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História Don't Leave Me - Feridas


Escrita por: Kodda

Notas do Autor


EU SEI QUE DEVERIA TER POSTADO ONTEM, DESCULPAAA
Okay, eu explico. Passei no vestibular semana passada e tive que correr atrás de uns documentos, além de ter viajado no fim de semana. Fiquei sem tempo pra escrever e meu bloqueio criativo ainda tá aqui.
Massssss, me esforcei e consegui terminar hoje pra vocês. Se encontrarem algum errinho, me perdoem, eu não revisei muito muito bem.
Boa leitura <3

Capítulo 20 - Feridas


— Vocês dois, por gentileza, poderiam me explicar isso? — Nádia jogou uma revista em cima da mesa. Na capa tinha uma foto minha ao lado de Rajah, dançando em Kasbah des Oudaïas no dia anterior. Também havia uma matéria sobre um tiroteio no mesmo local.

 Na parte da tarde, Nádia solicitou a minha presença e a de Rajah na sala de jantar para termos uma “conversinha”. Não havia mais ninguém no cômodo além de nós.

 Estávamos errados, não havia como nos defender. Olhei para Rajah com medo. Ele apoiava um dos cotovelos na mesa e tinha uma mão sobre a boca, olhando para sua mãe. Olhou de relance para mim e levantou uma sobrancelha duas vezes. Lancei um olhar repreensivo e voltei a olhar para Nádia.

 — Por um acaso vocês sabem o quão perigoso isso foi? — ela olhou para nós. — Eu disse para não andarem sozinhos fora do Palácio e o que vocês fazem? Justamente o que eu não pedi! E se as balas tivessem pegado em um de vocês, Rajah?

 — Mãe... — ele começou.

 — Nem uma palavra! — Nádia o interrompeu. — Você vai ser o próximo rei, mas não se esqueça de que eu sou a rainha! Seu pai não me concedeu autoridade para eu não usa-la. — ela se sentou. — Céus, vocês parecem dois adolescentes irresponsáveis...  Agora, além de tudo, eles sabem quem é a Alexia. Que isso não se repita, espero que o susto de ontem tenha servido de lição. Sorte a de vocês que ninguém se machucou. — levantou-se. — E vocês estão de castigo. Não sairão do Palácio nem com uma legião de guardas.

 Rajah riu incrédulo.

 — Não somos crianças!

 — Mas agiram como uma e devem ser tratados como tal. — Nádia sorriu. — Estão dispensados. — ela saiu para a sala de estar.

 — Caramba... Ela estava nervosa. — respirei fundo.

 — Ela pode ser bem pior, acredite. — Rajah sorriu. — Mas não tiro a razão dela, foi arriscado.

 — Por que a frase “eu avisei” está se repetindo em minha mente? — perguntei com ironia.

 Ele revirou os olhos e folheou a revista que Nádia nos mostrou antes.

 — O que diz aí? — perguntei.

 — Parece que as pessoas gostaram de você. — Rajah olhou para mim e sorriu.

 — Como assim? — aproximei minha cadeira dele.

 — “Parece que o Príncipe tem uma mais nova pretendente! Segundo nossas fontes, ela se mostrou uma pessoa dócil e simpática, com certeza seria uma boa rainha. Estamos ansiosos por mais informações!”. — ele leu a legenda ao lado da minha foto.

 — Rainha? — arregalei os olhos.

 — Algum problema?

 — Não, é que... Eu não sei se... Sabe...

 Rajah arqueou uma sobrancelha e suspirou, balançando a cabeça.

 — Conversaremos sobre isso mais tarde. — ele segurou o meu queixo entre o polegar e o indicador. — Preciso ir, já estou atrasado.

 Levantei-me logo depois dele.

 — Hoje tem treinamento? — perguntei.

 Rajah respondeu acenando com a cabeça. Franzi o lábio.

 — Tome cuidado. — eu disse.

 — Vou tomar. Volto mais tarde. — ele beijou o topo da minha cabeça e saiu.

 Suspirei e fui para o meu quarto. Logo Faizah chegaria para nossa aula.

 Não demorou muito para ela chegar, então sentamos em minha cama e ela começou a falar. Confesso que não estava com muita vontade de fazer aula, mas eu precisava distrair a minha cabeça, então não cancelei.

 Enquanto Faizah explicava sobre os pronomes, minha cabeça estava dividida entre a “situação” Safa e o treinamento de Rajah.

 — Já chega, Alexia, o que aconteceu? — Faizah disse em um momento. — Você mal presta atenção no que digo e está com uma cara nada boa.

 Olhei para ela e suspirei.

 — Ter um marido com mais de uma esposa além de você é tão ruim assim? — falei.

