Doushite
Capitulo 5: Eu, a inconsequente que perdeu (destruiu) o melhor amigo
By Misako Ishida
Eu sei o que você deve estar pensando porque simplesmente é exatamente o que todos pensam: que coisa louca e absurda! Hikari Yagami e Yamato Ishida? Jamais pensaria nisso.
É... Acreditem que nem eu.
Talvez possa parecer algo bobo e idiota. Como ela pode se apaixonar pelo melhor amigo do irmão? Ou pelo irmão mais velho de seu melhor amigo? É o que todos me perguntam.
Todas as meninas da cidade tem uma quedinha por Yamato Ishida. Quem dizer o contrário, provavelmente está mentindo. Ele é um cara que não se pode deixar de notar onde quer que esteja. Ele é lindo. Tem aquele olhar frio e misterioso. É arrogante e calado. A personificação de um bad boy dos sonhos de qualquer adolescente que sonha com romance.
Então, por que eu também não poderia cair rendida aos encantos dele?
E por que eu não poderia lutar por uma chance com ele? Por mais pequena que fosse...
Sou apenas mais uma das muitas que queriam estar com ele. Porém, eu fui aquela que realmente conseguir ficar com ele. Como? Sinceramente, não faço a mínima ideia. Yamato Ishida é um completo mistério e porque ele decidiu me dar uma chance é algo que jamais poderei explicar, nem descobrir. Apenas fazer valer a pena.
Ele é uma pessoa incrível. Ele é maduro e tem tanta responsabilidade. Ele é inteligente e talentoso. Ele é tímido e calado. Ele é compreensivo e cuidadoso. Ele me trata com carinho e com respeito e com ternura e com reservas.
Às vezes até parece que ele me trata com se eu fosse a irmãzinha do melhor amigo dele. Ou a amiguinha do irmãzinho dele. É bonitinho. É fofinho. É chatinho. É bobinho.
Eu quero mais! Quero que ele me trate como a namorada dele. Que me deseje. Que me faça viver um super romance e não um conto de fadas. Ele é tão reservado e comportado que chega a ser careta. Tudo bem, admito que sempre tiveram essa imagem de que eu era uma menininha bonitinha, frágil e que tinha que ser tratada como uma princesinha de porcelana.
Só que não é assim que eu quero que me tratem. Principalmente ele.
Meu aniversário estava chegando e eu queria que tudo entre nós mudasse. Se tornasse um pouco mais sério e maduro e intimo. As fantasias dos quinze anos. Todas com ele. Altas expectativas, na verdade.
Eu queria ajuda para planejar um aniversário especial junto de Yamato, porém para minha surpresa Takeru se recusou em me dar o mínimo de ajuda que eu queria. Nada. Ele tem estado estranho comigo desde que voltou. Mas ultimamente tem ultrapassado todos os níveis possíveis de esquisitice. Sinto que ele tem se afastado de mim e me evitado descaradamente. Todas as tentativas de conversar com ele foram inúteis. Então, deixei isso tudo de lado. Se houvesse algo acontecendo, tenho certeza que ele falaria comigo.
Planejei tudo sozinha. E no dia do meu aniversário eu pedi que Yamato me levasse para jantar. Como um bom namorado, ele assim o fez. Foi um alivio ver que ele estava tranquilo naquele dia. Um pouco distraído e calado, mas já havia acostumado com isso nele.
Yamato não se sentia a vontade quando saíamos com Taichi e Sora. Ele ficava desconfortável e passou a todo custo evitar esse tipo de saída. Eu queria que tudo parecesse normal, que todos entendessem que não havia nenhum problema naquela situação e que as coisas podiam continuar sendo como costumavam ser. Mas parece que não deu muito certo.
Talvez seja esse o problema causado quando certas linhas são ultrapassadas.
