Gerard agora estava,mais uma vez,naquela mesma sala olhando para o mesmo oficial,que desta vez o encarava de uma forma...diferente.
Frank estava esperando na sala ao lado,fez questão de acompanhar o namorado mesmo muito nervoso e chorando.Tentava a todo custo acalmar-se: respire,respire fundo.
-Você na verdade foi bem inteligente ao citar as câmeras de segurança como se não se importasse com elas.Mas nós realmente fomos verificar e justamente a que continha o assassinato de Donna havia sumido Gerard,e sabe o que eu pensei?
-Que eu as peguei?
-Na verdade não,eu realmente acreditei que você podia ser inocente nisso tudo.Pensei em Clement,mas como deve saber ele teve folga exatamente neste dia e uma atualização em sua rede social confirma que estava viajando com sua família.
-E então pensou que fui eu.
Mark bufou irritado,tamborilando os dedos em sua calça social e tentando manter a calma.
-Nós temos um mandado e vasculharam sua casa novamente,enquanto você estava aqui respondendo as perguntas.Acontece que isso estava debaixo do seu colchão. –O oficial jogou um saco transparente sobre a mesa,onde Gerard reconheceu rapidamente algumas fitas de vídeo completamente esmagadas e quebradas em partes. –Ainda não analisamos as digitais,mas como eu disse,a prisão é preventiva.
-Mark,eu não posso ir preso!Você...Você sabe que não fui eu.
-Eu pensei que não foi você,mas não depende do que eu acho e sim do que aconteceu.Além do mais,já mudei de ideia.
Gerard não se importava mais em segurar as lágrimas,que escorriam livremente por seu rosto enquanto ele tentava raciocinar.Mas só podia pensar que tudo aquilo era uma armadilha.
-Como vocês entraram na minha casa se ninguém estava lá? –Perguntou apenas casualmente,tentando ao máximo não chegar ao ponto central da conversa.
-Frank estava lá.Ele é seu namorado,não?Estava lá e nos permitiu a entrada.
-Enquanto eu estava aqui?! –Mark assentiu.
Não.Frank não...Não poderia ter feito o que passou pela cabeça de Gerard.Não poderia ter ele matado Donna e num ato de desespero armado contra o próprio namorado.
-Se acalme Gerard. –Way chorava copiosamente pois não era possível, mas só podia ser isso e seu coração doía mais do que havia doído naqueles últimos dias. –Não há motivo para se preocupar agora,vá atrás de um advogado,se despeça da sua família.Você ainda tem tempo pra isso.
-O quê?
-Após ser avisado sobre a prisão preventiva o senhor tem seis horas livres antes de ser realmente preso.
-Então eu posso... -Pigarreou mais calmo,fungando algumas vezes antes de continuar. -Posso sair daqui e voltar em seis horas?
-Claramente terá que colocar um dispositivo rastreador e não poderá sair da cidade.Mas fora isso,sim,você pode.
-Então eu vou..Vou fazer o que disse e procurar um bom advogado que possa provar minha inocência e resolver algumas coisas que tenho pendentes.
***
Estava parado em frente à casa de Frank.Lágrimas corriam por seu rosto assim como vários pensamentos terríveis e cortantes corriam por sua mente. Precisava ter alguma conversa com Frank,já que a última vez que falou com o mesmo foi para avisar que da delegacia iria direto contatar seu advogado.Iero apenas assentiu estático e partiu dali.
Seu corpo tremia quando tocou a campainha.Esperava que Frank não o atendesse e poderiam não ter aquela conversa,mesmo que a outra parte de si soubesse o quanto precisavam daquilo.
Logo o garoto atendeu,deixando um pequeno berro preso à garganta.
-Frank...
-Gerard,vá embora.
-Nós precisamos conversar. –Avançou um passo e Iero ameaçou fechar a porta. –Por favor.
Pensou por alguns instantes.
-Entre.
A tensão era palpável no cômodo abafado,agora um estava sentado em frente ao outro,evitando o olhar um do outro.O simples som da respiração alheia fazia doer por dentro.
