Las Vegas-Selena Gomez.
Perdi a noção de quanto tempo eles estavam se encarando. O clima agradável do restaurante, agora se encontrava tenso. Minhas pernas tremiam por baixo do vestido longo, as mãos suavam frias e a boca estava seca. Tudo ainda era resultado da violência com a qual fomos pegos de surpresa por aqueles homens, que ainda apontavam as armas para nós.
Vi que Justin estava inacreditavelmente calmo ao meu lado. Com a postura ereta e relaxada, tinha o olhar fixo no velho à frente. A arma jazia em sua mão, parecendo estar com a mente vagando por outro planeta, alheio a nossa realidade.
—Finalmente voltamos a nos encontrar, Justin Bieber. —E essas foram às primeiras palavras do senhor, depois daqueles minutos intermináveis de silêncio entre eles.
—Poderia ter chegado de uma forma mais ponderada. —Justin serrou os olhos.
—Você já deve saber que gosto de fazer grandes entradas. —Pierre respondeu com certo sarcasmo, parando o olhar em mim pela primeira vez. —Peço perdão por atrapalhar sua noite romântica bela senhorita... —Ele voltou sua atenção para Bieber. —Mas seu namorado e eu temos um acerto de contas a fazer.
Tantos dias no ano e tinha que ser justo hoje?
—Acerto de contas? —Justin estava rindo agora. Um sorriso cruel e desdenhoso. —Achei que já tivesse esquecido os ressentimentos do passado, Pierre.
Ele recebeu um olhar de raiva do homem.
—O que você me fez jamais poderá ser apagado. Está arquivado bem aqui. —Ele Bateu com o dedo indicador na lateral da cabeça. Seus olhos acinzentados estavam estreitos, transbordando rancor e ódio. —Você matou meu único filho e ainda me trouxe a cabeça decepada dentro de um embrulho para presente. Algo assim é difícil de esquecer.
Olhei para Justin em busca de qualquer sinal de arrependimento. Não existia nada ali. Ele continuava tranquilo, pleno, como se nada tivesse a temer.
—Isso é verdade? —Perguntei incrédula.
—Unhum. É sim. —Respondeu tranquilo, com uma simplicidade chocante.
—Eu passei muito tempo a sua procura, buscando notícias ou qualquer coisa que pudesse me levar até você. —Dando alguns passos à frente, ele continuou. —Contratei detetives, pedi ajuda a polícia e até optei por mercenários como você, mas nenhum deles obteve sucesso. As irmãs Jenner foram às únicas que chegaram mais perto, no entanto, você as eliminou antes.
Virei para Justin ao ouvi-lo dar uma gargalhada estridente daquelas em que se joga a cabeça para trás e deixa até com falta de ar.
—Do que está rindo? —Pierre ralhou, apertando os punhos. —Pare agora!
Ele parou, ficando a uma distância razoável entre nós e seu pessoal, que estavam mais que preparados. Bastaria uma ordem para sermos fuzilados, sem ter a menor chance de escapatória.
—Eu estou falando com você! Está surdo? —Esbravejou o velho, apontando a bengala para Justin. Seu rosto pálido foi tomado por uma coloração avermelhada e ele tremia, bastante enraivecido.
—Então foi você que mandou aquelas duas? Que piada! —Bieber dizia entre risos.
Pierre franziu o testa, ficando ainda mais sério. Seu ódio por Justin parecia se intensificar a cada instante.
—Sabe rapaz... —O garotinho que tinha sido pouco notado, caminhou até Pierre após ser chamado pelo mesmo. Ele parou ao seu lado, recebendo um afago rápido nos cabelos negros e lisos. —Este aqui é meu neto, Enzo. A única coisa que restou do filho que você me tirou. Eu o trouxe até aqui para que ele veja por si mesmo o rosto do homem que assombra seus pesadelos até hoje.
O pequeno agora encarava a Justin e nunca tinha visto uma criança com tanto ódio no olhar.
—Filho do Leonel? —A sobrancelha de Justin levantou, enquanto ele analisava o garoto. —Parece mais ser seu do que dele. —Um sorriso maldoso formou-se no canto de seus lábios depois de tal insinuação.
—Laertes. —Frisou, espremendo os punhos e trincou os dentes. —Você nem mesmo lembra o nome.
—Não perco meu tempo lembrando o que não é importante. —Meu namorado maldoso deu de ombros.
A fúria daquele senhor chegou a nível máximo. Seus olhos vermelhos e esbugalhados, dentes serrados como os de um cachorro louco. Toda a pose de homem poderoso e superior foi para o ralo, deixando ali apenas um descontrolado.
Justin?
Simplesmente não estava nem aí pra nada.
Indiferença foi à única resposta que deu.
—Eu vou arrancar este sorrisinho idiota de você agora! —O grito de Pierre fez seus homens ficarem em alerta, apenas aguardando a ordem, que foi dada logo em seguida. Firme e estridente. —Atirem!
Segundos antes dos disparos começaram, fui agarrada rapidamente por Justin e acabamos no chão. O corpo dele cobria o meu de forma protetora. Meus olhos encontravam-se fechados, mas eu podia sentir que mesmo deitado, Justin reagia.
Foi tudo muito rápido. Acho que toda a ação não levou mais que dois ou três minutos até que os tiros cessassem. Abri os olhos quando senti Justin levantar e foquei no corpo de Pierre caído.
Tinha uma poça de sangue sob ele. Seu neto encontrava-se ajoelhado a seu lado, o sacudindo pelos ombros, enquanto suplicava que não se fosse.
Mas era tarde, ele já estava morto.
Levantei-me tentando entender melhor a situação.
—Você o acertou? —Perguntei e Justin negou, balançando a cabeça. —Mas se não foi você, então quem foi...?
Olhei para Michael e o moreno de cabelo rastafári. Eles tinham as armas apontadas para a entrada e quando direcionei o olhar para lá, Hailey estava parada no meio da porta com uma arma em mãos.
—Vadia desgraçada! —Michael gritou e antes que pudesse apertar o gatilho, foi acertado em cheio por Justin.
