1. Spirit Fanfics >
  2. Doce sedução >
  3. Capítulo 1

História Doce sedução - Capítulo 1


Escrita por: cherry_99

Capítulo 1 - Capítulo 1


Quando estou com raiva, não olho ao redor e nem me preocupo se estou sendo observada. Bom, neste dia eu estava morrendo de raiva.

O motivo? Minha avó teve uma de suas crises diárias de raiva. E claro que ela descontava em mim toda sua frustração, afinal eu era a única pessoa que morava com ela. Às vezes ficava impressionada, com fato de ainda estar com ela. Acho que devia ser porque eu a amo, mesmo sendo assim, tão amarga.

Não agüentei ficar em casa, com ela descontando em mim sua raiva, pelas suas frustrações. Disse-lhe que precisava ir ao supermercado, e ela apenas disse para não demorar.

Eu andava tão distraída, que meus pensamentos foram direto para minha mãe, deveria ter ido com ela para o Rio de Janeiro, mas não queria deixar minha avó sozinha. Agora sabia que tinha tomado a decisão errada, me arrependia mais a cada dia.

Senti um aperto no ombro e parei de andar abruptamente. Virei preparada para lançar um olhar nada gentil, e dei de cara com um homem fodidamente bonito. Seus cabelos castanhos faziam ondas em sua cabeça, mostrando sua rebeldia, seu nariz era fino e reto, e olhos eram de um tom chocolate que nunca tinha visto.

Ele sorria para mim! O que me fez prestar atenção em seus lábios carnudos e bem desenhados.

-Desculpe-me. Mas você deixou cair isto. -Ele estendeu a mão e vi minha pulseira de ouro que ganhei quando era bebe da minha mãe.

-Muito obrigada. -disse com a voz vacilante pegando a pulseira de sua mão.

O que estava acontecendo comigo? Á pouco estava brava, e quando encarei esse estranho, um sorriso derretido nasceu em meu rosto.

-Isso é muito importante para mim, não sei o que faria se tivesse perdido. -completei, tentando fazer minha voz sair mais firme.

-Não foi nada. Você deve estar bem distraída por não ter notado quando caiu. -Meus olhos caíram para seu corpo, por debaixo de seu jeans solto e camisa branca social, pude notar que possuía um porte de quem passava horas na academia.

Ele estendeu novamente sua mão, desta vez para me cumprimentar. Rapidamente desviei o olhar de seu belo corpo. Ruborizei quando o vi rindo, um som grave.

-Sou Benjamim.

Apertei sua mão, sentindo a eletricidade pelo contato, seu aperto era firme e quente. -Viviane. -Foi só o que consegui dizer.

De repente me senti muito envergonhada.

-Viviane Miranda. -Ele disse. O olhei de cenho franzido. Como poderia saber meu nome? -É o nome que está escrito na pulseira. -explicou, quando percebeu a expressão de desentendimento em meu rosto.

-Ah. Sim. -murmurei nervosamente.

Nunca estive perto de um homem tão bonito.

-Você mora aqui por perto? -perguntou depois de um longo minuto de silêncio.

-Sim.

-Também. Acabei de me mudar. Ainda estou me acostumando com a nova casa. -comentou.

Ele estava puxando assunto. Notei.

-Então, seja bem vindo. Você vai gostar daqui, é um lugar bem calmo e agradável.

Ele ficou me examinando, com uma expressão estranha.

Lembrei-me que estava a caminho do supermercado, se demorasse mais que o tempo necessário minha vó questionaria.

Era hora de dizer adeus ao príncipe.

-Bom, eu já vou indo. Mais uma vez obrigada.

-Nos veremos logo Vivian. -Ele pegou minha mão e levou aos lábios dando um beijo quente.

Observei boquiaberta, desejando desesperadamente fugir. Não estava gostando do jeito que me olhava, e ainda menos do jeito que estava reagindo a ele.

