História Do You Remember? - Miss Hope

   Nunca me considerei uma pessoa egoísta. Sempre gostei de pensar que eu pensava nos outros em primeiro lugar. Sempre gostei de pensar eu me sacrificaria por meus amigos, custe o que custar. A dois dias, eu passei a perceber que eu sempre pensei errado. Eu sou egoísta, só nunca admiti isso. Sou hipócrita e sou até mesmo fofoqueira. Mas eu o amo. Ele me completa, me melhora. E não posso viver num mundo onde ele não se lembre de mim. Não por um tempo, pelo menos.

   Faziam exatos nove dias desde a última vez que vi Lysandre, exatos nove dias desde a última vez em que eu chorei por amor. Jurei a mim mesma e a Rosalya que eu estava bem. Que aquilo não me afetava muito. Sim, eu estava mentindo, mas prefiro ver como se eu estivesse me auto convencendo de tal coisa.

 — Hope! — Rosa estalou os dedos em frente ao meu rosto.

 — Ah, sim? — A olhei confusa, me dispersando dos pensamentos voltados a Lysandre.

 — Você sequer me ouviu?

 — Não, Rosa. Me desculpe. O que foi? — Sorri.

 — Preciso que você me faça um favor. — Ela tirou algo do bolso. — Pode entregar isso ao Lys, por favor?

— O b-bloco de notas dele? — Meu ar faltou por um pequeno segundo. — P-Por que você não entrega?

 — Talvez pelo fato de que você não vê ele a nove dias? — Ela falou um pouco mais alto. — Uma hora ou outra ele vai se lembrar de você. E esse é o primeiro passo. — Ela colocou o bloco nas minhas mãos. Fique meio estática, eu estava evitando ir no hospital mesmo que isso me machucasse, mas mesmo que Lysandre não se lembre de mim, eu ainda me lembro dele e ainda preciso vê-lo bem.

 — Esteja no hospital depois da aula. — A platinada continuou, já levantada e indo em direção às salas de aula. 

  Encarei aquele bloco de notas mais uma vez antes de o guardar cuidadosamente em minha bolsa e me levantar.

   Assim que a aula acabou, corri para o Hospital. Aquela visita me atormentou o dia inteiro, eu estava nervosa, ansiosa e assustada. Aqueles nove dias haviam sido tão torturantes, que me admirava o fato de eu não ter desistido. Deus! Como eu sou dramática! Ele é só... Ele é só um garoto.

  Respirei fundo uma, duas, três vezes, fechei os olhos e bati na porta, com o bloco em mãos.

 — Entre. — Pude ouvir sua voz de dentro do quarto e então, o nervosismo e o medo desapareceram. Era incrível como mesmo sem saber, ele me acalmava. E então, o nervosismo e o medo voltaram quando eu vi Nina sentada ao seu lado na cama, agarrada nele.

 — Com licença, eu... Posso entrar? 

 — Não. — Nina disse imediatamente, tendo um olhar tanto quanto repreendido de Lysandre.

 — Nina, acho que você deve dar uma volta. — Disse o mais simpática possível, eu não faço o tipo namorada ciumenta, mas tinha vontade de a desgrudar dos braços de Lysandre a força.

 — Mas... — Ela olhou para Lysandre, e logo em seguida se levantou, lhe dando um beijo na bochecha e passando por mim com um olhar fuzilante.

 Andei e me sentei na poltrona que antes era ocupada por Nina, me afundando em seus olhos heterocromáticos verde e âmbar por um tempo indeterminado e curto.

 — Como vai você? — Quebrei aquele silêncio assassino.

 — Melhorando, eles disseram que eu poderei voltar a minha vida normal dentro de uma semana. — Ele sorriu, junto comigo. — E a senhorita? Saiu daqui chorando da última vez que veio. — Seu olhar era triste.

 — Eu estou bem sim. — Eu menti, sorrindo. — Oh, Ahn... Eu te trouxe uma coisa. — Tirei o bloco cuidadosamente do bolso de meu casaco.

 — Meu... Bloco de notas? — Ele parecia confuso.

 — Sim, bem... Você vivia com ele, achei que talvez você quisesse dar uma lida, talvez lembrar de alguma coisa... — Eu sorri. — Fiquei sabendo que já se lembrou de algumas coisas.

 — Muito obrigado. — Ele pegou o bloco, pude perceber que seu pulso não estava mais enfaixado. — Sim, é verdade. Mas receio que ainda não tenha lembrado da senhorita. — Eu sorri, mas acho que não fui convincente o suficiente, pois ele voltou a ter seu olhar triste.

 — Tenho certeza de que logo você se lembrará. — Ele sorriu.

  Lysandre e eu conversamos por mais alguns minutos, e, Deus, como aquilo me fez bem. Tão bem, que por um momento me arrependi da decisão que havia tomado, mas tinha que ser feito.

  — Eu já vou indo. — Sorri. — Você precisa descansar. — Me levantei, deixando o bloco de notas na mesinha ao lado de sua cama. 

 — Foi bom conversar com você, senhorita. — Ele disse já um pouco mais animado. Nos despedimos e eu fui em direção à porta, a abrindo, já pronta para sair.

 — Senhorita Hope? — Eu me virei, com a vaga esperança de que ele se lembrasse de mim, mesmo sabendo que era impossível.

 — Sim?

 — Eu apreciei muito sua visita. Venha mais vezes, por favor.

  Eu sorri, tentei parar, mas não pude. Eu ficara tão feliz com aquela simples frase que senti até mesmo um arrepio. Eu saí do quarto, e ainda com a cabeça virada, ainda com um sorriso bobo no rosto e ainda perdida em seus olhos, eu respondi.

 — Eu virei. Prometo.