-Sobre o que quer falar?
-Eu vou ser preso. –Resmungou timidamente,sentindo cada palavra queimar em sua garganta.Não acreditava mesmo naquilo,mas o rastreador posto incomunmente em seu pulso o lembrava.
-Eu sei.
-Frank,eu serei preso! –Por que era tão difícil,era isso que Gerd pensava. –Serei preso em quatro horas e se,se de alguma forma for condenado posso pegar pena de morte! –Silêncio. –Frankie,você me escutou?!
-Escutei Gerard!Droga eu escutei e já sei de tudo isso,mas o que quer que eu faça?!
Naquele momento ninguém mais estava sentado,mas sim com os corpos rentes no meio da sala.Ninguém mais mantinha a calma ou tentava controlar o pranto.
Frank não aguentava mais toda aquela encenação e sentia que poderia explodir ou morrer a qualquer momento.Seu corpo doía tamanha tensão,sua mente pedia por um bocado de descanso mas tudo o que tinha era seu namorado condenado gritando consigo.
Gerard queria apenas resolver toda aquela armação,que Frankie assumisse logo estar envolvido naquilo tudo que vinha lhe atormentando pois tudo se encaixava de forma tão perfeita que só poderia ser isso.
-Quero que diga,Frank.Por favor,só a verdade.
-O que..
-Você abriu minha casa hoje para aqueles oficiais.
-Não achei que meu namorado tivesse um crime a esconder.
-E eu não tenho!Mas o que estava fazendo lá?
-Eu...tinha vindo para casa me trocar,mas acabei me atrasando e assim que cheguei lá..Seu irmão já tinha saído e os policiais tinham acabado de chegar. –Explicou brevemente,aquietando-se.
-Sabe o que faz mais sentido?Que quando passou a noite em casa foi deitar-se antes de mim e teve tempo o suficiente para guardar minha arma na gaveta.Você estava sozinho na minha casa quando aquela fita apareceu debaixo do colchão...
Frank pôde apenas rir nervosamente ao ouvir tudo aquilo saindo da boca da pessoa que mais amava.Não haviam mais lágrimas para rolar livremente por seu rosto ou qualquer sentimento que não fosse dor e indignação.
-Então é isso que pensa?!Que eu fiz tudo isso?!
-Frankie,não...Não foi o que eu quis dizer.
-Engraçado,pois foi exatamente isso o que pareceu.
-Frank,por favor entenda.Eu só estou desesperado,eu preciso de respostas antes que seja tarde pra mim.
-E então desconfia de todos ao seu redor?Ou sou só eu o assassino em potencial? –Iero solta,profundamente magoado.
-Desculpe,eu só pensei e tudo se encaixou.
-Agora que já conversamos pode ir embora. –Frank caminhou até a porta,abrindo-a para Way e ambos já choravam novamente.
-Até,Frankie.
-Adeus,Gerard. –Fechou a porta com cuidado ao ver o outro sair, desejando que não o tivesse feito.
Já era quase madrugada quando Gerard deixou a casa de Iero completamente arrependido de ter pensado qualquer besteira sequer sobre o garoto.Era óbvio que ele não faria nada de ruim,era tão óbvio mas Gerd estava desesperado demais para encontrar quem quer que estivesse envolvido e ao menos ponderou estar enganado. “Grande erro” pensou enquanto dirigia rapidamente até sua própria casa.
Way se forçava a aceitar a ideia de estar encarcerado,já que faltavam menos de três horas para isso acontecer.Adentrou pela porta principal e estranhou as luzes apagadas,podia ouvir seus próprios passos sobre o caríssimo chão no qual pisava.
-Michael?Pai? –Gee subiu cada degrau em silêncio,pensando apenas no que diria a cada um ali;na despedida que teriam em poucos minutos e talvez fosse a última.
Porque não,ele não esperava que fossem visitá-lo.Donald ainda morava no interior de alguma cidade qualquer e Michael nunca o perdoaria por ter matado Donna,mesmo que não o tivesse feito.Sem falar de Frank,que por motivos óbvios jamais desejaria vê-lo outra vez.
