História Dragonfly - 31. Transparency, right?

Camila rolou para o lado e sentiu seu corpo desencostar do da morena. A luz da manhã invadia o quarto. Lauren se esquecera de fechas as cortinas. Ela abriu os olhos piscando algumas vezes para se habituar e então se espreguiçou sentindo o corpo nu deslizar sob os lençóis.

Olhou para o lado e a morena havia se movido ficando de bruços no colchão, coberta apenas pelo lençol. A mente de Camila divagou e ela se pegou mordendo o próprio lábio inferior, com um meio sorriso, antes que pudesse se conter.

Lentamente removeu o lençol do próprio corpo e foi ao banheiro, caminhando a passos lentos para sentir como estava a dor. Havia melhorado bastante desde o dia anterior, era provável que no dia seguinte já estivesse 100% outra vez. Com calma, lavou o rosto e fez sua higiene matinal.

Quando voltou ao quarto a pele pálida da tatuadora estava levemente banhada pela luz da manhã. Ela se descobrira nesse meio tempo, mas continuava de bruços, dando à latina uma visão espetacular.

Parou e puxou o ar com força quando sentiu seu corpo se arrepiar. Teve uma ideia... "Por que não tentar Camila?" ela pensou, correndo o olhar pelas pernas torneadas até chegar aquela bunda durinha. "Da última vez que tentou ela pareceu gostar", incentivou-se lembrando do episódio na cachoeira onde tomara as rédeas pela primeira vez.

Lauren se mexeu erguendo um pouco a perna e quase enfartando a menor.

- Ai meu deus... - Camila murmurou sem se conter, soltando o ar engasgada e engolindo em seco.

Ela agora tinha a mão junto a boca, seu coração palpitava no peito. Com o movimento a boceta de Lauren ficara exposta entre os dois grandes montes de sua bunda.

Sem pensar muito a menor engatinhou sobre a cama sentando-se ao lado da outra.

Admirou aquela cena mais uma vez em silêncio, sentido seu sexo já úmido pela visão.

"Como eu queria poder pintar isso num quadro" pensou mordendo o lábio inferior outra vez e levando as mãos delicadamente à coxa da mulher, acariciando-a lentamente.

"Vamos lá Camila....se solta" ela encorajava a si mesma enquanto continuava o carinho suave na outra.

Ela passou as unhas lentamente pela pele clarinha, vendo a garota se arrepiar aos poucos. Lauren se mexeu ainda inconsciente.

A latina se encheu de coragem e se ajoelhou na cama, começando a distribuir pequenos beijos na parte de trás dos joelhos e da coxa da tatuadora. Foi subindo lentamente, passando pela base da coluna. Inclinando-se sobre o corpo dela e deixando que seus seios e barriga encostassem levemente nas costas tatuadas.

Apoiou uma mão de cada lado do pescoço da garota que ainda dormia, um joelho de cada lado do seu quadril e se abaixou deixando um beijo suave em seu ponto de pulso.

– Bom dia... - sussurrou sentindo a morena se mover embaixo de si.

– Hm...- ela resmungou manhosa passando as mãos pelos olhos.

Camila, também nua, soltou mais o corpo deixando que se tocassem mais.

– Camz, o que tá fazendo? - perguntou a maior entre um bocejo e outro, esticando o corpo como um gato preguiçoso, o que fez com que se tocassem ainda mais. Ela arfou.

A latina se abaixara voltando a distribuir beijos naquele corpo completamente nu. Causando um frio que percorreu toda a espinha da tatuadora.

– Acho que tenho uma surpresa de bom dia...- disse entre um beijo e outro, apertando a bunda da maior.

Lauren soltou o ar pesadamente e a encarou sobre o ombro antes de questionar:

– O que pode ser melhor do que acordar com você encima de mim? - os verdes faiscaram na direção da outra, sendo seguidos por um bocejo que a transformou de sensual em fofa em questão de segundos.

– Hm....- a latina ajoelhou-se sorrindo e fingindo pensar - Algumas coisas. - concluiu mordendo o próprio lábio inferior. - Seja uma menina boazinha Jauregui, vira pra mim. - pediu corando levemente.

Tentou ignorar isso enquanto via a mulher a sua frente obedecê-la ficando de barriga pra cima e cruzando os braços atrás do pescoço para vê-la melhor.

– Gosta do que vê? - perguntou Lauren ao notar que a latina se perdera encarando seu corpo nu.

– Shh. - respondeu a outra com um sorriso, finalmente voltando a si. - Fecha os olhos. - ordenou baixinho sem olha-la.

Lauren riu baixo e fez o que lhe foi pedido, ainda sorrindo. Camila se moveu e a tatuadora abriu o olho para espiar, mas foi pega.

– Não vale! - exclamou a menor com as mãos na cintura.

A tatuadora sentiu um calor percorrer todo seu corpo, concentrando-se em seu sexo. “Nossa, que visão” pensou encarando-a acima de si, nua, com os cabelos levemente bagunçados pela manhã, mãos na cintura e uma cara contrariada.

