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História Doce sedução - Capítulo 8


Escrita por: cherry_99

Capítulo 8 - Capítulo 8


Acordei com uma dor de cabeça horrível. Levantei-me e me examinei no espelho. Estava horrorosa, meus olhos estavam inchados pelo choro da noite passada. Fiz uma careta para meu reflexo e lavei o rosto para despertar.

Fui até a cozinha tomar café, e me certifiquei se minha vó estava em casa. Ela havia saído cedo, ainda eram sete horas da manhã.

Estava tão distraída na noite passada que nem havia me lembrado que era domingo. Não era dia de trabalhar e teria a tarde livre para fazer minha pesquisa.

Servi meu café e fiquei olhando o vapor que saía dele.

Tinha que contar para Benjamim que iria embora, quanto mais tempo eu demorasse, mais magoado ficaria. Não queria correr o risco de perdê-lo e também não podia enganá-lo. A idéia de escolher entre os dois estava me corroendo por dentro. Mas já estava decidido, o certo era partir.

 Acabei meu café e resolvi sair para procurar o apartamento pessoalmente. Seria bom para arejar a cabeça e relaxar. Pensei no que ia dizer para minha vó, não falaria nada sobre o apartamento. Não era a hora certa.

–Que foi? –ela perguntou sem rodeios.

-Oi. Eu só liguei para avisar que vou sair para fazer uma pesquisa da faculdade. –sempre me sentia mal quando mentia, mas era por uma causa justa.

-Você não pode fazer isso em casa no seu notebook? Ele não serve mais para você? Joguei dinheiro fora quando o comprei? –ela começou a brigar.

-É em grupo. –disse calmamente.

-Ta ok. Mas não vai fazer como ontem e chegar de madrugada em casa. –ela disse e desligou.

Revirei os olhos. Havia atrasado apenas meia hora, ela sempre exagerava.

                                        ****

Andando até o ponto de ônibus lembrei-me de quando Benjamim quase me matou de susto me seguindo lentamente em seu carro. Um sorriso bobo nasceu em meu rosto.

Fiquei um pouco apreensiva com o fato de ele não ter ligado nem mandado mensagem.

Era domingo, não podia estar trabalhando.

Ou estava sim, ele era um CEO, certamente não tinha muitos dias de folga.

Concordei com a segunda opção e resisti à vontade de ligar.

 

Fiquei impressionada com a quantidade apartamentos disponíveis. Um em especial chamou minha atenção. Era pequeno e aconchegante. Quando entrei nele já me imaginei morando.

-A Srta vai querer este? –perguntou a corretora esperançosa.

-Sim. Este é perfeito. –disse olhando pela janela o fluxo de pessoas andando apressadamente na rua. Era uma bela vista.

Ela ficou entusiasmada. –Que bom. Podemos ver os detalhes do pagamento e você vai poder se mudar muito em breve.

-Ótimo. –respondi. –Pretendo me mudar o quanto antes.

Uma parte já estava feita. Só faltava a parte mais complicada: falar com minha avó.

Essa parte não me abalou naquele momento. Estava me sentindo realizada. Finalmente poderia ser independente.

Meu celular vibrou em minha bolsa, peguei esperando ver o nome de minha avó na tela.

Era Benjamim.

-Benjamim. –disse com um sorriso.

-Oi linda. –ele disse com a voz arrastada.

-Você está bem? –meu sorriso se desfez.

-Não há nada bem. Queria que você estivesse aqui. –soluçou.

Ele estava chorando?

Comecei a ficar nervosa. –Onde você está?

-No meu apartamento. Estou me sentindo tão sozinho aqui. Quero meu anjo aqui comigo.

Sua voz indicava que ele estava bêbado. Nunca tinha o visto nesse estado, alguma coisa tinha acontecido.

-Estou indo ai. –disse começando a descer as escadas rapidamente.

-Sério? Não! Você não pode me ver nesse estado, estou um caco. Estou em pedaços. Preciso tanto de você. –a frase não fazia sentido algum.

-Não saia daí. –disse com a voz firme e desliguei.

Em que estado ele estava? Será que estava ferido?

Um monte de coisas passaram pela minha cabeça.

Peguei um taxi para chegar mais rápido, e em menos de meia hora estava subindo no elevador de seu prédio.

Quando saí do elevador trombei com um homem alto de cabelos castanhos. –Descul... –comecei a dizer.

