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História Don't Forget Me - Mépris


Escrita por: MarySemCoroa

Capítulo 19 - Mépris


Chloé

Abri meus olhos e a primeira coisa que vi foi madeira. Madeira desgastada. Senti dor nas costas, mas parecia que meu corpo já estava acostumado por não me incomodar nem um pouco. Levantei-me lentamente até ficar sentada, com o barulho da cama rangendo invadindo meus ouvidos. Eu não estava em meu quarto, isso estava claro como água. Estava em outro lugar. Até parecia que eu não me encontrava em meu corpo, de alguma forma. Meu pijama não era de seda, como eu estava acostumada, eram apenas trapos rasgados e velhos, como se tivessem costurado panos de chão usados até formar um conjunto de pijama e me dado de presente de aniversário. Eu deveria estar gritando agora, mas estava muito confusa e cansada para isto, mesmo que tenha acabado de acordar. 

Os raios de sol que adentravam meu quarto não eram mais um incômodo para meus olhos azulados, então consegui observar o quarto que me localizava atentamente. O chão também era de madeira, havia vários buracos no chão, me permitindo ver a terra presente no terreno. A parede tinha alguns vestígios de tinta esverdeada, mas a maior parte podia se ver os tijolos avermelhados e o cimento endurecido, colocados como cola de qualquer jeito, com várias gotas no tijolo. Havia apenas a cama onde estava e um criado-mudo amarelado ao meu lado que podiam ser considerados objetos domésticos ali. Uma mochila com os dois bolsos rasgados permanecia no chão, parecia ter sido jogada de forma grosseira e ninguém preocupou-se em arruma-la perfeitamente. 

Onde eu estou? A ultima coisa que me lembro é de estar morta. Banheira. Gelo. Marinette. Sim, isso tudo aqui é uma ilusão! Estou dentro de minha mente, lutando contra meu próprio medo mais forte para chegar a meu objetivo. 

Eu ouvi passos delicados se aproximando da entrada. Então eu percebi. Não havia nem porta, apenas uma cortina de cor verde me separava do próximo cômodo. Alguém transpôs a divisória. Era uma mulher. Ela olhou para mim com seus olhos azuis. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque bagunçado. Vestia um vestido marrom casual com um avental listrado sobre. Em seu ombro um pano molhado permanecia. Mesmo com aquela aparência deplorável, eu a reconheci. Estava do mesmo jeitinho desde a ultima vez que a vi. 

- Bom dia, filha - ela pronunciou, sua voz estava tranquila mas cansada. Uma gota de suor começou a escorrer de sua testa e ela a limpou com o pano em sua posse. - Vejo que já está acordada. O café da manhã está pronto, seu pai e eu estaremos esperando você vir comer conosco. 

Meus olhos estavam embasados por causa do choro que ameaçava vir, mas coneguia perceber que estava sorrindo. Um sorriso de mãe, aquele que apenas ela consegue dar direcionado a sua filha. Há tempos eu não recebia um deste. Logo seu sorriso esvaiu-se e deu lugar a uma expressão confusa e preocupada.

- Você está bem, Chloé? Aconteceu algo? - interrogou-me, aproximando-se rapidamente de mim e sentando ao meu lado na cama.

Suas mãos pequenas e delicadas envolveram as minhas e senti arrepios por todos os meus poros. Sua pele estava enrugada por provavelmente estar mexendo com água em algum lugar da casa, mas não me importei. Isso era insignificante, igual a dor nas costas que sentia. Agora tudo a minha volta era insignificante perto de minha mãe.

Minha boca abria e fechava instantaneamente, impossibilitada de pronunciar uma palavra sequer, apenas grunhir. Minha mãe, ainda mais confusa, mordeu o lábio inferior e colocou sua mão livre em minha testa para verificar se estava com febre. Percebendo que estava com a temperatura na normalidade, suspirou.

- Diga alguma coisa, querida. Você está deixando sua mãe demasiado preocupada, sabia?

Sua voz, fina e suave, levou-me ao dia que abomino com todas as minhas forças. O dia que a perdi. Que ela me abandonou por um turista americano. Eu deveria estar com raiva, xinga-la por não me amar o suficiente, mas tudo que consigo pensar é em como minha mãe não mudou nada durante todos esses anos. 

- Você está aqui - pronunciei finalmente com a voz vacilante. A lágrima decidiu escapar de meu olho direito, desmanchando no canto de meu lábio que agora estava esticado em um sorriso fraco mas verdadeiro. - Você finalmente voltou para mim.