-Quem sabe. -sussurrei.

Andei rapidamente, podia sentir seus olhos em minhas costas, me detive a olhar para trás.

De onde saiu esse homem?

Voltei para casa ainda mais distraída, a imagem de Benjamim não saía de minha mente. Repeti a mim mesma que era melhor tirá-lo da cabeça imediatamente, eu mal o conhecia e provavelmente não o veria novamente. Minha avó não permitia que eu saísse de casa, exceto para a faculdade e o trabalho.

Sim, eu tinha dezoito anos e faria dezenove em um mês, e ela ainda me mantinha em casa o quanto podia. Não tinha liberdade para nada.

Nem sabia como eu ainda era normal.

Nem liguei para os resmungos da minha avó quando cheguei, fui direto para meu quarto, tomei um banho rápido e me deitei na cama.

Benjamim. Seria bom vê-lo novamente.

Acordei atrasada para o trabalho.

O que não era normal, costumava acordar mais cedo, detestava me atrasar. Levantei-me rapidamente da cama e tomei banho, vesti minha saia, blusa social, e calcei meu salto alto. Fiz um coque em meus cabelos que não estavam colaborando.

Por sorte, minha avó ainda não tinha acordado, ou começaria a dizer que sou uma irresponsável.

Não seria legal escutar seus elogios pela manhã.

Andei até o ponto de ônibus, que era a uma distância considerável, ignorando o calo que se formava em meu pé esquerdo, era tarde demais para voltar em casa e buscar uma sandália.

No meio do caminho uma BMW Z4 branca passou por mim lentamente, parando bem em frente. Era um modelo de carro incomum nesta parte da cidade.

Passei ao lado do carro, de repente o vidro escuro baixou assustando-me. E o familiar rosto de Benjamim surgiu.

-Aceita uma carona Vivian? -perguntou com um sorriso sexy.

Vivian?

-Meu nome é Viviane, nunca me chamam de Vivian. -respondi irritada.

Conheceu-me no dia anterior e já dizia meu nome de um jeito peculiar.

-Eu sei. -seu sorriso se alargou ainda mais. -Porém, gosto mais de Vivian. Vamos?

O olhei intrigada.

-Obrigada, mas não posso aceitar. Você é um completo estranho.

-Não sou não. -Ele saiu do carro e eu dei um passo para trás, estava de terno azul escuro, muito mais belo do que me lembrava. -Eu sei seu nome e você sabe o meu.

Fiquei desconfortável com a aproximação, pude sentir o cheiro de seu perfume masculino, era inebriante.

- Seu nome pode nem ser Benjamim. -argumentei arqueando uma sobrancelha.

-Boa. Mas posso provar. -puxou do bolso do terno sua carteira de motorista e me entregou.

Olhei para ele e depois para a carteira. -É parece que sou paranóica. Mas eu realmente tenho que ir Benjamim agora. -disse devolvendo sua carteira.

-É muito mais perigoso você ir assim, á pé até o ponto de ônibus. Eu posso te levar. Prometo que não farei nada com você. -Ele fez uma pausa e seus olhos escureceram. -A menos que você queira.

Sorri com ironia. -Sinto desapontá-lo, mas isso não tem chance de acontecer.

Ele levantou a sobrancelha surpreso. -Isso é um desafio?

-Eu tenho que ir, ou vou chegar atrasada. -disse começando a andar.

-Eu não aceito um não como resposta. -insistiu segurando meu braço. -Você não vai chegar atrasada se eu te levar.

Olhei para o relógio em meu pulso, mesmo que pegasse um ônibus naquele exato momento, não chegaria na hora certa. -Tudo bem...

Um sorriso cheio de si tomou conta de seu rosto.

O que ele achava que ganharia com isso? Era apenas uma carona.

Quando entrei no carro ele veio em minha direção, me deixando em estado de alerta, demorei um pouco para perceber que apenas queria fechar meu cinto de segurança. Seu braço roçou de leve minha cintura me causando um tremor involuntário, afastei-me com cuidado para que não percebesse.

