História Do not bring me flowers - .olhe para mim

Em uma das lanchonetes bem frequentadas de Seoul, você pode ver Jeon Jeongguk ou Jeongguk, apenas.

Ele pode parecer um garçom dentre todos daquele estabelecimento, mas Jeongguk tinha algo especial; tinha a voz de um anjo.

Um garoto tímido, porém educado, trabalhava a noite na lanchonete do irmão da sua cunhada - Kim Namjoon - na tentativa de juntar o máximo de dinheiro possível para enfim ir cursar a sua tão sonhada faculdade de música.

Jeon adora compor, mas é tímido demais para cantar abertamente seja lá para quem for e então prefere apenas cantar baixinho nos momentos de distração, onde julgava que só ele mesmo estivesse escutando e bom, seria mesmo se Namjoon não fosse tão bom ouvinte do mais novo. Encantava-se com o pouco que ouvia e tinha planos de fazer todos do pequeno local apreciar a voz doce de um garoto tímido - porém, muito talentoso -, tanto quanto ele apreciava.

Encarava o garoto que atendia algumas mesas e percebia que não só a sua voz era encantadora, mas como todo o seu ser; todos os clientes o adoravam e faziam questão de dizer para Namjoon o quão sortudo ele era por ter um garoto tão cheio de vida dentro do pequeno estabelecimento.

Em um click repentino, enquanto Jeongguk se aproximava novamente do balcão, correu para dentro da cozinha pedindo ajuda para Seokjin – o cozinheiro -, lhe perguntando onde o mais velho colocou a pequena caixa de som e os microfones que haviam usado á duas semanas atrás e correu novamente assim que recebera a resposta. Seokjin apenas riu, sabia que o amigo estava aprontando algo.

Do outro lado da porta, Jeongguk batucava os seus dedos no balcão enquanto imaginava uma nova melodia em sua mente, eram assim todos os seus dias, saia de casa por volta das quatro da tarde, corria para a lanchonete a tempo de chegar para arrumar a bagunça do almoço, a noite se arrastava e ele atendia os clientes com o bom humor que tinha. Gostava do seu emprego, embora não pretendesse ficar ali para sempre, tinha os seus sonhos e suas vontades, mas não podiam reclamar do que lhe foi dado de mãos beijadas e sem nenhum esforço de sua parte, gostava das pessoas que frequentavam o local e sentia que ali era sua segunda casa.

- Jeon? – Jeongguk deu meia volta e olhou para Namjoon que segurava um microfone em suas mãos enquanto plugava o mesmo na pequena caixa de som. Ele sorria sugestivo para o garoto. – Que tal você cantar um pouco hoje? Deu um problema com as caixas de som e está tudo muito quieto, creio que sua voz ajude a animar! – Jeongguk olhou para o microfone preto nas mãos largas de Namjoon e o nervosismo percorreu por suas veias; via Namjoon lhe estender o microfone cada vez mais e com um sorriso ainda mais aberto em seus lábios.

Meio hesitante, pegou o microfone das mãos do loiro e se pôs a frente da caixa de som, percebera o olhar atento de todos os presentes no estabelecimento e sorriu nervoso, uma coisa era cantar ali sem ninguém perceber outra coisa era cantar e ser o centro das atenções.

Namjoon apertara o botão do aparelho eletrônico e então começou uma melodia muito conhecida por si. Escutara alguém no fundo comentar animado “Eu amo essa música” e então começou a cantá-la logo após.

Todos lhe encaravam surpresos; o garoto de madeixas negras tinha seus olhos fechados e cantava com todo o seu ser, amava aquela musica tanto quanto a menina que se pronunciou mais cedo e cantá-la na frente de tantas pessoas lhe deixava nervoso, afinal, só quem o escutou até hoje foram ás paredes de seu quarto.

Abriu os olhos imediatamente devido ao susto que levou quando a porta principal da lanchonete abrira rapidamente, era um garoto, devia ter mais ou menos a sua idade, madeixas claras e de corpo magro; parecia apressado, já que nem sequer olhou para as pessoas a sua volta ou para si.

