DNBMA 3
No capítulo anterior....
“Uma esperança que se acabou assim que chegamos a Berlim
E vimos que o Fim do Mundo já havia começado”.
Capítulo Três
Longe dos Estados Unidos, longe de Atlanta, longe de Rick que naquele exato momento saía com seu grupo a caminho da CDC, observamos um grupo de sobreviventes no caminho para entrar na grande cidade de Berlim...
POV: ABBIE
Desde pequena sempre tive objetivos.
Não sei se podiam ser chamados de sonhos, afinal, eram mais sérios. Sempre tive os objetivos de crescer, estudar, ir para faculdade, me formar, criar uma família. Estava tudo planejado, tudo indo pelo caminho certo. E o melhor, eu ainda tinha minhas melhores amigas, minha família para me acompanhar.
Mas, como se para me deixar completamente confusa, há exatos trinta e quatros dias uma pedra aparece no caminho. Ou melhor, uma enorme montanha com milhares metros de altura. Em um de meus dias simples, em que eu e Kathie buscamos Dassa da escola, essa montanha apareceu em forma de dois Walkers.
Por que será que Dassah escolheu esse nome para eles? Não sei dizer, só que gostei.
Naquele momento eu estava com medo, nervosa, morrendo de vontade de correr para casa ver se Johnny estava bem e se ele não tinha virado um daqueles seres estranhos. Quase morri de felicidade quando vi que ele estava bem.
Depois disso foi uma bagunça de acontecimentos, a decisão de ficarmos em casa, a tensão no ar, o ataque ao pequeno Antonin, a divisão da família em dois, e nós partindo para Berlim. Não sei o que todos pensavam que iam encontrar lá, nem mesmo eu sabia. Mas do modo em que estávamos vivendo, acho que todos esperavam encontrar uma fortaleza, uma salvação que fizesse nossas esperanças prevalecer.
Bem... Não foi isso que aconteceu.
- Ah meu Deus – A primeira pessoa que pude ouvir foi Kathie, seu rosto expressava puro choque.
A nossa frente era a entrada de Berlim, com a faixa que se dirigia para fora da cidade lotada de carros abandonados e fedendo a morte. A cidade estava com a mesma aparência. Fumaça subia ao céu, alguns prédios caindo aos pedaços como se bombas os tivessem atingido e nenhum sinal de vida.
Levei um susto quando vi Hadassah tocar seu cavalo e continuar o caminho em direção à cidade, ela apertava fortemente sua pistola assim como eu e Kathie. Então seguindo seu exemplo fui ao seu lado e logo Kathie fez o mesmo. Estaremos sempre juntas, e não importava em qual situação. Então sem nenhuma palavra adentramos na cidade.
Era inevitável procurar por algum ser vivo, era um instinto humano que se manifestava inconscientemente. E assim eu fiz, meu olhos não paravam quietos a procura de qualquer sinal. Mas nada, tudo vazio.
Eu fico me perguntando o porquê de não termos ganhado armas melhores, afinal, estávamos na linha de frente, nada mais justo. Desde pequenas, eu e as meninas aprendemos a manusear armas de fogo, acho que isso sempre esteve no sangue de nossa família, todos sabem caçar. Um exemplo são meus tios, Fritz que possui um arco e Dievon que tem uma besta, são os tesouros deles.
Fico me perguntando também como até agora não encontramos tantos Walkers, pois se tantas pessoas se transforam naquilo, onde elas estão?
- Socorro!
Demorou para eu finalmente entender que alguém estava gritando, era como se fosse uma pegadinha. Quando eu finalmente caio na real fiz Night correr para a direção onde eu havia ouvido o grito. As meninas me seguiram e também pude ouvir o som dos pneus dos carros nos seguindo.
Depois de cruzarmos alguns quarteirões finalmente pude ver a causa do grito. Um homem estava cercado por um grupo de dez Walkers, e estava sem arma. Com o alívio de encontrar uma pessoa comecei a atirar nos mortos-vivos.