Depois do jantar, eu disse a ele que queria dar um passeio. Eu gostava de andar pela cidade durante a noite com ele. O silêncio me era confortável e me sentia segura com ele ao meu lado. Fui guiando nossos passos, coisa que não pareceu ser problema para ele.
Até que chegamos no lugar que eu queria. Ele parou bruscamente e me puxou pelo braço quando eu estava prestes a passar pela entrada.
- O que é isso, Hikari? – ele questionou um pouco rude.
AQUILO definitivamente me deu um calafrio. Ele jamais falou assim comigo. Sempre havia sido tão tranquilo e calmo. Eu tentei sorrir e devo ter falhado inutilmente porque ele levantou a sobrancelha em forma de pergunta.
- E-eu... E-e-e-eu... Eu te... Eu te amo. – falei de uma vez enquanto me atrapalhava com as palavras e meus pensamentos. Vi as luzes da placa do estabelecimento e tentei me concentrar nelas ao invés do olhar indecifrável dele e de sua expressão assustadora. – Eu apenas queria um presente especial para o meu aniversário. Com você.
Escutei ele suspirando enquanto me dava as costas. Ficou parado um tempo com a cabeça baixa e depois se voltou para mim com um olhar carregado de algo que parecia culpa.
- Vou te levar para casa.
- Não! Eu quero isso... Eu estou pronta para isso e quero que seja com você.
Ele suspirou novamente e cruzou os braços. Seu olhar fixo em mim me deu medo. Ele estava sério. Inclinou a cabeça para o lado me analisando e negou levemente.
- Hikari... Nós não vamos entrar nesse motel. Você não está pronta. – ele levantou a mão me pedindo para parar quando eu tentei argumentar. – Se você estivesse pronta, teria falado comigo antes de armar para me trazer à um motel no dia do seu aniversário.
- Yamato... Mas eu...
- Não existe um ‘mas’ nessa situação, Hikari. – ele me cortou. – Nós não vamos transar. Eu não vou tirar sua virgindade. Você é uma menina e não vai deixar de ser uma apenas porque está fazendo 15 anos. Isso não tem nada a ver com um número e sim com maturidade. Não. Nada do que você fale nesse momento vai me convencer do contrário ou vai me fazer te levar para dentro de um quarto, tirar sua roupa e transar com você. – disse com aspereza.
Eu abaixei minha cabeça o máximo que pude. Eu sempre o vira falando de forma rude e grossa com meu irmão e com outras pessoas, mas jamais imaginei que ele pudesse falar assim comigo. Estava doendo. Muito.
Meu coração. Meu orgulho. Meus sentimentos.
Tudo estava doendo. Não conseguia me mexer. Não podia sair do lugar. Ele me via como uma menina. Uma menina estúpida e idiota e boba. Era assim que ele me via.
Transar? Ele realmente usou essa palavra? Ele não era capaz de pensar em fazer amor comigo? Em passar uma noite mágica e romântica comigo? Eu era apenas mais uma menina na vida dele? Eu só não poderia ser mais uma em sua cama porque era uma menina virgem e infantil?
Só sei que doía.
Ele se aproximou de forma contida. – Por favor, não chore. – ele pediu e foi então que percebi as lágrimas que escorriam de meus olhos. – Vou levá-la para casa.
- Não. – murmurei sem forças. – Quero ficar sozinha.
Ele suspirou resignado e deu meia volta bruscamente. Passou a mão pelo cabelo com raiva e depois suspirou. Quantos suspiros, foi tudo o que pensei daquela cena. Vi que ele ligou para alguém, mas não prestei atenção em nada do que falava. Estava paralisada. Meu corpo e meus sentidos paralisados.
Um farol iluminou a rua quase deserta e parou ao meu lado. Era um táxi. Yamato abriu a porta e pediu que eu entrasse, fechando-a logo depois que eu me sentei no banco de trás do carro. Ele disse algo ao motorista e lhe pagou.
