Um mês depois
Apenas mais duas semanas, sim, era isto que me restava das minhas maravilhosas férias, o tal ditado de que ‘tudo o que é bom, dura pouco’ estava correto. Mas eu ainda estou confusa em relação ao meu emprego, talvez eu peça demissão ou já deveria ter pedido; meus quadros andam vendendo bem mais do que eu imaginei e dessa forma eu já tenho dinheiro para viver por um tempo e quando acabar eu decidiria o que fazer.
Meus planos de terminar a faculdade foram por água abaixo já que as aulas começaram há uma semana e eu a tranquei. Não me arrependi como imaginei que fosse e ali realmente não era meu lugar, talvez nunca tenha sido; era só uma teimosia que eu insistia em fazer. Meu lugar é dentro de meu ateliê com minhas telas e tintas e não em um monte de livros e peças de teatro.
Agora a única coisa que tenho aulas é de baterias e mesmo Luke ainda não me apoiando, continuo com as aulas, mas confesso que já pensei em desistir, pois eu sou um desastre. Eu ainda não aprendi nem segurar as baquetas direito e só aprendi a falar baquetas ao invés de palhetas. Confesso que só continuo porque Ash insistiu, ele era a única pessoa que realmente queria que eu continuasse.
Eu passava lentamente pela portaria do prédio dos meninos quando esbarro com Malu aos prantos.
- Quer ir tomar um café e ai você me conta o que aconteceu? – perguntei para minha amiga já que ela só estava abraçada em mim e chorando; não falava absolutamente nada – pode ser? – assentiu.
- Me ajuda matar o Calum? – por fim pediu fungando e se sentando na cafeteria.
- O que ele fez? – perguntei animada, hoje ia ter fofoca e, pelo visto, da boa.
- O que ele não fez, ele se esqueceu do nosso aniversario de namoro e ainda por cima falou que era frescura minha – ela fazia cara de indignação – eu sou de fazer frescura Candice? – perguntou brava e eu neguei.
- Só às vezes, quase sempre amiga – falei dando uma risadinha quando ela me olhou feio.
- Me deixa terminar de contar já que eu sou fresca. Ai eu falei que era melhor ele ir arrumar outra namorada e ele me disse que nunca deveria ter me pedido em namoro – ela voltou a chorar.
- Eu não acredito que ele disse isso – dei corda ao assunto.
- E ainda disse que nós não tivemos nada sério, foi só um passatempo – ela voltou a ficar brava.
- Calma Malu, que eu sei que você nem gostava tanto dele assim para sofrer tanto.
- Eu não gostava no começo, aquele idiota me fez se apaixonar por ele e agora terminou comigo.
- O que você quer que eu faça por você? – perguntei solidaria.
- Eu quero matar ele – ela falou com uma voz dócil e piscando os olhos.
- Para que eu não estou brincando – falei rindo.
- Eu também não, vai ter volta o que o Cal fez comigo.
- Você me assusta às vezes – ela riu – vou te apresentar a Clara, uma conhecida minha, acho que ela vai ter fazer bem.
- Já está me trocando também? Minha própria amiga – fez cara de drama.
- Você sabe que sempre vai ser a melhor, pode parar de drama – sorriu.
- Mas quem vai te abandonar sou eu – ela falou séria – lembra-se daquela companhia de teatro francesa?
- Claro, meses que você me fala todo dia que eles vão te chamar e... Espera, eles te chamaram? – assentiu – Parabéns amiga – abracei ela.
- Mas eu só vou daqui um ano por causa de burocracias e tal. Por mim eu entrava naquele avião hoje mesmo, mas enquanto isso Paris que me aguarde, quem perde são eles e não eu – ri.
- Em quesito humildade também – Me olhou torto – Não quero me imaginar longe de você.
- Eu sei que seus quadros estão indo muito bem, estou pensando até em vender aquele que você me deu de aniversario – ri – logo você também vai sair fazendo exposições pelo mundo e nem vai se lembrar de mim, ou melhor, vai me visitar quando quiser.
- Não sonha tão alto por mim não, Malu – ela riu.
- Acho que vou ir reclamar do Calum para minha mãe agora – ela se levantou.
- Pelo amor de Deus, quando ela começar a rir, não vai esganar sua mãe.
- Até parece que ela vai rir – pensou um pouco – é, eu acho melhor não falar nada – ri – quer ir lá em casa?
- Eu combinei com Ash de ter umas aulas hoje, pode ser outro dia?
- Só porque o Ash não é de se jogar fora – dei um tapa nela.
Saímos em direções opostas e em minutos eu já estava no hotel/casa dos meninos. Como eu já era de casa, nem toquei a campainha apenas fui entrando e encontrando meu namorado dormindo no sofá. Luke estava esticado e apenas de Box preta – ‘típico’ pensei comigo. Dei um beijo em seu rosto e ele continuou dormindo.