Com a ajuda das meninas rapidamente todos os Walkers logo estavam mortos. Não demorou a nós três descermos dos cavalos e alguns adultos saírem do carro na direção do homem que agora estava sentado no meio da rua.
- O senhor está bem? – Soltei quando me aproximei – Te morderam?
Ele então finalmente levantou seu rosto para nos encarar, um asiático com uns quarenta anos. Ele era como o renovar de nossas esperanças, de que pelo menos havia alguém vivo, mas seu rosto era de pura angústia.
- Não, me morderam – Ele falou e todos nós suspiramos ao ver ele mostrar o enorme machucado na perna – Por favor, não me deixem aqui, não quero virar um daqueles monstros – Ele falou desesperado – Temos que sair daqui, suas armas vão chamar mais deles, eu conheço um lugar seguro.
Olhei para Dassah e Kathie que retribuíram o olhar. Mas é claro que não o deixaríamos, não teríamos coragem.
- Está bem – Meu pai se pronunciou – Charles e Andrew, me ajudem a levá-lo para o carro, vamos para esse lugar, e meninas fiquem vigiando com Heiko e Alex – Assentimos e nos separamos para vigiar os carros.
Nossa sorte era o treinamento que fizemos com nossos cavalos, podíamos deixa-los sozinhos que os mesmos não saiam do lugar sem nossa permissão. Em pouco tempo eles conseguiram colocar o homem dentro de um dos carros e logo voltamos a se movimentar. O asiático nos disse que em alguns quarteirões existia um armazém, onde o mesmo estava morando.
Fomos até o local ainda mais em alerta, aquele grupo de Walkers podiam se repetir em qualquer momento, e talvez até maior. O lugar era antigo, mas seguro, era possível ver que o tal asiático havia arrumado o lugar.
- Vocês acham que é certo confiar nele? – Depois de tanto tempo finalmente Hadassah abriu a boca, ultimamente ela anda muito quieta.
- Acho que sim, ele está morrendo, a única coisa que podemos fazer é ajuda-lo – Kathie disse.
- Concordo com Kathie, vamos apenas ficar de olho também – Falei.
Com bastante cuidado todos estacionaram os carros rente ao armazém e nós levamos os cavalos dentro do lugar, era de certa forma aconchegante e a enorme porta era bem resistente. Depois de conferirmos se a porta estava bem fechada, nos aconchegamos no centro do armazém com nossos sacos de dormir, cada um indo de cada vez ao pequeno banheiro do lugar e o homem que disse se chamar Yuri confirmando que o lugar era seguro.
- Desde que tudo começou estou aqui, não há perigo – Ele disse – Fui emboscado apenas por sair em busca de suprimentos – Suspirou derrotado.
Vô Nicholas já havia enfaixado a mordida em sua perna, ele estava descansado em uma confortável cadeira que já tinha ali.
- Você pode nos dizer o que sabe? – Heiko se pronunciou – Viemos de uma fazenda há pouco tempo, quero saber mais sobre o que aconteceu.
Acho que ele falou pela família naquele momento, todos nós queríamos saber mais. Yuri então assentiu e começou a falar:
- Ninguém sabia direito o que estava acontecendo, eram poucos ataques e chamavam de ataques canibais, mas o que acontecia em seguida era o problema, os totalmente mortos eram enterrados e depois de um tempo eles voltavam, já os mordidos adoeciam e voltavam para atacar os vivos - Ele suspirou – Eu estava pronto voltar a meu País de origem quando a energia caiu e não era mais permitido viagens.
“Como de uma só vez ataques pioraram, as grandes cidades tomaram então um plano: atacar as grandes cidades com bombas, e foi ai que a coisa ficou feia. Estamos em uma região que por sorte não foi atingida, fiquei escondido aqui o tempo todo. Há pouco tempo encontrei um grupo que me contou que sabiam de um lugar onde tinham a cura para tudo isso.”