Apenas me lembro de ter corrido para o meu quarto o mais rápido que pude e ter enfiado a cara no meu travesseiro antes que os soluços começassem. O resto da minha semana foi um lixo. Ele não me procurou. Não ligou. Não mandou mensagens. E por mais que eu quisesse que ele fosse atrás de mim, no fundo me senti aliviada de não ter que encará-lo.
Estava envergonhada. Eu não podia acreditar no quão idiota tinha sido. Eu o levei para um motel e insisti que ele ficasse comigo. Aquilo foi estúpido.
Mas ser rejeitada daquele jeito...
Eu estava parecendo uma morta-viva, entretanto, no final de semana fui obrigada a fingir que estava tudo bem e que eu estava feliz. Meu irmão tinha organizado uma festa para mim junto com alguns amigos. Viva!
E Yamato estava lá. Viva!
E Takeru que mal falava comigo também estava lá. Viva!
Que noite ótima.
O clima estava pesado. Pelo menos entre eu, Yamato, Takeru e Taichi. Curiosamente notei que a Sora também estava estranha. Que perfeito!
Não sei ao certo de onde surgiu aquelas bebidas alcoólicas, só sei que não foi planejado pelo meu irmão. E de repente me vi saindo escondida de fininho de sua superproteção para beber algo.
- Se eu fosse você não faria isso. – Takeru me alertou quando eu peguei uma cerveja.
Com o susto, acabei derramando um pouco do líquido dourado em meu vestido. Olhei para ele e a resposta sarcástica que dei surpreendeu a ambos. – Faço o que eu falo, mas não o que eu faço, né. – acusei olhando para o copo em sua mão.
Ele se recuperou rápido e deu um longo gole me encarando. – Só porque alguém faz algo errado não significa que você também tem que fazer. – retrucou.
Aquilo foi inesperado. Estava cansada de ser tratada assim ou mesmo de receber palavras rudes sem saber o porquê. – Escuta aqui! Eu cansei. Cansei de você me ignorar e me tratar desse jeito! O que eu fiz para você? Por que você não cresce e amadurece e começa a enfrentar os problemas ao invés de fugir deles? Eu não tenho culpa dos seus problemas!
Vi quando seus olhos mudaram. Eles endureceram de repente. Assim como Yamato. E então eu soube o que estava por vir. Algo que não me agradaria.
- Você tem toda razão. – ele respondeu rindo. – Quer saber qual é o meu problema? Tudo bem. Eu te digo. Meu problema é você, Hikari. Você se tornou uma pessoa vazia e fútil que só está atrás do meu irmão porque ele é um cara bonito e todas o querem. Você se tornou uma interesseira, uma menina tola e besta sonhando que um dia pode fazer o grande lindo e maravilhoso Yamato Ishida se apaixonar por você e viver feliz para sempre com ele num belo conto de fadas... Quem precisar crescer e amadurecer aqui é você.
Suas palavras foram um tiro direto para o meu coração. – Você é um idiota. – murmurei em resposta e saindo dali. Quando passei ao seu lado ouvi claramente cada palavra que ele falou.
- Sim. Eu sou um idiota. Um idiota por ter me apaixonado por você.
Como as coisas podiam ficar tão desequilibradas daquele jeito? Onde foi que eu me perdi? Fui para fora correndo, pois precisava de ar fresco. O vento gelado me ajudou a estabilizar meus batimentos acelerados. O que era tudo isso?
Não fiquei tanto tempo lá fora quanto queria. Na verdade, queria mesmo era ir para casa, para o conforto do meu quarto e o consolo dos meus travesseiros. Tudo por dentro se remexia e parecia que eu olhava para um grande precipício. Me dava enjoo. E náusea. E uma sensação estranha de vertigem.
E quando entrei vi que as surpresas não paravam de aparecer. Yamato e Taichi pareciam estar brigando. Eles estavam um de frente para o outro, com expressões agressivas e pelo visto gritando. Sora estava no meio, tentando separá-los.
