História Do zero - Segunda Lição

Subaru POV's on

Acordei com a luz do sol e a brisa fresca da manhã me indicando que deveria ser 9:30 da manhã, Rem já estava trabalhando.

É solitário passar o dia todo sozinho no quarto, por isso ontem saí pela manhã para procurar algo que me distraisse enquanto Rem não voltava para casa. Hoje repeti o processo.

Acabei indo até a W&W Paradise, era o único lugar onde eu conhecia alguém nessa cidade toda. Quando cheguei à esquina da loja, Tabatah estava na entrada se despedindo de uma cliente.

- Ora, ora. Que surpresa! - ela disse me olhando meio desconfiada - O que está fazendo aqui de novo?

- Tenho que procurar algo pra me distrair pelas manhãs ou vou acabar enlouquecendo naquele quarto.

- Por que não arranja logo um emprego?  - ela perguntou sugestiva - Tem vários lugares que  oferecem vaga de meio período sem exigir escolaridade.

- Rem está me ensinando a ler e escrever, logo eu consigo aquela vaga na creche que você mencionou ontem. - respondi entediado.

- Enquanto isso vai passar os dias vadiando enquanto sua garota trabalha para te sustentar? 

Essa doeu. Ela sabe ser rude quando quer. Não tiro sua razão, ela está certa afinal: eu não tenho onde cair morto e arrastei Rem comigo e agora fico me lamentando enquanto Rem dá duro para nos manter e eu nem ao menos procuro algo para fazer a não ser distrações.

- Você ainda está me devendo, lembra? - ela disse se dirigindo ao interior da loja - E nem pense que vou deixar Rem pagar por isso. 

Com isso Tabatah fechou a porta às suas costas, me deixando cabisbaixo na entrada da loja pensando no que fazer daqui pra frente.

Ninguém gosta de dar emprego para as pessoas pobres. Muito menos à imigrantes que não tem um tostão e não sabem ao menos ler e não conhecem a cultura local. E essa é minha condição aqui.

Rem é prendada, sabe se virar em qualquer lugar ou situação faz tudo o que precisar fazer. Já eu sou um inútil que não quer saber nada da vida e acabei ludibriado a inocente e amorosa Rem a vir comigo apenas para me amparar.

Eu sei que ela me ama, mas não é recíproco. Ela é muito bela e tem uma força incrível, mas eu não estou apaixonado por Rem, eu amo na verdade a Emília. 

Trouxe-a comigo para me ajudar e  me fazer esquecer Emília. Mas cada momento que passo sozinho penso nela. 

O que vou fazer agora? Não posso iludir Rem, mas estou totalmente dependente dela e tenho certeza que ela continuaria a me ajudar mesmo que eu declarasse meu amor à Emília abertamente, mas eu não quero fazer isso com ela.

Passo a manhã toda vagando pela cidade, me distraindo de tudo o que eu na verdade deveria estar pensando. Passo por alguns estabelecimentos e lembro do que Tabatah falou.

"Enquanto isso vai passar os dias vadiando enquanto sua garota trabalha para te sustentar? "

Ela está certa. Não posso deixar Rem fazer tudo por mim. Eu não sou uma criança indefesa, um estorvo na vida de Rem para ela ter que sustentar. Eu vou ajudar Rem, cuidar das coisas com ela.

*--*

Era de manhã de novo. Aquela estranha sensação de déjà vu, mas percebo que não retornei quando vejo ao meu lado a cama de Rem bagunçada. 

Rem nunca esquece as coisas por fazer. Ela sempre arruma a cama toda e lava toda a louça, depois dobra suas roupas e arruma o tapete da porta ao sair.

Hoje sua cama estava bagunçada, suas roupas estavam no cesto do banheiro e uma pequena xícara pousava lavada no escorredor. Ela devia estar tão cansada pelo dia anterior e tão preocupada para não se atrasar que acabou fazendo as coisas automaticamente e nem percebeu.

Após arrumar todo o quarto e estender as roupas lavadas na área de serviço eu finalmente saí para minha caminhada habitual.

Desta vez não fui à W&W Paradise, e não passei no Merule para falar com Rem, pois ela deixou um bilhete dizendo que não teria intervalo e sairia mais cedo hoje.

Fui até um dos estabelecimentos que vi ontem, uma mercearia perto do Centro comercial da cidade. Vi que havia apenas um senhor cuidando das coisas e tudo estava uma bagunça. Não parecia um lugar muito requisitado para se trabalhar então me indiquei.

De início o senhorzinvo me olhou desconfiado. Devia estar pensando que estava brincando com as esperanças dele e aí mesmo tempo torcendo para que eu dissesse que estava falando sério.

- O que um homem tão jovem quer fazer em um lugar largado e sujo como este? - ele perguntou ainda muito desconfiado.

Resolvi falar a verdade, não omitir nada das minhas verdadeiras intenções. Então eu comecei:

- Então senhor, eu sou um jovem de outro país e não sei ler e escrever. Eu realmente preciso de um emprego. Uma amiga disse que muitos lugares aceitam ao menos em meio período pessoas sem escolaridade. Pensei que esse seria um bom lugar.

- Filho, se você quiser trabalhar aqui eu vou ter a honra de te empregar quantas horas quiser! Sabe há quanto tempo alguém não se oferece pra trabalhar aqui? - disse ele num tom animado e levemente decepcionado - Até tirei o cartaz de "Contrata-se". Meu jovem a vaga é sua! 

- Muito obrigada, senhor! Prometo que não lhe decepcionarei. - abri meu maior sorriso com o maior entusiasmo do mundo para começar. Já era meio dia podia começar hoje como meio período.

- Mas não pense que vai ser fácil não, hein?! Agora ao trabalho!

Passei a tarde toda limpando e organizando todo o estabelecimento - o que não foi uma tarefa fácil - e no final da tarde o velhinho me liberou.

- Foi um prazer tê-lo aqui hoje jovem. Bem vindo à mercearia O'Donn, meu nome é Josep e vai ser muito bom trabalhar com você!

- O prazer é todo meu senhor, Natsuki Subaru à seu dispor. - fiz uma menção exagerada - Estarei amanhã pela manhã aqui.

- Jovem! - ele chamou minha atenção quando estava saindo - Aqui, um pagamento por hoje. - ele me deu algumas moedas - Não vai ser todo o dia assim! Agora só mês que vem.

- Muito obrigado senhor! Até amanhã.

Na volta de casa passei por uma floricultura e peguei duas amarilis e três cravos brancos em um buquê. Comprei um doce recheado de um creme muito bom que Rem adora e voltei para casa. 

Quando cheguei Rem estava à minha espera, fitando desesperada a minha cama. Ao ouvir o barulho da porta correu para a entrada me vendo em meu antigo traje com um buquê e um doce na mão.

Nada pode pagar a sensação que tive naquele momento. O rosto de Rem que mudou de preocupação para uma incrível felicidade. O sorriso que transparecia amor e alegria. Os gestos de Rem que deixavam claro a euforia e animação da pequena Rem.

Então eu sorri. E ela sorriu para mim. E nós passamos a noite juntos, sorrindo e conversando como um verdadeiro casal.

Hoje eu me apaixonei por Rem.

Hoje eu resolvi começar tudo do zero.

Como tinha prometido a Rem, uma vida nova sem pensar no passado e em tudo que deixamos pra trás. Somos só nós dois agora e eu vou fazer de tudo possível para ver Rem sorrir feliz.