– E você ainda tá olhando! - falou saindo da cama e voltando segundos depois com duas fitas de cetim do roupão de Lauren na mão. – Mas é muito abusada! – brincou exagerando a irritação.

– Camila, não vai tentar me bater com isso, vai? - Perguntou a tatuadora rindo.

– Vou fazer melhor - disse ajoelhando-se ao lado dela e levando a fita até seus olhos onde amarrou apertado.

– Ok...posso lidar com isso - falou a morena, convencida, levando as mãos à cintura da menor - Oh my... - suspirou ligeiramente nervosa quando sentiu a garota segurar suas duas mãos e leva-las juntas acima de sua cabeça. - Camila...?

– Vai me fazer te amordaçar também? - Perguntou a latina com a voz firme, mas sentindo suas bochechas corarem ainda mais. “Como ela tem esse poder sobre mim???” se perguntou passando as mãos pelo próprio rosto quente.

–Tudo bem....desculpa, vou ficar quietin... - dizia a maior, quando sentiu a mão da garota tampando sua boca com os dedos finos.

Lauren sentiu os cabelos de Camila se arrastarem suavemente por seus seios expostos e já sensíveis, e então a respiração quente dela bateu contra seu rosto.

– Sh... – “Falo? Não falo?....Falo?” pensou a latina por uma fração de segundos - Só quero ouvir seus gemidos. - murmurou disparando uma descarga elétrica que arrepiou toda aquela pele pálida.

Camila tirou a mão da boca de Lauren e sorriu satisfeita ao vê-la arrepiada.

A latina não tinha noção do que faria a seguir, nem sequer aquela venda fora planejada, quem dirá amarrar o pulso da outra. Mas ter a tatuadora falando sem parar e mirando-a com aqueles olhos verdes inquisitivos, estavam fazendo-a perder o raciocínio e aquela fora a saída que encontrara.

"Vamos usar isso a seu favor Camila" pensou respirando fundo e vendo a maior mexer os pés impacientemente.

Engatinhou mais para baixo na cama distribuindo beijos por todo o corpo da maior. Contornou os seios passando perigosamente perto dos mamilos e vendo a outra se esticar toda.

– Camz... -resmungou frustrada quando sentiu os lábios da menor se afastando de onde ela queria que tocassem

– Você é tão apressada. – murmurou em resposta, desenhando um caminho com a língua, dos seios ao ventre da tatuadora.

Lauren sentiu suas pernas sendo delicadamente afastadas e pressupôs que Camila se posicionava ali. Ainda assim quase não conteve um gemido surpreso ao senti a respiração da menor contra seu sexo.

Seu coração martelava tão forte no peito que ela sentia que podia morrer a qualquer momento. Embora nua o quarto parecia cada vez mais quente. Ela nunca fora vendada antes, muito menos amarrada, todos os seus sentidos pareciam aguçados graças ao detrimento da visão.

– Hmm.. -gemeu entregue quando a língua de Camila tocou seu sexo encharcado.

Ela movia a língua lentamente contra o ponto sensível da morena fazendo com que Lauren rebolasse o quadril em busca de mais contato.

Por mais de uma vez a mulher tentou levar as mãos até os cabelos da menor, só para ser lembrada pelas fitas de que não conseguiria. Ao invés disso respirava funda e pesadamente, sentindo gotinhas de suor começarem a se formar em sua têmpora.

Lauren sentiu a língua da menor passear habilidosa por sua intimidade, uma ultima vez, espalhando seu liquido e deixando-a ainda mais molhada. Até que ela sentiu a boca da latina se fechar em torno do seu nervo sensível e sugar ali com desejo e não conseguiu conter um gemido alto. A pequena sorriu satisfeita.

Com os braços amarrados e os olhos vendados cada movimento da garota era uma explosão de sensações para Lauren. Os dedos da latina começaram a explorar seu sexo timidamente causando pontadas em seu baixo ventre, ao mesmo tempo em que ela continuava a sugar o lamber seu clitóris levando-a a loucura.

As mechas do cabelo da menor deslizando despretensiosamente sobre seu corpo causavam arrepios repentinos que lhe percorriam de ponta a ponta e Lauren mordia os lábios inutilmente tentando conter os gemidos roucos que lhe escapavam.

– Não segura...eu quero te ouvir gemer, Lauren.... - Camila sussurrou. O hálito quente indo de encontro ao sexo da maior - Geme pra mim. - pediu segurando firme o quadril da morena e voltando a passar a língua em seu ponto mais sensível.

– Ahh... - Lauren gemeu imediatamente ao sentir o contato da língua quente e molhada da latina. Não aguentava mais se conter.

– Isso... - gemeu Camila inconscientemente.

Ela passou a ponta da língua devagar uma última vez antes de assoprar ali, causando uma pontada de prazer em Lauren graças ao choque-térmico.

