Viviane
Escutava vozes. Tentei abrir meus olhos, mas estavam muito pesados.
-Muito obrigada por cuidar da minha filha. Você é um bom rapaz. –escutei a voz familiar da minha mãe.
Mãe. Ela estava aqui?
-Não agradeça. Vivian é tudo para mim. Sempre cuidarei dela. –desta vez uma voz masculina falou.
Benjamim.
Juntei todas as minhas forças pra abrir os olhos. E eles logo voltaram a ficar pesados novamente. Sentia-me muito cansada.
-Vivian? –Benjamim disse.
Adormeci.
Quando acordei novamente estava em um lugar com a iluminação fraca. Não sabia onde eu estava. Olhei ao redor.
Estava em um quarto de hospital.
A última coisa de que eu me lembrava era de estar em casa. E da discussão que tive com minha avó.
Ela me agrediu.
Queria que isso não passasse de uma pesadelo. Mas eu estava no hospital. Ela tinha me machucado de verdade.
-Vivian? –escutei a voz profunda de Benjamim.
Sua voz veio do meu lado direito. Ele estava sentado e não o notei ali. Pensei que estava sozinha.
Minha boca estava extremamente seca.
Ele me olhava com os olhos atentos. –Você acordou. –ele disse com a expressão surpresa. –Você está bem?
-Água. –disse com a voz fraca.
-Só um minuto. –ele se levantou rapidamente e encheu um copo de água.
-Aqui. –disse me ajudando a ficar sentada.
Fiz uma careta ao me desencostar do travesseiro, doía meu corpo todo. Bebi toda a água rapidamente.
-Está sentindo dores? –ele perguntou.
-Só um pouco. –disse não querendo preocupá-lo, mas as dores se intensificavam quando me movia.
-Você demorou mais que o esperado para acordar. –ele disse.
O examinei. Ele estava com uma aparência cansada. Como se não dormisse há dias, seus cabelos estavam bagunçados e a barba mais aparente que de costume.
Ele pegou minha mão e a beijou sentando na beira da cama.
-Quanto tempo eu dormi? –perguntei.
A cada minuto que passava me sentia mais viva e desperta.
-Um dia. –ele disse com um sorriso triste. –Mas para mim pareceu uma eternidade.
Fiquei um minuto em silêncio, apenas olhando seu belo rosto. Nem essa expressão preocupada em seu rosto danificava sua beleza.
-Como vim para aqui? –perguntei.
Benjamim não respondeu de imediato. Suas mãos estavam em meu rosto me acariciando. Vi um brilho diferente em seus olhos.
-Eu a trouxe. –disse Benjamim vagamente.
Esperei ele dizer mais alguma coisa. E ele permaneceu calado.
-Como? Eu me lembro de você apenas me deixar em casa. –questionei.
Queria saber o que tinha acontecido. Estava tão confusa. Não queria acreditar que minha vó fez isso comigo.
-Não vamos falar sobre isso agora Vivian. –ele disse com um olhar sério. –Você acabou de acordar.
-Eu preciso saber. –disse em um sussurro.
Minha compostura estava por um triz. Sentia que a qualquer momento iria desmoronar.
-Por favor. Não me faça falar sobre isso agora. –desta vez ele estava suplicando. –Prometo que depois te direi tudo o que você quer saber.
-Tudo bem.
Não iria insistir. Eu via como ele estava sofrendo com tudo isso. Até me senti culpada. Não queria preocupá-lo com meus problemas.
Seus lábios roçaram minha testa levemente.
Fitei seus olhos cor de chocolate. Fiquei com tanto medo de não vê-los novamente.
-Obrigada Benjamim.
Ele franziu o cenho. –Pelo que?
-Por salvar minha vida. –disse segurando sua mão. Entrelacei seus dedos nos meus.
Sua boca se abre lentamente, por um momento parece estar perdido em seus próprios pensamentos.
-Não me agradeça Vivian. Eu faria tudo por você, não agüentaria te perder. Não consigo imaginar como eu ficaria sem você. Essas horas que você passou dormindo foi um dos piores momentos que já vivi.
Suas palavras me deixaram sem ar. Sabia que Benjamim gostava de mim. Mas ouvi-lo dizer essas coisas, me dava esperança de que ele me amava.
-Isso tudo o que aconteceu, me fez enxergar o que eu sinto por você. –ele me olhava intensamente.
Meu coração bateu forte. Queria tanto ouvir que ele me amava. Que não era apenas uma paixão passageira.
Eu o amava. Não tinha dúvidas disso.
Tentei evitar me apaixonar. Mas era inevitável.
Benjamim roubou meu coração.
-Vivian eu... –ele começou.
A porta se abre sem aviso interrompendo o que quer que Benjamim fosse dizer.
Minha mãe entra e fica paralisada ao me ver. Meus olhos se enchem de lágrimas assim como os dela.
Como senti sua falta. Agora ela estava aqui. Podia abraçá-la.