Ficou curioso no minuto seguinte, ele tinha um livro em mãos, não lhe encarou um segundo sequer, parecia existir apenas ele e o seu livro e Jeongguk se perdera imensamente naquele garoto que sequer lhe deu atenção.

Terminou a música e lhe deram uma salva de palmas, porém o que lhe chamou atenção no meio das tantas pessoas, fora que o garoto de pele morena e madeixas claras nem mexera um músculo.

E aquilo, por algum motivo, o deixou para baixo.

E assim os dias foram se arrastando, Jeongguk passou a cantar todos os dias uma música diferente, vezes animadas e vezes melancólicas, mas nenhuma tinha um significado qualquer, todas eram escolhidas a dedo porque não era apenas para serem cantadas, eram para transmitir a mensagem para alguém, eram para transmitir para o cliente frequente de pele morena e madeixas claras os seus sentimentos que até então eram novidade até para si.

Cantava especialmente para ele, deixando sua timidez de lado e ás vezes arriscando fazer alguns passos fajutos de dança, mas não era notado, não por quem gostaria. Quem lhe chamava a atenção, para quem ele cantava as músicas, não tirava os olhos de um bendito livro que carregava consigo em todas as refeições.

Terminou mais uma vez uma de suas canções e perdera as esperanças quando vira o mesmo com o olhar fixo em seu livro. Novamente.

Não sorriu.

Não agradeceu.

Apenas soltou o microfone e caminhou até a cozinha onde Seokjin e Yoongi – outro garçom – conversavam animadamente enquanto arrumavam alguns temperos nas prateleiras. Não perceberam a presença do mais novo ali e Jeongguk nem queria, estava chateado demais para sequer abrir a boca.

Para Jeon não se trata apenas de cantar a música certa, mas sim de cantar para a pessoa certa.

- Jeongguk, ei. – O mais novo piscou os olhos rapidamente enquanto fixava sua atenção no garçom a sua frente. – Não te vimos ai, mas te ouvimos cantar e você realmente tem uma bela voz!

- Obrigado. – Sorriu timidamente enquanto Yoongi bagunçava os fios de seus cabelos.

O garçom logo saiu da cozinha e Jeongguk vira pela fresta da porta que o garoto pelo qual estava encantado tinha companhia, era um belo rapaz de madeixas também claras, muito bonito por sinal, mas ninguém conseguiria – em sua opinião - ser tão belo quanto o garoto de pele morena.

Num pulo saíra de onde estava para observar ainda mais de perto os dois jovens. Estava levemente curioso por seus dedos e suas mãos se mexerem tanto, ficaria ainda mais curioso ao ponto de se aproximar, porém o viu sorrir e parecia naquele momento que não existia mais nada dentro daquela lanchonete que não fosse o garoto e o seu sorriso um tanto quanto quadrado.

Jeongguk julgara ser o ser mais bonito que já vira em todos os seus vinte e um anos de existência, parecia ter sido esculpido com toda a delicadeza do mundo. Sabia o quão bonito ele poderia ser, mas não imaginava que seria ainda mais com expressões alegres em sua face.

Namjoon observava tudo em silêncio com um sorriso peculiar nos lábios, sabia desde o primeiro momento qual fora o efeito do cliente frequente sobre o garçom, mas não queria se intrometer, achava que se fosse para ser, seria. Porém, por mais que Jeongguk olhasse para os dois garotos, não parecia cair em si sobre o real significado do porque o garoto não lhe dar bola.

Em um dos seus clicks teve uma ideia e logo anunciou que iria sair e voltaria logo. Só os deuses sabiam o que Namjoon faria fora a essa hora.

Jeongguk apenas murmurou um “ok” e voltou a acompanhar os passos dos dois loiros – que agora estavam pagando para enfim ir embora – e se perguntara se era invisível ou algo do tipo, ele nunca o aplaudia ou parecia se importar com a sua voz ecoando por todo o local. O garoto de cabelos negros começara a sentir-se angustiado, e se o homem que estava o acompanhando fosse o seu namorado? Ou se ele fosse hetero? Ele era muito bonito para ser alguém sozinho.

Balançou a cabeça freneticamente e notou que já tinham se passado minutos já que não havia ninguém na lanchonete e Yoongi fechou a porta do estabelecimento assim que Namjoon voltara, exausto. Ele segurava um livro em mãos e tinha um sorriso no rosto.