“Eles não seguiram para lá, mas eu planejava sair amanhã, só precisava pegar mais alguns mantimentos, mas como viram, não deu muito certo.”
Ele se aconchegou mais na cadeira, seu rosto mostrava que a mordida estava doendo muito, e já se podia ver os sinais de febre.
- Você disse cura? Pode nos contar mais sobre isso? – Vó Lucy perguntou.
- Sim, e engraçado que seja justo o país que eu estava indo, Japão, lá encontrarão a cura – Ele confirmou – Aconselho todos vocês que sigam para lá, pode ser longe, mas sei todos os modos de ir e posso ensiná-los.
Eu gostei muito daquela ideia, pensar que uma cura ainda poderia existir é um grande conforto e alívio. E não me surpreendi por ver toda a sala concordar com a ideia, e em pouco tempo todos prestavam atenção em Yuri sentado no centro do circulo com vários mapas explicando tudo.
- O melhor modo é vocês evitarem as cidades grandes, a maioria são infestadas de monstros – Ele disse apontando para o caminho – Lembrem-se de sempre acertarem na cabeça, pois só assim eles morrem, e sempre prefiram usar facas às armas, pois elas não chamam mais deles – Todos assentiram – E mais uma coisa: Quem morre vai voltar como eles, não importa se foi por causa natural, vai voltar, estamos todos infectados.
Depois de longas horas de explicação fomos dormir apenas tio Andrew e vô Nicholas ficaram acordados, para vigiarem e cuidar de Yuri. Dormi agarrada a meu irmão, ele não ia admitir, mas estava com medo, e eu iria protegê-lo com toda minha vida, não deixaria que o machucassem.
Naquela noite não sonhei com nada, meu cérebro estava tão cansado que nem se deu o trabalho de sonhar. Fui uma das primeiras a acordar, todos ainda começavam acordar, me levantei e fui direto para o banheiro me arrumar, deixando Johnny dormindo. Tomei um banho rápido por causa da água fria, coloquei uma calça simples, uma blusa regata, uma jaqueta quentinha e minha bota preta. Assim que sai do banheiro todos já tinham acordado.
- Vamos tomar café da manhã? – Perguntei para Katherine e Hadassa que também já estavam prontas, elas assentiram e fomos para onde estava nossa pequena mesa de café, que consistia em algumas frutas que trouxemos e café feito a pouco tempo.
Estávamos seguindo os conselhos de Yuri, de sempre pouparmos comida. O mesmo se encontrava em um canto do armazém, conversando com os adultos, ele pediu para que quando formos embora, o deixássemos ali, que ele mesmo se viraria sozinho.
- Estão prontas para a viajem meninas? – Perguntei.
- Acho que sim, é estranho pensar que a primeira vez que vamos sair do país é por causa de Walkers – Disse Kathie – Só de pensar que existe uma cura me anima – Ela sorriu.
- Verdade, mal posso esperar para chegar lá, vai ser quase uma viajem da idade média, sem energia alguma – Dassah disse – Vamos sempre ficar juntas, né? Nunca nos separaremos!
Concordamos e continuamos a conversar até nos chamarem para voltar à estrada. Seria uma primeira viagem de quinze dias até Moscou, em que passaríamos por vários países e até pelo litoral da Polônia. Logo depois eram meses passando por países até chegarmos em Vladivostok, litoral em que partiríamos de barco até o Japão.
Todos com suas energias cheias e uma vontade imensa de conseguir a cura para tudo que acontecia se dirigiram para os carros enquanto alguns permaneciam de vigia caso qualquer Walker aparecesse. Como antes, eu e as meninas ficamos na linha de frente e agora com armas melhores. Logo estávamos em movimento, deixando Yuri para sempre.
Rumo à cura.
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Não posso dizer que aquela viagem foi calma, pois nossa natureza humana dizia que encontrar algumas pessoas mortas-vivas no caminho não é algo calmo. Mas, afinal, quem se importava mesmo com a natureza humana em tempos como estes mesmo? Não sei.
