História Doce Visita - Capítulo Único.

Havia acabado de acordar sentindo todo seu corpo doer. Estava deitada numa cama, suas cabeça girava, ela não conseguia saber direito onde se encontrava. Porém, conforme foi despertando, foi entendendo melhor o que acontecia, e a felicidade voltou a tomar conta de seu ser.

Sentou-se com certa dificuldade, a última batalha tinha sido um pouco demais até para uma guerreira como ela. Mas não se arrependia, muito pelo contrário, se pudesse faria tudo novamente. Havia resgatado parte da honra que sua guilda havia perdido ao derrotar aqueles cem monstros, e para ela não poderia haver uma alegria maior. Sabia que alguns pensavam que ela tinha feito tudo aquilo somente para se gabar, mas Erza Scarlet nunca foi disso, ela jamais faria alguma coisa somente para se exibir. Também podia ter sido taxada de louca por aceitar um desafio que era como se jogar se braços abertos para a morte, mas o fato era que ela tinha conseguido, e mesmo cheia de dores, sentia-se bem e cheia de vida.

Assim que uma das enfermeiras que cuidavam dos feridos notou que Erza tinha despertado, disse que buscaria algo para a mulher de cabelos escarlates comer, e ela agradeceu por isso, estava cheia de fome. Fitou a janela que ficava ao lado da sua cama, se perguntando como estariam seus companheiros, queria poder assistir as batalhas deles. Porém também merecia um descanso após tanto esforço. Bocejou e voltou a se deitar, pensando que deixaria para comer depois, só queria voltar a dormir sem ser incomodada. Não demorou muito para que seus olhos se fechassem e ela voltasse a cochilar.

Não pôde nem perceber quando certa pessoa entrou na enfermaria a passos lentos, tentando passar despercebido. Já estava a espreita há algum tempo, e quando notou que quem ele tanto observava adormeceu, criou coragem para se aproximar. Tinha que tomar cuidado, ele não estava disfarçado naquele momento, deu apenas uma passada rápida para ver quem ele tanto queria e logo tinha de sair. Logo estava ao lado da cama dela, e quando pôde fita-la de perto, dormindo tão serena, não conseguiu evitar que um sorriso bobo se formasse em seu rosto.

Jellal Fernandes estava extremamente orgulhoso. Era impressionante como ela conseguia fazê-lo se apaixonar cada dia mais, a cada nova atitude. Ele se lembrava da Erza menina, da garotinha frágil e indefesa que ela tinha sido, que ele tanto queria proteger, e pensar que ela tinha se tornado essa mulher tão bela e poderosa, a maga mais forte de sua guilda — e sua força não era só devido ao poder mágico, ela também era forte de espírito, todos podiam se apoiar nela —, ele se enchia de felicidade. Se emocionou ao assistir, mesmo que de longe, a vitória daquela heroína sobre um dos desafios mais perigosos dos Grandes Jogos Mágicos, e depois disso só pensou no quanto precisava vê-la. Ela não ficaria sabendo que ele esteve ali, mas não tinha problema, ele já estava acostumado com isso. Era só assim que ele podia admirar a mulher que amava, de longe, enquanto ela estava adormecida, e isso doía em seu coração. Queria sempre ter esse sentimento de calor e alegria que tomava conta de seu corpo quando a tinha por perto, tudo era tão frio quando estavam longe. Suspirou, chateado e pensando que devia sair dali.

Erza ainda não dormia profundamente, então sentiu a presença de alguém bem pertinho dela, alguém especial e que ela queria muito ver. Isso a fez abrir os olhos rapidamente, e seus castanhos deram de encontro com os verdes do homem que a observava de perto. Tomou um susto ao ver quem estava ali, assim como Jellal, que se afastou imediatamente, sentindo seu coração bater mais forte e sangue se concentrar em suas bochechas, as deixando muito vermelhas.

— A-Ah, perdão! E-Eu não queria te acordar... — ele disse coçando a nuca, completamente sem jeito. Erza piscou um par de vezes, ainda sem entender o que acontecia, e depois riu da cara de bobo dele. Voltou a se sentar, sem deixar de encará-lo. Havia ficado muito feliz com aquela visita repentina e inesperada, ainda mais contente do que já estava.