Quando olhei para o sujeito minha voz não quis sair.

Era o Daniel. Aquele que se referiu a mim como um dos novos brinquedinhos de Benjamim.

-Olá linda. –ele disse com um sorriso largo. –Que prazer vê-la novamente.

Estremeci ao escutar ele me chamar de linda.

-Oi. –respondi com a voz trêmula.

-O que você faz aqui? –ele perguntou. Seus olhos me avaliaram, notei que a cor deles era de mel.

-Vim ver Benjamim. –disse.

Alguma coisa me dizia que devia me afastar dele e ir embora.

-Foi o que eu pensei. O que você acha de conversarmos um pouco antes de você ir vê-lo. Em um lugar mais reservado. Meu apartamento é logo ali. –disse apontando para trás de si.

Olhei ao redor. Esse não era o andar em que Benjamim morava. Estava no lugar errado, e obviamente na hora errada.

-Não. Eu tenho que ir. –disse virando as costas.

-Eu a deixo nervosa?

-Não. –menti.

-Por que parece que sim, você está fugindo de mim. –retrucou Daniel, analisando-me atentamente.

-É que eu estou com pressa. Tenho que ir. –disse virando-me para sair.

Ele segurou meu braço. –Eu preciso conversar com você.

Puxei meu braço bruscamente. –Mas eu não quero conversar com você. E não me toque, por favor.

Daniel franziu o rosto, soltando-me. –O que Benjamim disse a você?

-Não sei do que você está falando.

-Sei que você é uma garota inteligente, mas também é bastante ingênua, ao ponto de confiar em Benjamim. Ele não é quem você está pensando, deveria se afastar dele.

-E eu posso confiar em você? Nem o conheço, e confesso que não me causou boa impressão ontem a noite. –disse em tom acusador.

-Eu estou tentando te mostrar quem é o verdadeiro Benjamim. Você não o conhece.

           -Me deixe e paz, e a Benjamim também. Essa sua tentativa de me separar dele, pelo motivo que nem quero saber, não vai funcionar.

 Daniel baixou a cabeça, encarando os pés, parecia decepcionado. –Eu só espero que um dia você saiba toda a verdade. Você merece isso. -E sem mais uma palavra, entrou no elevador, sem olhar para trás.

Me escorei na parede a procura de apoio. Estava sentindo uma coisa estranha no peito, e meu pulso estava acelerado.

Não podia negar que Daniel me deixava extremamente nervosa.

O que estava acontecendo? Quem era Daniel e que envolvimento tinha com Benjamim?

Não tinha idéia da resposta para essas perguntas. Isso só me provava que não o conhecia.

Recompus-me e entrei no elevador. Desta vez não errei o andar e bati na porta do apartamento de Benjamim. Não obtive resposta e girei a maçaneta. Fiquei aliviada ao ver que estava aberta e entrei.

O apartamento estava uma bagunça, e havia vidros espalhados por toda a parte.

-Benjamim. –chamei.

Nada.

Entrei em seu quarto e o vi jogado na cama completamente vestido. Havia uma garrafa de vodca vazia em suas mãos. A cena fez meus olhos lagrimarem. Ele parecia devastado. O que quer que tenha acontecido não fora nada bom.

-Benjamim. –tentei chamá-lo novamente.

Ele abriu um pouco os olhos e murmurou algo. Logo em seguida adormeceu de novo.

Tirei seus sapatos e afrouxei sua camisa, que cheirava fortemente a álcool.

Olhei a hora no relógio em seu pulso. Ainda eram 14 horas. Tinha que esperá-lo acordar.

Enquanto isso, arrumei a bagunça da sala, juntei os cacos de vidro. Aproveitei para fazer um lanche para comermos. Tinha certeza de que ele não havia comido.

Estava sentada na mesa distraída em meus próprios pensamentos quando Benjamim acordou.

-O que você está fazendo aqui? –perguntou.

Seu tom não era gentil.

-Você me ligou. –disse como se explicasse tudo.

-Você não deveria ter vindo. –ele disse se sentando ao meu lado. –Pelo que você viu não estou nada bem.

O encarei de olhos semicerrados, ele estava sendo tão frio. Eu vim para ajudá-lo e ele estava me tratando desse jeito. Isso não estava certo.