É estranho pensar que nossa família havia nos deixado na de frente, que como todos sabem, era algo importante. Estar ali era ficar a muitos metros em frente, quase sem poder ver os que estão atrás, somente para se algo acontecer, podermos avisar e proteger.
Isso dava uma sensação de importância, de que confiavam em nós. Mas ao mesmo tempo existia aquela vozinha maligna que insistia em afirmar que era apenas por não valermos nada, que se algo de ruim acontecesse que fosse a nós. Estou sempre fugindo dessa voz cada vez mais presente em minha vida.
Esses dias foram resumidos em nós sempre na estrada, dormindo em casas ou armazéns antigos que conseguíamos limpar e matando Walkers, queríamos chegar logo. Essa rotina cansativa logo resultou em nós chegando rapidamente no litoral da Polônia.
- Vamos passar a noite aonde? – Perguntei para as meninas assim que vi que estava escurecendo – Não estou vendo nenhum abrigo por aqui!
- Vamos perguntar para eles – Hadassah disse referindo-se aos adultos.
Esperando eles chegarem até nós, o primeiro carro, que estava a família de Dassa, abaixou o vidro.
- Como vamos fazer essa noite? Não achamos nenhum abrigo e esta anoitecendo – Katherine falou.
Tio Andrew pensou um pouco antes de responder:
- Está bem calmo hoje, vamos seguir em frente na noite para ver se encontramos algo, fiquem atentas – Ele disse e assentimos, voltando para nosso lugar.
Acho que não sei se devíamos ter acampado em algum lugar ou continuado mesmo. Apenas seguimos silenciosamente enquanto o breu ia tomando a estrada. Era possível sentir o cheiro do mar perto de nós, aposto que se tudo isso de Walkers não tivesse acontecido, estaríamos saindo da praia, rumo a algum hotel.
Quando se está em um mundo caindo aos pedaços, pensamos em certo momento que somos as últimas pessoas da Terra, que só sobramos nós. Esse pensamento foi brutalmente retirado de nossas cabeças assim que ouvi o som de uma bala passar ao nosso lado. Estavam nos atacando.
- Cuidado! Atirem! – Gritei para as meninas, que logo já sacaram suas armas.
Fomos atirando no escuro, sem saber o alvo, que continuava a atirar.
- Hey! Parem! Estamos do mesmo lado! – Pude ouvir alguém gritar – Nós nos rendemos!
- Então apareçam! – Gritei.
Quando comecei a atirar, jurei que eram poucos, mas assim que vi umas quinze pessoas vindo em nossa direção percebi que estava errada. O que parecia ser o líder veio na frente, com as mãos levantadas.
- Queremos conversar! Estamos do mesmo lado, não precisamos lutar – Ele disse – Desculpe-nos pelo jeito os recepcionamos vocês, ficamos um pouco assustados.
Olhei para as meninas, perguntando silenciosamente o que achavam. Hadassah mantinha uma expressão desconfiada, já Kathie estava pronta para abaixar a arma.
- Coloquem suas armas no chão, e então pensamos em conversar – Hadassah disse, e logo eles fizeram isso – Vou chamar alguém meninas, fiquem atentas.
Não demorou a ela voltar, sendo seguida pelo carro de sua família. E saiu dele somente tio Andrew.
- Disseram que queriam conversar, o que seria?
- Vocês sabem que nosso verdadeiro inimigo são aqueles mortos-vivos, podemos nos juntar, quanto mais pessoas, melhor – Ele disse – Meu nome é Marco, e esta é minha família, e vocês?
- Sou Andrew e aquela é minha família, estamos indo para bem longe, em busca da cura, gostariam de nos acompanhar? – tio Andrew disse.