- Jeon, tenho um presente para você! – Namjoon lhe entregou um embrulho. – Espero que entenda o recado. – Jeongguk abriu o embrulho rapidamente e ficou boquiaberto ao ler o titulo.

“Curso básico da linguagem dos sinais”

- E-eu, é para o? E-eu... – Jeongguk não sabia ao certo o que falar; então todos aqueles movimentos nas mãos significavam aquilo?

- O nome dele é Taehyung, Kim Taehyung! – Jeongguk sorrira, é um belo nome, pensou. – Aquele que estava com ele se chama Park Jimin, eles são amigos e o Taehyung, bem, ele é...

- Surdo? – Namjoon concordou, não esboçara nada. – Isso explica tudo!

- Estude e cante uma de suas músicas para ele, eu sei que ele irá adorar. – Jeongguk abrira o livro de imediato e lera as primeiras palavras do mesmo. – Antes que me pergunte enquanto você estava na cozinha eu me permiti atrapalhar os dois. Park me respondeu tudo de imediato e de quebra descobri que Taehyung é bi então novamente tudo está vindo de mãos beijadas para você!

- Eu não sei como te agradecer hyung – Jeongguk o abraçou timidamente e Namjoon bagunçou-lhe os cabelos.

- Você cantando aqui na lanchonete e sendo feliz  é a sua forma de agradecimento. Você é como um irmão mais novo para mim Jeon, todos são como minha segunda família, preciso que todos estejam saudáveis e felizes.

- Aigoo Namjoon, não vai nos fazer chorar agora, vai? – Murmurou Yoongi que recebeu um peteleco de Seokjin.

- Acho que você deve começar estudando agora, Jeon. – Seokjin se aproximou do garoto. – Nosso expediente acabou, eu e o Yoongi fechamos aqui, não é mesmo?

- Sim hyung. – Yoongi sorrira e Jeongguk fizera o mesmo.

Apertara o livro nos dedos e saíra em disparada para sua casa, não era longe, umas duas ruas abaixo, então optou por correr. Não sabia por que se sentia feliz, ainda achava loucura se apaixonar por um garoto que ao menos teve um contato direto, que ao menos lhe olhara de volta. Sabia que estava apaixonado e tinha que aceitar aquilo, era o que dizia para si mesmo, era o que queria.

Quando chegou a casa, tirou os sapatos rapidamente de seus pés e correu para o seu quarto em busca de uma letra simples, porém, sincera. Soltou um riso quando a encontrou e abriu o livro encima de sua cama, sentou-se em posição de índio e começou a estudar.

Em três dias Jeongguk anunciou para Namjoon que estava pronto, disse para seu hyung que estava nervoso também.

“E se ele não gostar hyung?” Jeongguk lhe perguntou várias vezes e Namjoon só sabia rir, acreditava que Jeon iria encantar o garoto de todas as formas possíveis, vira o garoto de madeixas negras ensaiando e o quão perfeito estava só bastava ter confiança em si mesmo.

E então a hora havia chego, Jeongguk travou assim que vira Taehyung adentrar o local como em todas as outras vezes, não lhe encarando.

Jeon acompanhou os passos do outro e levou um susto quando viu Namjoon tirar o bloco de notas de sua mão e lhe entregar o pedestal do microfone junto com o mesmo. Olhou para trás e viu Yoongi desligar todas as luzes do local e das mesas deixando apenas a de Taehyung ligada, o garoto de madeixas claras rapidamente tirou a atenção do menu e olhou para frente percebendo a atenção do garçom voltada para si.

Jeongguk fez um sinal com as mãos pedindo para o garoto esperar um segundo e sorriu tímido logo depois.

Taehyung soltou o cardápio de suas mãos e entrelaçou os dedos uns no outro olhando para o garoto de cabelos negros a sua frente.

E então, Jeon começou o seu show.

Você ilumina este lugar

O garoto apontou para Taehyung e logo depois levou os dois indicadores para cima fazendo um circulo.

Você nem imagina o quanto

Levou as duas mãos com os dedos colados um no outro até sua cabeça e depois os afastou as duas rapidamente fazendo logo depois uma careta triste.