— O que faz aqui, Jellal? Você não devia andar sem máscara por aí! — ela disse, e o rapaz dos cabelos azuis riu envergonhado.

— É, realmente eu não devia! Mas eu precisava te ver, te dar os parabéns pelo o que fez no Pandemonium... Foi realmente incrível! — agora foi Erza quem paralisou com uma carinha engraçada de paisagem, ficando muito ruborizada. Seu coração acelerou e passou a bater muito forte, será que ele tinha noção do quanto aquele elogio tinha significado para ela? Erza abaixou a cabeça contendo o sorriso de boba apaixonada, se sentindo nas nuvens.

— Aquilo não foi nada demais, eu... Só fiz o que devia ser feito! — disse toda bobinha. Jellal reparou bem naquela carinha envergonhada dela, e isso o deixou encantado, era incrível como Erza conseguia ser os dois extremos. Sentiu a liberdade de se sentar na cama dela, chegando ainda mais perto da mulher e aumentando o magnetismo que existia entre ambos.

— Eu lhe admiro muito, Erza! — aquilo ela não tinha entendido muito bem. A admirava? Mas por que? — Você mudou tanto desde aquela época... Ao mesmo tempo em que não mudou nada!

— O que está tentando dizer? — questionou. Jellal deu uma risadinha e desviou o olhar, encarando a parede da enfermaria.

— Você se tornou muito forte, determinada, guerreira! Hoje você é a mulher mais forte da Fairy Tail! Porém, continua tendo o mesmo espírito que eu me lembro que a Erza menina tinha, aquela Erza de quem eu cuidei e protegi! Seu sorriso sempre me encantou desde aqueles dias... — novamente ele conseguiu fazer seu coração acelerar, era como se este fosse sair por sua boca a qualquer instante. Jellal olhou para Erza e vendo o quanto ela estava ruborizada, percebeu que estava falando demais. Corou e desviou o olhar, raspando a garganta. — Erm... Eu queria muito ter acompanhado seu crescimento, Erza! Você é uma pessoa maravilhosa em quem eu sempre irei me espelhar!

Ela achou tudo aquilo muito engraçado. Não conseguia entender o que se passava pela cabeça de Jellal, ele às vezes parecia não se importar o mínimo com o que eles tinham, com toda a história que tinham juntos. Porém, eram essas palavras tão simples e ditas do fundo do coração que a faziam entender que sim, ele se importava, tanto quanto ela. Era incrível como ele mexia consigo, ela estava tão tranquila até poucos minutos atrás, agora se via agitada. Pensou que queria dormir sem ser incomodada, porém estava adorando que não deixassem dormir.

— Isso jamais teria acontecido se eu não tivesse te conhecido, Jellal! — ela disse, e ele a encarou com a respiração presa. — Você se lembra de quando éramos pequenos? Das coisas que você no dizia? Eu cresci com a esperança de que tudo iria melhorar, de que eu nunca devia desistir, por causa do que você falava! Eu jamais me esqueci de você, eu nem mesmo conseguiria fazer isso... — ela falou, não deixando de encarar seus olhos verdes, emocionada com as coisas que falava. Jellal havia a marcado de tal forma que ela nunca poderia se esquecer dele, que ela jamais se esqueceria. Ela o amava, no final das costas, e o amaria para sempre.

Jellal sorriu com isso que Erza lhe disse. Aproveitou o momento e chegou ainda mais perto dela, observando seu rosto corado e se sentindo flutuar. Sentiu-se também livre para retirar uma mecha de cabelo escarlate que estava na frente de seu rosto e pô-la atrás da orelha da moça, que se arrepiou totalmente com aquele toque simples e inesperado. Estava trêmula e agitada por dentro, assim como seu coração se derretia com aquele olhar tão admirado sobre ela. Assim como ele não devia ter noção do quanto suas palavras tinham a atingido, também não devia saber como essas atitudes que ele tomava agora a deixavam sem chão. Porém, ela também não sabia como ele também se sentia nervoso, mas também cheio de coragem. Estavam só os dois ali afinal, o que poderia dar errado?

