com ninguém.

E estranhamente ela usava meu moletom favorito, esse que no seu andar subia mais dando-me a visão de suas torneadas coxas. Dinah Jane era uma perdição. 


Às vezes sorrisos não significam nada, mas às vezes sorrisos significam tudo.


Notas Finais


Créditos

Cracknizer Br - https://www.youtube.com/watch?v=y8eI_zuqGx4

XoXo. 💜💙


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