-Muito obrigada, Benjamim. –disse pela milésima vez.
Estava tão feliz. Era como se eu tivesse tirado um grande peso das minhas costas.
-Você sabe que eu faço tudo o que estiver ao meu alcance para vê-la feliz. –disse Benjamim, me lançando um olhar maroto. –E nada me deixa mais contente do que ver esse sorriso lindo em seu rosto.
-Será que existe alguém mais feliz do que eu? Tudo está se acertando, minha vida está completa.
-Ainda não. –disse ele em tom de mistério.
-É mesmo?
-Sim. Falta uma coisa muito importante.
-Posso saber o que é?
-Na hora certa você saberá.
-Você sabe que acabou de atiçar a minha curiosidade, não é?
-Ah... –ele fingiu arrependimento. –Esqueci o quanto você e curiosa.
-Agora, não vou conseguir me concentrar no trabalho. –reclamei.
-Na hora certa você saberá. –ele repetiu.
Soltei um suspiro dramático.
Eu o conhecia bem o suficiente, para saber que ele não falaria nada. Meus esforços em tentar descobrir o que ele estava planejando, seriam em vão.
-Tudo bem, Senhor Fernandes. Preciso trabalhar, agora. Ou vou acabar enlouquecendo.
Ele soltou uma gargalhada, mandando beijo. Em resposta fiz uma cara feia e entrei no prédio.
Quando passei pelas portas de vidro, não consegui segurar a risada.
-Viviane. –Clara, a recepcionista, chamou minha atenção.
-Oi. Bom dia. –a cumprimentei com um sorriso.
-Bom dia. Há uma moça, esperando-a em sua sala. Disse que precisava com você urgentemente.
Franzi o cenho. –Ela não disse seu nome?
-Não. Quando perguntei, ela afirmou que não precisaria, pois você não a conhece.
Um arrepio atravessou minha espinha. Mesmo que não fizesse a mínima ideia de quem fosse, não estava com um bom pressentimento.
-Ok. Então, estou indo.
Na sala de espera, havia apenas uma mulher de cabelos castanhos, pele pálida, que aparentava ter por volta de seus 25 anos. Ela se levantou quando notou a minha chegada.
-Viviane?
-Sim. Sou eu.
-Que bom que consegui encontrá-la. Preciso muito falar com você. –enquanto ela falava, seus olhos pareciam distantes.
-Você é...?
-Ah. Desculpe minha indelicadeza. Me chamo Eliza.
Meu batimento cardíaco acelerou.
-O que você quer comigo? –questionei.
-Pela sua expressão, imagino que você já sabe quem eu sou.
-Sei exatamente quem você é. –afirmei.
-Então você sabe que o assunto se trata de Benjamim.
-Imaginava que sim. –respirei fundo. –Se dor alguma tentativa de me afastar de Benjamim, é uma grande perda de tempo.
-O que eu tenho pra lhe falar é muito importante. Eu tenho certeza que você gostaria de saber. Queria tanto que alguém tivesse me avisado a tempo, tudo seria diferente agora. Só espero que não tenha sido tarde demais para você também.
Um nó começou a se formar em minha garganta. –O que você está querendo dizer com isso?
-Não acho apropriado falar sobre isso aqui. –ela olhou ao redor. –Você tem um tempo para conversarmos?
Pensei por um longo tempo, se era certo ouvir o que ela tinha a dizer.
-Por favor. –ela insistiu.
Examinei seu rosto pálido. Ela não tinha cara de que faria mal a qualquer pessoa.
-Ok. –concordei por fim, abrindo a porta da minha sala. –Entre.
Ela se sentou em minha frente. –Não sei por onde começar. Você parece ser uma pessoa boa, não merece ser mais uma vítima. Eu realmente espero que não seja tarde demais.
-Você pode ir direto ao ponto, por favor. –pedi.
Aquelas palavras estavam me deixando assustada.
-Como você já sabe, eu sou a ex de Benjamim. Ficamos juntos por longos seis meses, os melhores da minha vida. Benjamim sabe ser encantador quando lhe convém. Mostra todas as suas qualidades. E esconde seus segredos. O que ele esconde, nos separou. Talvez estivéssemos juntos até hoje. Eu o amava com todas as minhas forças, estava completamente envolvida por ele.
-O amava? –a interrompi.
