História Don't Lie To Me - O dia depois

Hermione acordou e sentiu que o mundo estava um pouco mais escuro do que o normal. Não era uma coisa que ela conseguia explicar, era só um sentimento. O dia estava nublado, mas em Bristol nunca chegava a fazer muito sol. Ela se olhou no espelho ainda de pijama e viu que estava com olheiras em volta do olho, talvez fosse por causa do choro.

Vestiu um casaco largo preto com uma xícara de café desenhada nele, colocou um calça jeans skinny preta e seus all star. Penteou o cabelo e saiu de casa. Ela dirigia até a escola, era um carro velho que recebeu de seus pais, parou no estacionamento e foi andando até a sala de literatura, entrou encolhida e se sentou no fundo. Tentou focar na aula, eles estavam lendo Crime e Castigo, porém uns dez minutos depois que a aula já tinha começado começou a sentir olhares na direção dela, seguidos de cochichos. Será que as pessoas estavam mesmo olhando para ela ou era só a ansiedade a enganando? Olhou para frente de novo, mas dessa vez duas garotas do seu lado direito começaram a sussurrar alguma coisa e a olhar discretamente para ela. Não estava entendendo.

O resto das primeiras aulas foi assim. Ela tentava se concentrar na matéria mas percebia que várias pessoas olhavam para ela. Um garoto chegou a rir depois que seu amigo cochichou alguma coisa em seu ouvido. Isso a foi deixando cada vez mais ansiosa, seu coração batia rápido e ela sentia vontade de pegar seu material e sair correndo da escola. Só foi entender o que estava acontecendo de verdade quando o sinal para o recreio bateu e enquanto deixava uns livros em seu armário vermelho no corredor uma garota loira a abordou.

- Oi, você que é a safadinha né?

Ela era a loira com quem Rony conversava na festa.

- Como assim?

- Você é a garota que transou com o Rony no armário né? - Ela tinha duas amigas com ela e quando disse isso as duas deram uma risadinha.

- A gente não transou! - Protestou Hermione. - Quem disse isso?

- Ah garota, não se faz de inocente, a escola inteira tá sabendo disso. Vocês transaram sem proteção em um armário, eu de você faria o teste de gravidez, talvez você esteja esperando um mini Weasley.

Então as amigas começaram a rir de novo. Hermione sentiu um nó na garganta e uma vontade de chorar, mas segurou firme e deixou a garota falando sozinha. Então era por isso que as pessoas estavam olhando para ela, todo mundo achava que eles tinham transado no armário. Um dia ninguém sabia o nome dela e no outro ela era "a garota que deu no armário", imaginou as pessoas fazendo piadinhas sobre isso, rindo da cara dela... Para o Rony não seria nenhum problema, ninguém riria dele por causa disso, aliás só aumentaria sua fama de "pegador".

Entrou na cantina da escola e ignorou os olhares para ela. Foi sentar na mesa com suas poucas amigas. Eram um grupinho de três garotas todas eram estudiosas, assim como ela. Assim que ela sentou as três ficaram sérias e em silêncio. Será que elas sabiam?

- Oi. - Disse Hermione dando um sorriso nervoso.

- Oi. - Respondeu Michaela, sua melhor amiga.

- E então, do que vocês estão conversando? - Ela perguntou passando a mão pelo cabelo tentando disfarçar o nervoso que sentia.

- Por que você quer saber? - Respondeu Michaela seca.

- Ah... sei lá, eu só queria participar da conversa...

As três permaneceram em silêncio e Hermione foi ficando cada vez mais nervosa com essa situação.

- Qual é o problema? Por que vocês estão agindo assim? - Perguntou.

Elas se entreolharam e então Michaela começou a falar pelo grupo:

- A gente ouviu umas coisas. Então foi por isso que você não pôde estudar com a gente ontem? Você mentiu que tava se sentindo mal quando na verdade estava dentro de um armário com um garoto.

- Mas eu tava me sentindo mal. Por que vocês não me perguntam o que realmente aconteceu? Ao invés de ficarem acreditando em um boato babaca. - Ela respondeu mordendo os lábios.

- Não é só isso Hermione. Eu sinto como se nem fossemos mais amigas. Eu não te conheço mais e eu não sei quem você se tornou, não sei se podemos continuar andando juntas, talvez seja melhor você procurar novas amigas sabe? Porque nossa relação não pode mais continuar assim.