Ela soltou um riso fraco e franziu a testa. - Por que diz isso, minha filha? Eu nunca fui embora, nunca saí do seu lado em nenhum momento.

Mais lágrimas decidiram acompanhar a primeira e eu abracei a mulher em minha frente abruptamente, assustando-na de inicio. Mas logo retribuiu, apertando-me contra seu peito. Soltei vários soluços, repetindo a frase "Você está aqui" como se não houvesse amanhã. 

- Ei, ei - ela nos separou, segurando meu queixo em seguida e olhando-me profundamente, como se quisesse ler meus pensamentos. - Por acaso teve um pesadelo esta noite? 

Eu assenti, sem hesitar. Isso, tudo aquilo foi apenas um pesadelo. Precisa ser. Ela deu-me um sorriso gentil e colocou uma mecha de meu cabelo embaraçado para trás de minha orelha antes de me acalentar como qualquer mãe que ama a filha faria.

- Eu estou aqui e sempre estarei. Se um dia eu chegar a partir, permanecerei dentro de você - ela colocou delicadamente a mão em meu peito, sentindo meu coração bater descompassado com seu toque confortante e nostálgico. - Eu sou real, meu coração bate como o seu.

Real. Esta palavra repetiu seis vezes em minha cabeça e, em seguida, as frases de Mestre Fu decidiram acompanha-la como se estivessem em um passeio, onde minha mente é a atração turística.

"Seu medo criará ilusões, tentando fazê-lo acreditar que aquela é sua realidade, automaticamente esquecendo-se do seu real objetivo." 

Ah, merda!

Mais uma lágrima escorreu por minha bochecha rosada, mas esta não havia nem um pingo de felicidade. Estava coberta de tristeza e ódio. Por que fazem isso comigo? O que eu fiz de tão errado? Eu a abracei mais uma vez, dessa vez apertando-na como uma criança aperta seu urso de pelúcia. 

- Eu te amo, mãe - declarei, fungando em seguida.

- Eu também te amo, Deméter - repondeu, beijando o topo de minha nuca. Ficamos por um tempo assim até ela dar dois tapinhas em minhas costas, alertando que deveria me distanciar. - Preciso voltar a cozinhar e você precisa arrumar-se para a escola.

Eu assenti lentamente, olhando fixamente para a mochila caida desajeitadamente no chão, sem coragem para encarar a mulher que me deu a vida com medo de desabar ali mesmo. Minha mãe não é real, estamos apenas dentro de minha cabeça. Você não pode se esquecer disso, Chloé.

Ela finalmente saiu do quarto e limpei a última lágrima que passaria por meu rosto esta manhã. Respirei fundo e levantei. Preciso ser forte. Talvez minha mãe seja parte do medo. Perdê-la novamente, tendo apenas meu pai ao meu lado durante toda minha vida. Não, há algo a mais, eu sinto isso. Outra coisa me assombra mais do que perdê-la de novo. O medo de acabar perdendo o dinheiro, talvez? Definitivamente, não. Não sou tão egoísta e mesquinha ao ponto disso acontecer.

Encostei meus pés no chão frio e procurei minha roupa amarela, a que sempre escolhi para ir a escola, nas gavetas do criado-mudo e não as achei. 

- É claro - pronunciei oralmente, em um tom de voz como se estivessem me perguntando se o céu é azul. - Eu não tenho dinheiro por agora, e aquela roupa era de marca. Pense mais, Chloé, pense mais! 

Procurei outra roupa, a melhor que tinha, e achei uma regata branca, uma jaqueta jeans amarela e uma calça legging preta. Em relação ao sapato, escolhi uma rasteirinha com uma flor bonitinha na alça. Saí de meu quarto com a bolsa pendurada em meu ombro e tive a visão de minha sala, cozinha e sala de jantar, que não estavam em cômodos separados e enormes como estava acostumada. Toda a parede estava pintada com apenas uma cor azulada feito por um rolo texturizado, dando a impressão de ter vários respingos de tinta na parede. O chão era branco com várias manchas pretas próprias da textura do azulejo. Meu pai encontrava-se sentado na cadeira em frente a mesa, lendo as notícias presentes no jornal entregue diariamente em frente a nossa casa. Minha mãe estava na cozinha, fazendo ovos mexidos na frigideira, assobiando de forma melódica uma música que supostamente ouviu nas rádios pelas ruas. 

- Bom dia, flor do dia - cumprimentou meu pai, tirando seus olhos do papel a sua frente para me olhar. - Dormiu bem esta noite? 