-Sim. O amava. Com o tempo tudo passa, as feridas cicatrizam. Mas ainda não consegui superar completamente o que aconteceu.
-Porque isso está relacionado comigo?
-Benjamim faz uma coisa imperdoável com todas as mulheres com que se relaciona.
-O que?
Seus olhos começaram a ficar vermelhos, estava prestes a chorar.
-Eu não consigo...
-Você tem me falar. –exigi.
-Olhe na ultima gaveta do criado mudo dele. Tenho certeza de que ele nunca as tirou de lá.
-Tirou o que? Fale! –minha voz estava trêmula.
-É repugnante. Eu simplesmente não consigo falar. A chave que abre a gaveta, fica escondida entre as gravatas dele. Não há como errar. –ela se levantou rapidamente, se dirigindo a porta.
-Espere!
-Por favor, faça isso. Você entenderá. –e com essas palavras, ela me deixou na sala.
Com a cabeça à mil.
***
Enquanto Carlos dirigia para casa, meus pensamentos ainda permaneciam em Eliza.
Benjamim guardava segredos. Mas quem não tinha segredos?
Será que eu podia julgá-lo por isso?
Eu confio em Benjamim.
Eu confio em Benjamim.
Repeti várias vezes a mim mesma.
Não podia acreditar no que uma ex, que com certeza estava magoada, dizia.
Mas nada disso aliviou o que se formou em meu peito naquela manhã.
Algo em meu subconsciente dizia que eu deveria olhar naquela gaveta. Descobrir o que separou ele de Eliza.
Ela parecia tão triste, como se aquelas lembranças a ferisse de uma forma profunda.
O que eu vou fazer ?
Eu deveria falar com Benjamim. Dizer tudo o que aconteceu.
Mas e se fosse verdade? E se houvesse algo naquela bendita gaveta?
Eu não descobriria, ele não deixaria.
Benjamim me amava, eu tinha certeza disso. Sei que não me magoaria.
Porém, aquilo não sairia da minha cabeça. Eu tinha que descobrir a verdade.
Deu um rápido Tchau ao Carlos, e corri para o prédio. A adrenalina subiu em minha cabeça.
Eu descobriria, agora.
Entrei no apartamento de Benjamim, esperando que ele não estivesse em casa.
Assim seria mais fácil.
Eu olharia a gaveta, e teria certeza de que sua ex estava mentindo, que tudo aquilo era uma grande mentira.
Entrei em seu quarto, olhei ao redor. Estava aparentemente vazio.
Quando ia em direção ao guarda roupa, Benjamim saiu do banheiro.
-Hey. Você chegou. Vem tomar banho comigo. -disse ele, vindo até mim e me abraçando por trás.
Ignorei o jeito que meu corpo reagiu a ele e ao seu convite. -Claro. Podemos ir pra banheira? –sugeri.
-Ok. Eu vou preparar o banho. -ele concordou prontamente.
Esperei ele voltar para o banheiro, e caminhei até o guarda roupa. Na gaveta de gravatas, bem no cantinho, havia uma pequena chave dourada.
Minhas mãos começaram a tremer.
Havia uma chave. Ela não mentiu sobre isso.
Será que eu realmente queria descobrir o resto?
Não parei para pensar. Estava agindo no impulso.
Fui até o criado mudo e tentei abrir a última gaveta, na esperança de não precisar de chave alguma, na esperança de ser só mais uma gaveta comum, sem nada escondido.
Estava trancada.
Coloquei a chave na tranca e girei.
Tinha que ser rápida.
A abri.
O silêncio era tanto, que ouvia as batidas do meu desesperado e aflito coração.
Sem perceber, eu havia fechado os olhos.
Estava com tanto medo.
Medo descobrir que isso era tudo uma fantasia, que a vida que eu estava construindo com Benjamim acabasse no minuto em que olhasse.
Mas tinha que fazê-lo.
Abri os olhos.
Havia um envelope vermelho. Não estava lacrado, possivelmente havia sido aberto recentemente.
Com as mãos trêmulas o abri.
Fotos.
Eram fotos.
Várias fotos em lugares diferentes. Mas não foi isso que me chocou. As fotos eram de Benjamim com mulheres, em cada uma delas ele estava com uma diferente. Ambos nus, no ato do sexo.
Joguei as fotos no chão, sentia como se minha mão tivesse sido queimada por elas.