-Eu vim por você. –retruquei sem esconder a irritação em minha voz. –Você estava precisando de mim, e eu estou aqui. Não entendo porque você está me tratando desse jeito.

Seu rosto se suavizou. –Me desculpa. É que esse dia está sendo difícil, não queria que você me visse desse jeito. Bebi mais do que deveria e estou com uma dor de cabeça horrível. Obrigado por vir.

-Tudo bem, Benjamim. –disse relaxando.  –Você precisa comer alguma coisa.

Levantei-me e peguei um comprimido que carregava na bolsa. –Isso vai ajudar a passar sua dor de cabeça.

Ele pegou o comprimido e abriu um sorriso fraco.

Não queria conversar com ele nesse estado, mas não podia adiar o inevitável. Eu precisava de explicações, respostas sobre o que estava acontecendo, precisava saber quem era Daniel, e porque sempre insinuava coisas horríveis sobre Benjamim.

Minha cabeça estava á mil, buscando justificativas para os atos de Daniel, com isso, ficava cada vez mais confusa.

Não queria acreditar que estava sendo enganada.

Benjamim terminou de comer o sanduíche e permaneceu calado sem me olhar. Notei apreensiva que ele ficou estranho desde o encontro com o Daniel.

Recolhi a louça suja e pus na pia. Senti as mãos de Benjamim em minha cintura, logo seus lábios estavam em meu pescoço.

-Senti muito sua falta. –ele disse com sua voz rouca.

Eu também havia sentido. Meu corpo ansiava seu toque.

-Benjamim. –sussurrei.

-Diga linda.

Senti um tremor involuntário. Não sentia a mesma coisa de antes quando ele me chamava assim.

-Não me chame mais disso. –disse abruptamente me afastando dele.

Ele me olhou confuso. –De linda?

-Sim. Por favor.

-Sempre te chamei assim. O que há de errado agora? –perguntou de cenho franzido.

-Precisamos conversar. –desviei o assunto, não queria responder sua pergunta, ainda estava desconfortável com tudo que estava ocorrendo.

            Ele suspirou pesadamente. –Isso tem alguma coisa a ver com o Daniel não é? Você disse que me daria o tempo necessário para me explicar. Ainda não estou pronto.

Não respondi de imediato. Ele passou as mãos pelos cabelos nervosamente, e encarou o chão. Parecia desolado.

-Eu sei, mas tudo isso está tão estranho. –disse sentando na cadeira. –Quando cheguei aqui acabei encontrando Daniel no corredor...

Benjamim me interrompeu. Seus olhos brilharam de fúria. –Ele fez alguma coisa a você?

-O que?

Não queria que a conversa tomasse esse rumo.

-Vivian, me responda. –ele exigiu.

Ele apenas disse que sou ingênua demais e não deveria confiar em você. Pensei com ironia.

-Não.

-Eu te conheço mais do que imagina, sei que está mentindo.

-Isso não está em questão agora, Benjamim. Não posso mais esperar você estar pronto ou não para me explicar o que está acontecendo. Desde que esse Daniel apareceu você não é mais o mesmo, e fora as coisas que ele diz. Isso não sai da minha cabeça.

Ele se sentou ao meu lado e respirou fundo. –O Daniel é meu irmão.

O olhei sem acreditar. Irmãos? Porque o irmão de Benjamim iria falar tão mal dele?

Depois de analisar, toda a situação fez sentido. Como não percebi isso antes? A semelhança entre eles era alarmante, o mesmo cabelo, mesmos traços. Apenas os olhos eram diferentes.

Não consegui dizer nada, de repente minha boca estava seca.

-Não nos damos muito bem desde a morte de nosso pai. Ele mudou muito após saber que eu ficaria como sócio majoritário de todos os bens, disse que eu havia persuadido nosso pai para deixar a maior parte da herança em minha posse. Como você sabe, eu mal colocava os pés na empresa e não era um bom exemplo para receber tal responsabilidade. Mas ele era completamente o contrário de mim, sempre estava na empresa cuidando dos negócios. Um dia, discutimos seriamente e não voltamos a nos falar. Até hoje não entendo o porquê de o papai ter deixado com a maior parte de tudo. Nunca quis isso, ele sabia disso, mas antes de morrer disse que eu deveria cuidar de tudo. Ele confiou tudo em minhas mãos.

Fiquei calada por um momento tentando absorver tudo. –Você nunca me disse que tinha um irmão.