-Eu sempre me esqueço disso. -disse envergonhada.

-Eu nunca. -murmurou me queimando com os olhos.

Observei-o dirigindo, totalmente no controle, segurava com firmeza o volante, porém de uma forma natural. Sentia-me encabulada perto dele, o que era incomum.

Em geral os homens me achavam bonita com meus cabelos pretos e longos, meio liso e enrolado nas pontas, olhos negros, e minha altura, que em minha opinião chamava bastante atenção.

-Você trabalha onde? -Benjamim quebrou o silêncio.

-No escritório de advocacia Bittencourt .

-Você faz o que lá? -questionou, mostrando um genuíno interesse.

-Sou secretária do Dr. Bittencourt.

-E você faz alguma outra coisa além do trabalho?

-Sim. Faço faculdade de relações internacionais.

-Onde?

-Na faculdade Federal. -respondi começando a achar estranho seu interesse.

-E quantos anos você tem Vivian?

O encarei, tentando compreender onde queria chegar com tantas perguntas.

-Tenho dezoito.

-Sério? Você é bem mais nova do que eu pensava. -sua voz transpareceu desapontamento.

O que ele pensava? Que eu tinha trinta?

Encontrei seu olhar de relance. -Não que eu pensasse que você fosse muito mais velha. É que você não parece uma garotinha de dezoito anos, é bem madura para sua idade.

-Vou fazer dezenove daqui a um mês então... -não sei porque senti necessidade em esclarecer isso.

Não queria que me visse como uma garotinha.

-E você tem quantos anos Benjamim?

-Vinte e seis. Não sou mais um garotinho. -brincou.

Sorri.

-Não ligo pra essas coisas de idade. As pessoas maduras, experientes são mais interessantes. -soltei sem pensar.

Sua expressão mostrou divertimento.

Queria tapar minha boca, estava dizendo coisas que não deveria, não queria que pensasse que eu estava interessada nele.

-Quer dizer, é bom conversar com pessoas assim. -murmurei.

-Então você gosta de pessoas experientes. -repetiu, seus olhos chocolate cintilaram. -Interessante.

Era melhor ficar calada, só estava piorando as coisas.

-E... Você tem namorado? -perguntou com a voz neutra.

Ninguém pergunta isso com tanta naturalidade. Isso chamou minha atenção, era como se quisesse demonstrar seu interesse.

-Não. E nem posso. -respondi simplesmente.

-Porque não? Você já tem dezoito anos. -questionou intrigado

-Bom, diga isso a minha avó. E diga também que mereço ter uma vida.

-Você mora com sua vó?

-Sim.

-Parece que ela é bem protetora. -senti o descontentamento em sua voz.

-Sim. Ela é. E você? Tem namorada. -Perguntei desviando o assunto de mim.

-Não gosto de relacionamentos sérios. -respondeu claramente com a expressão fechada.

Caramba, pelo menos ele estava sendo sincero, pensei.

-O que você faz da vida?

Era minha vez de fazer as perguntas.

-Trabalho na Talento. -fez uma pausa. -Sou CEO.

E simples assim, ele disse que era um dos homens mais ricos do Brasil. Conhecia essa empresa e sabia o quanto era importante, considerada a melhor empresa de publicidade. Na verdade, quem não conhecia a Talento. Só não imaginava que Benjamim era o dono.

Céus!

-Você faz a propaganda da Havaiana, da Vivo? -perguntei, mas já sabia a resposta.

-Sim. -confirmou.

-É uma das minhas propagandas preferidas, é engraçado, prende a atenção, e principalmente: tem sentido. -disse empolgada.

-Que bom que você gosta. É exatamente a intenção. Comentou divertido. -Chegamos.

-É mesmo. -observei. -Muito obrigada pela carona. Parece que estou te devendo duas.