Sentiu como se tivesse levado um tiro no peito. Seu mundo estava desmoronado, agora suas únicas amigas a tratavam como se ela não fosse ninguém. Teve que se segurar para não chorar de novo. Levantou e juntou forças para dizer:

- Isso é uma porra de uma injustiça. Você não sabe o que aconteceu, você não tem o direito de me julgar dessa forma. Você não sabe quão difícil as coisas tem sido pra mim. - Só depois percebeu que estava gritando. As pessoas estavam olhando para ela de novo.

Então deu de costas e foi andando pelo corredor. Dessa vez não conseguiria mais segurar, sentiu uma lágrima escorrendo. Apertou o passo para chegar ao banheiro.

Então cruzou com ele no corredor.

Foi como se acontecesse em câmera lenta. Ele passando com dois amigos do lado dando risada, ela com os olhos cheios de lágrima, seus olhares se cruzaram rapidamente e ela sentiu ódio dele. Não conseguia decifrar o que ele pensava só olhando para seus olhos e ela estava toda vulnerável. Queria que ele desaparecesse para sempre.

Chegou no banheiro e se trancou em uma cabine. Apoiou a cabeça em cima dos braços e começou a chorar, dessa vez não era um choro silencioso, era um choro histérico. As lágrimas escorriam aos montes enquanto ela percebia como as coisas estavam difíceis para ela. Pensou que poderia se matar ali mesmo. Talvez conseguisse se afogar na privada. Mas então imaginou seu corpo sendo encontrado e as pessoas lembrando dela como a garota que ficou trancada com Rony no armário e se matou por causa dele. Não ia dar esse gostinho para ele.

Então ouviu alguém batendo de leve na porta, ela fungou e limpou o rosto.

- Oi, tudo bem aí? - Era uma voz meiga.

Ela não estava afim de falar com ninguém.

- Sim, tudo. - Ela mentiu.

- Ah é que eu ouvi alguém chorando. Desculpa me intrometer, mas você não quer conversar?

- Tudo bem, um segundo.

Ela apertou a descarga e então esperou um pouco até que seus olhos secassem. Abriu a porta e encontrou uma garota loira de olhos azuis. Ela era muito bonita e se vestia como uma alguma garota famosa do instagram. Por que ela queria falar com Hermione afinal? 

- Que foi? - Perguntou.

- Eu queria saber se você está bem. - Respondeu a garota.

- Sim, muito bem.

Então as duas ficaram em silêncio sozinhas no banheiro.

- Tá, na verdade eu meio que te segui. Eu sei quem você é, e eu vi você gritando na cantina. Eu só queria fazer você se sentir melhor, você não merce sofrer por alguém tão idiota.

- Como você se chama?

- Eu sou Luna Lovegood. - Disse a garota sorrindo e estendendo a mão.

Hermione apertou a mão dela.

- Você já sabe dos boatos então.

- Sim, e eu sei que eles provavelmente são mentirosos. Eu conheço o Rony, eu sei que ele costuma fazer isso com as garotas, é só o jeito estúpido dele ser. Você não merece chorar por causa dele ou por qualquer um dos babacas dessa escola.

- Obrigada, mas não chorei só por causa dele. É que... a vida tem sido complicada e... agora isso sabe? 

- Sei. 

- E... eu nunca tive muitas amigas e agora as poucas que tenho não querem mais nem andar comigo. - Hermione não sabia porque estava contando isso para Luna.

- Posso falar? Suas amigas não te merecem se não querem falar com você por causa de uma coisa ridícula como essa.

Hermione deu um risinho.

- Valeu.

- Que tal nós duas matarmos o resto das aulas e irmos tomar um sorvete? - Sugeriu Luna.

- Sério?

- Claro, deixa esses idiotas pra lá, vamos nos divertir um pouco.

Hermione sorriu de volta para Luna. O sorriso dela não era tão contagiante como o de Luna, mas era a primeira vez que ela sorria de verdade naquele dia.

As duas pegaram suas malas e escaparam da escola. Foram até uma sorveteria perto da escola e ficaram sentadas em dois banquinhos na parte de fora conversando. Passaram horas juntas, e ela quase já podia dizer que tinha uma nova amiga.

Hermione ainda se sentia mal, mas estava um pouco melhor. Torceu para que continuasse dessa forma.O dia acabou e ela chegou um pouco mais aliviada em casa. 

O desenho ainda estava em cima da sua escrivaninha.