- Não - neguei, colocando instintivamente minha mão nas costas e fazendo uma careta de dor para deixar minha próxima frase mais dramática. - O colchão não é confortável e acabei por acordar com dor nas costas. Preciso de um novo.

André obteve uma expresão surpresa diante de meu comentário. Ele olhou para minha mãe, que estava com uma expressão dolorida, como se o que eu havia pronunciado a machucasse por dentro.

- Nós já dissemos que não podemos comprar um por agora e você disse que entendia - disse ela, desligando o fogo que fritava aqueles ovos sobre a frigideira. - Por que decidiu voltar a reclamar?

- Porque... - o rosto de Adrien decepcionado com minhas atitudes mimadas invadiu minha mente e minha voz vacilou automaticamente. Soltei um suspiro, derrotada: - Sinto muito. Vocês tem razão, eu disse que entendo e não estava mentindo.

Soltei um sorriso falso, mas que para eles era completamente genuíno. Eu disse que mudaria o que tinha de errado comigo para Adrien, tentaria melhorar, e pretendo fazer isso. Não quero decepcioná-lo novamente. Aliás, tudo o que importa é que minha mãe está aqui, comigo, mesmo que seja ilusão. Minha familia está unida de novo e não quero desperdiçar esse momento enquanto tenho tempo. 

[...]

Minha testa estava molhada de suor, tive até que limpa-la com as costas da mão. Minha boca estava seca e pedia incessantemente por um gole de água. E, para minha sorte, eu já estava em frente a porta da escola. Recuperei o fôlego enquanto andava até o bebedouro e finalmente matei a minha sede. Olhei ao redor a procura de Sabrina, Adrien ou até Alya e os achei conversando em uma roda perto da escada que dá acesso a nossa classe. Corri até eles e envolvi meus braços em volta de Adrien, quase nos levando ao chão. 

- Bonjour, pessoal - cumprimentei, com um sorriso mais alegre que podia dar. - Dormiram bem?

Adrien começou a se mexer como se quisesse se soltar, mas eu o segurei ainda mais forte. Já que estamos em minha mente, acredito que ainda estamos namorando pois ainda não superei por completo nosso término. Ainda o amo e em minha cabeça ainda queria estar em um relacionamento sério com ele.

Meu amado colocou as mãos em minhas costas e entendi que ele estava querendo retribuir o abraço. Mas estava enganada. Completamente enganada. Sua mão fechou-se em punho e senti um soco triplicando a dor em minhas costas. Minha espinha arrepiou-se por inteiro e minhas pernas bambearam por causa da dor, fazendo-me cair fortemente de joelhos no chão. Meu coração também acabou por quebrar por causa do soco. O soco dado pela pessoa que amo. 

Suas mãos pegaram parte de meu cabelo e puxaram-no abruptamente, forçando-me a olhar para seus olhos verdes, que cintilavam carregados de raiva. 

- Nunca. Mais. Encoste. Em. Mim - ordenou, pausadamente. 

Ele distanciou-se de mim, jogando minha cabeça para o lado como se tivesse me dado um tapa. Mas ele deu. Não fisicamente, mas psicologicamente. Por que está fazendo isso?

- Pensei que fossemos... - Namorados, quis dizer, mas pensei melhor - amigos, Adrien. 

Seu riso debochado foi como um tiro em meu peito. Eu disse a mim mesma que não choraria mais esta manhã, mas, pelo jeito, não era isso que o futuro queria. 

- Eu? Seu amigo? Faça-me o favor! Prefiro comer ratos a ser amigo de uma maltrapilha!

Risadas alheias invadiram meus ouvidos e só então percebi que estávamos no meio de um circulo de alunos curiosos e malvados. Assim como eu era. Adrien humilhou-me na frente de todo mundo. Assim como eu fazia com todos que me rodeavam. O que é isso? Minha mente está tentando me fazer pagar com a mesma moeda? Não. Este é meu medo. Ser tratada como eu trato as pessoas. Que ironia, não é? 

Adrien agarrou-se a alguém que não havia percebido a presença. Ele a beijou profundamente, como se quisesse jogar em minha cara, como se quisesse ouvir meu coração se quebrando para, enfim, sentir-se satisfeito. Mas eu me segurei. Segurei meu coração com toda a força que podia para não mostrar a ele o quão fraca eu sou. O engraçado é que não conseguia ver o rosto da garota que ele continuava a beijar. Ela simplesmente... não tinha rosto, por incrível que pareça. Como o Slender.  Mas seus cabelos... seus cabelos eram azuis como o céu quando o Sol dá lugar à Lua e às estrelas.