— Você... É linda, Erza! Muito linda! — falou hipnotizado. Erza engoliu seco, o que diabos ele estava querendo fazer? Iria ser como no dia do quase beijo de novo, em que estavam quase lá e ele desistia? Ela ainda se sentia muito machucada daquele dia. Entretanto, Jellal não queria recuar dessa vez, queria aproveitar daquele pequeno momento que estava tendo junto com aquela estonteante mulher. Era incrível a forma como ele perdia a noção do que fazia perto dela.

Ele foi chegando cada vez mais perto, e a mão que antes acariciava a mexa de seu cabelo foi para seu rosto, a trazendo para si. A cena de poucos dias atrás ia se repetindo, novamente eles estavam naquela situação, e dessa vez ele não cometeria o mesmo erro daquela vez. Ele já tinha seus olhos fechados, pronto para tomar os lábios daquela mulher e beijá-la pela primeira vez, da forma que sempre sonhou, e ela também queria. E quando pareceu que dessa vez tudo daria certo, Erza teve um flash de memória, se recordando do empurrão que recebeu, de como isso tinha doído, e de como a desculpa dele tinha machucado ainda mais. Ainda estava chateada, e essa era uma ótima oportunidade para se vingar.

Foi difícil, os lábios já se roçavam e as respirações estavam misturadas, mas ela conseguiu virar o rosto no último segundo, e ele lhe beijou a bochecha. Jellal sentiu um balde de água fria ser jogado em sua cabeça, ficou até mesmo um pouco tonto, não acreditando que isso estava acontecendo. Ele se afastou e encarou os olhos da mulher, ela estava séria, não parecia estar gostando da situação. O que havia acontecido?

— P-Por que você... — ele foi lhe questionar, mas Erza logo respondeu.

— Você tem uma noiva, não tem? Não faço essas coisas com homens comprometidos! — afirmou com um bicão, cruzando os braços e desviando o olhar. Jellal piscou um par de vezes, incrédulo com o rancor que ela tinha daquela desculpa, ele tinha certeza que ela sabia que era mentira. Por fim acabou rindo, ruborizando.

— Ah é... Eu tenho uma noiva... — disse encarando o lençol branco da cama. Erza o fitou de relance e observou sua expressão arrependida, e por fim deu um sorriso. Pelo visto os dois não haviam nascido para ficarem juntos, estavam fadados a sofrer por amor e se conformar de que seus caminhos jamais se misturariam. Conteve a vontade que sentiu que puxá-lo pelo colarinho e lhe beijar, ele tinha que sentir um pouco da dor que ela tinha sentido.

— Erm, perdão! Quem é você? — disse a voz de outra pessoa, a enfermeira eu tinha ido buscar comida para Erza. Jellal virou o rosto assustado, se desesperando e vendo que estava na hora de ir. Se despediu de Erza rapidamente, dando-lhe um beijo no canto da boca, que era só o que ele podia fazer agora, e isso quase fez parar o coração da jovem. Tão rápido quanto entrou, ele se foi, quase derrubando a mocinha que estava parada na porta, e quando ele já estava longe, a ruiva deu risada pensando em como ele era maluco. — Eu interrompi alguma coisa, senhorita?

— Não, não interrompeu nada! — falou com um sorriso e o coração acelerado. — Me dê logo essa sopa, estou cheia de fome!

A enfermeira serviu a sopa para Erza, que comeu enquanto pensava no que tinha acabado de acontecer. De certa forma estava arrependida, ser beijada pelo homem que amava era tudo o que podia querer para que aquele dia se tornasse perfeito, mas como a boa pessoa rancorosa que era, iria fazê-lo pensar melhor nessa história de ter uma noiva. Suspirou, de qualquer forma foi bom ter recebido a visita dele, saber que ele a considerava tanto. Mesmo que não tivessem se beijado, havia sido perfeito, novamente tinham mostrado um ao outro seus sentimentos, mesmo que nem mesmo tivessem tocado nesse assunto.

Talvez ela fizesse uma visitinha a ele após sair daquela cama de enfermaria, para terminar o que tinham começado ali, ele merecia, estava evoluindo. Pensava que não poderia ficar mais feliz naquele dia, mas podia sim. Ninguém iria tirar o sorriso de seu rosto.