- Ash? – falei batendo na porta do quarto dele.
- Pode entrar – ouvi um grito abafado.
Vi que o quarto estava vazio. Sentei-me na cama e peguei os fones que estavam conectados ao celular. Tocava Lost In Stereo, coloquei e fiquei ouvindo até que Ash aparecesse.
- Ela está dançando sozinha eu estou pronto para ir, mas ela é tão perdida em estéreo, perdida em estéreo... Ela está fora de controle... – eu cantava junto com a música.
- Desculpa te fazer esperar Candi é que eu estava tomando banho... – levantei os olhos vendo Ash apenas com uma toalha enrolada na cintura. Seus cabelos estavam molhados e perfeitamente enrolados. Fiquei com o olhar fixo no abdômen e na ‘entradinha’; ele era tão... – Candi? – percebi que eu não estava sendo nada discreta, e o pior meu namorado estava no cômodo ao lado, corei.
- Ah claro sem problemas, vou esperar ali fora já volto – levantei e sai correndo.
Alguns minutos depois a porta se abriu e ele já estava vestido, uma pena, não espera eu tenho namorado.
- Vamos começar? – ele perguntou sorrindo.
- Aham – falei meio de lado porque eu ainda estava sem jeito de ter ficado encarando o corpo dele.
Fui para o lugar de sempre e Ash se sentou ao meu lado. O perfume dele exalava pelo quarto.
- Candi segura assim essas baquetas – ele segurou minhas mãos me mostrando como eu deveria fazer.
- Essa já é a centésima vez que você tenta me ensinar isso e não dá certo Ash – ele riu – algum dia eu vou conseguir ao menos fazer aquele negócio assim? – joguei as baquetas para o ar e tentei pegá-las, mas antes elas atingiram Ash.
- Wow – falou passando a mão no rosto – daqui uns anos quem sabe?
- Desculpa, não quis te machucar – me virei ficando de frente para ele. Vi que tinha uma marca vermelha em seu rosto – Perdão Ash, eu realmente não queria... – passei mão no ‘machucado’.
- Não tem problema eu vivo fazendo isso.
- Você não se machuca tocando bateria. Será que isso precisa de um curativo? – perguntei olhando para a marca.
- Foi uma batida de nada Candi, não precisa exagerar – ri.
- Mas me desculpa mesmo Ash, vou tentar ser mais cuidadosa ou é melhor nós pararmos com essas aulas que não estão dando em nada... – me levantei e ele fez o mesmo.
- Hey – se aproximou de mim – você pode me machucar quantas vezes quiser e eu ainda vou continuar querendo te ensinar – ri mais logo percebi que ele estava sério então parei.
- Ash... – sussurrei, mas ele pediu para que eu não falasse nada. Ele andou para mais perto de mim, nos deixando a centímetros de distancia, aquilo estava constrangedor – eu preciso falar com Luke – tentei me esquivar, mas acabei esbarrando nele; eu sou, definitivamente, uma anta.
Ash me segurou e me encostou na parede, fiquei esperando ele me soltar mas não o fez, muito pelo contrario, Ash me beijou e o pior, eu acabei retribuindo.
- Candi agora estamos quites – falou assim que nos separamos pela falta de ar.
- Não estamos não, eu namoro e amo seu amigo Ash, você não podia ter feito isso – falei tensa.
- Eu precisava, eu não consigo mais me manter longe de você Candi – voltou a se aproximar.
- Eu não posso fazer nada Ash – falei saindo rápido dali e encontrando com Luke parado perto da porta.
- Você está branca – falou olhando para mim – até parece que viu um fantasma.
- Luke... – o abracei, mas eu me senti desconfortável ali.
- Seu coração também está acelerado – ele falou nos separando.
- Minha pressão deve estar baixa, não se preocupa – falei já sentindo muita culpa.
-Você continua com suas aulas? – perguntou.
- Bateria não é meu talento, desisti de aprender – Luke sorriu.
- Fica para jantar? – neguei.
- Não me leva a mau amor, mas combinei de encontrar com a Clara hoje – menti, mas confesso que pretendia fazer isso assim que saísse dali.
- Então está perdoada, mas é só porque a causa é boa – sorri e dei um selinho nele.
- Tchau Luke – falei saindo rápido desse apartamento que já estava me sufocando.
Liguei imediatamente para Clara e Malu, combinando de ir jantar com elas. Seria bom para que ambas se conhecessem e me ajudassem.
Coloquei um vestido preto simples, com saltos azuis e uma maquiagem que destacava minha boca (1). Combinamos de ir a um restaurante japonês, talvez não tenha sido uma boa escolha.
- Caralho, eu termino com o Japa hoje e você me traz para um restaurante japonês? – Malu falou brava assim que estacionei.