Toddy foi o próximo a ser derrubado por eles, restando apenas um. Aquele que eu não tive o desprazer de ser apresentada na festa.
—Espera! Eu me rendo! Não atire! —Ele implorou por sua vida, só que isso não foi suficiente para que a loira diabólica o poupasse. Ela apertou o gatilho umas, duas, três vezes, apenas para vê-lo sofrer e somente no último tiro, resolveu acabar com tudo.
—O que seria de você sem mim, Bieber? —Hailey desfilou até nós, jogando o cabelo para o lado quando chegou perto do meu namorado. —Você está perdendo o jeito.
—Eu poderia muito bem ter resolvido isso sem sua intromissão. —Ele lançou um olhar mortal para ela, que sorriu debochada.
—É. Eu percebi.
Justin virou de costas, ignorando. Eu já o conhecia o suficiente para saber que estava se sentindo frustrado. Ele é do tipo de pessoa que sempre gostava de ter tudo sob controle, então era uma facada em seu ego enorme ser pego de surpresa assim.
Eu também sentia frustração em ter sido salva por essa garota. Pior ainda era vê-la se sentindo o máximo por isso. Acho que morrer era uma opção mais agradável que ver aquele sorrisinho ordinário no rosto dela.
—Vamos embora. —Justin disse para mim, começando a andar.
Eu respirei fundo, passando o olhar por o rastro de destruição deixado no restaurante. Cacos de vidro espalhados por todo lugar, corpos ensanguentados e sem vida. Tudo tão diferente do cenário que havia encontrado quando cheguei. Tudo tão frio e amargurante.
Foquei na criança a qual tinha esquecido completamente da existência depois da chegada de Hailey. Estava de costas para nós, ainda ajoelhado ao lado de seu avô. Os ombros moviam-se no mesmo desespero que seu choro abafado. O pobrezinho devia estar com medo e abalado. Ver um ente querido ser morto diante de seus olhos é algo chocante, principalmente quando se é apenas uma criança.
Por saber como era aquela sensação, acabei me aproximando.
—Eu sinto muito, Enzo. —Relutante, acabei tocando em seu ombro. Eu sabia o quão doloroso era se sentir sozinho e desamparado.
—Sente muito? —Sua voz saiu baixa e abafada. Levantou-se de supetão e quando virou, tinha uma arma apontada para mim.
Ele estava tão confuso e desesperado. Os olhos arregalados e vermelhos, respiração pesada, dentes cerrados. Suas mãos tremiam a ponto de quase não conseguir segurar aquela armar, mas existia um ódio colossal dentro de si. Estava com medo, podia sentir.
—Eu sei que você não quer fazer isso. —Busquei coragem para falar e parecer o mais segura possível. Arrisquei a dar um passo em sua direção. — Abaixa a arma, Enzo.
—Eu vou te matar! —Ele gritou de forma desesperada.
Mesmo assim, dei mais um passo.
—Não. Você não vai. —Fui levando minha mão com cuidado até o objeto. —Vai ficar tudo bem. É só você entregar... —Me calei quando uma bala atravessou a lateral de sua cabeça e o vi cair aos meus pés.
Busquei o culpado e lá estava Justin. Seu braço estendido em nossa direção, à arma empunhada e um olhar vazio.
Voltei á atenção para o pequeno Enzo, vendo formar uma poça de sangue embaixo de sua cabeça. Estava com os olhos abertos e espantados, enquanto uma lágrima grossa escorria por um deles. Ele estava morto.
Sua vida foi interrompida antes que ele tivesse a oportunidade de crescer e aproveitar tudo o que a juventude podia lhe oferecer. Ele se foi da pior maneira que alguém poderia ir. Sozinho, assustado e confuso.
Deixei que uma gota de lágrima escorresse por meu rosto.
—Por que você fez isso? —Disse em fio de voz baixo. Nem mesmo sei se ele ouviu e se ouviu, ignorou.
Justin apenas guardou sua arma e me deu as costas, seguindo para a saída.
—Feliz aniversário! —Hailey deu um meio sorriso e acenou para mim, indo logo atrás dele.
***
—Acabou a festa! —Gritou Bieber logo após atirar no aparelho de som do DJ, acabando com a música. Os convidados olhavam para ele em uma mistura de susto e curiosidade, bêbados demais para perceberem a ameaça de perigo. —Estão surdos por acaso caralho? Quero todo mundo fora da minha casa. —Quando viu que não estava sendo levado a sério, ele atirou três vezes para cima. —AGORA!
A sala foi tomada por gritos de pânico e não demorou nada para que todos corressem apressados, empurrando uns aos outros e se pisoteando. Eu me encolhi no canto da parede até que tudo acabasse.
—Porra cara! Logo agora que a coisa estava ficando boa. —Resmungou Khalil, virando uma garrafa de tequila.
—Eu quero dançar até o amanhecer. —Vanessa balbuciou em uma linguagem de bêbada, sentando-se de mau jeito no sofá.
—Achei que vocês fossem terminar a noite em algum motel por ai. —Demi bateu o olho em mim e já percebeu que eu não estava bem. —O que aconteceu?
Eu apenas balancei a cabeça, em um sinal de que não era o momento de falarmos. Ela pareceu entender o recado.
—Justin...? —Olhei para Ryan quando ele o chamou.
—Preciso que faça uma limpeza para mim. —Bieber jogou a chave de seu carro para o amigo nerd. Ryan o encarou por poucos instantes e sem fazer perguntas, saiu.
Nós já sabíamos bem qual providencia seriam tomadas em relação às pessoas mortas que ficaram no restaurante.
Sacudi a cabeça, tentando não imaginar aquela criança sendo derretida em ácido.
—Dá um jeito nessa bagunça. Não quero ver nada disso aqui quando eu acordar. —Justin subiu as escadas, deixando tal ordem em um tom autoritário.
—Work, work, work, work, work, work, you see me I be work, work, work, work, work, work... —Olhei para Vanessa, cantando e rebolando desengonçada sobre o sofá a ponto de cair.
—Desce dai projeto de Rihanna. É melhor você ir dormir ao invés de ficar pagando calcinha. —Ashley, repreendeu a amiga.
