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História Don't Leave Me - Malak


Escrita por: Kodda

Notas do Autor


Esse capitulo é beeeeeeeeem grande, então decidi dividi-lo em três partes. Boa leitura!

Capítulo 9 - Malak


 Acordei sentindo Rajah acariciar minhas costas, indo desde o cóccix até o topo da minha cabeça, fazendo carinho no meu cabelo e me deixando arrepiada. Depois voltava o caminho e repetia tudo de novo. Abri os olhos e pisquei algumas vezes para recuperar o foco. Quando o fiz, ele sorriu.

 — Bom dia, malak.

 — Bom dia. — me espreguicei. — Você sempre me chama assim, o que significa? — sorri meio sonolenta.

 — Malak significa anjo. — ele fez carinho na minha bochecha. — Você é o anjo que ilumina a minha vida todos os dias.

 Abri um sorriso largo, sem ter o que dizer.

 — Se você não gosta, eu paro...

 — Não, não. Eu gosto. — o beijei com ternura. Ele acariciou minhas costas e beijou minha testa. — Preciso passar em casa pra trocar de roupa antes de irmos pra casa dos meus pais.

 — Tudo bem. Mas antes, preparei um café para nós.

 — Estou dormindo há tanto tempo assim? 

 — Bem, agora são 11h17min.

 — Por que não me chamou? — me sentei na cama e esfreguei os olhos.

 — Não queria te acordar. — ele sentou atrás de mim e me abraçou, me dando um beijo no pescoço. — Você fica linda quando está dormindo.

 Revirei os olhos e me levantei, com ele me acompanhando. Rajah parou na frente da janela e se espreguiçou. Observei os músculos de suas costas contraindo e relaxando à medida que ele se movimentava. Localizei algumas pequenas manchas espalhadas pela extensão de suas costas, e quando cheguei mais perto, percebi que eram cicatrizes. Toquei uma e percebi que ele ficou tenso. Virei Rajah de frente para mim e ele estava com os olhos fechados e a testa franzida. Alisei seus ombros, passeando com a mão em seu peito e barriga, detectando mais cicatrizes. Uma um pouco maior, que era uma linha de cinco centímetros, se encontrava na lateral esquerda de seu abdômen. As outras menores tinham um formato circular irregular, com pouco mais de um centímetro. Eu não tinha as percebido antes.

 — Onde você fez essas cicatrizes? — perguntei num sussurro.

 Ainda de olhos fechados, ele respirou fundo.

 — Treinamento militar intensivo. Meu pai dizia que como futuro Rei precisava estar apto para entrar em batalha, caso necessário. As menores são marcas de balas de borracha, a maior foi feita com faca.

 Fiquei boquiaberta.

 — Mas... Não se usava colete?

 Ele negou.

 — O treinador dizia que o colete me faria ficar mais relaxado. O que não é bom em um combate.

 — Não faz sentido nenhum. — franzi o cenho.

 — Não foi uma época boa pra mim. — ele abriu os olhos, conturbado com a lembrança. — Foi horrível, uma tortura. O treinamento era de seis horas diárias e se eu não conseguisse completar a missão, era castigado.

 — Que tipo de castigo? — perguntei.

  Ele estremeceu. Deu um meio sorriso triste e pegou minha mão, beijando-a.

 — Vamos descer, você deve estar com fome.

...

 

 — Você precisa se acalmar. — eu ri da cara de nervosismo de Rajah.

 Nós estávamos a caminho da casa de meus pais, depois de passarmos na minha casa para eu tomar um banho e me trocar. Rajah estava ansioso e me perguntava se ele estava bem vestido e se meus pais iriam gostar dele. Eu ria e dizia que eu estava mais preocupada com o fato de meus pais acabarem assustando ele do que o contrário. E ele estava maravilhoso. Usando uma calça de cor laranja puxando para o marrom, uma camisa branca do The Zombies — sua banda favorita, da qual o nome não me era estranho —, um casaco preto e tênis.

 — Eu estou calmo. — ele suspirou.

 — Claro que está. — fui irônica.

 Rajah bufou e resmungou algo sobre mulheres e suas ironias irritantes, voltando sua atenção ao trânsito. Eu ainda estava bastante curiosa sobre o treinamento militar de Rajah, mas percebi que ele não ficava confortável ao falar sobre isso e sempre desviava quando tocava no assunto. Decidi não insistir mais sobre. Seja lá o que fosse ia o deixar dizer por conta própria.