-E eu vou cobrar.

Seus olhos encaram os meus, não consegui desviar.

Ele era tão intenso.

Abri a porta do carro relutantemente e sai. -Tchau Benjamim.

-Até logo.

Benjamim novamente ocupou meus pensamentos. Ficava inquieta quando me lembrava de seu curioso modo de se despedir: "nos veremos logo, até logo". Soava como uma promessa de que nos veríamos novamente.

Ansiava saber o motivo de seu interesse. Ele era rico, bonito, poderia escolher a mulher mais bonita para passar apenas uma noite. Porque estava gastando seu precioso tempo comigo?

-Você está pensativa hoje Viviane. -comentou o Dr. Fernando enquanto coloquei cuidadosamente os papéis em sua mesa. -Compartilhe.

Olhei para meu chefe. Um homem realmente bonito, e muito observador. Nada passava despercebido por seus belos olhos verdes.

-Nada demais Dr. Acordei em cima da hora esta manhã. -ele me fitou e eu encarei o chão, não conseguia encarar seus olhos por muito tempo quando me olhava desse jeito. -Somente isso. -Reforcei.

-Bom. Então vamos ao trabalho. Temos muito a fazer.

-Claro. -concordei agradecendo por ele não insistir.

Depois de organizar todos os processos, o Dr. Fernando me chamou em sua sala. Quando entrei, o encontrei sentado na grande poltrona olhando para a janela.

-Dr. Fernando?

Ele se virou, parecendo bastante tenso. -Viviane, preciso lhe fazer uma pergunta, sei que vai ser inapropriado, mas simplesmente esta questão está me incomodando desde a sua chegada.

Franzi o cenho começando a ficar nervosa. Não conseguia imaginar nada que pudesse ter deixado-o assim.

-Quem veio deixá-la aqui hoje? -perguntou sem rodeios.

-O que? -não acreditava no que estava ouvindo.

Ele suspirou. -Viviane, não me faça perguntar novamente.

-Não entendo porque isso incomodaria o senhor. -Disse hesitante.

-Eu me preocupo com você. -respondeu como se explicasse tudo.

O encarei desconfiada. -Era só um amigo meu, que me ofereceu uma carona.

-É claro. -disse demonstrando alívio. -Você sabe se cuidar, não me decepciona. Desculpa o transtorno, não queria parecer intrometido.

-Tudo bem. -eu acho.

-Você já pode ir. -me dispensou com um sorriso.

Saí do escritório com pressa, como de costume. Tinha menos de uma hora para almoçar e ir para a faculdade, muitas vezes perdia o primeiro horário, mas Dyo, meu melhor amigo sempre me passava as aulas que perdia. O que ajudava muito em minha vida corrida.

A professora que dava os últimos horários teve que se ausentar, felizmente minha turma foi liberada, podia ir para casa mais cedo para descansar.

Quando estava saindo da faculdade escutei uma voz familiar chamar meu nome. Nem olhei para trás, pois já sabia quem era. Fingi não escutar, e comecei a andar mais rápido.

-Oi gata mais linda da faculdade. -disse José me alcançando e segurando meu braço.

-Oi José. -disse puxando meu braço de seu aperto.

-Que tal uma carona para casa? -ofereceu gentilmente.

-Não. Obrigada. Tenho que ir. -Disse voltando a andar.

-Ei, hoje não vou deixar você escapar. -disse me puxando de encontro com seu peito.

-Me solta! O que deu em você? Já disse que não. -gritei.

José era um dos caras mais convencidos que já conheci. Tinha que admitir, ele era bonito, mais era terrivelmente insuportável. Todas as garotas da faculdade se jogavam em cima dele, menos eu. Acho que esse era o motivo de sua perseguição.

-Que tal um acordo? Eu deixo você em paz para sempre. Se você deixar eu beijar essa sua boca deliciosa. -sussurrou.