—Quem disse que estou de calcinha? —Vanessa mal terminou de falar e Khalil foi logo abaixando para tentar ver. —Te peguei panaca! —Ela riu, levantando o vestido só pra revelar sua calcinha azul fio dental.
A galera começou a rir da cara desapontada do Khalil, zoando ele e eu fui me retirando, sem chamar atenção. Evitaria responder os questionários da Demi enquanto não me resolvesse primeiro com o Justin.
Acabei o encontrando na banheira, de os olhos fechados, pouco preocupado com o que aconteceu.
—Por que você fez isso? —Falei com a voz alterada.
—Isso o quê? Fiz muitas coisas hoje, então seja mais especifica. —Ele nem se quer abriu os olhos, deixando claro o grau de importância que estava dando.
—Não se faz de desentendido, Justin! —Dessa vez eu gritei. —Como é que você faz uma atrocidade daquelas e fica aí tranquilo? Ele era apenas uma criança inocente.
Seus olhos se abriram vagarosamente, focando-se em mim com certo tédio.
—Uma criança inocente que tinha uma arma apontada para você. —Disse simples.
—Ele não ia atirar.
—Ah, não? —Um pequeno sorriso sórdido surgiu em seu rosto. —E o que te faz afirmar isso com tanta certeza?
—Ele apenas estava confuso e com medo. —Passei a mão pelos cabelos, atordoada. —Você não precisava ter matado o menino.
—Você ainda continua tão bobinha mesmo depois de tudo o que já passou. —Justin colocou os braços atrás da cabeça, usando como apoio. Seu olhar era tão frio quanto um iceberg, causando calafrios semelhantes aos que senti a primeira vez que o vi matar alguém. —Ele sentia ódio e você não faz ideia do poder desse sentimento. Não sabe o que alguém é capaz de fazer na hora da dor quando está possuído por ele. Aquele garotinho que você define como "inocente" iria acabar apertando o gatilho se eu não tivesse agido antes.
Ficamos nos encarando, não sei por quanto tempo. Ele tinha aquela aura indiferente de quem sabia todos os segredos do universo, mas algo dentro de mim se recusava a acreditar que até alguém tão jovem fosse capaz de sustentar um sentimento pesado assim.
Sentei na borda da banheira, de costas para ele e afundei meu rosto entre as mãos. Presenciar mortes já estava virando rotina na minha vida e ainda assim, eu não conseguia me habituar por completo aquele mundo sombrio.
—Você não sente remoço? —Perguntei depois de um bom tempo refletindo.
—Não. Já faz muito tempo que não sei o que é isso. —Sua sinceridade não me chocou dessa vez. Eu até já suspeitava que essa fosse ser sua resposta.
—Não sei como consegue ser assim. —Eu disse e logo senti sua presença, ajoelhado atrás de mim.
—Você estava em perigo. Eu tinha que tomar uma atitude e fiz o que achei necessário. Não vai conseguir me fazer sentir culpa por ter escolhido salvar a sua vida, Selena. Era ele ou você. Eu vou sempre te escolher acima de qualquer um.
Meus músculos enrijeceram ao toque de suas mãos em minha pele. Fechei os olhos, quando passou a massagear a área das costas com a firmeza e precisão necessárias para fazer meu cérebro entrar em pane. Era um de seus dons, conseguir me tirar o foco por mais brava que estivesse.
—Pessoas morrem a todo o momento. É melhor você começar a se acostumar com isso. —Disse enquanto abaixava sem pressa o zíper do vestido até chegar à minha lombar. A parte de cima caiu e fui sentindo o calor de seus lábios em minhas costas, levando os beijos até a área dos ombros.
Bastava suas mãos habilidosas me tocarem daquele jeito que todo o meu corpo se rendia. Estava trêmula e ofegante. Ele me enlouquecia aos poucos, perversamente instigando-me a querer mais de carícia. Eu tinha plena consciência de que não deveria amolecer tão fácil assim. O que Justin tinha feito foi muito errado, por mais que sua intenção fosse me proteger. O grande problema era que eu não conseguia resistir a seu sex appeal. Antes de me dar conta, já estava terminando de tirar o vestido.
Justin se recostou na banheira, esperando que eu me livrasse da peça. Virei-me completamente nua e engoli em seco, enquanto ele me observava. Seu olhar quente vagando por cada parte do meu corpo, com a mistura de seriedade e depravação na medida certa para conseguir fazer minha intimidade latejar.
Caminho até ele e entro na banheira, me sentando sobre suas pernas. Seus olhos queimando de desejo enquanto olhava para meus seios, que ficavam cada vez mais rígidos, ansiando por seu toque. Sou puxada um pouco mais para cima, sentindo o tamanho de sua excitação. Arquejei alto, passando a língua por meus lábios ressecados.
Ele me toma em um beijo lento e sensual, capaz de agitar todas as minhas terminações nervosas. Aquele beijo que te faz tremer e suar frio, a ponto de esquecer até como se respirava direito. Afastei-me, segurando seu pau e o encaixo dentro de mim, vendo a forma sensual com a qual ele mordia o lábio. Fui me movendo devagar, sem desviar os olhos dos seus. A palma de sua mão direita em minha barriga foi deslizando até o vão entre meus seios e ali os tocou, provocando os mamilos com os dedos.
Segurando dos dois lados de minha cintura, Justin me puxa mais para si, deixando meus seios na altura de sua boca. Passei a me mover um pouco mais rápido, apoiando meus braços sobre seus ombros e deixando que ele os degustasse como bem quisesse.
—Gostosa demais! —Ele grunhiu, acertando uma tapa em meu bumbum, apoderando-se de meu pescoço logo em seguida. Soltei um gemido abafado, fechando meus olhos.
Sua respiração estava tão ofegante quanto a minha. Vez ou outra, ele puxava meus quadris para me ajudar a ir à velocidade e força que gostava. Nos beijamos, dessa vez com mais ferocidade, sentindo uma de suas mãos alisando minha bunda e a outra descer e subir incansavelmente pela curva de minha cintura. Cheguei a ter dois maravilhosos orgasmos até que ele pudesse desfrutar merecidamente do seu, jogando a cabeça para trás e soltando um arfar rouco extremamente sensual.