A última foto era na praia.
A minha foto.
Benjamim estava em cima de mim, era claramente o momento em que ele tirou minha virgindade.
Comecei a chorar.
Como ele pode fazer isso?
Um momento tão íntimo e pessoal, misturados com essas fotos, como uma coleção.
A coleção de mulheres de Benjamim.
Eu era uma delas.
Isso tudo era uma grande mentira, o que ele realmente queria comigo era isso.
Me joguei no chão encarando as fotos.
Eram tantas mulheres...
Elas provavelmente não sabiam, como eu, da existência dessas fotos.
Havia a foto da Eliza.
Meu Deus.
Era na praia também. A mesma cena, em que eu estive.
A repulsa tomou conta de mim. Eu queria vomitar.
-Vivian? Porque você demora...?
Olhei para Benjamim, me levantando.
-Você mexeu nas minhas coisas? -ele perguntou com a voz fria.
Não me importei com seu tom.
Ele olhou entre mim e o chão coberto pelas fotos pornográficas.
-Não é isso...
Não esperei ele começar a explicar. Corri do quarto, saindo do apartamento. Eu precisava sair dali o mais rápido possível.
Entrei no elevador e dei de cara com Daniel.
-Viviane. -ele sorriu, mas logo sua expressão se tornou preocupada. -O que aconteceu?
Me apoiei na parede à procura uma sustentação.
E chorei.
-Viviane? -senti seus braços ao meu redor.
Eu não me afastei. Não tinha forças para isso.
Quando o elevador parou no térreo, me desvencilhei dele e corri para fora do prédio.
-Viviane!
Não podia olhar para Benjamim, e sabia que ele estava correndo atrás de mim.
Daniel me alcançou, me puxando pelo braço. -Venha comigo. Não vou deixar ele se aproximar de você.
Ele me colocou dentro do carro. Quando estávamos dentro, Benjamim Pareceu de toalha, todo molhado, batendo na janela com uma força sobrenatural.
Me encolhi, evitando encará-lo.
Daniel deu partida no carro, obrigando Benjamim a se afastar.
Olhei para trás e o vi entrando em seu próprio carro.
-Você descobriu. -ele afirmou.
-Você sabia de tudo? -soltei um forte soluço.
Todos sabiam, menos eu. A ingênua Viviane.
-Eu tentei lhe falar, mas você sempre se esquivou de mim. Como se não me suportasse.
-Eu pensei que você...
-Que eu fosse o mau da história. -completou ele, em um tom amargo.
Assenti.
-Benjamim mentiu sobre várias coisas. Isso é só uma delas.
-Porque ele fez isso comigo?
-Eu também gostaria de saber. Como ele conseguiu continuar com toda essa farsa. Como ele conseguiu continuar magoando você.
-Eu quero saber toda a verdade. Toda. Sei que Benjamim é incapaz de falar a verdade, então você pode fazer isso?
-Claro. Você merece a verdade.
-Onde estamos indo?
-Para um lugar em que Benjamim não possa nos incomodar.
Um pequeno alívio se formou em meu peito, mas logo foi substituído por uma dor absurda no peito. Era difícil respirar. Queria tanto que isso fosse um pesadelo. Que eu com Benjamim ao meu lado para me consolar, afirmando que era apenas um sonho ruim, que nunca faria isso comigo.
Porém, tudo era real.
Eu não acordaria.
Será que eu conseguiria suportar essa dor?
Nunca imaginei que Benjamim pudesse ser tão baixo. Além de despedaçar meu coração em vários pedaços, ainda me desrespeitou de uma forma imperdoável.
Eu fui usada. Era apenas seu brinquedo.
As fotos reaparecerem em minha mente, junto com o enjôo.
-Pare o carro! –gritei, em seguida tapei a boca.
Ele parou no acostamento. E eu desci rapidamente, caindo de joelhos no chão, vomitando tudo o que tinha comido no almoço.
Daniel segurou gentilmente meu cabelo, alisando minhas costas.
-É demais para mim. Tudo isso é mais do que eu possa suportar.
-Você precisa ser forte. Não deixe que Benjamim estrague sua vida como fez com Eliza.
Daniel me abraçou, me aninhando em seu peito.
Uma freada brusca, chamou nossa atenção. Reconheci imediatamente o carro que parou atrás de nós.
Era Benjamim.
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