-Minha filha. –ela disse com a voz trêmula vindo até mim.
Benjamim recuou.
Ela tocou meu rosto de leve, vi em seu rosto o receio de me tocar.
-Me abraça mãe. Não estou tão quebrada assim. –brinco com a vos trêmula.
Vê-la foi o meu limite. As lágrimas que eu estava segurando rolavam livremente pelo rosto.
Ela sorriu e me abraçou como se fosse uma boneca de porcelana prestes a quebrar a qualquer momento.
Estava tão feliz em vê-la que tinha medo de acordar e ser apenas um sonho.
-Eu estava morrendo de saudades. –disse.
-Eu também filha. Graças á Deus você acordou. Fiquei tão preocupada com você. Quando Benjamim me ligou fiquei desesperada, peguei o primeiro avião.
Rugas se formaram em minha testa, queria saber como Benjamim entrou em contato com minha mãe.
Benjamim se aproximou de nós. –Eu vou deixá-las conversarem a sós. Qualquer coisa eu estou após essa porta.
Assenti.
Ele me deu um beijo na testa e saiu.
Minha mãe beijou minha bochecha e secou minhas lágrimas. –Me desculpe filha por não estar aqui com você. –ela disse com a voz fraca. –Se não fosse Benjamim não sei o que teria acontecido com você.
-Não se desculpe mãe. Você não tem culpa de nada que aconteceu. –disse.
E estava sendo sincera. Nunca culpei minha mãe por ter ido embora sem mim. Eu escolhi ficar. Não queria deixar minha avó sozinha.
Ela assentiu, mas ainda podia ver que se sentia culpada. –Como sou grata a Benjamim. Ele passou o dia inteiro aqui no hospital. Não saiu sequer para comer. Filha. –ela disse me fitando com os olhos negros como os meus. –Esse rapaz ama você. Não duvide disso.
-Não quero criar falsas esperanças mãe. –disse com a voz embargada.
-Viviane. Eu sei reconhecer um homem apaixonado. –ela disse com um sorrisinho.
Sorri também. Como era bom tê-la aqui.
-Eu senti tanto a sua falta. –sussurrei.
-Eu também filha. –ela secou o rosto e se recompôs. -Mas já está bom de chorar. Mesmo nessas circunstâncias estou muito feliz de estar aqui e poder matar a saudade.
Sim. As circunstâncias não foram nada agradáveis.
Meu pensamento foi tomado pela minha vó. Onde ela estava?
Será que Benjamim brigou com ela? Ou pior ainda, será que ela está presa?
Não. Mesmo que ela tenha feito isso comigo não permitiria que ela estivesse em uma cadeia. Eu a amava. Ela cuidou de mim todos esses anos. Não poderia simplesmente deixá-la.
-Onde ela está? –perguntei com a voz firme.
Minha mãe suspirou e desviou seus olhos de mim. –Não é a hora certa para conversamos sobre isso.
Porque não queriam que eu soubesse o que aconteceu?
Fiquei apreensiva. Estava no escuro e ninguém queria me dizer nada. Comecei a imaginar que a situação era mais grave do que eu imaginava.
-Por favor. Apenas me diga que ela não foi presa. –pedi.
Ela arregalou os olhos. –Não filha. Não se preocupe com isso. Ela está bem agora. –disse sem dar detalhes.
-Ok. –disse resignada.
Não adiantava fazer perguntas, pois elas não seriam respondidas.
-Posso pelo menos saber quando vou poder sair daqui? –não consegui disfarçar a infelicidade em minha voz.
-Benjamim está procurando saber isso. –disse calmamente. -É possível que seja hoje mesmo.
Um sorriso triste nasceu em seu rosto. –Não vou poder ficar muito tempo. Meu chefe me deu apenas dois dias de folga. E Paulo também não conseguiu mais que isso de seu chefe.
Fiquei triste com a notícia.
-Tudo bem. Eu entendo. –forcei um sorriso.
-Sophia está no hotel junto com Paulo. Infelizmente não deixaram que ela ficasse. Ela está muito ansiosa para te ver. –um sorriso travesso se formou em seu rosto. –Ela gostou muito de Benjamim.
Sorri. Era impossível não gostar dele.
E como se Benjamim soubesse que falávamos dele ele apareceu no quarto um prato de comida. –Licença. –disse educadamente. –Falei com o médico. Ele me disse que você será liberada hoje mesmo. –aquele sorriso que senti falta finalmente apareceu em seu rosto. –Eles só vão examiná-la para ver se está tudo bem.
-Graças a Deus. –disse minha mãe soltando um suspiro de alívio.
-Agora você precisa comer. –disse apontando para o prato em sua mão.
Minha barrica roncou. Não havia notado que estava com tanta fome.
-E você querido, já comeu? –disse minha mãe demonstrando sua preocupação.
-Sim. Não se preocupe. –ele disse se sentando ao meu lado.