Deitei a cabeça em seu ombro, cansada e sonolenta. Depois do sexo, aquele era meu momento preferido. Ficar apenas ouvindo e sentindo a sua respiração quente desfrutando do carinho gostoso que ele fazia em minha pele logo após o orgasmo. Eu chegava a esquecer dos problemas e do tipo de pessoa que o homem que eu amava era. Aquilo sim não tinha preço.
—Selena! —Sua voz era calma e suave, próxima de meu ouvido. Apenas soltei um murmuro embargado pelo sono e ele riu. —Vamos para a cama. Lá é o lugar mais adequado para dormir.
Assenti e fui abrindo os olhos preguiçosamente. Saímos da banheira e nos secamos. Coloquei meu Baby Doll cor de vinho e Justin vestiu uma cueca samba-canção xadrez, indo para a cama logo em seguida. Não demoramos muito a dormir, já que obviamente estávamos esgotados.
Acordei às cinco e meia da manhã, ouvindo os gritos de Justin.
—Não! Não! Eu não acredito nisso! —Ele se debatia atordoado ao meu lado, suando frio com um medo em seu semblante que nunca tinha visto antes. —Não! Eu odeio você! Eu. Odeio. Você. —Gritou estridente, depois mordeu o lábio com tanta força que até feriu.
—Justin! —Segurei em seu rosto, notando que estava trêmulo. —Justin! —Voltei a chamá-lo, acendendo o abajur. Ele inclinou o corpo de vez, ficando sentado. Seus olhos estavam arregalados tomados por o pânico, enquanto ele agarrava a coberta da cama com força, puxando a respiração. —Calma! Foi só um pesadelo. —Passei a mão por suas costas, molhadas de suor.
Levou mais tempo do que eu esperava para que se recuperasse do susto por completo.
—Eu vou buscar uma água para você. —Fiz partida para levantar da cama, mas ele me segurou pelo braço.
—Não precisa. —Passou a mão pelo rosto tenso e respirou fundo.
Esperei pacientemente que seus batimentos voltassem ao normal para poder questioná-lo sobre o acontecido.
—Com o que você estava sonhando?
Senti seu corpo enrijecer ao meu lado.
Ele ficou calado, olhando fixamente para as próprias mãos.
—Justin... —Desisti quando o vi espremer os punhos de forma feroz. Ele não queria falar. —Você está bem?
—Estou. Não foi nada. —Respondeu, deitando-se e virando para o outro lado.
O deixei quieto em seu canto. Se não queria falar, não seria eu a obriga-lo. Voltei a deitar, mas não consegui dormir novamente. A cena de Justin gritando, parecendo amedrontado, não saía da minha mente. Eu gostaria de saber o que seria tão terrível a ponto de fazê-lo tremer daquela forma. Logo ele que não tinha medo de absolutamente nada.
Não demoramos muito tempo deitados. Ele logo saiu para resolver algo em relação à bagunça deixada no restaurante com o Ryan e eu tentei treinar sozinha, mesmo os pensamentos estando longe do que estava fazendo.
—Até que enfim te achei! —Demi entrou na sala e andou até mim. —Isso não é uma casa. É um verdadeiro labirinto. Espero que o chato do seu namorado cague dinheiro, porque se esse negócio de ser “assassino profissional” for bom assim, eu vou largar a escola e entrar para o ramo. Já pensou?—Ela gesticulou com as mãos de forma convencida. — “Demi, á caçadora de recompensas”. Tcha, tcha!
Eu abri um sorriso, que saiu uma verdadeira droga.
Demi parou de gracinha e chegou um pouco mais perto, sentado no Leg Press perto do saco de areia que eu estava batendo.
—Chaz me disse que estava treinando e juro que não acreditei. Logo você que fazia caminhada chorando. —Ela riu, acompanhando meus movimentos.
—Pois é. Está com pouco tempo. Ainda estou pegando o jeito. —Pisquei para ela e vi seu rosto ficar sério. —O que foi?
—Você não está bem.
—Eu? —Dei uma risada, fazendo pouco caso. —Estou ótima!
—Está nada. Pare de fingir que te conheço como a palma de minha mão, Selena. —Desfiz o sorriso falso quando vi que ela não estava brincando. —O que ele fez? Ele te bateu outra vez? Se ele fez isso, eu juro que vou arrancar as bolas daquele bandidinho de araque com uma faca cega.
—Ouw! —Parei o que estava fazendo e fui até ela rindo de sua agressividade extrema. —Calma aí senhora “caçadora de recompensas”! Ele não me bateu. Se Justin se atrevesse a fazer isso novamente, seria eu a arrancar as bolas dele com uma faca cega. —Começamos a rir disso.
—Ele não está te fazendo feliz? —Percebi certa preocupação envolvida em sua voz.
—Ele faz. —Não penso duas vezes para dizer. —Certo que tem horas que da vontade de cortar o pau dele fora quando faz besteira, o que é quase sempre, mas, tirando isso, está tudo bem.
—Sabe que sempre pode contar comigo, não é? —Segurou minha mão quando me ajoelhei próximo a ela. —Sempre.
—Sempre. —Apertei a sua, retribuindo o sorriso meigo que me deu. —Ah, caramba! Não vai chorar se não eu choro também. —Comecei abanar com as mãos a frente de meus olhos.
—Tenho que voltar hoje para o presidio. —Ela disse referindo-se ao internato.
—Mas já?
—É. Não posso demorar tanto tempo assim para não levantar suspeitas, mas assim que as férias de verão começar eu vou fazer questão de vir passar aqui com você.
—Venha mesmo. Vou aguardar.
—Ouviu isso? —Ela alertou-me franzindo a testa e logo comecei a ouvir também. —Vem do banheiro.