- Cura? Vocês estão falando de ir para o Japão? Pensamos em ir até lá – Marco disse – Mas estamos indo para os Estados Unidos, temos um abrigo perto de Atlanta, vamos acampar perto daqui esta noite, venham conosco – Ele ofereceu.
Então em pouco tempo nossa pequena caravana seguia o grupo para uma área bem aberta perto de uma floresta, era protegido com arames farpados e tinha alguns vigias espalhados. No centro alguns trailers estavam estacionados e um grupo fazia alguma comida em uma fogueira. Pelo jeito eles não planejavam ficar muito tempo aqui.
- Este é nosso grupo, sejam bem-vindos – Marco disse – Podem estacionar os carros em volta, trazer os cavalos para dentro e armar barracas perto da fogueira – Ele instruiu – Depois podem vir conversar comigo – Então ele saiu.
Era impressionante como ele confiava em nós, deixando que entrássemos no seu acampamento calmamente. Arrumamos tudo e logo fomos para a fogueira, onde Marco conversava com sua família.
- Então, o que gostariam de saber? – Ele pergunta.
- Vocês falaram de ir para os Estados Unidos, mas como? – Vó Lucy perguntou.
- Meu pai era dono de uma agência de navios, vamos pegar um deles e partir, lá temos uma fortaleza construída pela minha família, recebi a notícia para irmos lá, mas os aviões haviam sido parados junto com os navios – Ele explicou – Planejávamos partir para o Japão quando descobrimos a cura, mas desistimos a fim de proteger nossa família.
- Devíamos ir com eles, é mais seguro – Minha avó fala – Ir para o Japão é quase suicídio, mesmo que tenhamos o plano.
E então, pela primeira vez, alguém se opõe a ela.
- Não, se há alguma chance de acabarmos com tudo isso de Walkers, não vou ignorar – tio Andrew fala, já firmando sua opinião – Nada nos impede de ir ao lugar que queremos, podemos nos encontrar novamente.
Vejo Marco se manter quieto diante de nossa discussão ao mesmo tempo em que todos se calam pensando no que tio Andrew falou. Era realmente angustiante, pois havia alguns que queriam a segurança, já outros a cura.
- Bem... Já que é assim, por que não deixamos os mais fracos para os Estados Unidos e os mais fortes para o Japão? – Ouvi Saymon falar.
Então o silêncio perturbador ficou pior, eu sabia o que significava, todos concordaram com a ideia. Ao mesmo tempo em que concordavam em fazer aquilo, assinavam o destino de separar a família. Em minutos eu os ouvia decidindo quem ia e quem ficava. Eu apenas torcia para ir.
- Mulheres casadas e seus filhos vão para a América, as solteiras podem decidir sozinhas e os homens vão para o Japão – Simplificou tio Saymon – Meninos, vocês vão com sua mãe – Ele disse se virando para Alex e Heiko, logo provocando um pequeno tumulto dos dois.
Virei-me para Kathie e Dassah, as duas se mantinham pensativas. Eu ia, sem nenhuma dúvida, já tinha idade suficiente. Afinal, se havia alguma cura, iria lutar para conseguir ela e trazer o mundo de volta para meu irmão e eu podia apostar que minhas duas amigas pensavam o mesmo.
O problema era Hadassah, ela era nova demais, ainda tinha doze anos e provavelmente tio Andrew não a deixaria ir. Ela era teimosa, não iria desistir. Olhei para seu rosto em busca do que pensava, e vi apenas uma confusão de sentimentos. Ela sabia que ir para o Japão era um possível adeus para sua mãe e seu irmão.
- Se vocês estão dispostos a deixarem parte de seu grupo ir conosco, estou disposto a deixar alguns dos meus com vocês – Marco falou – E deixarei um mapa do lugar de nosso acampamento na América com vocês para quando voltarem.
E ali estava resolvida, uma decisão que contrariava sempre seguirmos vó Lucy, algo importante. Todos começavam a falar, conversar e decidir quem ficava e quem ia. Meus pais olhavam para mim com a expressão de quem sabia o que eu queria.