-Bom, agora que você está sob os cuidados de Benjamim, vou para o hotel cuidar das crianças. –brincou.
Ela beijou meu rosto. –Volto logo.
-Até mais tarde. –disse acenando.
Benjamim também acenou para ela e ela sorriu carinhosamente.
-Você encantou minha mãe. –disse em tom acusador.
-O que eu posso fazer? Sou irresistível. –brincou.
Soltei uma risada. Amava o Benjamim brincalhão.
O cheiro de sopa exalou pelo quarto.
-Nossa. Parece que eu não como há anos. –disse olhando para o prato de sopa que Benjamim apoiou cuidadosamente em meu colo.
-Um dia para ser mais exato. –ele disse.
Comi rapidamente a sopa, mesmo não sendo meu prato predileto.
-Quando você vai me dizer tudo o que aconteceu? –perguntei impacientemente.
-Quando você receber alta e estivermos em casa. –ele disse com a voz firme.
-Hum.
Benjamim me olha em silêncio. E sem nenhum aviso me beija ferozmente.
Deixei sua língua explorar minha boca.
Gemi contra seus lábios quando a familiar eletricidade percorreu meu corpo.
Benjamim quebrou o beijo imediatamente.
-Que foi? –reclamei.
Sentia falta de seu beijo.
-É melhor nós pararmos. –ele disse com os olhos cor de chocolate cintilando.
-Alguém pode nos pegar. E eu estou ficando duro.
Reprimi um sorriso. –Fico feliz em saber que deixo duro mesmo nessas condições.
Seu olhar ficou escuro. –Você não tem noção do quanto está quente nessa roupa de hospital.
-Nós podemos recuperar o tempo perdido quando sair do hospital. –provoquei.
-Você ainda vai me deixar louco. Vou contar os segundos.
A porta se abriu.
Eu e Benjamim olhamos para a porta. Dyonathan estava somente com cabeça para dentro com um sorriso travesso.
-Peguei os pombinhos. –disse entrando e fechando a porta.
-Talvez. –disse Benjamim me fazendo eu lhe lançar um olhar. –Se você tivesse chegado dois minutos antes.
Ruborizei. –Benjamim. –disse exasperada.
Esses dois amavam me deixar com vergonha.
Dyonathan apenas sorriu e se aproximou sentando na beira da cama. Ele me abraçou com cuidado.
-Você deu um belo susto em todos nós. Como você está? –Dyo perguntou.
-Bem para que levou uma surra. –brinquei.
Nenhum dos dois riu. Eles se entreolharam como se soubessem alguma coisa que eu não sabia.
-É bom ver você bem. –ele disse por fim. –A Pri não pode vir. Aconteceu um imprevisto. Ela desejou melhoras e disse que vem visitar você quando puder. –ele explicou.
-Ela está bem? –perguntei preocupada.
Dyonathan deu de ombros. –Está ótima. Sabe como ela é.
Ainda fiquei preocupada com ela, mas não insisti no assunto.
-Quando você vai sair desse lugar?-disse Dyo olhando ao redor.
Ele não gostava de hospitais.
-Hoje mesmo. –disse sorrindo.
-Que ótima notícia. –rugas se formaram em sua testa. –Mas onde você vai ficar?
Ele olhou para Benjamim como se ele soubesse a resposta.
-Ela vai ficar comigo, por enquanto. –disse Benjamim sem hesitar.
Olhei para ele chocada. –Não vai ser preciso. Eu já consegui um apartamento para morar.
A expressão de Benjamim mostrava determinação. –Não vou deixar você sozinha. Você precisa de cuidados. O médico disse que você vai precisar de repouso. Nada de trabalho.
-Hum.
Estava sem palavras.
Dyo coçou a garganta. –Bom. Eu já vou indo. Ainda tem alguma pessoas querendo ver você.
-Quem? –perguntei me sentando na cama.
As únicas pessoas que me visitariam já vieram e estão aqui.
Ele lançou um olhar para Benjamim e beijou minha testa. –Você vai saber.
Ele saiu do quarto sem dizer mais nada, deixando-me completamente curiosa.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa para Benjamim. Ele se apressa em dizer. –Eu preciso resolver uma coisa. Já volto. –disse e pelo seu olhar note que estava tenso.
-Tudo bem. –disse.
Quando ele saiu voltei a me deitar com cuidado. Fiquei olhando para o teto branco deixando minha mente se perder em pensamentos.
Muitas coisas mudaram nesses dois meses em que conheci Benjamim. Eu vivia apenas por viver. Minha vida era sem cor e sem graça. Morria de medo da minha vó e fazia o que ela mandava sem protestar. Ouvia coisas sem rebater.
Ele me deu a força que eu precisava para enfrentar minha vó. E viver sem medo.
Mesmo que nada disso dure para sempre, ficarei feliz por ter conhecido Benjamim. E ter dado uma chance a nós dois.
Ter entregado meu coração á ele.
Não me arrependo de nada que fiz. E nem vou me arrepender.
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