Fomos até lá, ouvindo aqueles sons ficarem cada vez mais altos. Quando cheguei ao pé da porta, identifiquei que eram gemidos. Demi e eu nos entreolhamos, tentando reconhecer de quem poderia ser. Minha amiga levou a mão até a maçaneta, mas a impedi na hora certa. Se existia no mundo alguém mais curioso que eu, esse alguém certamente era Demi. Recriminei sua atitude, balançando a cabeça e ela revirou os olhos, chateada. Segurei em seus ombros, tentando tirá-la dali quando a porta foi aberta.
Encarei Vanessa que me encarou de volta com os olhos esbugalhados de surpresa. Ela estava de roupa de ginastica, com o cabelo parecendo que havia acabado de sair da guerra. Um sorriso maldoso formou-se em meus lábios quando inclinei a cabeça um pouco para o lado, vendo Khalil subindo suas calças. Ele não demostrou tanto constrangimento como ela.
Meu sorrisinho aumentou ainda mais, vendo Vanessa abrir e fechar a boca, sem conseguir formular uma se quer palavra.
—Bonito dona Vanessa! —Cruzei os braços enquanto Demi ria feito louca. —Então é assim que vocês brigam quando nós não estamos por perto?
—Cuida da sua vida, nojenta! —Khalil respondeu, parando bem ao lado dela.
—Vocês estão... Juntos? —Franzi a testa, levantando minha sobrancelha. Só aquela possibilidade era bem mais que esquisita.
—Não! —Os dois falaram em igual.
—É apenas um vuco-vuco de leve, né gente? —Demi debochou, me fazendo rir dessa palavra estranha.
—Não estamos juntos. Eu emh! —Vanessa parecia nervosa e irritada ao mesmo tempo. —E isso não vai mais acontecer. Foi só uma... Rapidinha inocente. Nada mais. —Continuamos rindo e isso a deixou mais irada. —Quer saber? Dane-se! Não tenho que dar satisfações sobre a quem dou ou não a minha boceta. Meu nome é fui! —E dizendo isso, ela saiu pisando firme.
—Enxeridas! —Khalil fuzilou a gente com o olhar.
—Agora temos culpa de vocês estarem fodendo no banheiro? Deveriam ser um pouco mais discretos. —Demi disse em nossa defesa.
— É verdade. A culpa é de vocês. —Reforcei.
—Fica quieta, Selena, que você e seu boy magia negra também não são lá um grande exemplo de respeito. —Eu a fuzilei quando disse isso.
—Vaca! —Resmunguei e ela me mostrou o dedo do meio.
Voltei para o quarto, na intenção de tomar um banho e depois sair para fazer algo com Demi e as garotas. Queria aproveitar um pouco mais seu último dia comigo. Joguei o roupão sobre o ombro, vasculhando todo o closet a procura da carteira de Justin. Ele tinha várias e sempre acabava deixava algum dinheiro. Fiquei em ponta de pés, tateando a parte de cima onde ele escondia tudo com as mãos, até que achei. A carteira era de couro de jacaré, toda trabalhada e cheia de detalhes. Quando abri, não percebi que estava ao contrário e derrubei todo o dinheiro no chão.
—Merda! Quando a gente está com pressa acontece de tudo. —Resmunguei, abaixando-me para apanhar as notas. Uma delas enfiou-se embaixo do closet, então coloquei a mão lá, batendo os dedos em algo.
Puxei um pequeno baú de madeira escura e passei meus dedos por cima da tampa. Estava empoeirado como se tivesse sido esquecido ali há muito tempo. Sim, eu sabia que era coisa do Justin e que não deveria fazer o que estava pensando. Não, eu não consegui fazer a coisa certa. Levantei a tampa, encontrando várias fotos lá. Peguei a primeira, que era de uma mulher linda de longos cabelos castanhos e deslumbrantes olhos verdes. Foi ai que recordei da tatuagem em um dos braços do Justin. O olho que vi era idêntico ao dela.
Deduzi que deveria ser sua mãe, pois o sorriso deles era praticamente o mesmo. Coloquei aquela no chão e passei para a próxima. Uma em que Justin era apenas um bebezinho fofo de bochechas rosadas. Um sorriso enorme surgiu em meu rosto e eu praticamente babava com tanta fofura. Decidi naquele momento que ficaria com aquela mesmo que tivesse que esconder do Justin.
Abaixei o olhar para o baú novamente, pegando outra foto onde tinha várias pessoas reunidas no que parecia ser uma festa de aniversário de criança. Aproximei um pouco mais, pois estava meio ruim a imagem e ao observar com mais atenção, meus olhos cresceram em espanto. Era Justin e seu irmão atrás do bolo que ostentava uma vela brilhante e chamativa de cinco anos. Eram gêmeos.
A porta se abriu e com o susto acabei soltando a foto no chão.
—Não toque nisso! —Justin veio até mim apressado, apanhando todas as fotos do chão e jogando tudo no baú outra vez. Ele me olhou, bastante irritado. —O que pensa que está fazendo? Quem te autorizou a mexer nas minhas coisas?
Levantei a cabeça para olhá-lo. Minha boca ainda estava entreaberta.
—Por que nunca me disse que tinha um gêmeo? —Me atrevi a perguntar mesmo vendo à ira em seu olhar.
—Porque não importa. —Justin jogou o baú contra a parede, o destruindo. As fotos se espalharam pelo chão e ele socou a parede, diversas vezes, descontando nela a vontade que tinha de bater em mim. —Nunca te dei liberdade para fuçar meus objetos particulares. Mas que porra de garota intrometida do inferno! —Ele esbravejava, realmente fora de si, mas não me importei.
—Sou intrometida mesmo. —Falei, ficando de pé. —Se não fosse desse modo, eu nunca saberia nada sobre você.
—Seria muito melhor assim. —Ele disse com o tom de voz já um pouco mais calmo. Tinha a testa e as mãos encostadas à parede, o que não permitia que eu visse sua expressão.
Aproximei-me por trás e segurei em seu ombro.
Seu corpo endureceu de vez.
—Saia de perto de mim, Selena. Estou com raiva de você e posso acabar te machucando.