Então Gerard entrou no quarto de Mikey,o único cômodo iluminado àquela hora da noite e encontrou o irmão já preparado para dormir.
-Donald já foi dormir?
-Donald foi embora,voltou para sua própria casa.
-Eu vim me despedir,e ele não está. –Constatou o óbvio,passando a mão pelos cabelos negros enquanto sentia o coração comprimir-se ainda mais.
Todas suas relações estavam se acabando,primeiro com Frank e agora Donald.
-Gee,ele...Ele não quis te ver. –Mikey proferiu suavemente,porém com semblante cada vez mais entristecido. –Não aguentaria,sabe?Foi ele mesmo quem disse,que não aguentaria te olhar depois disso tudo que você...
-Michael,por favor não me olha assim. –Gerd senta-se na beirada da cama,tentando ao máximo acalmar-se quando percebe Michael deixar algumas lágrimas caírem.
-Assim...Como?
O garoto suspirou.
-Como todo mundo tem me olhado.Como se eu houvesse feito o que dizem que eu fiz...Eu não fiz,Mike,eu juro que não...
-Então quem fez?!Eu quero acreditar em você,Gee,eu realmente quero mas...
-Tudo diz que fui eu,não é?
O mais novo assentiu com semblante entristecido, passando a encarar superficialmente a colcha de sua cama.
-Tudo diz que foi você.
-Michael,eu..Eu vim me despedir. -Gerard sussurrou já com a voz tremulando e os olhos enchendo-se de lágrimas mais uma vez. –Não quero que a gente discuta sobre tudo isso assim como aconteceu com Frankie.
-Discutiu com Frank?! –Num impulso tocou a mão de Gerard com seus dedos finos. –Vocês estão bem?
“Não,não estamos nada bem,irmão.Eu fui um completo babaca que não pôde suportar a ideia de que o verdadeiro assassino continuasse liberto e culpei uma das pessoas que mais importa para mim.Não,não estamos bem.” –Gerard pensou em cada palavra com sinceridade,sentindo a culpa pesar-lhe cada vez mais e sentia-se sem saída.
Não havia tempo para desculpar-se,tentar explicar o quão desesperado estava por uma resposta e talvez conseguir que Frank não o odiasse para o resto da vida.
Mas tudo o que disse ao irmão enquanto tamborilava os dedos sobre a calça social que ainda vestia fora:
-Eu fui um idiota e acabei culpando ele.Discutimos e ele esteve certo em me mandar embora,foi horrível.
-Olha,não se preocupe, -Mikey cortou todo o espaço entre o outro Way num abraço carinhoso e que,apesar de todas as turbulências,indicava que tudo ficaria bem. –eu posso falar com ele depois que tudo se acalmar.
-Depois que eu estiver preso e longe. –Concluiu.
-Não foi o que eu quis dizer.
Por fim de apenas mais algumas frases os irmão resolveram banir este tão delicado assunto e passaram a conversar de todos os assuntos mais normais que pudessem arranjar,utilizando de uma cumplicidade abandonada há tempos; ambos jantaram juntos e até mesmo riram em certo momento. Gerd pensava em como se tratam melhor as pessoas que importam,a partir do momento no qual descobrem que a separação está próxima.
E então era hora de Gerard voltar.Voltar para a dolorosa realidade onde sua mãe estava morta,seu pai tinha vergonha de si e seu namorado não o amava mais.Lágrimas não foram impedidas de rolarem soltas por um minuto sequer.
-Eu te amo,Mikey... –Gerard suspirou abraçado fortemente ao irmão. – Você é minha única família agora.
-Também amo você,Gerd...Sinto muito.
-Não precisa... –Já estava saindo pela porta quando o mais novo o parou.
-É claro que preciso,Gerard. –Mikey miou em resposta,os olhos cheios d’água tornavam difícil enxergar o rosto confuso do irmão enquanto que o bolo em sua garganta dificultava sua respiração. –Fui eu.
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