Ri com sarcasmo. -Nem nos seu sonhos. -disse pausadamente.

Seu rosto ruborizou de raiva, seu aperto em meu braço se tornou mais forte. -Você se acha gostosa demais para mim? Eu sempre consigo o que eu quero Viviane. Você não é melhor do que ninguém.

-Só porque eu não quero ficar com você, não significa que eu me considere melhor do que ninguém. -retruquei.

-Eu estava tentando ser paciente, mas você não colabora. Eu amo esse seu jeito marrento.

Um sorriso cínico tomou conta de seus lábios.

-Me solta. Não adianta me obrigar, nunca vou ficar com você.

-Vai sim. -disse se abaixando para alcançar minha boca.

Me contorci desesperadamente para me desvencilhar de seus braços, mas ele era bem mais forte que eu.

Então fui forçada a tomar uma decisão drástica. Chutei suas bolas.

Na mesma hora ele me soltou, e se encolheu gemendo. -Você está maluca?! Sua vadia!

-Esse cara está te incomodando Vivian?

Demorei apenas um segundo para reconhecer a voz.

-Agora você tem um guarda-costas? -perguntou José.

-Pelo que eu estou vendo, a Vivian não precisa de guarda costas. -disse Benjamim com um sorriso sexy.

Não consegui dizer uma palavra. José olhou entre mim e Benjamim, e saiu amaldiçoando.

-Você está bem? -perguntou me examinando.

Balancei a cabeça dizendo que sim. -Como você veio parar aqui? -perguntei atordoada.

-Eu estava passando. E vi você sendo agarrada por aquele imbecil, tinha que te ajudar. -deu de ombros.

-Então não passa de uma coincidência? Você aparecer assim aqui na faculdade. -perguntei incrédula.

-É. -respondeu simplesmente. -Você está achando que eu estou te perseguindo?

Era exatamente o que eu achava, envergonhada desconsiderei a idéia.

Ele não teria nenhum motivo para me perseguir.

-Não, isso seria loucura.

Ele sorriu divertido. -Que tal um passeio? -perguntou repentinamente.

Olhei desconfiada. -Você está me convidando pra sair?

-Sim. -confirmou com um sorriso todo convencido. -E não aceito não como resposta.

-Eu sei você já me disse isso antes. Mas não vai dar. Tenho que ir pra casa. -disse automaticamente.

Percebi com tristeza, que já estava acostumada a recusar qualquer convite para sair sem nem ao menos pensar duas vezes.

-Não aceito não como resposta. -repetiu. -Prometo que não deixarei você chegar tarde em sua casa. Temos tempo de sobra, ainda são 15 horas, eu sei que você chega em sua casa as 19.

-Como você sabe disso? -questionei.

-Eu apenas supus. -respondeu dando de ombros. -Vamos?

Foi uma suposição muito exata.

-Não posso.

-Vamos Vivian. Nada de mal pode acontecer, acho que já provei que não sou nenhum seqüestrador.

-Não sei... -disse relutante.

Se minha vó descobrisse me mataria.

-Sei que você quer sair, seus olhos brilharam com meu convite.

Caramba. Ele era mesmo insistente.

-Você é muito convencido. Não tem nada a ver com você, eu apenas não saio muito. -confessei.

-Então aceite.

Cruzei os braços. -Aonde vamos?

Ele abriu um sorriso que me derreteu toda. -É surpresa.

Benjamim manteve em segredo para onde estávamos indo o quanto pode. Mas no final vi que ele estava me levando à praia, não estava lotada, o que era uma raridade, pois o sol estava perfeito para um banho.

-Você gosta de praia? -perguntou quando saímos do carro.

-Amo. Você não poderia ter me levado a um lugar melhor. -disse apreciando o vento em meus cabelos.

Tirei minha sapatilha e pisei na areia. Benjamim me olhou de cenho franzido. -Você vai andar descalça nesta areia?

