Paola já perdia as contas de quantos microfones, gravadores e câmeras estavam apontados para eles. Estagnada, a chef permanecia com os olhos sobressaltados e quase sem conseguir respirar. Ao seu lado, Fogaça estava igualmente em choque. Embora houvesse uma multidão ao seu redor, todos permaneciam em silêncio absoluto, aguardando alguma resposta. O câmera mais à frente se aproximou um pouco mais para enquadrar os chefs, enquanto a jornalista novamente repetia a pergunta:
-Como se sente namorando Paola Carosella? O Brasil quer saber! – Ela olhava para a câmera, instigando seus futuros telespectadores.
-Olha... – Paola interferiu, percebendo que Henrique não colaborava com a situação – Eu não...
-A quanto tempo vocês estão juntos? – Um outro colunista perguntou, interrompendo-a.
Tão logo o silêncio foi quebrado, todos os profissionais tomaram a liberdade de levantarem suas vozes ao mesmo tempo e gritar perguntas, pressionando ainda mais aos chefs.
“Como seus filhos reagem ao relacionamento de vocês”
“Vocês lidam bem com o assédio dos fãs?”
“É verdade que vocês já tiveram um caso, durante as gravações de outras temporadas?”
“Dividem o mesmo camarim?” “Estão dormindo no mesmo quarto de hotel?”
-JÁ CHEGA! – Fogaça bateu as mãos sobre a mesa com força, tentando tomar a ordem da situação e silenciar aos mais distantes. – Não vamos responder perguntas de gente tão intrometida
-Então vocês assumem, por isso não querem comentar – Uma jovem argumentou, distorcendo toda a situação como estavam acostumados a fazerem.
-Pretendiam manter segredo até quando?
-Não pretendíamos nada... –Paola tentou responder - Estamos apenas...
-Jantando à dois em um encontro. Tão bucólico! A foto de capa ficará linda, não se preocupem. Sorriam! - Um fotógrafo completava Paola enquanto o flash era disparado
- O chef Jacquin foi mesmo o cupido de toda essa relação? Por isso sempre ficava 'de vela' durante as gravações?
-Nós, como fãs e seguidores de seus trabalhos, merecemos uma resposta, chef! – A jovem entrevistadora novamente levantava sua voz e direcionava mais um microfone para perto deles.
Os gritos aumentavam cada vez mais, e todos começavam a insistir por respostas. Gritavam para que um dos dois se manifestassem e induziam às respostas convenientes à eles.
Paola olhou para Fogaça, expondo todo o medo e pavor da situação. Tremia muito, suava frio e já aparentava estar mais pálida. Eles pediam por respostas, mas assim que os chefs se prontificavam à responder eram esmagados por mais perguntas e argumentações distorcidas. Era difícil negar qualquer coisa, estando sozinhos em um jantar particular, à mercê de conclusões sugestivas. Ela buscou alguma salvação nos olhos de Fogaça, mas o que encontrou foi a chama de sua ira se acendendo sobre as pessoas.
O chef não suportava toda aquela intromissão e sabia que Paola detestava a exposição da mídia. Se quisessem mesmo se livrar de todos estes jornalistas, teria que dar o que eles queriam. Não conseguiam se quer falar algo para se defender, e de qualquer forma, Paola e ele já estavam juntos. O chef não conseguia entender o que havia de tão grandioso no começo de um namoro. As pessoas não começavam a namorar todos os dias? Isso deveria dizer respeito apenas a ele. A única coisa que desejava era que todo aquele murmúrio sobre eles parasse.
Respirava pesadamente quando desviou os olhos de Paola e em um impulso tomou o microfone das mãos da jornalista.
Paola arregalou os olhos. Sabia que ele estava prestes a fazer uma insanidade. Sussurrou seu nome entre dentes, na tentativa de conter suas próximas palavras, mas Fogaça já estava surdo para a razão.
-Se querem mesmo saber... nós estamos ju –
-Justamente nos esperando! – Uma voz se pronunciou, vindo da entrada lateral do restaurante. Não era necessário voltar os olhos para o dono da voz, já que seu sotaque francês era bem reconhecido. De qualquer forma, todos viraram-se para ver Jacquin entrando na sala com uma taça de vinho nas mãos, gritando as palavras. Um pouco atrás dele, Ana Paula também se aproximava andando depressa para tentar alcançar o chef –No é non?!
Paola e Fogaça não tinham o que responder. Não esperavam pela salvação mágica descendo do céu. Ou melhor, entrando pela porta. Os paparazzi esperavam menos ainda. Todos se aquietaram no mesmo instante e pareciam esperar alguma explicação. Ana Paula percebeu que nenhum dos chefs iria se pronunciar e tomou a frente da situação. Utilizando seu lado artístico, fingiu estar ofegante como se tivesse corrido muito:
-Pessoal, nos perdoem pelo atraso. – Ela parou para respirar e “recuperar o fôlego” – Nós estávamos correndo até agora com a equipe da produção e acabamos perdendo o horário!