A única coisa que posso fazer

E mais um de seus gestos fora apreciado por Taehyung que olhava o garoto com vislumbre.

É deixá-lo em paz.

As duas mãos foram para frente e logo voltaram, Jeongguk passou sua mão direita por baixo da esquerda com o indicador apontado para cima. Sorriu tímido quando encarou Taehyung.

Não me traga flores

Você se preocupa demais.

Taehyung olhou timidamente para baixo e soltou um riso fraco.

Oh meu amor, saber que você me veja

E Taehyung fora rápido com suas mãos em lhe mostrar que o via.

É o suficiente.

Podemos dançar pela cozinha, a luz de velas.

Você pode me fazer um anel com a tampa de uma garrafa de leite.

Quando o dinheiro acabar talvez nos entenderemos o significado das coisas.

Você ilumina este lugar

Você nem imagina o quanto

A única coisa que posso fazer

É deixá-lo em paz.

Quem precisa de chocolates? Champanhe e todas essas coisas.

O meu amor, saber que você me ama é o suficiente.

Jeongguk fora aplaudido. Não ousou encarar um segundo sequer Taehyung, estava com medo, embora soubesse que o mesmo sorrira. Julgava a letra um pouco romântica demais para quem nunca conversou; romântica demais para quem não conhece. Mas precisava, tinha um significado a mais para ele e esperava que Taehyung tivesse entendido.

Taehyung por outro lado esperava o mesmo tirar os olhos do chão e lhe encarar. Sempre notara a presença do garoto ali, sempre soubera que o mesmo cantava todas as noites, mas não olhava, não aplaudia. Gostaria de poder escutar a voz do garoto, parecia tão bela quanto ele e sentia-se ligeiramente triste por não poder aprecia-la. Todos sorriam, todos entendiam menos ele, por isso se permitia olhá-lo quando estava de costas. Sempre achara o garoto de madeixas negras bonito, mas não queria encará-lo, não queria que a mesma cena se repetisse novamente, não queria simplesmente ser ignorado.

Porém, dessa vez fora surpreendido.

Nunca, e nem um milhão de anos imaginou que alguém realmente fosse cantar especialmente para si, não podia evitar a felicidade que atingia o seu peito e só estava esperando o garoto lhe olhar de volta. E então ele o fez, e Taehyung via quão tímido o garoto era. Fofo, pensou.

“Por favor, sente comigo.”  Lhe chamou com os dedos logo depois batendo as costas na sua mão na palma e apontando para o estofado a sua frente.

Sorriu assim que viu o outro se aproximar timidamente, suas bochechas estavam coradas ao extremo e abriu um largo sorriso quando vira o outro sentar-se a sua frente.

Não soube ao certo o que sentiu quando Jeon lhe encarara nos olhos, não soube ao certo o que foi que aconteceu quando Jeongguk sorrira abertamente para si, desconfiava que o efeito de Jeongguk sobre si fora como droga, mal provou do garoto e estava viciado.

Ambos estavam em êxtase com a proximidade até então julgada impossível para Jeon, mas ele estava ali depois de longos e longos dias, conversando animadamente com o garoto que não lhe dava atenção e vivia no mundo de seus livros.

Taehyung nunca deu bola para Jeongguk, porém, um dia Jeongguk entendeu o porquê e decidiu que mostraria seus sentimentos de uma forma diferente.

Ele faria Taehyung escutar.

Escutar através de sinais, gestos e expressões.

E ah, eu já ia esquecendo, agora é a hora que você pergunta o que o cupido fez para ajudar nessa história, não é?

Ele simplesmente parou Taehyung na frente da lanchonete onde Jeongguk trabalhava lhe pedindo esmola.

Sim, ele fingiu ser um mendigo.

O cupido simplesmente mudou um pouquinho da rotina de Kim Taehyung para que essa bela história acontecesse. 

Mas espere, ele não te disse o nome dele não é?

Se você encontrar com Jung Hoseok na rua ou algo na sua rotina mudar pode ter certeza que você é o próximo da lista infinita desse cupido.

Afinal, ele coleciona histórias de amor!