-Claro. Não vai me dizer que você nunca fez isso. -disse revirando os olhos.

-Não. -murmurou contorcendo o rosto.

Que fofo.

Comecei a rir. -Você não teve infância?

-Claro que sim. Mas simplesmente nunca fiz isso.

-Ótimo. Pra tudo tem uma primeira vez.

Ele arregalou os olhos. -Você não vai me fazer pisar nesta areia.

-Vou sim. Você não tem escolha Benjamim. -disse com firmeza.

Ele cruzou os braços. -Me convença.

Cheguei bem perto dele sentindo seu cheiro masculino, fiquei na ponta dos pés e sussurrei em seu ouvido. -Vamos, não é ruim como parece. Tenho certeza que você não vai se arrepender.

Dei um passo para traz e vi seu rosto com uma expressão séria e tensa. -Tudo bem.

Ele tirou os sapatos e pisou com o pé direito na areia, fez uma careta, em seguida pisou com o outro pé.

-Pare de fazer drama. Vai com tudo. -o encorajei.

Um sorriso diferente nasceu em seu rosto, como um menino que acabou de ganhar um brinquedo novo. -Realmente eu pensei que fosse pior.

Andamos pela praia e sentamos na areia, depois de muita relutância da parte de Benjamim.

-Me fala sobre você. -pediu.

Fiquei um pouco tensa. -O que você quer saber?

Ele deu de ombros. -Não sei. O que você quiser me contar.

-Não sei por onde começar.

-Do começo. Quero saber tudo sobre você. Você disse que morava com sua avó não é?

-Sim. -respondi.

-Sua mãe.... -Ele não precisou completar.

Arregalei os olhos. -Não, ela não morreu. É apenas um assunto delicado.

-Desculpe, não queria ser indelicado.

De repente me senti confortável em me abrir com ele. Não sabia a razão, mas comecei a falar. -Não tudo bem. É que minha mãe engravidou nova, tinha apenas dezesseis anos. Não era responsável o suficiente para cuidar de mim. Então minha avó me criou. Ela se mudou para Rio de Janeiro e eu fiquei com minha avó.

-Você sente falta da sua mãe?

-Sim, e muito. Minha mãe é a única pessoa capaz de me entender, é a pessoa que eu mais amo nesse mundo.

-E o seu pai?

-Simplesmente nunca se importou comigo, me fez muita falta, mas aprendi a viver com a idéia de que não tenho pai. Eu só tenho o sobrenome dele. -respondi dando de ombros, tentando disfarçar minha tristeza.

Ele segurou meu queixo fazendo encará-lo. -Ele não sabe a filha maravilhosa que está perdendo.

Com relutância desviei o olhar, isso estava ficando intenso demais para eu suportar. -Agora sua vez.

Suas sobrancelhas se arquearam. -Como assim, minha vez?

-Você ainda não entendeu? -ele negou com a cabeça. -Estamos fazendo uma troca de informação, eu falo sobre mim e você fala sobre você.

-Você é bem espertinha. -murmurou com um sorriso leve e divertido.

Eu ri. -Sou mesmo. Agora comece.

-Bom, minha mãe morreu quando eu era criança, meu pai cuidou de mim, e sou o que sou hoje, graças a ele. Ele me ensinou tudo o que sei, foi bastante forte, conseguiu superar a morte da minha mãe e seguiu em frente. Acho que não há pessoa que eu admire tanto quanto ele.

-Lamento muito pela sua mãe.

Toquei sua mão dando um aperto tranqüilizador. Quando seus olhos desceram para nossas mãos unidas, a retirei constrangida.

-Não há muito dano feito. Afinal, eu não cheguei a conhecer ela. -comentou com um sorriso triste. -é claro que ela faz falta, lembro-me de quando era criança, que não gostava de ir pra escola no dia das mães. Sempre inventava uma desculpa para não ir. Mas meu pai ocupou muito bem esse espaço vazio.