-Horário para que? – Um dos câmeras dirige a pergunta
-Para nossa reunião, ora! Combinamos de nos encontrar por aqui para acertar alguns pontos da gravação de amanhã. Por que mais Paola e Fogaça estariam nos esperando até agora?! – Ela riu ironicamente, mostrando segurança em suas palavras.
-Que bom que finalmente chegaram! Nós já estávamos ligando! – Paola se pronunciou, levantando em um pulo e entrando na mesma farsa.
-Não era um encontro? – Outro jornalista buscava seu espaço
-Encontro? Entre Pôla e Fogaça? – Jacquin elevou a voz e começou a rir. Ana, Paola e Fogaça o acompanharam
-Muito me admira que jornalistas sejam tão... Influenciados por argumentos de fãs. – Ana Paula rebatia e sustentava o olhar de todos os outros presentes no local.
Sem mais motivos para permanecer, os fotógrafos, colunistas, entrevistadores e toda a companhia foram obrigados a se retirarem do local. Não dirigiram mais nenhuma pergunta para os chefs e a frase final de Ana tornou-se a peça que restava para entenderem que não tinham mais espaços por lá. Com expressões assombrosas e vingativas, fizeram seus caminhos entre xingamentos e murmúrios, reclamando de terem perdido uma grande matéria. Apenas a jornalista da frente continuou em seu mesmo lugar. Ela estava com o gravador desligado em mãos, mas o câmera ao seu lado permanecia à posto. Ela encarava aos chefs e a apresentadora, e demorava seus olhos sobre cada um deles
-Eu não acredito em nada disso! Vocês são péssimos mentirosos. Estou neste ramo há um bom tempo e sei farejar uma boa história. – Ela apontou para Fogaça e Paola, em um tom ameaçador – Podem fingir o quanto quiserem, mas eu vou atrás da verdade até o fim.
-Vocês já podem desligar essa câmera e se retirarem! – Paola respondia em um tom baixo e constante. Não demonstrava o medo real que sentia da situação
-Deixe a câmera ligada. – Ela ordenou ao operador – Não somos obrigados a sair, estamos em um espaço público e eu só saio daqui com a verdade! Uma palavra em falso e vocês serão capa de todas as revistas amanhã de manhã
A mulher sorriu com todo o cinismo de sua alma, olhando triunfantemente para os demais ao redor da mesa que permaneciam sem saber o que dizer. Ela observou o leve tremor de Paola e percebeu que toda aquela fortaleza de segurança estava começando a rachar. Estava prestes a ligar o gravador novamente quando uma nova voz chamou a atenção de todos os presentes. A jornalista não soube dizer de onde aquela mulher tinha aparecido, mas quando deu por si, tinha um dedo apontado em sua direção e um par de olhos capazes de fuzilá-la em segundos:
- Minha paciência com vocês já acabou! Vou dar 5 segundos para vocês se retirarem antes de eu ligar para a polícia – Marcela vinha como um furacão em direção à mesa. Apoiou seu corpo sobre a madeira e apontou um dedo no nariz da jornalista à sua frente. Estava possessa de raiva e transparecia irritação em sua voz. Virou-se para o câmera-man e lhe dirigiu um sorriso aberto, quase trincando os dentes de ira– E desligue esta porcaria de câmera antes que eu transforme ela em sucata
-Você não pode nos obrigar, estamos...
-Eu posso obrigar sim! Vocês estão em um restaurante particular que pertence ao hotel em que estamos hospedados. Nós temos o direito de estar aqui à vontade. E até onde eu saiba, nenhum de vocês dois estão entre os nomes dos hóspedes. Devo chamar o gerente para confirmar isto? –ela levantou os olhos ameaçadores e frios. –Desligue. A. Câmera – Sibilou entre pausas forçadas
O homem obedeceu e desligou o aparelho. A jornalista suspendia o gravador entre as mãos e tinha a boca semiaberta, em estado de choque. Marcela apontou para os dispositivos tecnológicos:
-Aconselho que vocês apaguem tudo o que foi filmado e gravado. Eu sei quem vocês são. Sei pra quem trabalham. E posso assegurar que vou atrás de vocês e de seus patrões com um belo processo em mãos
-Está nos ameaçando?
-Eu? Jamais! – a diretora sorriu docemente – Estou apenas fazendo uma promessa. Deixem algum vídeo ou algum áudio sobre hoje “escapar acidentalmente” e eu juro que “acidentalmente” farei da vida de vocês um pesadelo – Mais um sorriso doce
-Sumam daqui! – Fogaça gritou depois de um momento de silêncio, assustado os dois intrusos. Eles se levantaram com toda a sua bagagem e andaram rapidamente para a porta pisando duro, sem olhar para trás.
