História Don't Leave Me (Ereri) - Dearly Beloved

Levi engoliu seco mais uma vez, estufou os pulmões de ar e deu um longo suspiro, tentando controlar todas aquelas células inquietas, seu peito prestes a explodir e mesmo assim ele ao menos tentava se segurar diante a figura de Eren morto.

Ele sabia que se não levantasse do gramado gelado, molhado pela chuva, certamente iria morrer ali, mas algo inexplicavelmente o fazia ficar grudado ali, abraçado a Eren, e ele não conseguia sair dali. Ele se sentia incrivelmente cansado e abalado, mas não triste, vamos dizer que triste ele não estava. Ele estava... Furioso.

- Capitão Levi! – Alguém gritou atrás de si e ele rapidamente reconheceu a voz, mas não deu importância – Precisamos sair, foi dada ordens para recuarmos. Onde está Eren...? – Era Hanji, ela se curvou um pouco para a esquerda, observando o corpo do rapaz. – Ah, desculpe capitão, mas precisamos voltar.

- Eu não vou voltar. – Ele diz em voz gélida.

- Ora Capitão, deixe de ser teimoso! Vai morrer aqui! – Ela tentou leva-lo pelo braço mas ele rapidamente se livrou, puxando-o de forma brusca.

- Me deixe em paz, Hanji. – Ele volta a abraçar mais e mais Eren.

- Mas, Capitão Levi... – Hanji sabia há séculos que Levi era meio apegado a Eren, mas nunca podia imaginar com 100% de certeza de que ele o amasse. Claro que os boatos corriam, mas naquele momento não era, sem dúvidas, a hora perfeita para poder questiona-lo sobre isso. – P-Poderemos voltar para resgatar o corpo de Eren mais tarde! – Ela tentou argumentar.

- Ele não estará aqui quando voltarmos. Será devorado pelos titãs. Limite-se a tentar me convencer a sair daqui. Volte com o esquadrão, e eu voltarei mais tarde com Eren.

- Capitão Levi! Devemos seguir o planejamento! Não pode ficar aqui! – Ele nada respondeu. Hanji estava ficando um tanto quanto nervosa. – Estamos sofrendo um ataque! Todos estão em perigo, precisamos voltar! Vidas serão postas em risco Levi! – Ele levantou um pouco sua cabeça, e a garota sabia que havia conseguido o fazer pensar. Levi não podia ficar parado ali, claro que ele não abandonaria Eren, mas...

-... – Ele virou-se, olhando a expressão de seriedade de Hanji naquele momento. – Certo. Vamos voltar.

Levi, mesmo que triste e abalado, foi forçado a voltar. Ele se sentia um pouco... Desnorteado? Abalado? Triste? Ninguém sabia dizer ao certo, mas que ele estava prestes a ter um surto certamente que sim...

Cinco Horas Antes

- Como assim?! – Eren gritou, batendo em sua mesa com uma cara enraivecida – Você não pode fazer isso, Levi!

- Sim eu posso, e já fiz. Você não vai fazer mais parte das tropas de exploração. Sua presença causa angústia aos outros.

- A-Angústia!? – Ele se sentiu mais nervoso ao ouvir aquelas palavra proferirem da boca de Levi – Todos são meus amigos! Com exceção do... Jean...

- Uh... – Levi pareceu não se interessar nos comentários de Eren.

- Espera. Vai me tirar da tropa por causa dele?!

- Ele me procurou. Disse que você tem... “Comportamento hostil e violento”...

- Mas...! Levi!

- A decisão foi tomada Eren. Se não está satisfeito, reclame com a promotoria.

- Como eu te odeio! Você só me causa problemas! – Levi nada responde, porém olha para Eren com expressão gélida. – Você nunca me ajuda! Prefere acreditar no Jean ao invés de mim! QUAL É SEU PROBLEMA?! – Eren parecia que queria chorar... – Mas que...! Argh! Por que você prefere acreditar nele à em mim? Eu... Eu te ajudo! Eu te ajudo quando você pede, não ajudo!?

- Eis o problema. – Levi deixa sua xicara de café em cima da mesa – Confio demais em você Jaeger, mas não posso depositar toda a minha confiança em você. – Levi tentava achar palavras para esconder uma possível cara corada na frente de Eren. – Você precisa começar a entender mais as coisas.

- O-O que quer dizer?

- Quero dizer, Eren... – Ele deu uma leve pausa, enquanto tomava mais um gole de café. – Que não confio em você. Não confio em você para a tomada de decisões.