-Você está falando dele no passado. -observei.

Ele me fitou por um momento e depois voltou sua atenção para o mar. - Bem observado. Ele morreu a dois meses, de câncer.

Cobri a boca com mão. -Droga. Eu lamento muito mesmo pelo seu pai. Deve estar sendo difícil para você.

-Sim, está. Aprendi muita coisa nesses últimos tempos. Eu era muito irresponsável, mal colocava os meus pés na Talento. Pouco antes de ele morrer, ele me pediu para assumir a diretoria da empresa e preservá-la para que não caísse nas mãos erradas.

-Nossa parece que nossas vidas não são fáceis. -pensei distraidamente.

-É verdade, e eu acho melhor pararmos de falar sobre coisas tristes. Você quer tomar sorvete? -perguntou.

-Sim, é uma ótima idéia. -respondi sorrindo. -O que é melhor do que um soverte para alegrar?

***

-Qual sabor você vai pedir? -perguntou quando chegamos a soverteria.

-De chocolate é claro.

-Entre tantos sabores, você escolhe logo chocolate. -questionou intrigado.

Dei de ombros, ele tinha razão

-Sou chocólatra, tudo que tem sabor de chocolate vai ser minha preferência. -expliquei.

-Então já que você me fez pisar descalço na areia, que tal eu escolher o sabor do seu sorvete. -propôs.

-Tudo bem. -concordei sem relutância, gostei da idéia. -Fique a vontade.

Ele abriu um sorriso largo, cheio de dentes. -Então pode se sentar.

O olhei por alguns segundos, pensando em voltar atrás, e por fim fui me sentar. Não demorou muito para ele chegar com os dois sorvetes na casquinha. -Bom agora você vai fechar os olhos. Quero que você sinta o sabor.

Comecei a rir. -Que exagero.

Abri a boca e senti o gosto delicioso do sorvete.

-Não abra os olhos, ainda tem outro.

O segundo foi ainda melhor que o primeiro, senti um leve gosto de chocolate. -humm. Que delícia, adorei.

-Pode abrir os olhos.

-Qual é o sabor deste sorvete? -perguntei curiosa.

-O primeiro foi de torta alemã, e o segundo de Nutela com chantili. -respondeu entregando meu sorvete.

-Você tem bom gosto. -elogiei.

Seus olhos chocolate cintilaram. -Você não tem idéia de como eu tenho bom gosto.

Ruborizei com seu comentário, desviei os olhos dele, e comecei a lamber o sorvete.

Depois de um tempo, em um silêncio constrangedor Benjamim falou. -Acho melhor você parar de lamber o sorvete desse jeito.

-Por quê? -perguntei e continuei lambendo o sorvete.

-Apenas pare com isso. -respondeu ignorando minha pergunta.

-Desculpe-me, mas não sei tomar sorvete de outra forma. -disse insolentemente.

-Você é exasperante. -retrucou com mal humor. - Estou pedindo. Pare de fazer isso.

Comecei a rir. -Você tem razão. Sou exasperante quando quero. Como agora. Mas só vou parar quando você me disser o por que.

Ele suspirou. -Não acho uma boa idéia.

Dessa vez eu lambi o sorvete bem lentamente para provocá-lo. Sabia por que ele queria que eu parasse, mas queria que confessasse.

-É provocador, me faz pensar em coisas que não deveria pensar. -admitiu passando a mão pelos cabelos.

Meu sorriso morreu. Não deveria provocar um homem desse jeito. Não era da minha natureza, provocar de qualquer modo.

O que estava acontecendo comigo? Essa não era eu.

-Eu preciso ir embora. -disse me levantando.

-Mas você nem acabou seu sorvete.

-é serio, preciso mesmo ir embora. Obrigada pelo passeio, foi muito agradável.

Ele levantou-se. -O que há de errado? Permita-me pelo menos te deixar em casa.

-Não Benjamim, obrigada, você já fez muito por mim.