- Por que você continua tentando, Chloé? - indagou a desconhecida, separando-se do beijo mas ainda agarrada a Adrien. - Ele nunca irá nota-la. Você sempre será uma zé ninguém e morrerá sozinha. 

As risadas vieram depois para me assombrar. As lágrimas desciam a cada voz que ouvia, como se quisessem acompanha-la. 

- Eu cha-chamarei meu pai aqui! - alertei, tentando mostrar superioridade, que não estava quebrada por dentro. Em vão, pois minha voz vacilou como um bebê tentando falar pela primeira vez. 

- E o que seu pai irá fazer? Jogar o lixo que ele coleta todo dia em cima da gente? Oh, meu Deus, como estou arrepiada!

Risadas novamente.

Alguém faça eles pararem, por favor!

Coloquei as mãos em meus ouvidos para abafar o som e elas se afastaram aos poucos. Antes de o silêncio absoluto chegar ouviu-se um baque e senti meu corpo no chão novamente. Eu estava no banheiro. Minhas pernas agiram sozinha, levando-me para um lugar seguro. Eu devo agradecê-las por isso depois.

Eu deveria enfrenta-los. Eu sei que isso tudo aqui é apenas uma mentira. Mas por que não consigo? Por que é tão difícil? Olhei-me no espelho e apoiei minhas mãos na pia. Eu estava realmente parecendo uma maltrapilha. Meu cabelo estava novamente embaraçado, principalmente na região onde Adrien o puxou com força. Eu não duvido que tenha arrancado alguns fios. Minha maquiagem estava completamente arruinada. Assim como minha felicidade. É isso que o medo faz.

Arruina.

Destrói.

Física e psicologicamenteAté você atacar de volta e passar por cima. Mas superar seu medo pode levar anos e eu tenho apenas algumas horas. 

Peguei meu celular dentro da bolsa e procurei o número de minha mãe na lista de contatos. Ela atendeu no terceiro toque. 

- Chloé, você está bem? Por que está me ligando em horário de aula?

- Mãe, eu não aguento mais - lamentei. - Preciso que venha me buscar. Eu só quero ficar trancada em meu quarto pela eternidade. 

- O que aconteceu, querida? Por que diz isso? - seu tom de voz não parecia preocupado como qualquer mãe ficaria. Era apenas curiosidade. 

- Esta escola é um inferno! Adrien me odeia, todo mundo me odeia! As risadas, mãe, as risadas são perturbadoras. E todas são direcionadas a mim! Não aguentarei ver Adrien beijando aquela garota slender todo santo dia. Eu quero fugir, ir para bem longe dessas pessoas maldosas.

- Então você deveria fugir de si mesma.

Mais um tiro no peito. Eu já deveria estar morta. Por que continuo respirando? 

- O quê? 

- Tudo bem - respondeu ela, continuando a conversa normalmente como se não tivesse causado dor em meu peito. - Eu buscarei você, afinal você é fraca e covarde. Nunca terá coragem de enfrentar seus próprios demônios. Deve ser por isso que eu te deixei para trás e quis começar uma família com outra pessoa. Eu tenho vergonha de você.

Cravei minhas unhas em minha mão para controlar a raiva e respirei fundo, mas nada disso funcionou. Nem contar até dez. 

- Sendo sincera, eu nunca quis ter você. Quando descobri que estava grávida, eu e seu pai iriamos coloca-la em adoção, mas meus pais me convenceram a ficar com você. Sabe por quê? - Ela deu uma pausa dramática para soltar um riso malicioso em seguida. - Porque poderíamos prostitui-la quando virasse adolescente e ganhar muito dinheiro, mas nem pra isso você irá servir. 

- Para - pedi, baixinho, apertando meus olhos. 

- Você é apenas uma inútil.

- Para.

- Covarde.

- Por favor.

- Fraca. 

- Para!

Um grito saindo de minha boca. Um celular sendo jogado na parede em minha frente. O espelho sendo quebrado em mil pedacinhos apenas por causa de minha voz. Isso foi o que aconteceu em apenas poucos segundos. Tudo por culpa de minha raiva. Raiva de minha mãe? Não, raiva de mim mesma por concordar com isso. Minha mãe não tem culpa, ela apenas estava citando fatos verídicos. 

Inútil. Má. Fraca. Covarde. 