 Consegui animá-lo um pouco depois do café perguntando sobre o Marrocos. Ele disse que iria me levar para ver toda Rabat, capital de Marrocos e também a cidade onde morava e falou de como era o Palácio Real e as pessoas por lá. Ele me disse que os marroquinos eram famosos por sua hospitalidade. O povo do Marrocos adorava conversar com estrangeiros e compartilhar a sua cultura com visitantes e com certeza iriam adorar conversar comigo e me receberiam bem, como aconteceu com sua mãe.

 Assim que chegamos, Rajah estacionou na frente da casa simples cor ocre de um andar. O jardim da frente era gramado e cheio de várias flores e plantas que meu pai cultivava. A casa era envolta de uma cerca branca coberta de trepadeiras. Um caminho de pedras que eu e Rajah seguimos de mãos dadas levava até uma escada de três degraus até a varanda, que dava na porta da frente de madeira também branca.

 Respirei fundo antes de tocar a campainha e olhei para Rajah, que arqueou uma sobrancelha quando me olhou. A porta se abriu e minha mãe apareceu limpando as mãos em um pano de prato, abrindo um sorriso ao nos ver.

 — Alã á salã! — ela saudou com entusiasmo. Rajah e eu demos um riso baixo por conta da péssima pronuncia de “sejam bem-vindos” em árabe da minha mãe.

 — Deveria ter praticado mais, não é? — ela disse e nós rimos outra vez. — Vamos, entrem!

 Ao entrar na casa, se via uma antessala que dava entrada à sala de estar na esquerda, à frente o corredor para o quarto e banheiro e a sala de jantar e cozinha na direita. As paredes eram de cor creme com vários quadros e fotografias penduradas e o chão de mármore cinzento sob um tapete circular branco e felpudo.

 Minha mãe se virou para Rajah. Ela tinha os mesmos cabelos cacheados que os meus e a mesma pele morena. Porém, a única coisa que eu não puxara de minha mãe eram seus olhos de um tom de verde esmeralda magníficos. Ela usava um vestido florido de alcinhas, que realçava a curvatura de sua cintura.

 — Você deve ser o Rajah. Sou Vanessa, mãe da criatura que você chama de namorada.

 Rajah soltou uma risadinha.

 — Eu ainda estou aqui. — revirei os olhos.

 — É um prazer, senhora Vanessa. — Rajah disse.

 — Me chame apenas de Vanessa, querido. Acabei de chegar à casa dos 40, sou praticamente uma adolescente!

 — Vá sonhando... —impliquei.

 — Chata! — minha mãe me mostrou a língua, nos arrancando risadas e me abraçou. — Vamos lá, seu pai deve estar terminando de arrumar a mesa.

 Passamos pela sala de jantar, que se encontrava intocada. Minha mãe continuava andando em direção à cozinha, então isso só podia significar uma coisa...

 — Vamos almoçar no jardim? — perguntei com um sorriso de orelha a orelha.

 — A ocasião merece isso. — ela piscou.

 Apenas nas ocasiões importantes nós nos reuníamos no jardim. E não sei por que, eu amava quando minha mãe anunciava que o almoço seria lá. Gostava das lembranças que tinha da minha família reunida, conversando, rindo e aproveitando a vista do belo jardim do meu pai. Se o jardim da frente era bonito, o de trás era esplêndido. O espaço era todo gramado com flores dos mais diversos tipos plantadas por toda a área. O chão onde estavam as plantas, era coberto por pedrinhas brancas que faziam desenhos pelo chão. Caminhos de pedra foram estrategicamente colocados pela grama para evitar que as pessoas pisassem onde não deveriam. Uma mesa de piquenique ficava sob uma árvore de carvalho próximo a um laguinho de carpas.

 Quando atravessamos a porta dos fundos e adentramos no jardim, fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o cheiro de grama molhada. Meu pai estava terminando de arrumar os pratos e talheres da mesa quando nos viu, abrindo um enorme sorriso enquanto ia a nossa direção. Primeiro me deu um abraço e um beijo na testa e um aperto de mão em Rajah.

 — Muito prazer, sou Thiago.

 — O prazer é todo meu, senhor. — Rajah sorriu.

 Meu pai era português. Alto, relativamente magro, branco, de olhos e cabelos castanhos. Tinha um fascínio por botânica e bandas de rock dos anos 60. Encantou-se pela minha mãe assim que se mudara para o Brasil em 1991. Ele com 17 e minha mãe com 16. Porém, ambos jovens e cegos pelo amor, se descuidaram e eu acabei nascendo. Eles se casaram em 1995, quando eu já tinha 2 anos.

 — Essa é a hora em que eu pergunto quais as suas intenções com a minha filha? — perguntou meu pai nos arrancando risadas. Ele olhou para a camisa de Rajah e estreitou os olhos sob seus óculos de grau.

 — Então você gosta de The Zombies, uh?