- Abbie, o que você decidir, nós entenderemos – Meu pai disse – Você quer ir comigo, ou com sua mãe e seu irmão?
Era torturante isto. Antigamente eu pensava que a maior decisão de minha vida seria qual emprego eu trabalharia. Mas ali percebi que aquilo era uma brincadeira de bebê comparada a agora. Respirei fundo e disse:
- Por mais que eu saiba como você vai ficar Johnny, eu tenho que ir – Falei olhando para seus olhos cheios de lágrimas – Tenho que te trazer o mundo de volta, quero que cresça feliz, sem Walkers. Não estou de abandonando, apenas dizendo um “até logo”, Okay? Prometo que voltarei para você – Então olhei para meus pais – Vocês não sabem o quanto amo vocês, e lutarei por nós.
Logo senti os braços de todos em volta de mim, e retribuí.
- Nós te amamos querida, e estamos muito orgulhosos de você – Minha mãe disse – E prometam que você e seu pai irão se cuidar, está bem?
Nós assentimos e voltamos a conversar, aproveitando o tempo que tínhamos juntos. A calmaria durou assim que ouvi tio Andrew abrir a boca.
- Hadassah, vá ajudar sua mãe e seus irmãos a arrumarem as coisas para vocês irem para os Estados Unidos.
- Pai. Eu não vou com eles – Ela disse firme – Vou junto para o Japão.
- O quê? Está doida? É claro que não vai! Agora vai logo, temos que dormir ainda.
- Não! Eu vou ajudar pai, sou grande o bastante – Ela disse nervosa, seus olhos estavam vermelhos, ela não queria chorar – Por favor.
Todos se mantinham em silêncio, observando a cena a nossa frente, esperando a resposta de Andrew. Ele respirou fundo, estava decidindo o futuro de sua única filha mulher e deixando sua esposa com filho irem para outro continente, era muita pressão.
- Está bem, você vem, mas vai ficar perto de mim, entendeu? – Não preciso nem falar que ela concordou, não é?
Claro que estava preocupara, uma coisa era eu e Kathie, podíamos nos cuidar, mas eu tinha medo por Hadassah e não queria que ela se machucasse. O resto daquela noite foi só naquilo, nós fazendo os planos. O grupo de Marco tinha vinte e uma pessoas, seis iam com mais quatorze de nós para o Japão, enquanto isso quatorze outros deles iam com vinte e um dos nossos para os Estados Unidos. Muita gente seguindo lados opostos do mapa.
Marco também nos entregou mapa com as coordenadas, e caminhos que levavam direto para a tal fortaleza na América, localizada na região de Atlanta, se não me engano. Tudo estava pronto, íamos sair pela manhã e ir ao porto de uma cidade chamada Stogi, a algumas horas desse acampamento improvisado.
Neste momento, umas onze da noite – se meu antigo relógio de pulso estiver certo – estávamos apenas eu, Kathie e Dassah em volta da fogueira. Todos tinham ido dormir, apenas outros mantinham a guarda em volta do lugar. Nós três mantínhamos uma conversa de poucas palavras, perdidas em pensamentos.
- Não podemos levar os cavalos – Ouço Kathie dizer – Seria maldade força-los a fazer uma viagem perigosa, eles poderiam até morrer.
- Sim, você está certa, eles vão no navio – Falo.
Então o silêncio volta. Parece uma sombra monstruosa que nos engole cada vez mais. Uma sombra afastada com o som de um soluço. Levanto meus olhos da bota suja e encaro a fonte do som, Hadassah, ela estava chorando.
- Por que isto tem que acontecer? Por que temos que nos separar? – Ela colocou as mãos nos olhos, tentado impedir o choro – Eu só queria voltar a minha vida normal.
Eu estava realmente desconcertada, era a primeira vez em muito tempo que não a vejo chorar, ela estava acabada. Eu entendo o que ela estava passando, pois isto também acontece comigo. Levantei-me e fui até ela e a abracei, não demorou para Kathie fazer o mesmo.
