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História Don't Leave Me - No Limite


Escrita por: Kodda

Notas do Autor


**** Leiam as notas finais. ****

Voltei, como prometido! Espero que curtam o capítulo.
Beijinhos :*

Capítulo 15 - No Limite


Acordei no dia seguinte com batidas na porta. Abri os olhos e pisquei tentando reconhecer o lugar onde eu estava. Levantei ainda sonolenta e abri a porta me deparando com uma sorridente mulher que aparentava ter vinte anos, de longos e lisos cabelos castanhos e olhos mel que realçavam o tom moreno de sua pele.

 — Bom dia! — seu sotaque era forte. — Sou Faizah e por enquanto, serei sua professora.

 Mentalmente dei um tapa em minha testa. Eu jurava que Faizah era o irmão mais novo de Rajah. Fiquei ligeiramente envergonhada.

 — Bom dia. — sorri. — Pode entrar.

 — Eu acordei você, não é? Desculpe-me.

 — Não há problema nenhum, não se preocupe. Importa-se de esperar um pouco para eu me trocar?

 — Não, imagina. Por falar nisso, trouxe isso para você, espero que goste. — ela me entregou um pacote.

 Peguei o embrulho das mãos dela e abri. Dentro estava um vestido lilás longo e de mangas compridas, com pregas na saia e com a cintura marcada por uma faixa preta com mosaicos em branco. O decote em V era bem pequeno, o vestido cobria a maior parte do corpo. Dentro do embrulho havia também um lenço da mesma cor do vestido.

 — Uau! — exclamei. — É lindo, obrigada!

 — Não é necessário usar o lenço enquanto estiver dentro do palácio, mas se sair eu aconselho que use para cobrir a cabeça.

 — É maravilhoso, mas não precisavam se incomodar comigo.

 Faizah sorriu.

 — É um presente. Venha, eu te ajudo a vestir.

 Ela me ajudou a colocar o vestido e me deu dicas de como posicionar o lenço em minha cabeça caso fosse necessário.

 — Infelizmente não posso comer com você agora, mas quando você for para a sala de jantar o seu café da manhã vai estar lá. Estarei te esperando aqui quando você terminar.

 Assenti e agradeci novamente pela roupa. Caminhei até a sala de jantar e não tinha ninguém por lá. Olhei para a mesa e minha barriga roncou. Havia pão sírio, uma espécie panqueca bem fina retangular que mais tarde descobri que se chamava msemmen, queijo cottage, manteiga e geleia de morango. Para beber tinha suco de laranja, café e chá de hortelã. Eu comia como se não houvesse amanhã. Enquanto eu mastigava e bebericava meu chá, Rajah apareceu na porta que dava na sala de estar. Senti um frio na barriga. Ele olhou para minha roupa por um instante e para o meu rosto, logo depois saiu pela porta principal, suspirando. Revirei os olhos. Que saco.

 Terminando de comer, achei melhor limpar a mesa. Peguei a louça suja e levei para a cozinha que ficava ao lado da sala de estar. As paredes eram de ladrilho branco com um painel em marrom envolta de todo o cômodo e o chão de cerâmica cor creme. As bancadas eram do mesmo marrom do painel e estavam sob um lustre e banquinhos de bar brancos foram posicionados ali. Os armários ficavam atrás da bancada juntamente com a geladeira e o fogão. Uma porta branca aos fundos levava à despensa e uma grande janela ao lado dava vista à cidade.

 Lavei a louça que eu sujara e coloquei tudo sobre a bancada, já que eu não sabia onde guardar. Voltei para o quarto e Faizah me aguardava. Ela levantou e me entregou um caderninho e um lápis para começarmos a aula. Sentamos na cama e ela começou a falar.

 — Vamos começar por enquanto com palavras simples do dia-a-dia. — ela começou. Faizah me ensinou como dizer olá, desculpe, por favor, obrigado, sim e não. As pronúncias eram bem difíceis e ela me corrigia quando eu errava. Ela também me ensinava como escrever cada uma das palavras.