 — É minha banda preferida. — Rajah sorriu. Então me lembrei de onde conhecia o nome da banda.

 Meu pai olhou para mim e arqueou uma sobrancelha. Deu um tapinha nas costas de Rajah com os olhos brilhando.

 — Bem vindo à família, garoto. — então se virou para mim e sussurrou com uma das mãos na boca: — Case-se com ele ou eu me caso. — e fez um sinal de ok com a mão.

 Revirei os olhos e sorrindo, expliquei a Rajah.

 — Meu pai tinha uma banda cover do The Zombies quando era adolescente. Ele era vocalista e guitarrista.

 Rajah olhou fascinado para o meu pai.

 — Na época eles ainda estavam em pausa. Imagine minha felicidade quando voltaram a tocar em 91! — meu pai disse.

 — A felicidade triplicou quando me conheceu, não é, amor? — perguntou minha mãe o abraçando de lado.

 — Claro, querida. — meu pai piscou para nós dois.

 — E vocês fizeram sucesso? — Rajah perguntou.

 — Não, éramos um fracasso. — meu pai disse com naturalidade. — As pessoas gostavam mais de Beatles e todas essas outras bandas famosas da Invasão Britânica. — continuou ele rancoroso.

 — Não entendo esse ódio pelos Beatles só porque seu inimigo de infância tinha uma banda cover deles. — comentei sorrindo.

 — Tenho todos os motivos plausíveis. — ele se defendeu. — Não suporto quando aquelas vozinhas começam com “Lucy in the sky with Diamonds” — ele fez uma péssima imitação da canção, nos arrancando risadas.

 — Bem, vamos nos sentar. Vocês devem estar com fome. — minha mãe chamou.

 A mesa estava farta. Arroz branco, feijão tropeiro, salada de maionese, frango assado, salpicão e a famosa lasanha de berinjela de minha mãe que eu adorava. Quando sentei ao lado de Rajah na mesa, minha boca salivava.

 — Alexia está parecendo uma leoa há meses sem comer prestes a abocanhar uma zebra gorda. — alfinetou meu pai.

 — E não duvido de estar há meses sem comer mesmo, já que não sabe fritar um ovo direito. — continuou minha mãe.

 — Minha dignidade vai continuar intacta, não importa o que vocês digam. — eu disse enquanto arrumava meu prato.

 — Então você não se importaria de Rajah ficasse sabendo da vez em que você quase colocou fogo na casa...? — ameaçou meu pai com um sorrisinho brotando nos lábios.

 Suspirei de olhos fechados.

 — Vocês já vão queimar meu filme?

 — Faz parte do nosso papel de pai e mãe. — riu minha mãe.

 — Agora estou curioso. — Rajah sorriu.

 — Eu e Thiago fomos visitar um amigo doente e deixamos Alexia dormindo aqui em casa. Segundo ela, acordou com fome e foi esquentar comida no forno micro-ondas... — minha mãe olhou para mim e riu. — num recipiente de alumínio. Quando chegamos, tinha fumaça saindo pelas janelas, o forno estava pegando fogo e Alexia estava gritando feito uma cabra.

 Rajah soltou uma gargalhada e eu lhe dei uma cotovelada.

 — Não tem graça. — mas nem eu me aguentei e ri.

 O resto do almoço foi bem agradável. Meus pais contaram a Rajah vários episódios meus, como na vez em que caí dentro do lago de carpas e quando capotei com a bicicleta desviando de um pássaro.

 — Acho que ela esqueceu que pássaros voam e desviam de bicicletas. — implicou meu pai, rindo.

 — Tudo bem, já chega. Eu vou buscar a sobremesa. — eu disse me levantando.

 — Também vou. — minha mãe me acompanhou.

 Chegamos à cozinha e mamãe foi ao armário pegar os potinhos e colherezinhas enquanto eu pegava o mousse de maracujá na geladeira.

 — Rajah é uma ótima pessoa. — comentou. — Seu pai o adorou. — observamos pela janela da cozinha os dois conversando e rindo.

 — Fico feliz de vocês terem gostado dele. Ele estava bem aflito com isso tudo.

 — Um futuro rei nervoso em conhecer os sogros?

 Ri.

 — Exatamente.

 — O que vocês vão fazer quando ele tiver que voltar? — perguntou enquanto me ajudava a colocar o mousse nos potinhos.

 — Bem... Ele quer me levar junto.

 Minha mãe não se surpreendeu.

 — Então... Quando vão?

 — Eu ainda estou decidindo, não sei ao certo se...

 Ela tomou minhas mãos nas suas e olhou no fundo de meus olhos.