- Eu que escolhi – Clara falou.
- Então coisinha que eu esqueci seu nome, saiba que eu não vou ficar aqui.
- É Clara o nome dela Malu, pare de infantilidade – falei.
- Deixa. Estou vendo que sua amiga precisa de umas consultas comigo ou com minha mãe – Clara falou e Malu nos olhou confusa.
- Você é o que para começo de história? – ela perguntou.
- Faço psiquiatria, quer um cartão? – vi Malu bufar.
- Vocês estão me chamando de louca? Eu estou ofendida – Malu falou com seu drama de sempre.
- Então vamos comer logo que eu estou com fome – falei descendo do carro e sendo seguida por elas.
Pegamos uma mesa ao ar livre já que fazia calor esta noite. Pedimos um ‘barco’ completo e chá verde para acompanhar.
- Pode começar a contar porque você nos chamou aqui – Clara falou pegando um sushi.
- O que te leva a pensar isso? – perguntei e elas riram.
- Você só me convidaria para jantar tendo fofocas, então preciso concordar com a coisinha – Malu falou e Clara riu.
- Eu fiquei confusa hoje e preciso da opinião de vocês – falei.
- Como terapeuta ou amiga? – Clara perguntou.
- Prefiro amiga – assentiu – não é uma longa história então vou ser breve e resumida – contei a elas sobre Ash ter me beijado e de eu estar me sentindo insegura com Luke.
- Aquele maravilhoso te beijou e você retribuiu? – Clara gritou e eu me encolhi.
- Tá de parabéns – Malu bateu palmas – agora o Calum me deve duzentos dólares – olhei séria.
- Você apostou que eu ia ficar com o Ash? – perguntei e ela negou.
- Foi o Cal que apostou comigo, tem diferença – ri – mas pode ficar tranquila que não vou cobrar ele.
- Pelo que você me contou do Ash até hoje, ele parece ser um ótimo partido, além de ser atencioso... – revirei os olhos.
- Mas eu estou com o Luke e amo ele – falei.
- Se você sabe que ama ele, porque está confusa? – Malu perguntou.
- Eu não sei – falei colocando o rosto sobre os braços e me escorando na mesa – eu juro que não queria ter beijado o Ash.
- Bem eu que fiquei olhando a ‘entradinha’ dele – Malu falou fazendo Clara rir.
- Mesmo não querendo você traiu o Luke amiga – Clara falou – agora é com você decidir se vai contar para ele ou não, só digo uma coisa, nunca se arrependa de ficar com um homem gostoso.
- Acho que preciso concordar com a coisinha ou Clara, mas é um desperdício terminar com o Luke por causa de um beijinho de nada.
- Também acho, esquece isso e bola para frente, sem contar que você pode estragar a banda se contar então...
-Ok, eu não vou mentir vou só omitir – falei – o que eu seria sem vocês?
- Uma pessoa sem namorado – falaram em uníssono e eu ri.
- Quem seria uma pessoa sem namorado? – Luke e os garotos estavam ali a lado e nós três olhamos assustadas.
- A Clara – falei e ela riu concordando.
- Não esperava te encontrar aqui – Luke me abraçou – e você está linda – sussurrou em meu ouvido.
- Eu não disse que sairia com as meninas? – ele riu – mas já é tarde e nós precisamos ir – falei e elas assentiram.
- Antes eu quero só fazer uma coisinha – Malu se levantou – Nós não tivemos nada sério – ela pegou o resto do barco e jogou em Cal.
- Você não vez isso sua vadia? – ele falou se limpando.
- Vadia é a sua mãe garoto – Clara falou ficando na frente de Cal – fique sabendo que ela pode até ser, mas você não tem o direito de chamar ela – pegou o chá e despejou nele.
- Mandou bem coisinha – Malu disse rindo.
- Sempre mando – respondeu batendo as mãos com Malu.
- Duas vadias – Cal falou.
- Não vai chamar minhas amigas de vadias não – falei ficando na frente delas.
- Mas elas são – Calum respondeu.
- São mesmo, mas você não tem o direito de chamar – gritei.
- Eu não quero discutir com você Candi, Luke... – olhou para o amigo.
- Me larga – falei afastando Luke – eu sei me controlar sozinha – ouvi Clara rir alto.
- Perdão Candi, mas você não sabe não – ela falou rindo.
- Sua Judas – falei e ela riu.
- Agora que a Candi já está cotrolada vamos embora? – Malu se pronunciou.
- Ainda tá... – ela bateu no meu braço apontando para trás onde o gerente vinha.
- Boa noite meninos – falamos as três rápidas e saímos.
- Deus me livre ter que limpar aquela comida gosmenta do chão, já bastou à pipoca do cinema – falei assim que chegamos ao carro e elas soltaram uma gargalhada.
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