- Hey, calma Dassah, nós te entendemos – Eu disse.
- Pode desabafar – Completou Kathie.
Ela se afastou para secar inutilmente as lágrimas, então respirou fundo antes de falar com a voz fraca:
- Só estou estressada, tudo de ruim está acontecendo. Primeiro tivemos que deixar a fazenda e agora vamos nos separar, é tudo tão chato, saber que estamos tendo que lutar contra pessoas que deveriam ter o direito de descansar em paz – Ela desabafa – Temos que deixar nossas mães, nossos irmãos, até mesmo Alex! Isso não é justo!
Eu entendia, ela estava nervosa além de por ter que deixar a família, mas também por ter que deixar Alex. Os dois, mesmo entre brigas e discussões possuíam uma grande relação, eram melhores amigos. Olhei para Kathie e vi que ela também sabia disso, agora o que podemos fazer é acalmá-la.
- Olha, não podemos melhorar nada, mas pense Dassah, você estará lutando por todos que ama, você vai lutar por Alex e vai voltar para ele com a cura, Okay? Agora levanta essa cabeça que você não é assim? Vamos lutar fofa, sempre juntas! – Falei, e levantei-a.
Pude ver um sorriso em seu rosto, ela ia ficar bem, todas nós íamos.
- Juntas! – Dissemos juntas.
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Após o “momento de levanta animação” de ontem, fomos dormir. Novamente agarrei-me ao meu irmão, ainda mais sabendo que pode ser a última vez que durmo abraçada a ele. Ele parecia um ursinho de pelúcia quando dormia, sempre sorrindo inocente.
Acordei quando todos já estavam em pé, fui tomar café da manhã e ajudar todos a arrumar as coisas. Foi impressionante a velocidade em que todos juntaram suas coisas e estavam na estrada, isso sim que era uma caravana, com trailers, carros e até cavalos juntos. Devia ser meio-dia quando chegamos a Stogi.
A cidade estava com o mesmo estado de Wittenberg, com vários cadáveres em decomposição pelo chão e casas abandonadas e alguns Walkers pelo caminho. Foi engraçado quando duvidei se existia mesmo um porto ali pela falta do barulho de motor.
Logo podíamos ver o porto, ficava bem escondido em um terreno particular. Quando falaram sobre navios da família, não imaginava que seriam tão grandes, confirmei minha ideia que aquela devia ser uma família grande de tudo.
Vi eles limparem o lugar de Walkers, navios foram vasculhados e colocados em ordem, vigias cuidavam do lugar, e aos poucos todos iam se despedindo. Os cavalos já bem acomodados, trailers e carros divididos igualmente entre os grupos. Já anoitecia quando o navio ia sair, vi Kathie abraçar fortemente todos, principalmente sua mãe e seu irmão. Hadassah se segurava para não desatar em choro enquanto abraçava sua mãe e seu irmão, eles ficaram assim por um bom tempo, até mesmo tio Andrew se juntou ao abraço de família.
Minha despedida foi bem emocional, minha mãe sempre perguntando se não me esqueci de nada e para tomar cuidado.
- Vou sentir saudade Bie! – Johnny me disse com aqueles olhos de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança.
Peguei-o no colo e abracei fortemente.
- Eu também vou sentir muito saudade Johnny, promete que vai se cuidar? Que vai fazer tudo que a mamãe mandar? Que ficará longe dos Walkers? – Perguntei, ainda o abraçando forte.
- Prometo! Eu te amo mana! – Ele disse, colocando o rosto em meu pescoço.
- Eu também te amo muito baixinho!
Após isso foi apenas choro de todos. Era torturante ver o navio se afastando lentamente, todos se despedindo. Mantive-me ao lado de minhas melhores amigas enquanto observávamos o navio sumir no horizonte.
Aquele sim era o momento.
O momento que nossa aventura iria começar.
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