Fui correndo até lá sem saber o que fazer para amenizar a situação. E sem saber porque estavam brigando dessa vez. Mas Takeru chegou antes de mim.
- Sai daqui. – ele disse bruscamente para Sora.
Todos se espantaram, exceto a própria Sora. – Takeru... – ela fez um pedido silencioso que somente os dois podiam entender.
Fui me aproximando lentamente, passo após passo, observando cada movimento, cada palavra e cada expressão.
- Takeru, vamos embora. – Yamato falou.
Meu amigo não se moveu. Taichi falou algo que não pude ouvir direito.
- O que está havendo aqui? – gritou Taichi quando ninguém falou nada.
Sora continuava com o olhar suplicante e Yamato tocou no ombro de Takeru, tentando levá-lo consigo. Ele se soltou e o encarou.
- O que foi, oniisan? Não tem como voltar atrás.
- Takeru, vamos embora. Você bebeu demais. – Yamato disse cuidadosamente.
O loiro mais novo começou a rir sarcasticamente. – Você é um hipócrita. Vocês dois. – e apontou para Sora. – Sabe de uma coisa, irmão? Foda-se. Foda-se você. Foda-se a sua namorada. Foda-se a sua amante.
- Takeru! – ameaçou Yamato.
Só que eu estava ali. Ao lado deles. – O quê?
Os quatro olharam para mim. E eu fixei meu olhar em Takeru. – O que você disse?
Ele me encarou de volta. – O seu lindo e maravilhoso namorado transou com a namorada do seu irmão.
- Pare de dizer mentiras! – gritou Taichi furioso, pegando pela gola da camisa.
Takeru nem se preocupou. Apenas sorriu de lado. Yamato empurrou meu irmão e se colocou na frente de seu próprio irmão. – Não encoste suas mãos nele se não quer que eu quebre a sua cara.
Eu tentava raciocinar, entender aquelas palavras. O que Takeru tinha dito? Por acaso...
- Você me traiu com a Sora? – eu perguntei incrédula para Yamato.
O silêncio dele e a vergonha estampada no rosto dela me deram o tapa necessário para compreender toda a verdade.
Minha mão voou no rosto perfeito dele e eu saí correndo. Sem olhar para trás.
Quando já estava na rua, o loiro entrou na minha frente correndo.
- Hikari...
- Sai da minha frente.
- Espera, eu preciso falar com você. – me pediu desesperado.
- Não tenho nada para falar com você. Me deixe em paz.
- Hikari me deixa...
- Não! Tudo isso é culpa sua.
- O quê? – ele estava abismado.
- Se você não tivesse falado... Se não tivesse contado isso... Talvez eu pudesse ter consertado as coisas. Talvez eu pudesse ter feito dar certo... Mas você estragou tudo, Takeru!
Ele ficou parado olhando para mim sem saber o que fazer ou o que falar. – Ele te traiu.
- E eu não precisava que você me contasse! - gritei para ele com raiva.
- Eu entrei no quarto do meu irmão e ele estava na cama com a Sora. Os dois estavam sem roupa. Eles acordaram quando eu bati na porta do quarto. Eles passaram uma noite inteira juntos.
- Para de falar! – eu pedi desesperada.
- E tudo o que importa é que EU sou o culpado por falar a verdade? – não respondi, apenas o ignorei olhando para o lado e cruzando os braços. – Eu sou um idiota, não é mesmo? Mas você, Hikari... É uma menina fútil, desprezível e otária.
Ele seguiu em frente e me deixou o caminho livre. Quando comecei a andar novamente, ele acrescentou com ironia.
- Quer saber? Você mereceu! Tomara que aquela não tenha sido a única noite em que ele te traiu. Porque você é uma vadiazinha sem coração que não se importa com ninguém além de si própria.
Olhei para trás e ele já estava longe.
Caí de joelhos no chão. Será que ele tinha razão?
CONTINUA...
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