 — Querida... Você ficaria feliz estando longe dele? — neguei com a cabeça. — Às vezes a vida tem essas coisas. Precisamos escolher. E, filha, você não tem nada a perder. O que está esperando? Agarre a felicidade.  

 Dei um sorriso triste. Ela tinha razão. Minha mãe me deu um abraço e beijou o topo de minha cabeça. Era bom ter o apoio dela.

 Depois da sobremesa, meu pai levou Rajah para conhecer o jardim e a sua tão amada sala de instrumentos. Ajudei minha mãe com a louça e depois sentei na grama ao lado do lago de carpas. Fiquei escutando o som da pequena cachoeira artificial de olhos fechados enquanto refletia no que minha mãe dissera. Eu estava prestes a mudar completamente a minha vida? Sim. Iria ficar me lamentando por não ter tentado? Óbvio. Teria que enfrentar os olhinhos lacrimejantes de Isabella...? Meu coração se apertava só de pensar. Suspirei. Seria necessário. Triste, mas necessário. Eu já havia tomado minha decisão.

 No resto da tarde, passamos vendo fotos antigas das famílias que minha mãe fez questão de mostrar. Junto vieram as mais variadas histórias e casos que eu passei. Foi um dia bem agradável. Depois meu pai pegou a guitarra dele e tocou um pouco para nós.

 Quando fomos embora, meus pais deram um abraço em Rajah e fizeram prometer que cuidaria da garotinha deles. Ele estava radiante, não parava de sorrir.

 O trajeto de volta para a casa dele se resumiu em nós dois cantando as mais famosas do The Zombies com as janelas do carro abertas e o vento soprando nossos cabelos. Eu só queria aproveitar o momento ao lado dele, ver ele tão feliz me fazia bem demais.

 Ele me levou até o apartamento dele e deitamos no sofá para assistir algum filme. Mas, diga-se de passagem, não prestamos atenção em nada. Na metade do filme me virei para ele e fiz um carinho em seu rosto. Ele fechou os olhos, apreciando meu gesto.

 — Sabe, eu já tomei uma decisão sobre aquele assunto...

 Ele abriu os olhos e me encarou.

 — E então?

 Ignorando a sua pergunta, me levantei e girei, mostrando minha roupa.

 — Você acha que eu ficaria melhor com qual modelo de kaftan? — eu disse e ele sorriu se sentando no sofá.

 — Você vai? — perguntou.

 Assenti, sorrindo. Ele riu e se levantou me dando um abraço tão forte que pensei que iria explodir.

 — Sendo assim, vou preparar tudo. Segunda-feira nós teremos uma última reunião para fechar o acordo com os sócios, e vou comprar nossa passagem o mais rápido possível. — ele pousou a mão em meu rosto. — Mal posso acreditar que você vai comigo. — ele abriu um sorriso lindo e me abraçou novamente.

 — Eu preciso cuidar de algumas coisas antes. Tem ideia de quando vamos ir?

 Ele pensou um pouco.

 — Se tudo correr bem, até segunda ou terça-feira da semana que vem.

 — Acho que dá pra resolver tudo. — suspirei. A semana seria agitada.

 — Está com fome? — ele perguntou.

 — Um pouco. — confessei.

 — Vou cozinhar para você. — ele piscou me puxando para a cozinha.

 — Você sabe cozinhar? — ri.

 — Você vai ver.

 Rajah cozinhou o Tagine, um prato tradicional marroquino tradicionalmente feito em uma panela com o mesmo nome que é feita com barro cozido, pintado ou envernizado. Ela tem uma tampa em formato de cone, de forma que toda a água vapor volte para o fundo da panela. O prato consistia basicamente de carne – normalmente se usava cordeiro, mas Rajah usou carne bovina. – e legumes cozidos com diversas especiarias, como páprica, curry fresco, cominho, pimenta caiena, gengibre e mel. Ele contou que sua mãe cozinhava o Tagine quando ele e seus irmãos ficavam doentes.

 Ajudei preparando a mesa. Coloquei o porta-panelas, os pratos e talheres em seus devidos lugares. Quando o Tagine ficou pronto, Rajah colocou a panela na mesa e nos serviu. Antes de eu dar a primeira colherada, ele me olhou com expectativa. Coloquei a comida na boca e fiz uma careta.

 — Ficou tão bom que chega a doer. — eu disse rindo da expressão que ele fez.

 — Por Allah, não me assuste assim! — ele balançou a cabeça sorrindo. — Está bom?

 — Está maravilhoso! De verdade. Você deveria cozinhar mais vezes pra mim.

 Ele riu e também deu uma colherada.

 — Vou fazer muito mais que cozinhar, malak.

...


Notas Finais


Já aviso: No próximo tem treta. AMO.


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