- Argh... – Eren pareceu querer socar a cara de Levi e deixa-lo completamente machucado. – Certo Levi... – Ele responde em uma expressão de pura fúria – Continue confiando nele...

Eren abriu a porta com fúria, dando de cara com Mikasa:

- Eren... – Ela diz, porém é completamente ignorada pelo rapaz, que vai andando a passos largos pelo corredor. Logo, a morena observou a presença de Levi no local, e sua expressão rapidamente se tornou negativa – Se algo acontecer a ele Levi, será culpa sua. – Ela logo voltou a andar, deixando o Ackerman pensando um pouco.

Sete Horas depois...

Levi se sentou na ponta do caixão de Eren, se lamentando um pouco.  Ele observava aquele rosto pálido, que antes era cheio de alegria e esboçava uma grande carga de esperança na humanidade. Ele se pegou pensando no Mikasa lhe dissera. Será que aquilo tudo foi realmente sua culpa? Os olhares se voltavam contra ele, e pela primeira vez em tantos anos, todos da Tropa de Exploração estavam contra Levi.

Com uma sala grandiosa como aquela, era fácil ouvir os sussurros de tantas pessoas. Aparentemente nenhuma delas estava tão impactada com a morte de Eren e Mikasa e Armin não estavam lá.

Aqueles sussurros intermináveis, os xingamentos e possíveis ameaças deixavam os nervos de Levi a flor da pele, ele queria gritar para que todos calassem a boca, e demonstrassem o mínimo de respeito. Ele ouvia coisas absurdas como “Ouvi dizer que foi o Capitão Levi quem empurrou Eren, ele caiu e morreu porque o equipamento dele não funcionou...” “Eles me disseram que o Eren se matou...” “Por quê?” “Não sei... Só sei que ele realmente merecia morrer, ele era um traste mesmo, não prestava para nada!”.

Foi a gota da água. Levi se levantou bruscamente e pegou aquela garota pelo punho, a jogando para fora da sala, assim como todos os outros que estavam lá presentes:

- Mas o que pensa que está fazendo?! – Ela pergunta tentando entrar, mas é barrada por Levi.

- Você! Você é uma mentirosa, Eren não morreu por causa disso! Fique fora da vida dele agora e deixe-o descansar em paz. O mundo que não precisa de pessoas como você! Saía daqui agora antes que eu seja obrigado a machuca-la! – Levi pareceu realmente irritado, aquela era a primeira vez em que todos presenciaram uma raiva tão grande que provinha dele, um soldado calmo.

- Que seja! Mas Eren Jaeger era um inútil! Ele nunca fez nada a favor da humanidade, era apenas mais um “Ocupa-Espaço”!

Naquela hora, Levi estendeu sua mão para o alto, e um som estridente percorreu a sala, fazendo o eco fazer sua parte. Ele havia dado um tapa na garota. Foi um tapa tão forte que ela caiu no chão, com a marca da mão de Levi em sua bochecha esquerda.  Ela observou a cara de fúria do Capitão, e percebeu tristeza e raiva contidas dentro de seus olhos, então, rebateu:

- Quer que eu diga o quê? Por que você não fala para eles a verdade?! A verdade sobre toda a sua incompetência! – Ela gritou com Levi – Você é O Soldado Mais Forte Da Humanidade? Rá! Tudo bem, mas você nunca teve coragem para dizer a ele que o amava e, além disso, teve a incompetência de não protege-lo, ele morreu por sua culpa! – Ela lhe lançou um sorriso provocador, com uma cara levemente inchada devido ao tapa.

- Ora sua... – Levi tentou ir para cima dela, mas foi impedido por Erwin e Hanji, que o seguraram.

- Eu acho melhor vocês irem embora. – Erwin anunciou enquanto se distanciava de Levi, que estava sendo acalmado por Hanji, mas ninguém se mexeu. – Estão esperando o quê?! Vão embora! – Ele voltou-se a Levi. – Venha Hanji, vamos deixa-lo sozinho.

- Tá... – A garota respondeu, em pequeno ar de hesito.

Ackerman adentrou dentro da grande sala, através daquelas gigantescas portas. Havia uma grande janela atrás, possuía um tapete vermelho que ia em linha reta, e uma pequena escadaria de três degraus que levavam mais acima, deixando a visão da janela mais nítida, e ali, estava Eren.

Levi se abaixou e ficou encarando aquela cena. Era algo tão difícil para ele.