Isso é tudo que sou. Apenas quatro palavrinhas resumem Chloé Bourgeois. Como Adrien pôde se apaixonar por alguém assim? 

"Que engraçado, não é mesmo?", sua voz ecoou dentro de minha cabeça. Uma lembrança da noite que ele me pediu ajuda para derrotar Chaos, "Uma pessoa começar a gostar de alguém porque viu que ela pode ter um coração puro dentro dela debaixo daquela muralha de gelo?"

Adrien tem razão? Talvez. Ele é sábio, assim como o Guardião. Então está na hora de enfrentar a mim mesma. De transformar vinho em água pura. E eu sei muito bem como começar isto. Levantei-me do chão e caminhei lentamente, cambaleando, como um morto-vivo, até a porta, ouvindo atentamente os cacos de vidro se quebrarem ainda mais com o peso de meu pé sobre eles. Atravessei todo o pátio e subi a escada com a maior calma do mundo. Eu provavelmente parecia uma louca que acabou de escapar do hospício e está indo atrás de quem o colocou lá. Soltei uma risadinha com meu pensamento. 

A maçaneta da porta de minha sala de aula girou e me permitiu ter a visão da professora e de alguns alunos que estavam na parte da frente. E lá estava a garota de cabelos azuis, rindo de minha aparência. E, por um momento, eu vi eu mesma em seu lugar, rindo. Eu me transformei no meu próprio medo.

- Se você está vindo pedir dinheiro, Chloé, me desculpe, eu gastei ontem à noite com pizza - provocou, com desdém em sua voz. - Aliás, quanto tempo faz que você não come pizza? Dez anos?

Em silêncio, aproximei-me dela, ficando há poucos centímetros de seu corpo. Logo minha mão colidiu com seu rosto irreconhecivel. Grunhidos de surpresa foram ouvidos e logo se seguiram os cochichos irritantes vindo de todo mundo presente ali. 

- Como ousa? - indagou ela, indignada - Você sabe quem eu sou? 

- Não - respondi, dando de ombros. Eu estava realmente falando a verdade. -, e nem estou interessada. Vem cá, você não tem veronha de si mesma?

- O quê?

- Vergonha de si mesma. Ter que humilhar pessoas de classe mais baixa que a sua para que se sinta melhor, para que sua vida seja menos entediante, para te dar prazer. O que foi? Adrien não é o suficiente? 

Seu braço estava arrepiado e isso demonstrou o quanto foi afetada com o que disse. Adrien, ao seu lado, estava em silêncio e envergonhado com meu último comentário. A mão dela levantou-se na altura de seu rosto, sua palma estava fechada em punho. Ela iria me dar um soco. Mas eu fui mais rápida e segurei seu braço fortemente, três milésimos de segundos antes de minha cara ser completamente esmagada. Não pude deixar de sorrir. Isso é tão satisfatório! Minha mão está formigando pedindo para que eu bata ainda mais, mas me controlei. Não sou mais assim. Não preciso ser assim.

- Eu não tenho mais medo de você - deixei claro, olhando-a profundamente para que veja o quanto estou sendo sincera.

Ela soltou um gritinho e tentou soltar-se, mas não fiz o que queria. Adrien entrou em minha visão e juntou as duas palmas da mão como se fosse pedir algo.

- Por favor, solte-a. Se você a soltar, prometo que voltarei com você. Não é o que mais quer na vida? 

Eu acabei por afrouxar minha mão e a azulada conseguiu soltar-se, soltando um resmungo inaudivel em seguida. 

- Sério? - indaguei, com a voz mais fina que consegui fazer.

Ele assentiu rapidamente e deu um sorriso. Adrien voltou para mim. Seus olhos verdes são meus novamente.

Aproximei-me de seu rosto, pronta para ter seus lábios nos meus. Mas, ao invés disso, acumulei o máximo de saliva que consegui e cuspi em seu olho, fazendo ele se afastar e soltar um grito como uma garotinha. 

- Não - neguei, de braços cruzados e com um sorriso maior que minha própria cara. -  Na verdade o que eu mais quero na vida é a bolsa Birkin, feita de pele de crocodilo da grife francesa Hermès, ou seja, a bolsa mais cara do mundo. Me desculpe decepcioná-lo.

- Mas você precisa de mim! - rosnou meu ex, mais irritado do que nunca.

- Eu sou Chloé Bourgeois, mon chéri. Não preciso de nenhum homem para viver minha vida, você deveria saber isso.