-Esse não é meu irmão. Ele morreu no dia em que leram o testamento. Virou essa pessoa amarga e gananciosa.

-E porque ele disse aquelas coisas no restaurante?

-Não escute nada do que ele diz. Ele quer nos separar porque sabe que se eu te perder isso me afetaria muito. Daniel sabe que meu ponto fraco é você. Por isso você não pode deixar ele se aproximar de você. Ele vai tentar chegar de todas as formas em você, mas eu não vou permitir que isso aconteça.

Meu coração bateu forte em meu peito. Eu era o ponto fraco dele.

-Me desculpe não te dizer isso quando você pediu. É um assunto complicado e difícil para mim. Éramos muito unidos, apesar das diferenças. Perder um irmão não é fácil.

Peguei suas mãos e enlacei nas minhas. –Tudo bem, Benjamim. Eu entendo você. E não se preocupe com Daniel. Ele nunca vai nos separar. O único que pode fazer isso é você mesmo.

O abracei forte e o beijei apaixonadamente.

Eu iria esquecer tudo o que Daniel disse no restaurante e não o deixaria se aproximar de mim.

Sabia que podia confiar nele, Daniel era o irmão vingativo e ganancioso, nele é que não deveria confiar.

As mãos de Benjamim começaram a percorrer meu corpo. Ele tirou minha camisa e distribuiu beijos pela barriga.

-Vivian. Você não tem idéia do quanto estou apaixonado por você.

Suas mãos alcançaram meu sutiã. Estava prestes a tirar sua calça quando meu celular vibrou violentamente na mesa quebrando o encanto.

Meu sangue gelou. Tinha esquecido completamente da minha vó. Olhei a hora e já passava das 6 horas.

-Alô. –disse com a voz trêmula. Já estava preparada para escutar ela brigar comigo.

-Onde você está Viviane? Sabe que horas são? Que porra de trabalho é esse que está durando até a essa hora. –ela disse.

Pelo seu tom de voz, sabia que seu humor não estava nada bom. Ela nunca falava palavrão. Isso era um sinal péssimo.

-Eu já estou indo para casa. –disse rapidamente.

-Você só pode estar brincando comigo! Perguntei onde você está agora! Está surda?

Estremeci. –Estou... Na casa de um amigo fazendo o trabalho.

Ela notou a insegurança em minha voz. –Você está mentindo para mim Viviane! Você acha que eu sou idiota?

-Não vó. –disse desesperadamente. –Eu estou indo para casa. –disse novamente na esperança de acalmá-la.

-Para o seu bem, espero que não demore e que arranje uma mentira mais convincente. –ela avisou.

Estava tremendo. Sabia o que estava por vir. Ainda não tinha visto ela tão alterada.

Lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Não conseguia pensar no que dizer para fugir dessa situação. Minha única opção era enfrentar a fera.

-O que aconteceu? –Benjamim perguntou preocupado.

-Minha vó. –solucei. –Ela sabe que não estou fazendo trabalho algum. Está muito brava e não sei o que fazer para acalmá-la.

Benjamim me abraçou. –Calma Vivian. Respire. –ele disse passando as mãos em minha costa. –Você não é mais uma criança. Ela não pode lhe fazer mal.

Sua tentativa de me tranqüilizar me deixou ainda mais aflita. –Você não a conhece. As coisas que ela diz me machucam muito. Não agüento mais isso.

-Eu vou com você. –disse Benjamim. –Chega dessa merda toda. Você vai embora de lá hoje mesmo.

Arregalei os olhos. –Não. Você não pode aparecer lá. Vai piorar a situação. Eu vou sozinha. Vou conversar com ela.

Ou tentar. Pensei.

Benjamim me abraçou mais forte.

Desvencilhei-me seus braços. –Preciso ir agora. Cada minuto que ela esperar, pior vai ser.

Enxuguei meus olhos.

-Não vou deixar você ir assim sozinha. Vou deixá-la.

-Obrigada.

***

 

-Boa sorte. E qualquer coisa me liga. –Benjamim disse quando estava á um quarteirão da minha casa.

-Ok.

Evitei chorar no caminho para casa. Nessa situação o choro deixava minha vó ainda mais brava.

Saí do carro e andei rapidamente até em casa. Quando entrei, ela estava sentada na poltrona da sala com uma expressão indecifrável.