Ele se sentia envergonhado por sua fraqueza. Tocou as mãos de Eren, e sentiu todo aquele gelo que estava sua temperatura. Ele não acreditava que Eren havia morrido... Memórias corriam em sua mente, dos momentos que teve com ele. Nunca chegou a se declarar a ele, mas... Ele se sentia feliz em sua presença, o sorriso esperançoso e a alegria mesmo em tempos difíceis.

Foi quando percebeu que sua visão já estava embaçada, ele começou a sentir as lágrimas rolarem em seu rosto, o nariz ficar entupido e a respiração pesada. Ele sentia muita dor, muita, como era ardente aquela dor, parecia reprimir seus órgãos de dentro para fora, e a garganta começou a ficar mais ácida.

Ele não conseguia mais se segurar, e o som estridente de sua voz tomou conta do eco, em forma de um grito doloroso. Ele gritava muito alto, que podia sentir suas cordas vocais se estremecerem.

A dor áspera, a respiração pesada o fez  ajoelhar diante aquele caixão e chorar mais alto e mais alto, até que sentisse sua garganta arranhar de tanto chorar e gritar:

- N-Não olhe pra mim! – Ele disse, colocando um dos braços em cima dos olhos gélidos, escondendo aquela cor avermelhada que havia tomado conta deles. Ele se perguntava como tudo havia chegado a aquele ponto, um ponto de desespero.

Logo, largou a mão de Eren e as pôs em cima do rosto, escondendo a cor avermelhada que havia tomado conta da ponta de seu nariz e de suas secas bochechas.  Lágrimas rolavam, molhando em forma circular o tapete avermelhado, em pequenas gotas:

- Você não podia fazer isso! – Ele dizia, com voz falha, com os lábios grudando de tanta saliva que ele havia produzido naqueles momentos de desespero – Por que você fez isso!? – Ele dizia, enquanto arrancava os fios de cabelo – Você não devia me deixar sozinho aqui!

Os braços caíram em cansaço, enquanto seus joelhos doíam tanto quanto as articulações que já ardiam, mas ele ainda chorava, e chorava tanto que parecia nunca iria terminar. As vezes colocava as mãos em seu rosto na tentativa de abafar o choro continuo, mas ele não tinha sucesso, porque sempre acabava chorando mais alto.

Quando pensava que havia se livrado daquela dor, aparecia mais, e os olhos se tornavam molhados de novo. Catarro escorria de seu nariz e ele usava a manga da camisa para se limpar, não ligava se se sujasse naquele momento. Ele estava com tanto desespero.

Ele se sentia horrível, até mesmo para se olhar. Um aperto do coração era frequente, e ele nunca havia sentido aquilo de forma tão forte e continua, tentava se aliviar com gritos e mais gritos, mas tudo o que conseguia era mais dor interna, e uma garganta ardendo.

Ele não sabia se controlar porque não sabia como. Arranhava a madeira do caixão e às vezes dava leves socos nela, fazendo rachaduras e fazendo farpas se grudarem aos dedos.

Ele tinha uma vontade tão grande de tocar Eren... Entrelaçar os dedos nos cabelos castanhos e possuía leve esperança de vê-lo acordar, mas ele sabia que isso não aconteceria, e por isso chorava mais e sentia mais apertos em seu coração tão machucado...

Ele provavelmente ficou chorando por uma hora, aproximadamente. Não viu o tempo passar diante de seus olhos.

Erwin e Hanji ficaram do lado de fora, só escutando Levi gritar lá dentro. Hanji queria ajuda-lo, entrar e conversar com ele, mas Erwin disse que Levi iria ficar bem, ele só precisava chorar, se lamentar e se contentar com o que aconteceu com Eren, mas aqueles argumentos não parecerão tão bons e muito menos válidos para a garota.

Levi acabou que parando de chorar depois de um tempo, e quando saiu, sua expressão era a mais triste possível. Cabelos desarrumados, olhos vermelhos e um rosto um pouco corado, devido à força que ele fez para gritar. Levi não iria ficar bem, e todos sabiam desse fato tão triste em sua vida, inclusive ele próprio sabia disso. Ele não via mais caminhos a seguir, só via a morte para si, e um lugar tranquilo, que certamente não seria na Terra onde ele próprio nasceu há tempos atrás. Mas antes, iria fazer vingança e justiça com as próprias mãos, uma promessa que fez a Eren, e ele iria cumpri-la a qualquer custo!