—Você já está me machucando. —Minha voz saiu falha, prestes a chorar, mas segurei firme. —Como acha que me sinto sabendo que não confia em mim? Você nunca fala nada, Justin. Se eu não fosse fuçar a droga da sua vida, estaria até hoje enganada, achando que você era um guarda-costas chamado Bruce Adams. Se não mereço sua confia porque me deu isso aqui? —Coloque minha mão com o anel diante de seus olhos. —Não faz o menor sentido.
Ele ficou quieto, pensativo por um instante e depois disse:
—Não é que eu não confie em você. —Virou-se para ficar de frente para mim e continuou. —Eu só não gosto de falar sobre o que já passou. Prefiro deixar o passado no passado. É difícil de entender isso?
Agora foi minha vez de ficar pensativa.
—É o seguinte, Justin. —Comecei a dizer, enfrentando seu olhar gelado. —Ou você me deixa entrar de vez na sua vida ou... Deixe-me sair. Ficar no meio da porta simplesmente não é suficiente para mim. Eu preciso me sentir parte da sua vida. Eu preciso conhecer todas as suas faces, sejam elas boas ou rins. —Toquei seu rosto com a ponta dos dedos. Meus olhos mergulhavam na profundidão dos dele, tão frios e distantes de tudo. —Me mostre o que tem por de trás desses olhos castanhos.
O silêncio criou-se entre nós, onde era possível ouvir nossas respirações.
Era angustiante não saber o que se passava em sua cabeça.
Justin era sempre tão impassível.
Imprevisível.
Por sua demora em responder, deduzi que tinha apenas gastado saliva falando tudo isso para ele.
—Se é assim que você quer... Tudo bem. —Desanimada, eu lhe dou as costas, pronta para deixar aquele quarto e ir embora. Dessa vez pra valer.
—Espera! —Senti seu aperto em meu punho, impedindo-me de dar mais um passo até a porta. —Eu confio em você.
—Mentira. —Respondo com um sorriso fraco e triste, mas não virei para olhar para ele.
—É verdade e vou provar. —Ele agarra em meus ombros, virando-me para si. —Vou contar algo para você que mais ninguém nesse mundo sabe. —Fez um sinal para a cama. — Sente-se, Selena. Eu agora vou te contar história da minha vida.
Senti algo apertar na garganta.
Point of view Justin Bieber.
Oito anos antes...
Flashback
—Eu quero o meu dinheiro porra! —Do quarto dava para ouvir a voz alterada do Jonny, discutindo com nosso pai na sala.
—Eles vão prender ele de novo? —Jazmyn, minha irmã de seis anos, questionou com seus olhinhos assustados.
Ela estava deitada em meu colo, assustada demais com a gritaria no cômodo à frente. Nossa casa era pequena e modesta. Ninguém ali conseguia dar um espirro sem que os outros soubessem.
—Não. Eles só estão conversando. —Tentei acalmá-la, mas a pequena Jaz não era tão boba. Ela sabia que tinha algo errado acontecendo.
—Estou com medo, Justin! —Encolheu-se ainda mais dentro do meu abraço e fechou os olhos com força.
Sua reação não era exagerada, se levar em conta que ela viu Jonny enlouquecer e quebrar tudo em casa, o que levou nossos pais a fazerem a primeira internação dele em uma clinica para dependentes.
—Merda! —Ele entrou no quarto, batendo a porta com força e Jazmyn começou a tremer. Tinha muito medo quando ele estava alterado assim.
—Você não é dono do próprio nariz, Jonny. Enquanto tiver a menor idade, comendo do meu bolso e dormindo sob meu teto, fará as coisas do jeito que mando. —Meu pai gritou, irritado e impaciente.
—Vai tomar no seu cu, Jeremy Bieber! —Jonny respondeu, jogando-se na cama de solteiro no outro lado da parede. —O que está olhando, Justin? —E lá estava ele, implicando comigo, sem motivo algum.
Desde que me entendia por gente, meu gêmeo agia feito idiota. Ele se achava no direito de me amolar só porque era três minutos mais velho.
—Jazmyn, vai ficar com a mamãe. —Coloquei ela no chão e sem pensar duas vezes Jaz correu para fora do quarto.
—Nossa! Quanta melação com essa pirralha. —Jonny deu seu típico sorriso maldoso.
—Para de ficar brigando com nossos pais por dinheiro para ficar usando aquelas porcarias. —Comecei a dizer, torcendo os lábios em uma linha fina. —Você saiu da clinica há apenas cinco dias cara. Já está querendo voltar?
—Você pode até ter meu rosto, mas não se parece em nada mais comigo. —Ele jogou o travesseiro em mim. —Para de ser veado! Eu uso quando quiser e paro quando quero. Não sou nenhum merdinha viciado não. Agora, se eles me colocarem mais uma vez naquela porra eu boto fogo nessa casa com eles dentro.
—Não adianta falar com você. —Eu disse, cansado. Não era primeira vez que tinha tido aquela conversa com Jonny.
Desde que começou a andar com uns caras de uma gangue do nosso bairro, ele passou a agir diferente. Bebia, fumava e usava todo tipo de drogas. Nossos pais tentaram de tudo para tirá-lo daquela vida e como não teve jeito, o internaram mais de três vezes.
—Amanhã fazemos quinze anos, Justin. Não somos mais criancinhas pro papai querer bater ou deixar de castigo. —Jonny revirou os olhos. —Sou tão homem quanto ele e exijo tal respeito.
—Você é idiota! —Digo, virando de costas para ele. —Eu vou dormir. Amanhã tenho treino de Krav maga. Boa noite!
No dia seguinte, acordei com minha mãe e Jazmyn ao lado da cama, cantando parabéns para mim.
—Bom dia! —Bocejei, espreguiçando-me e recebi um abraço apertado.
—Feliz aniversário meu amor! —Fui abraçado por ela e depois por Jazmyn.
—Parabéns irmãozinho! Eu tenho um presente para você. —Ela entregou um desenho que fez da nossa família reunida e sorriu docemente.
—Obrigada!
—Eu fiz um para o Jonny também, mas ele não está em casa. —Ela fez bico, tristonha e quando olhei para minha mãe, seu semblante era de preocupação.