-Quem é esse homem que veio deixar você? –perguntou com a voz calma.

-É uma amiga... –falei inutilmente.

-Você sabe que eu odeio mentira. A coisa que eu mais odeio nesse mundo é mentira. Me irrita. Me deixa irada. Tem certeza de que vai continuar mentindo? –Sua voz foi se alterando ao longo da frase.

Respirei fundo. Era melhor contar a verdade. Não era desse jeito que eu queria que as coisas acontecessem, mas agora não havia escapatória.

E pior que isso não poderia ficar.

-É meu namorado.

-O que? –ela disse com um sorriso muito estranho. –Repita. Acho que não ouvi direito.

Engoli em seco. –É meu namorado.

-Então você estava na casa dele? De um homem?

-Sim.

-E você tem coragem de dizer isso na minha cara? Desse jeito. –ela se levantou da poltrona.

-A senhora quer a verdade... –comecei a dizer.

-Cala essa maldita boca, sua filha da puta! –minha vó gritou.

Fechei os olhos. Não gostava quando ela me mandava calar a boca. Eu me sentia tão impotente. Sentia-me um nada.

-Eu tentei criar você para ser uma mulher decente de fibra, que não se envolvesse com qualquer um por ai, como uma vadia. Mas fracassei mais uma vez. Você é igual a sua mãe, é uma vadia que vive correndo atrás de homem. Achava que eu não havia percebido? Não sou cega e nem burra. Sabia que você andava fazendo coisa errada, que andava mentido descaradamente.

-Você acha que tudo isso vale á pena Viviane? Nenhum homem presta, todos eles são iguais. Largam você quando se cansam, quando conseguem o que querem. Não existem finais felizes com homens no meio. Eles só te usam enquanto você é jovem e bonita. Mas tudo isso passa, seu rostinho não vai ser assim para sempre, e quando você não for mais uma novidade ele vai te abandonar para ficar com outra mais bonita. Essa é a natureza, e uma mulher inteligente, evita fazer parte disso.

Ela me encara com o olhar que já conheço muito bem para saber o que vai dizer. –O seu pai é o primeiro exemplo que você tem na sua vida de que homens não prestam. Ele abandonou você e sua mãe.

Suas palavras parecem facas em meu peito. Ela sabia que eu não gostava que tocasse nesse assunto. Era algo que me machucava muito.

-E agora sabe onde ele está? Com uma família linda e feliz. E você minha filha, não está e nunca estará no meio dessa família. Na verdade, até sua mãe te abandonou, não te quis. Se quisesse estaria aqui com você, ou teria te levado junto com ela. Mas o que ela fez? Foi embora, e agora também tem uma família perfeita que não inclui você como membro. A única pessoa que teve a pena de você fui eu. Sabe onde você estaria se não fosse pela minha pena? Em um orfanato.

-Para. Por favor, para. –implorei.

Isso já era demais para eu suportar. Minha mãe me amava, eu sabia que sim. Ela não tinha condições de cuidar de mim na época, era muito nova. Eu a entendia. Meu pai nunca se importou comigo nisso ela estava certa, mas minha mãe, não pode.

-Você é igual a mim. Olhe ao seu redor, você está sozinha, só tem a mim. Ninguém gosta de você.

-Não! Isso não é verdade. –soltei um soluço forte, que fez meu peito arder.

Ela fechou a cara e se aproximou de mim. –Porque você está chorando?

-Eu não posso mais ouvir isso. Por favor, pare.

-Eu não acredito nessas suas lágrimas de crocodilo. Nada disso me comove Viviane. Pare de se fazer de coitadinha.

Raiva começou a se formar em meu peito. Escutava calada tudo o que ela dizia, nunca falava, nem chorava.

Encontrava-me em meu limite.

Eram anos e anos de sentimentos guardados. Não conseguia engolir mais nenhum choro, mesmo sabendo que sua irritação só iria aumentar com minhas lágrimas.

-Para de chorar, agora. –ela mandou.

Reuni todas as minhas forças para me recompor. Em vão.

Era isso, não podia mais suportar. Acabou.

Minha boca estava cheia de coisas para dizer, coisas que reprimia, que nunca ousaria dizer.

Todas as minhas emoções estavam sendo expostas de uma só vez.

Raiva.

Frustração.

Mágoa.

Tristeza.