Esperaram até que tivessem a certeza de estarem sozinhos. Logo tiveram esta certeza, Patrício apareceu pela mesma porta lateral por onde os demais entraram. Embora o perigo já tivesse passado, nada poderia eliminar o clima tão denso que se alastrava pelo ambiente. Ana Paula percebeu que Paola ainda estava em choque, então passou um dos braços pelos ombros da amiga:
-Está tudo bem?
-É claro que não! – Ela respondeu exasperada, quase gritando. Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro
-O perigo já passou, amiga!
-E foi por muito pouco – Ela concluiu – Como conseguiram chegar no momento exato? Onde estavam? O que aconteceu?
-Paola, se acalma! – Patrício deu um passo à frente – Marcela nos chamou, e pediu para que Ana e Jacquin entrassem com alguma desculpa de atraso. Estávamos vendo tudo lá de fora. Ana tem razão, o perigo já passou. Só precisamos ser mais cautelosos!
-Vou preparar um chá para você! – Jacquin levantou-se e caminhou em direção à cozinha.
Não havia mais ninguém trabalhando àquela hora, mas isso não o impediu de invadir o espaço e tomar conta do ambiente preenchendo o silêncio com barulhos de panelas. Logo voltou com a xícara quente em mãos e passou para a colega. Patrício, Ana e Marcela conversavam ao longe e Jacquin resolveu participar da discussão para deixar o casal à sós por alguns instantes.
Fogaça tomou uma das mãos de Paola entre as suas e entrelaçou seus dedos. Tentava passar calor e segurança, sem dizer coisa alguma por um bom tempo. Como Ana havia feito antes, passou seu braço pelos ombros da chef e a puxou para perto de si. Ela reclinou o corpo sobre ele e deitou a cabeça sobre seu ombro. Quase não conseguia respirar. Fogaça repetia diversas vezes que “Estava tudo bem”. Não sabia se para si mesmo ou para ela
-Não está tudo bem – Ela disse em algum momento de forma que só ele pudesse ouvir
-Mais vai ficar! Nós vamos ficar bem
-E se eles publicarem essa notícia Henrique?
-Eles não seriam loucos
-Não... Louco é você de ter quase contado tudo para eles. Onde você estava com a cabeça? – Ela se levantou e o empurrou de leve. Queria estar mais zangada com ele, queria bater nele, mas nem mesmo a raiva conseguia lugar em um espaço todo dominado pelo medo que sentia.
-Eu sei! Fui apressado e quase falei demais. Mas eu só queria que tudo isso acabasse. Eles não iriam nos deixar em paz
-Você sabe que não é isso que eu quero! Não quero nosso relacionamento exposto desse jeito e você quase entregou tudo de bandeja
-Eu sei... Eu sei. E estou pedindo perdão! Não vamos brigar agora, tudo bem? – Ele puxou-a de volta para si, fazendo com que ela voltasse a se sentar. Não houve resistência por parte da chef, que apenas suspirou em resposta.
-As coisas não devem ser assim. Talvez devêssemos ir mais devagar!
-Pode parar! Eu te conheço muito bem, Paola, e sei onde você quer chegar. Olhe para mim – Ele se afastou de forma que Paola pudesse levantar sua cabeça e o olhar diretamente – Você não pode deixar que eles mandem na sua vida.
-Mas eu não deixo! E olha o que quase aconteceu
-Que se dane! – Ele pronunciou alto – Não vou deixar você fugir mais. Não me importa o que vai acontecer... Você já sabe minha opinião sobre tudo isso. Eu não quero mais perder tempo e deixar de ser feliz. E você?
Paola pareceu pensar nos argumentos de Fogaça, concordando levemente com a cabeça. Quando estava para dar sua resposta, foram interrompidos pelos demais, que voltavam a se aproximar. Patrício foi o primeiro a falar:
-Pessoal, temos gravações amanhã e mais um dia inteiro por aqui. A imprensa não vai nos deixar em paz, vocês já sabem disso. Então eu preciso de uma decisão, e só cabe a vocês dois resolverem algo – O diretor permaneceu em silêncio esperando alguma pergunta. Quando percebeu que nenhuma viria, continuou – Precisamos estar um passo à frente deles seja qual for a escolha
-De qual escolha está falando, Pato? – Paola levantou os olhos para encarar o diretor
-Se vocês querem assumir o relacionamento ou não.
Paola não precisava olhar para o lado para saber que Fogaça ouvia atentamente o que ela teria para dizer. Ele também esperava uma resposta.
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