Ele não disse mais nada, foi completamente humilhado. Teve o que merecia. A azulada também estava quieta, então continuei:

- Já que o showzinho acabou, se me derem licença, preciso voltar para minha casa. Minha verdadeira casa. 

Fiz uma reverência e dirigi minha mão até a maçaneta da porta, mas parei no meio do caminho.

Não, pensei, ainda não acabou.

Virei-me lentamente e fui até a azulada de novo, estendendo minha mão em sua frente como se fosse cumprimenta-la.

- Podemos ser amigas?

Ela franziu a testa, com certeza se perguntando o por quê dessa atitude. Então a respondi antes que ela pudesse sequer abir a boca:

- Acredito que a senhorita precisa de alguém para levá-la ao caminho certo. Para derrubar a muralha de gelo em volta de seu coração. E eu desejo imensamente ser essa pessoa. Eu também estou em transição, vamos dizer assim, então que tal nos ajudarmos?

Fiquei um tempo parada, esperando sua resposta. Seu corpo logo pareceu relaxar e ela apertou minha mão. Soltei um sorriso amigável e balançamos as mãos como se fosse um acordo. Seu rosto, antes "embaçado", finalmente obteve olhos, boca e nariz. Pude ver o sorriso sincero em seu rosto e as lágrimas escorrendo por sua bochecha. 

Eu a conhecia. Era Marinette. Era ela o tempo todo! Quero dizer, não genuinamente, até porque tudo isso acontece dentro de minha mente e seria impossivel Marinette estar aqui. 

- Parabéns, Chloé - saudou-me, recolhendo sua mão. - Você conseguiu superar seu maior medo. Como se sente?

Então lembrei do motivo de estar ali. Eu havia me esquecido completamente desde que saí do banheiro. Bem que o Guardião nos avisou.

- Eu me sinto... - pensei antes de dar a resposta definitiva. - livre, eu acho. 

Um riso repleto de alegria saiu de minha boca e instintivamente me dirigi até a porta. Abri e não vi o corredor que tanto conheço. Vi toda a minha vida na frente de meus olhos. Todas as minhas lembranças. Minha mãe. Adrien. Alya. Meu pai. Todos que são importantes para mim, de certa forma. Olhei para trás para observar Marinette e avisar:

- Nós iremos até você, Marinette. Nós vamos salvá-la. 

Sei que não é ela de verdade, mas senti a necessidade de dizer isso como se a verdadeira fosse me ouvir. 

- Eu acredito em você, Chloé - respondeu-me, com um sorriso confiante. - Você é forte e corajosa. Sua mãe com certeza estaria orgulhosa de você.

Isso preencheu meu peito de alegria. Depois devo agradecer minha mãe por ter me feito sentir raiva. Voltei meu olhar ao hipocampo e dei um passo com o pé direito para frente. 

Um passo até Marinette. 


Notas Finais


ALO ALO PESSOAL
Como estão? E ai, o que acharam do capítulo? Várias pessoas especularam que esse seria o medo de Chloé e, parabéns, estavam certos. Vão ganhar um abraço virtual *abraça a tela do computador* :v.

Então, o que acharam da Chloé nesse capítulo? Eu simplesmente amei ela, DIVA, IRREVERENTE E SEGURA DE SI PESSOAL.

E a fanfic atingiu 350 favoritos e o primeiro capítulo ta com mais de mil visualizações. VOCÊS TEM NOÇÃO DE COMO EU TO? EU AMO MUITO VOCÊS AHHHH. Como forma de agradecimento, darei dois presentinhos.

1- Aqui será revelado o nome dos próximos cinco capítulos. E são eles:
Capítulo 20 - Insécurité (Insegurança)
Capítulo 21 - Illusion (Ilusão)
Capítulo 22 - Les Souvenirs Du Passé (Parte 4). No caso, o subtitulo desse é "La Danse". "A Dança", em protuguês.
Capítulo 23 - Défaite (Derrota)
Capítulo 24 - Survivant (Sobrevivente)

Quero ler suas teorias, hein!

2- Eu não vou prometer nada. Mas pretendo publicar mais capítulos nesses quatro dias. Porém, como tenho que dividir o computador com minha mãe por causa do trabalho dela, não posso prometer nada, infelizmente. Tentarei, isso posso prometer.

Espero que tenham gostado. Se gostou, não esqueça de favoritar e comentar que me ajuda muito(se puder e quiser, é claro). Até o próximo capítulo, pessoal, Beijos da Mary <3


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