 Ela franziu o cenho.

 — Não sei... Mas para falar a verdade, não deve ser tão bom. Por que quer saber?

 Mordi o lábio inferior.

 — Safa gosta de Rajah.

 — Safa? — arregalou os olhos.

 Faizah me encarou por um momento, processando a informação. Contei a ela toda a situação, desde o mal entendido na sala de estar até a ameaça que Safa fizera.

 — Eu não sabia que ela poderia ser tão suja a esse ponto. — Faizah disse por fim.

 — Eu não consigo me acostumar com a ideia. Sabe, de casar, ter mais uma pessoa para dividir a atenção dele.

 — É realmente complicado. — ela suspirou. — Creio que ele também deve estar desconfortável, sempre tratou Safa e Zafirah com o maior respeito do mundo, e agora...

 Concordei com a cabeça e baixei os olhos. Faizah afagou meu braço.

 — Eu sinto muito ter que dizer isso, mas não tem o que fazer. Casamento no islã é uma coisa muito importante e séria. Ainda mais para Rajah, que será rei. — eu entendi o que ela quis dizer. A ameaça dos rebeldes, a pressão do exército. Era tudo muito mais complicado do que parecia. — Mas saiba que eu e Zafirah sempre estaremos aqui por você, não importa o que aconteça. — ela apertou minha mão.

 Respirei fundo.

— Descanse um pouco agora. — Faizah levantou-se e recolheu seus pertences. — Vejo você mais tarde.

 Assim que ela saiu, deitei na cama e observei o teto. Meus pensamentos estavam um turbilhão na minha cabeça. Parecia que a vida estava me testando de alguma forma: quando meus problemas caminhavam para a solução, alguma coisa acontecia e os deixava pior do que antes.

 Não jantei naquele dia. Não estava disposta a ter que encarar todo mundo e fingir mais uma vez que tudo estava bem. Fiquei apenas no meu quarto, refletindo e arranjando uma forma de aquietar minha mente. Também queria que Rajah chegasse logo, eu estava preocupada e desejava que aquele estúpido treinamento terminasse de uma vez. Por fim, acabei cochilando por um tempo.

...

 Rajah estava demorando muito. As luzes já estavam apagadas e todos dormiam. Depois que acordei, não conseguia pregar os olhos novamente de tanta preocupação. Rolava e rolava na cama e cada vez mais ficava ainda mais agoniada. Sentei na ponta da cama e apoiei os cotovelos na coxa, colocando minha cabeça sustentada sobre minhas mãos.

 Ouvi alguns ruídos vindos da sala de jantar. Alguma coisa fora derrubada num baque surdo. Levantei depressa e abri a porta silenciosamente, espiando atrás da parede. Quando vi o que estava acontecendo, meu coração parou: Rajah caminhava com dificuldade, apoiando-se nos móveis, e acabou derrubando uma mesinha no tapete. 

 — Rajah? — chamei. Ele levou um susto. — O que aconteceu? Você demorou muito...

 — Vá para a cama, estou bem. — forçou um sorriso. Parecia cansado e estava sem camisa, com uma toalha em um de seus ombros. Escorria suor em sua pele desnuda. Não, aquilo não era suor.

 — Isso é sangue? — perguntei me aproximando com a testa franzida. Ele deu dois passos para trás com dificuldade.

 — Alexia, por favor, vá para o quarto. — Rajah fechou os olhos. Parecia sentir dor.

 Ignorei seu pedido e cheguei mais perto, e, vendo que eu não o obedeceria, apenas ficou parado. Caminhei para trás dele e quando o olhei, arfei, colocando a mão na boca.

 As costas dele estavam cheias de cortes abertos e escorrendo sangue. 

 — O que aconteceu?

 — Eu... Falhei na missão. — balbuciou.

 — O quê? — sussurrei assustada.

 — Eu tive que percorrer um circuito com obstáculos, saltar, atirar, correr, lutar... No último objetivo para completar a missão, tive de escalar uma parede de quase 20 metros. Eu caí e... Acabou o tempo.  

 Rajah fora castigado. Esse era seu maior medo e a causa de sua angústia há um tempo, e tudo se se tornou real naquele momento. Eu sentia a dor dele, sabia que ele estava com medo. Eu tinha que fazer alguma coisa.

 — Vem. — segurei o seu braço e o levei até o banheiro. Ele cambaleou um pouco e tive que ajuda-lo a caminhar.

 Coloquei-o dentro do box e lavei suas feridas. Rajah não disse nada, apenas ficava de olhos fechados. Peguei algumas toalhas e o ajudei a se secar. Vasculhei as gavetas e prateleiras do banheiro até encontrar um kit de primeiros socorros. Sentei Rajah na privada e limpei as feridas com uma gaze úmida.