Seu olhar mudou de desentendimento para irritação. -Porque você sempre recua de mim? Não seja tola Vivian, deixe que eu te leve para casa.

Sabia que estava sendo mais arredia do que de costume, mas a cada momento que passava com ele, ficava mais solta.

Isso não era bom. Tinha que me proteger dele.

-Tudo bem. -concordei querendo acabar logo com isso.

Passamos a viajem inteira em silêncio. Benjamim segurava o volante com tanta força que podia sentir a pressão que estava fazendo lá, sua mandíbula de vez em quando se contraía. Fiquei imediatamente arrependida, eu o deixei bravo. Só queria entender o motivo de seu interesse, e se ele estava realmente interessado em mim, não podia ser bom. Já estava me arriscando muito aceitando seu convite para sair. Se minha vó sonhasse que eu estava saindo com alguém, mesmo sendo apenas um amigo, eu estaria seriamente encrencada. Ela certamente passaria a me vigiar mais do que já vigiava. A única coisa que eu tinha certeza era que se Benjamim quisesse algo comigo, não poderíamos ficar juntos, então era melhor me afastar logo.

-Você está entregue. Sã e salva. -anunciou quando chegamos uma quadra antes da minha casa, não deixei que me deixasse na frente, pois se minha avó me visse saindo desse carro, nem deixaria eu entrar em casa.

-Obrigada. -disse percebendo a amargura em sua voz.

Realmente não devia ter o deixado bravo, é bem provável que não queira me ver novamente. Ao perceber isso fiquei desapontada.

Mas era o certo a fazer.

-Bom... Adeus Benjamim. -disse baixinho.

Ele não respondeu, apenas ficou me olhando, pelo que me pareceu vários minutos.

Já escurecia lá fora.

Meus olhos estavam presos nos seus, não conseguia sair dali.

Minha mão procurou a maçaneta do carro, quando abri o barulho ecoou pelo carro, quebrando o silêncio. Em um movimento rápido Benjamim passou seu braço por mim e fechou a porta rudemente. Meu coração bateu acelerado, não sabia o que esperar e principalmente não tinha idéia do que estava acontecendo.

Agora ele estava perto de mim, muito perto. Podia sentir a sua respiração, seu hálito quente fazia cócegas em meus lábios umedecidos.

Nossas bocas alinhadas, perfeitas para um beijo.

Seus olhos não estavam mais nos meus, e sim nos meus lábios, pedindo permissão silenciosamente.

Minha consciência gritava, me alertando do perigo.

Mas se ele fosse desaparecer da minha vida, eu me permitiria fazer isso.

Pelo menos uma vez.

Aproximei-me e ele não esperou outro sinal. Sua boca atacou a minha desesperadamente enquanto ficava em cima de mim.

Estava sem fôlego quando as nossas bocas se separaram, me senti totalmente fora de órbita. E como se eu tivesse recuperado minha sanidade, levei um soco da minha consciência. O encarei em choque quando percebi o que tinha acontecido. Tinha noção de que era culpada, eu o deixei se aproximar, me beijar, e pior, eu tinha gostado e queria mais.

Porém, não consegui deixar de sentir raiva dele, por ter me beijado, por ter estragado tudo.

Ainda tinha esperança de nos sermos pelo menos amigos, mas até essa possibilidade não existia mais. Sai do carro, Benjamim desta vez não me impediu. O que fez meus olhos se encherem de lágrimas, eu era mesmo uma boba. Claro que isso não iria dar certo. Era apenas isso que ele queria: usar-me.

Enxuguei as lágrimas dos meus olhos, me esforçando a manter o controle, se eu chegasse em casa de olhos vermelhos, minha vó faria um interrogatório.

Entrei em casa e por sorte não fui notada. Passei pelo quarto da minha vó apressadamente e me tranquei em meu quarto. Joguei-me na cama e não demorei a cair no sono.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...