História Don't Leave Me - Problema?

Rajah me levou até um canto um pouco mais afastado da festa e ficamos conversando e rindo por vários minutos. Era uma pequena sala com um sofá com estampa de zebra de dois lugares e uma mesinha de centro. As paredes eram de um vermelho escuro, o chão de madeira e um tom de marrom também escuro. A única decoração era um grande vaso de uma planta que eu desconhecia. Uma orquídea, talvez?

 Sentamo-nos no sofá e me sentia completamente à vontade, parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Falávamos de tudo. Ele me contou um pouco da sua cultura e religião, o Islamismo. Também me falou um pouco do seu passado. Que era festeiro e mulherengo, não ligava muito para a religião e tradições da família, mas depois que seu pai morreu teve que se responsabilizar em cuidar da herança – já que era o filho mais velho –, da mãe, agora viúva e mesmo não querendo, entrar nos padrões de comportamento e religiosidade que a família exigia.

 — É difícil pra mim, mas faço isso para honrar meu pai. Ele era um grande homem, e digamos que não fui o melhor filho do mundo. — ele me confessou, dando um suspiro. 

 — Entendo. Seus irmãos não moram com você?

 — Não, moram perto da minha casa, decidiram montar o seu próprio canto. Mas — ele se ajeitou na poltrona. —, chega de falar de mim. Conte-me sobre você.  — Ele olhou em meus olhos dando o último gole na sua bebida.

 — Bom eu... Moro sozinha num apartamento no centro do Rio de Janeiro e sou formada em dança. Além de fazer a aula aqui, trabalho dando aulas de dança em três escolas e dou aulas de balé para as crianças do orfanato também. Não ganho muito, mas amo o meu trabalho. — dei de ombros. Rajah sorria enquanto me observava falar. — Meu sonho é abrir minha própria escola de dança, assim posso dedicar todo o meu tempo fazendo o que gosto, e ensinando. — sorri meio sem jeito. Nunca tinha contado desse sonho para ninguém e era um pouco estranho falar isso em voz alta.

 — Você tem muito potencial, vai longe. Falo isso por que já vi os seus dotes de dançarina. — ele piscou pra mim, me fazendo rir.

 — Você também dança muito bem, alteza. — brinquei. — Onde aprendeu a dançar assim?

 — Minha família ensinou a mim e aos meus irmãos quando éramos crianças, para agradarmos nossas esposas no futuro. Aprendemos um pouco de tudo, mas sinceramente, prefiro que dancem para mim que contrário.

 — Prefere algum tipo de dança em especial? — perguntei inocentemente.

 Antes de responder ele me olhou em silêncio e aproximou o rosto do meu até que nossos narizes quase se tocaram. Observei com os olhos levemente arregalados enquanto ele se aproximava e ajeitava uma mecha de meu cabelo que estava desarrumada. Em um sussurro, ele me respondeu.

 — Sou fascinado em dança do ventre. — ele sorriu de lado e olhava para a minha boca entreaberta. Rajah não mostrava o que sentia, mas seus olhos diziam tudo. Como se fossem a porta de entrada para os seus sentimentos. Sua pupila estava dilatada, e me olhava com desejo. Eu queria beijá-lo. Naquele momento.  E ele pareceu entender o meu pedido silencioso, pois se aproximou ainda mais. Podia sentir sua respiração lenta batendo em meu rosto e sua mão pegando a minha cintura. Podia sentir seu perfume exalando de seus braços enquanto ele jogava meus cabelos para trás com a outra mão. Sua boca quase se encostava à minha, sempre olhando em meus olhos e eu permanecia imóvel. Ele trocou seu alvo e distribuiu beijos na minha bochecha, mandíbula e pescoço, voltando pelo mesmo caminho e fazendo a mesma coisa do outro lado. Fechei meus olhos, apreciando a sensação e soltei um suspiro quando ele mordeu o lóbulo da minha orelha. Eu estava arrepiada da cabeça aos pés. Minhas mãos automaticamente foram para a sua nuca, puxando os pelos e arranhando de leve. Até que ele parou abruptamente e se afastou de mim, alarmado.

 — Tem alguém vindo. — ele sussurrou. Os passos que ele dissera ter ouvido pararam por um instante e voltaram, parecia que a pessoa estava por perto. — Aja naturalmente.

 — Ok. — respondi um pouco trêmula. Agir naturalmente? Como diabos se age naturalmente depois de isso ter acontecido? E o que acabara de acontecer? Ele me levou a loucura e nem ao menos tinha me beijado! E eu queria mais, eu precisava de mais. Não podia acabar assim.

 Suspirei, tentando me recompor e ajeitei o meu cabelo. Alisei a saia do meu vestido e limpei debaixo dos olhos.

 Rajah me observava, dando um sorriso.

 — É impossível você ficar ainda mais bonita do que já está. — ele sussurrou. Senti minhas bochechas esquentarem enquanto passos podiam ser ouvidos chegando cada vez mais perto da sala.

 — Alexia? Príncipe Rajah? Estão aqui? — pude ouvir a voz de Julia nos chamar.

 — Estamos aqui! — Rajah se pronunciou. Eu não ousava dizer uma só palavra, com medo de gaguejar e estragar o nosso... Segredo.

 A porta da sala se abriu, revelando uma Julia um tanto desconfiada. Seus olhos semicerraram quando seu olhar pousou em mim.

 — O que estão fazendo aqui? — ela perguntou franzindo o cenho.

 — Conversando, apenas. — Rajah falou com naturalidade. — Algum problema?

 — Oh, sim. Todos te aguardam para o brinde. — ela desviou o olhar para ele assumindo uma expressão amigável. Amigável demais, eu devo ressaltar.

 — Claro, já estamos indo. — ele se levantou e estendeu a mão para mim. Minhas pernas estavam bambas quando eu caminhava de volta para a festa, mas fiz o possível para disfarçar. Mas Julia mal me notava, tentando puxar algum assunto aleatório com Rajah. Ele apenas dava respostas curtas e diretas, enquanto entrelaçava o seu braço com o meu. Mas ela continuava insistindo na conversa, fazendo elogios e rindo exageradamente de tudo o que ele falava. Quando chegamos ao salão, Julia se afastou para pegar o champanhe e algumas taças. Ele me levava para o centro do estabelecimento quando ela reapareceu distribuindo as taças e enchendo-as com a bebida espumante. Rajah fez questão de não separar nossos braços, dizendo que eu era sua acompanhante.

 — Em nome de toda a equipe, gostaria de agradecer aos convidados, às dançarinas que foram incríveis e à presença do Príncipe Rajah, uma ilustre visita para a nossa escola. Um brinde à escola, e ao nosso importantíssimo visitante! — Julia anunciou e as pessoas aplaudiam depois de erguer as taças.

  Percebi que Camila estava do outro lado do salão conversando com algumas pessoas e decidi ir dar uma palavrinha. Antes de dar o terceiro passo em direção a ela, sinto Rajah segurar meu braço e chegar mais perto de mim.

 — Alexia. — ele disse baixinho em meu ouvido. — Temos assuntos pendentes e não irei sossegar até resolvê-los.

 — Ótimo, pois eu não ia deixar que tudo terminasse daquele jeito. — sorri.

Ele riu pelo nariz e respondeu num tom rouco e baixo que, se não estivéssemos em público, eu o teria beijado ali naquele instante.

 — Então mal posso esperar para te ver novamente.

...