—Ele saiu de casa na madrugada sem ninguém ver. —Mamãe suspirou, como sempre fazia quando Jonny aprontava dessas coisas. —Mais tarde ele deve aparecer. Eu vou preparar um bolinho para vocês, já que não querem uma festa.
—Bolo dona, Patrícia? Isso é serio? Não somos mais crianças mãe. Ninguém quer uma festa boba quando se tem quinze anos. —Falei e ela fez cara feia.
—Rapazes. —Revirou os olhos. —Quando chegam nessa idade só pensam em garotas e naquela palavrinha que começa com s e termina com o. —Não quis dizer a palavra toda porque minha irmã estava ali. —Vou logo avisando que não vou criar filho de ninguém e também não quero nora enfiada aqui em casa, entendeu? Se são grandinhos para usar o brinquedo, são grandinhos para arcar com as responsabilidades.
—Fala sério, mãe! —Agora quem revirou os olhos fui eu. Achava ridículo quando ela tentava falar sobre aquele assunto com a gente. —Eu vou tomar um banho e ir para minha aula.
—É bom que chegue cedo, Justin. A vovó Ava vem nos visitar hoje e quero que sejam educados. Não quero que aquela velha chata saia falando por ai que não sei educar meus filhos. —Jazmyn e eu rimos. Mamãe não era lá a maior fã da sogra.
—Está bem. —Falei pulando da cama.
—Quando eu crescer vou ter um namorado também. —Jazmyn disse, fazendo com que eu parasse na porta do banheiro e a encarasse.
—Isso vai demorar muito. —Fiz careta só em pensar na situação.
—No que depender de seus irmãos e do seu pai, Jaz, você não terá um namorado tão cedo. Eles vão infernizar a vida dos coitadinhos. Tenho pena de você minha princesa. —Mamãe beijou o topo da cabeça dela e riu. —Nasceu no meio de três homens ciumentos.
—Não fica dando ideia pra ela. —Resmunguei, entrando no banheiro.
Pouco tempo depois, passei pela cozinha onde minha mãe estava preparando o almoço e me despedi dela, carregando uma maçã para comer no caminho.
—Vai devagar com essa bicicleta menino e ver se não se esquece de chegar cedo hoje.
—Tá bom. Já entendi.
—Justin! —Ela me chamou um pouco antes de eu atravessar a porta. Olhei para trás e ela sorriu. —Eu te amo meu filho!
Eu apenas sorri de volta e saí.
Costumava ir para os treinos sempre depois da aula e naquele dia não foi diferente. Jonny não apareceu na escola, o que já era de se esperar. Ele repetiria de ano com certeza. Isso já estava decidido pelos professores. Eu não conseguia parar de pensar no meu irmão, mesmo sabendo que tudo era culpa dele. Se não se deixasse levar pelos outros daquela forma não estaria com tantos problemas.
Depois do treino, me juntei com a galera da academia e fomos a uma pizzaria para comemorar meu aniversário. Quando dei por mim, já era tarde, corri o mais rápido que consegui para chegar a tempo. Dona Patrícia ficaria uma fera, se não chegasse logo.
Levei pouco mais de trinta minutos, jogando a bicicleta no quintal em frente de casa. Estranhei as luzes estarem todas apagadas e olhei no relógio em meu pulso. Dezoito horas e quinze minutos
Será que estão querendo fazer surpresa?
Revirei os olhos.
Só sendo coisa da minha mãe mesmo.
Abri a porta, chamando por eles e tudo estava no mais absoluto silencio. Andei com cuidado até a sala para não tropeçar em nada naquela escuridão e ascendi o interruptor no canto da parede.
A mesa estava toda arrumada com um bolo pequeno no centro e muita comida ao redor. Tudo muito simples, porém, organizado, do jeito que minha mãe gostava. Eu sorri, vendo que mesmo a gente dizendo que não, ela teve o trabalho de fazer.
Mas onde estava todo mundo?
Fui me aproximando da mesa e meu sorriso se desfez quando vi meu pai caído no chão do outro lado.
—Pai! —Corri até lá e só então consigo ver que tinha muito sangue. —Pai, fala comigo! —O sacudi desesperadamente e nada. Ele estava morto, com marcas de tiro atrás da cabeça e nas costas. —Mãe, socorro! O papai foi baleado.
Trêmulo e com o coração a mil, eu fui parar na cozinha. Lá estava ela, também caída no chão, tinha sangue por todos os lados.
—Não! Você não. —Me ajoelhei ao lado de seu corpo, chorando de um jeito desesperado. —Você precisa acordar mãe. Vamos! Abra os olhos!
Não adiantou em nada as minhas súplicas. Ela estava tão morta quanto meu pai.
Deitei a cabeça em seu peito, chorando ainda mais. Aquela dor tomando o meu peito e deixando uma agonizante falta de ar.
Ouvi o som de tiro e sabia que vinha de um dos quartos. Minhas pernas tremiam, sem força para levantar, mas depois de pensar em Jazmyn, fui vencendo o medo e segui para lá.
Ao abrir a porta do quarto dela, a vi caída no chão, mas ainda estava viva. Me abaixei, tocando seu rosto pálido. Ela estava muito fria. Puxava a respiração com extrema dificuldade e chorava silenciosamente.
—Calma, Jaz! Vai ficar tudo bem. —Falei apavorado, mas tentando acalmá-la de algum jeito.
—Está doendo, Justin. —Toquei sua mão e ela agarrou com a pouca força que tinha. —Está ficando escuro. Estou com medo! —Ela disse com a voz cada vez mais fraca.
Tinha marca de tiro em seu peito e mais sangue. Eu sabia que ela não iria resistir. Estava cada vez mais trêmula e fria. Seus olhos ficando distantes.
—Eu estou aqui. —Apertei sua mãozinha, soluçando enquanto chorava. —Estou com você.
Pouco a pouco, sua mão foi soltando a minha e os olhos foram perdendo o brilho, até que ela deu seu último suspiro e se foi.
Joguei-me sobre seu corpo, soltando um choro abafado.
Quem poderia ter feito algo tão monstruoso assim?