 — Não tem problema se não souber escrever, eu reconheço que para você seja bem difícil. Contanto que você aprenda a falar pelo menos o básico, está ótimo.

 Ela continuou a praticar comigo as palavras até eu me acostumar com as pronúncias. 

 — Nós mulçumanos usamos uma expressão de cumprimento usada para professar a nossa fé. Repita comigo: As-Salamu Alaikum.

 — Assalamaleico. — repeti.

 — Quase lá! — Faizah riu. — Essa frase significa “que a paz esteja convosco” e você deve responder Wa-Alaikum Salaam, que significa “esteja ela com você também”.

 Depois de praticar algumas vezes Faizah pediu para darmos uma pausa. Ela tinha que fazer a oração feita ao meio-dia pelos mulçumanos.

 Ela me explicou que os islâmicos fazem várias orações durante o dia e durante o Ramadã comem em horários determinados. Antes de o sol nascer eles tomam café e fazem a oração do Fajr. Ao meio-dia o Dhur, à tarde o Asr. No Ramadã, a quebra do jejum é feita antes da oração do Maghrib, depois do pôr do sol. Eles comem comidas leves e depois fazem a oração. A oração da noite se chamava isha’ e logo depois se fazia a oração especial do Ramadã, o Tarawih.

 Quando voltou, sentou-se novamente e endireitou a postura.

 — Bom, deixemos o árabe um pouco de lado agora e vou ensinar a você algumas coisas muito importantes.

 — Como o quê? — perguntei.

 — Como agir perto das pessoas aqui, principalmente perto dos homens. Dependendo do comportamento pode ser bem ofensivo, então preste bem atenção.

 Endireitei minha postura também, ficando atenta.

 — Nunca ofereça a mão para um homem. Muito menos cumprimente com aqueles beijinhos que vocês brasileiros adoram fazer. É inadmissível para alguns religiosos tocar em mulheres que não sejam próximas. Não cruze as pernas e deixe o pé voltado para a pessoa. Se for possível, esconda-o. É grosseiro mostrar a sola do pé ou sapato para um árabe, pois é uma parte de corpo considerada suja. — escondi meus pés sentando sobre eles. — Evite sair sozinha também. Eu sei que você não é acostumada a nada disso, mas isso é para a sua própria segurança. Não queremos que nada de ruim aconteça a você.

 Assenti. Ela também me explicou mais sobre o mês do Ramadã. Os mulçumanos tinham que rezar bastante nessa época e jejuar sobre diversas coisas. Inclusive relações sexuais.

 — E outra coisa, nunca ofereça bebidas alcoólicas e nunca, nunca mesmo dê carne de porco para um mulçumano. No islamismo porco é uma coisa proibida na alimentação, não se come nem se a comida encostar-se à carne.

 — Entendi, nada de porco.

 — Entenda que nem todos são tão compreensíveis como nós, algumas pessoas mais tradicionais são bem rígidas quanto a isso.

 Joguei-me na cama e suspirei.

 — É tudo tão diferente e complexo.

 Faizah sorriu e tocou meu joelho.

 — Você se acostuma. Então, como estão as coisas com Rajah?

 — Ele não está falando comigo.

 Ela revirou os olhos.

 — Ele é um chato às vezes. — eu ri com o comentário. — Orgulhoso e por mais bondoso que seja, guarda rancor muito facilmente. Não se preocupe, uma hora ele vai ter que te enfrentar.

 Ouvimos batidas na porta e Zafirah colocou a cabeça para dentro do quarto.

 — Com licença. — o sotaque dela era ainda mais forte que o de Faizah. — Alexia? Gostaria de dar as boas-vindas. — ela tinha longos cabelos negros, pele clara e lindos olhos verdes.

 Sorri.

 — Pode entrar, sente aqui conosco! — chamei.