Dor.

Tudo isso estava prestes a explodir.

-Chega! Eu vou chorar o quanto eu quiser. Estou cansada de tudo isso. De ter que ouvir calada tudo o que você diz de cabeça baixa. De tentar ser perfeita para agradar à senhora e nunca ser reconhecida pelos meus esforços. Nada nunca está bom para a senhora. Sempre há defeito em tudo, em todos.  Não é a toa que nenhum dos seus filhos se dão ao trabalho de lhe fazer apenas uma visita ao ano. Ninguém lhe suporta porque você é uma rancorosa. Eu tentei ser tudo o que a senhora queria, tudo para fazer a senhora feliz. Mas nunca é suficiente. Não tenho uma vida, não me divirto, e nem sei o que é sair com meus amigos. Mesmo que a senhora não acredite, nunca desobedeci a senhora. A única vez que fiz isso, foi  quando conheci Benjamim, que trouxe cor a minha vida que era tão sem graça. E sabe de uma coisa? Não importo para as conseqüências. Não me arrependo nem um pouco, e faria tudo novamente. Benjamim foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida.

Foi libertador falar tudo o que estava preso em mim.

-E a senhora não precisa mais ter pena de mim. Obrigada por todos esses anos ter cuidado de mim. Mesmo você sendo assim, ainda me sinto grata, consigo amá-la.

Minha avó permaneceu em silêncio. Era assustador vê-la assim. Tão calma depois de tudo que eu disse.

Não esperei ela falar. Andei até meu quarto e comecei a arrumar minhas malas. Não havia notado, meu coração estava acelerado e não estava respirando muito bem. Estava tremendo muito.

Fiz uma mala com apenas as roupas e coisas necessárias. Não queria demorar muito e também não queria mais voltar mais. Acabei e respirei fundo. Tinha que ser forte naquele momento. Estava indo embora, para não voltar.

Estava livre.

Saí do quarto. Minha vó estava na porta da sala, parecia estar prestes a fazer algo. Um arrepio passou por todo o meu corpo.

Não entendia porque me sentia tão nervosa, e com medo.

O pior já tinha passado.

-Você acha que pode sair desse jeito? –ela perguntou com a voz calma.

Aquele seu tom estava me incomodando. Preferia quando ela gritava.

-Eu vou embora. Não tenho porque ficar aqui. –consegui fazer minha voz sair firme e confiante.

-Você não tem vergonha, não? Sua mal agradecida. Mentirosa.

Começou tudo de novo.

-Por favor. Eu só quero ir embora. –pedi.

-Larga essa mala.

-Não. –disse balançando a cabeça negativamente.

-Você está me desafiando?

-Não. Como eu disse antes, só quero ir. –disse apontando para a porta.

-Sabe o que você está merecendo? –ela disse com um sorriso ameaçador.

Não respondi. Não estava entendendo onde  queria chegar.

Ela começou a andar em minha direção. Meu instinto foi recuar.

-O que? Está com medo?

Minha voz havia sumido. Estava entrando em pânico.

Em um impulso comecei a correr para a porta.

Estava trancada.

Quando virei para minha avó fui atingida por um tapa no rosto.

Ardeu muito e fiquei tonta.

-Você achava que ia sair assim? Depois de me falar todas aquelas coisas?

E outro tapa.

            Cobri meu rosto com as mãos para me proteger.

Mas não parou por ai. Ela começou a distribuir socos pelo meu estômago. Tudo isso estava acontecendo tão rapidamente, que não sabia o que fazer. Senti uma dor insuportável em meu corpo e meus joelhos cederam. Caí no chão e me encolhi na esperança de que ela percebesse que havia me machucado de verdade e parasse.

Mas ela não estava satisfeita, continuou distribuindo chutes pelo meu corpo.

Não conseguia me mexer. Senti gosto de sangue em minha boca.

Tentei gritar, mas nada saía de minha boca, sentia algo me impedindo. Cuspi e encarei o chão, eu estava sangrando.

Tudo ao meu redor estava ficando escuro, não sentia os golpes que estava levando.

A imagem de Benjamim veio em minha mente. Seu sorriso. Seus olhos cor de chocolate. Depois vi minha mãe chorando na sala de embarque agarrada ao meu padrasto.

Tudo ficou escuro.

Queria poder vê-los novamente, antes de morrer.



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