A resposta veio logo depois, quando mirei os olhos no puff colorido, bem no canto do quarto.
Me observava atentamente. O olhar frio e distante, segurando de maneira firme a arma que tinha em suas mãos, direcionada a mim.
—O que você fez? —Minha voz saiu trêmula pelo choro.
Passei a mão no rosto de Jazmyn, fechando seus olhos e levantei. As pernas bambas, sem força para conseguir me manter em pé sem tremer.
—Eu matei todo mundo. —Suspeitava já disso, mas foi muito mais doloroso ouvir a confissão da boca dele. —Acabei com eles. Um a um. —Uma risada macabra escapou de sua boca, fazendo aquele arrepio ruim percorrer minha espinha.
—Não! Não! Eu não acredito nisso! —Coloquei as duas mãos ao redor da cabeça, fechando os olhos com força. —Isso não pode estar acontecendo.
—Mas está. Eles morreram e só resta nós dois irmão. —Jonny também ficou de pé. —Arrume suas coisas, Justin. Nós iremos fugir daqui.
—Por quê? Por que fez isso?
—Eles iriam me internar outra vez naquela bosta de clinica. Eu ouvi o papai e a mamãe cochichando isso na cozinha. EU NÃO SOU VICIADO E ESSAS PORRAS NÃO ENTENDIAM! —Seus olhos se arregalaram, irados e sombrios. —Fui na minha galera e consegui esta arma. Eu matei todos eles. —Repetiu com um pequeno sorriso de canto. —Agora não tem mais ninguém para dizer o que a gente pode ou não que fazer. Estamos livres.
—E ELA? —Apontei para nossa irmã, caída no chão frio. —POR QUE FEZ ISSO COM ELA? JAZMYN NÃO TE FARIA MAL ALGUM. ELA ERA APENAS UMA CRIANÇA.
—Eu sei. —Soprou, olhando para ela. —Mas entenda, não teria como fugir levando ela junto. Ela me viu matando nossos pais e correu para o quarto. Eu me descontrolei. Não podia deixar que falasse. Tive que matá-la.
—Cala á boca seu doente! —Gritei fazendo partida para ir em cima dele.
Jonny colou o cano da arma em meu peito e olhando em meus olhos, disse:
—Não me faça matar você também, Justin. Agora vamos! —Fez um sinal para que eu virasse de costas e foi me empurrando para fora do quarto, guiando pelo curto corredor até o nosso. —Joga apenas o necessário em uma bolsa e vamos. Quero sair do Canadá o mais rápido possível.
Eu colocava as roupas na bolsa, sem nem mesmo olhar o que era. Jonny estava tenso, gritando e me apressando para terminar logo.
Minhas lágrimas já tinham secado, eu não tinha mais nada para chorar. Restava apenas a dor, destroçando meu peito. Sufocando-me aos poucos.
—Sei que está com raiva agora, mas depois você vai entender irmão. Dividimos a mesma placenta e vamos permanecer juntos. Eu e você. Até o final. —A mão dele tocou em meu ombro, causando repulsa dentro de mim.
—Eu odeio você! —Falei, trincando os dentes, espremendo os punhos. —Eu. Odeio. Você!
—Não. Você não me odeia. Está magoado, mas logo isso passa. —Ouvi Jonny dizer. Seu tom tão cheio de indiferença.
Foi então que caiu a ficha de que ele não sentia um pingo de culpa. Era como se não tivesse feito nada. Como se não tivesse deixado nossa família destruída.
Girei em meus calcanhares, tomado por uma fúria explosiva e acertei seu rosto com um soco. Jonny pendeu para trás e fui novamente em cima. Entre nossas trocas de socos e chutes, derrubei a arma que ele segurava. Rolamos no chão, em uma disputa para ver quem vencia.
—Você não pode comigo seu idiota! —Disse ele, montado sobre mim, socando meu rosto várias vezes.
Não sei de onde tirei forças para empurrá-lo e me livrar do seu ataque. Ele foi rápido, engatinhou até a arma que estava perto da cama e a pegou. Voltamos a ficar de pé e travamos uma batalha pelo controle da arma.
—Solta agora, Justin! —Ordenou com raiva.
—Não!
—Solta!
—NÃO!
A arma disparou e Jonny afastou-se de mim, cambaleando até a cama. Ele tinha a mão sobre o ferimento em sua barriga, uma expressão de dor e raiva misturadas.
—Olha o que você fez. —Sua voz saiu em um fio, quase inaudível. —Babaca!
Olhei para ele e depois para a arma no chão. Sem pensar muito, eu a apanhei. O ódio dentro de mim era predominante a todos os demais sentimentos naquela hora.
Eu estava seco.
Quebrado.
Apertei o gatilho uma vez, acertando seu peito.
Outra vez, atingi o ombro.
Depois do terceiro, parei de contar.
Eu apenas disparava, cego e envolvido até que já não restaram mais balas.
No momento seguinte, o quarto foi invadido por policiais. Dois deles, pelo que notei.
—Mãos para o alto! —Eles me dominaram e obedeci, sem resistência. Fiquei de joelhos enquanto era algemado. —Justin Bieber, você está preso por assassinato. Você tem o direito de permanecer calado e tudo o que disser será usado contra você.
Fui levado aos empurrões para fora de casa, onde a multidão de vizinhos enfurecidos gritava palavras duras contra mim. Enxerguei minha avó entre todos, sua expressão dura e fria para mim, sendo a primeira a pedir que eles me lixassem.
—Deixaria que te matassem garoto se isso não colocasse meu emprego em risco. —Um dos policiais disse severamente para mim. —Que tipo de monstro mata a própria família?
Fiquei calado. O que eu poderia dizer? Eles não acreditariam em mim.
Fui pego com a arma na mão, segundo antes de matar meu irmão.
Flashback off.
Selena me olhava pasma, sentada na cama depois de ouvir atentamente a tudo o que eu tinha que dizer. Notei que ela tentava formular algo em sua mente, abria a boca e as palavras não saiam.
—É isso. —Falei, por fim.
—Você apenas levou a culpa.
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