 Zafirah se mostrou uma pessoa ótima. Ela, eu e Faizah passamos um bom tempo conversando e rindo. As duas decidiram me mostrar o jardim do Palácio. Antes de irmos, as duas se retiraram para fazer a oração da tarde, o Asr

 O jardim era aberto com várias seções de flores diferentes. Tâmaras, rosas, tulipas. Todas muito bem cuidadas. O caminho era feito de pedrinhas coloridas e todo o resto era gramado. Lembrei-me de meu pai. Ele amaria estar ali.

 Caminhamos por um tempo e nos sentamos em um banco para conversar. Zafirah disse que Safa não quis se juntar a nós por estar ocupada. Ela me contou como foi a chegada delas ao Palácio.

 — Eu e Safa sempre fomos muito pobres. Morávamos numa mesma vila, até que nossos pais combinaram de nos vender para um homem rico, pois estava muito difícil para nossas famílias nos criarem. Uma semana antes do casamento, enquanto eu e ela caminhávamos pelas ruas juntas, dois homens estranhos nos abordaram e nos arrastaram para uma casa estranha para abusar de nós. Algumas pessoas viram e nos humilharam em praça pública acusando-nos de adultério. Não era verdade, mas quem acreditaria em duas mulheres consideradas adúlteras? Se não fosse por Rajah não sei o que seria de nós. Tenho muita gratidão por ele, talvez eu nem estivesse viva hoje. — ela sorriu. — Ouvi Nádia falando de você algumas vezes, tem sorte de ter alguém como Rajah na sua vida.

 Dei um sorriso triste.

 — Nós brigamos e... Ele não está falando comigo.

 Ela franziu o cenho.

 — Você veio de longe até aqui por ele, é um pouco estranha a atitude. — ela estalou a língua. — Estou torcendo por você, pode contar comigo para qualquer coisa. 

 — Obrigada. 

 Sorri. Observei as flores e inspirei o perfume delas. Desde que eu chegara, era a primeira vez que me sentia em paz. Mas sentia que algo faltava, sentia falta de Rajah, isso era claro. Por mais que eu tentasse, não conseguia lidar com toda a situação. Balancei a cabeça numa tentativa de afastar os pensamentos.

 — Quando começou a falar português? — perguntei.

 Zafirah olhou para mim e sorriu.

 — Quando cheguei aqui, ouvi Nádia falando algumas vezes e achei um idioma muito bonito. Pedi a ela que me ensinasse e sempre pratiquei muito. Também gosto de inglês. Gostaria muito de visitar outros países. Sempre vi lugares lindos na televisão.

 — Quem sabe um dia eu não te leve para conhecer a minha casa no Brasil. — pisquei.

 Os olhos dela brilharam e ela sorriu.

 — Por favor! Eu adoraria!

 Dei uma risada. Zafirah era muito amável. Era muito bom poder conversar com ela e me sentir menos sozinha.

 O sol já estava se pondo e a brisa fazia cócegas na pele. Conversamos por mais alguns minutos até que Faizah disse que o jantar já seria servido. Nós três subimos até a casa e a mesa já estava posta.

 O jantar consistia de saladas de berinjela, tomate, beterraba, cenoura e pimentão ao azeite, azeitonas e como prato principal, o Couscous marroquino, que, segundo Faizah, era uma massa feita de semolina, um grão. Podia ser servido com praticamente qualquer coisa e era um bom substituto do arroz comum. No caso, foi servido com carne de cordeiro, legumes, ervas e raspas de limão.

 Fomos lavar as mãos e esperamos um pouco até Nádia, Rajah e Safa aparecerem. Sentei entre Zafirah e Faizah, Nádia e Safa do outro lado e Rajah ficou na ponta da mesa. Todos optaram por comer as saladas e frutas, coisas leves, devido ao jejum do Ramadã. No entanto, a pesar da comida ser leve, o clima estava meio pesado. Rajah comia em silêncio e ninguém tinha coragem de iniciar conversa. Sentia-me um pouco culpada.

 — Como foi o seu dia, Alexia? — Nádia quebrou o silêncio depois de algum tempo. Todos olharam para mim, menos Rajah e Safa.