 —Eu não queria que você visse isso. — ele quebrou o silêncio com a voz embargada.

 Rajah estava chorando. Meu coração se quebrou em mil pedaços naquele momento e parecia que o chão tinha desaparecido sob meus pés. Eu nunca o vi tão frágil quanto naquele momento.

 — O que... Exatamente eles fizerem com você? — perguntei num sussurro enquanto fazia curativos em suas costas.

 Rajah ficou em silêncio por um momento. Ele não olhou para mim, para que eu não visse suas lágrimas. Pensei que ele não responderia, até que começou a falar.

 — Lembra-se de quando me perguntou sobre as cicatrizes na primeira vez? — assenti, mesmo sabendo que ele não veria, pois estava de costas para mim. — O castigo daquela vez foi levar tiros de balas de borracha. Dessa vez eles... — sua voz falhou. — Pegaram uma chibata. Foram cinquenta vezes.

 Fechei os olhos e lutei para não imaginar Rajah sendo chicoteado só por ter caído enquanto escalava. A raiva me consumiu de uma forma devastadora. Como os oficiais podiam fazer aquilo? Por que ninguém impedia essa situação de acontecer?

 — Rajah...

 — Eles fazem isso em uma tentativa de me adestrar, eu não sei. Eu só sei que não suporto mais isso. — ele disse e engoli minhas palavras. Rajah chorava novamente com a cabeça apoiada nas mãos. Ajoelhei-me em sua frente e afaguei seus joelhos depois de terminar os curativos.

 — Ei, está tudo bem. Tudo isso vai passar. — eu tentava conforta-lo.

 — Alexia. — ele olhou para mim. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto molhado de lágrimas. — Eu nunca quis fazer parte disso. — não entendi o que ele quis dizer, mas logo me toquei que ele se referiu às tradições da Família Real. Lembrei-me do dia em que conheci Rajah e ele me contou sobre sua vida. Ele era totalmente diferente antes de pegar essa responsabilidade.

 — Eu não sou uma pessoa religiosa e tradicional, nunca fui. — ele prosseguiu. — Sinto-me obrigado a ser assim, para agradar a todos e fazer o que esperam que eu faça. Tomo decisões que todos esperam que eu tome. — fungou. — Eu queria honrar meu pai de alguma forma, mas eu não quero mais isso. Mantenho a postura de uma pessoa que não sou. O rei precisa ser o reflexo de seu país e eu não tenho nada do que eles são! Eu preciso fingir para todos que gosto do que estou fazendo, que gosto da ideia de ser rei. Eu olho para mim mesmo e sinto que cada vez mais me afundo nisso.

 Eu apenas deixava que ele falasse e escutava tudo afagando suas mãos. Rajah carregava dentro de si uma angústia muito grande e ele precisava colocar para fora. 

 — Eu fui obrigado a casar, fui obrigado a adotar os dogmas religiosos, fui obrigado a ser herdeiro do trono, fui obrigado a fazer esse treinamento maldito durante anos e agora mais uma vez. — Rajah olhou nos meus olhos. — Você é a única coisa que tenho em minha vida que aceitei de livre e espontânea vontade.

 Não queria chorar na frente dele naquele estado, mas depois de tudo o que ele disse, foi impossível evitar que as lágrimas caíssem.

 — Eu não sei o que faria sem você aqui agora. — sussurrou.

 Afaguei suas bochechas e limpei as lágrimas de seu rosto.

 — Eu estou aqui e sempre vou estar. — eu disse. — Nós vamos enfrentar isso juntos.

 Rajah balançou a cabeça e eu selei nossos lábios.  

 Depois que ele conseguiu se acalmar, fomos para o meu quarto e deitamos. Ele não falou muito, apenas recostou a cabeça em meu ombro e colocou o braço sobre minha cintura.

 — Conversei com Safa mais cedo. — Rajah sussurrou com a voz rouca.

 — E então? — perguntei.

 — Eu estou tentando enrolar ela, mas não posso por muito tempo.

 Fechei os olhos. Eu sabia que uma hora ou outra aquilo teria que acontecer.

 — Temos quanto tempo? — perguntei.

 — Usei a desculpa de que não podemos fazer isso durante o Ramadã, mas... Depois que acabar não posso mais fugir disso. — ele deu uma pausa. — Temos uma semana.

...


Notas Finais


Ninguém perguntou, mas passei no vestibular de Arquitetura e Urbanismo hihihihi :3
Vou fazer de tudo pra postar na próxima segunda. Um beijo, um queijo e mamãe ama vocês <3


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