 — Foi muito bom. — eu disse um pouco constrangida. — Zafirah e Faizah foram ótimas e me ensinaram muitas coisas. Elas me mostraram o jardim, é lindo. Faizah me deu até uma roupa nova.

 Rajah pigarreou.

 — Fico feliz! Amanhã nós vamos dar uma volta pela cidade. Você vai adorar. — Nádia piscou.

 Sorri, mas logo fiquei triste. Rajah tinha prometido me mostrar a cidade há um tempo. Olhei para ele que continuava comendo em silêncio. Tinha olheiras sob os olhos e a aparência cansada. Pelo que eu o conhecia, ele devia ter trabalhado até tarde e dormido pouco. Rajah deve ter percebido que eu o encarava e me fitou. Desviei o olhar e voltei a comer. Voltei meu olhar para Safa, que olhava para ele também. Ela tinha os cabelos castanhos e ondulados, sua pele era morena e seus olhos castanhos bem claros com longos cílios. Eu ainda não tinha conversado com ela, e confesso que nem estava com vontade. Safa não fazia o tipo amigável e parecia não gostar muito de mim.

 Depois que terminei de comer, me despedi de todos e pedi licença da mesa para dar privacidade a eles para fazerem a oração do Maghrib. Fui até o meu quarto e me sentei sobre a cama. Não parava de pensar em Rajah e decidi conversar com ele para resolver as coisas. Se continuássemos brigados não faria nenhum sentido eu continuar por lá. Eu esperei um bom tempo, determinada, para sair do quarto e fui em direção à sala de estar. Não sabia ao certo qual era o quarto de Rajah, mas estava disposta a descobrir. Assim que passei pela porta percebi que havia pessoas no cômodo. Dei alguns passos para trás e espiei pelo batente.

 A sala estava pouco iluminada, mas ainda sim reconheci a silhueta de Rajah e de Safa. Eles estavam de lado para mim e eu torcia para que eles não me vissem. Ela sussurrava algumas coisas e ele a fitava. Eu não consegui distinguir sua expressão e muito menos o que diziam, pois conversavam em árabe. Depois de trocarem algumas palavras, ela pegou as mãos dele, beijou e as segurou sobre o peito. Logo depois o abraçou e sussurrou algo em seu ouvido.

 Não, não, não. Não pode ser, pensei.

 Meu estômago revirou e senti o jantar voltando pela garganta. Aquilo era demais para mim. Arfei e tapei a boca para silenciar o barulho, mas Rajah me ouviu. Olhou em minha direção e quando me reconheceu arregalou os olhos. Soltei o batente da porta para ir embora e percebi Rajah vindo em minha direção.

 — Alexia!

 Corri para o quarto e tranquei a porta. Arrastei as costas na mesma até me sentar e abraçar os joelhos. Rajah batia na porta desesperadamente.

 — Alexia, abre a porta! Por favor!

 — Vai embora! — minha voz embargada gritou.

 É claro que ele não iria mais querer falar comigo já que tinha uma outra pessoa. Ele mentiu! Como não tinha percebido antes? Julia tinha razão, eu era apenas um dos brinquedos inúteis dele. E agora ele queria voltar a brincar com os antigos. Idiota, idiota, idiota!

 Depois de muito insistir, Rajah parou de bater e pareceu ir embora. Eu chorava de raiva, tristeza e todas as misturas de sentimentos ruins que se pode imaginar. Aquela foi a gota d’água depois de toda a humilhação, cansaço e tristeza que eu senti desde que fora para o Marrocos.

 Eu só queria ir embora para a minha casa.

...


Notas Finais


Bem, apesar das complicações, consegui escrever na semana passada, mas essa semana realmente não vai dar para mim, então peço desculpas por na próxima segunda não ter capítulo novo (mais uma vez).
Na quinta sai o resultado do meu intercâmbio e no domingo tenho vestibular, então preciso me focar neles.
Mais uma vez, peço desculpas e espero, de coração, que entendam. Perdoem meus vacilos e não desistam de mim hahaha <3


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