Logo a morena sentiu um dedo da garota penetrando-a delicadamente, e então o segundo. Com a outra mão a latina acariciava a lateral de seu corpo, dando-lhe espasmos de prazer ao percorrer a região com suas unhas curtas.

Camila, fascinada, aproveitava a venda da garota pra observar detalhadamente suas expressões de prazer se intensificando conforme ela variava a velocidade das estocadas.

“Se eu soubesse que dar prazer a alguém era tão gostoso assim eu teria feito muitas vezes antes” concluía olhando-a. Seu sexo estrava extremamente molhado e Lauren nem havia tocado nela.

[N/A: viva a relatividade mores!]

Os gemidos da tatuadora estavam cada vez mais frequentes, ela instintivamente rebolava o quadril contra os dedos da menor procurando por mais e mais.

– Me dá mais. – pediu em suplica.

– Que? – perguntou a latina confusa diminuindo os movimentos.

– Não! Não para. – ela exclamou fazendo a menor rir brevemente de seu desespero e retomar a velocidade os movimentos. – Mais um dedo....por favor.

A latina fez uma expressão surpresa e se xingou mentalmente por não ter entendido antes. Estocou mais uma vez rápido e na próxima introduziu os três dedos devagar arrancando um gemido lento da maior.

– Tá tudo bem? – perguntou aumentando aos poucos a velocidade.

– Tá ótimo..hmm..– ela tentara liberar as mãos mais uma vez, em vão. Estava louca para beijar a menor e sentir o corpo dela no seu – Não para.

Camila agora a penetrava rapidamente, enlouquecendo com os sons de seus gemidos. Segurou firme o quadril da morena contendo um pouco seu rebolado e aproximou-se novamente chupando seu clitóris com desejo sem interromper as estocadas.

Lauren atingiu seu ápice no mesmo instante e a menor sentiu seu sexo se contrair em torno de seus dedos arrancando-lhe um suspiro de prazer e fazendo-a gozar também.

– Oh my... – a tatuadora gemeu tendo um ultimo espasmo.

A latina relaxou o corpo com um suspiro pesado, deixando a cabeça descansar sobre a coxa da maior.

– Bom dia. – murmurou a morena, divertida e exausta, ainda vendada e com um sorriso radiante nos lábios.

Camila sorriu boba de encontro a sua coxa. O som daquela voz rouca fazia seu coração disparar no peito.

– Não é por nada mas....pode me desamarrar? – a morena perguntou após um tempo, seu tom era engraçado, ela ria.

– Ah, claro! – a latina corou violentamente e se apressou em se levantar. Aproximou-se desajeitada tirando as vendas e soltando as mãos da mulher. – Desculp...

Antes que pudesse terminar a frase sentiu os lábios quentes da outra sobre os seus, as mãos firmes percorrendo possessivamente o seu corpo e colocando-a sentada em seu colo, a língua dançando com a sua, como só ela sabia fazer.

– Lo... - a menor a interrompeu sentindo-a apertar sua bunda e fazendo seus sexos se encontrarem. Respirou fundo. – Lo, a gente tem que ir trabalhar. – disse a muito custo.

– Só mais tarde. – disse a morena olhando para o relógio e encarando-a de volta com um sorriso safado

– Mais tarde pra você né? Eu entro as oito, não as dez. – a pequena disse tocando de leve a ponta do seu nariz com o dedo indicador.

– Dorme aqui hoje de novo? – pediu Lauren depois de soltar um muxoxo impaciente.

– Vou pensar no seu caso. – respondeu fazendo um charminho e ganhando uma careta bicuda da outra. – Preciso tentar agendar um dentista ainda hoje. – comentou se ajeitando no colo da maior que mordeu o lábio inferior.

– Camz....não se mexe assim não. – pediu manhosa.

– Como? – perguntou a pequena. – Assim? – repetiu o movimento sentindo as mãos da maior apertarem suas coxas. – Não pode? – disse sorrindo de canto.

– Não. Se você vai sair pra trabalhar, não pode. – murmurou Lauren, sua voz estava mais rouca que o habitual outra vez, suas pupilas dilatadas. – Vai trabalhar e deixa o meu restinho de sanidade aqui. – pediu dando um tapa na nádega esquerda de Camila que logo se levantou rindo.

– Você é louca. – disse indo ao banheiro e voltando de lá minutos depois com o vestido da noite anterior.

– Secou? – perguntou a maior jogada na cama.

– Não totalmente. – a latina fez uma careta alisando a peça. – Vou ter que passar em casa, pegar outra roupa e fazer um novo curativo. – completou aproximando-se de Lauren e roubando-lhe um ultimo beijo.

– Te vejo mais tarde! – disse a morena enquanto via a pequena cruzar a sala em direção à porta.

– Eu não confirmei nada. – ela parou junto ao batente e lhe sorriu com a língua entre os dentes, franzindo o nariz antes de desaparecer apartamento a fora.

[...]

Lauren terminava um desenho extremamente elaborado que estava fazendo para o cliente do dia seguinte, fecharia suas costas com uma composição arroxeada e azulada que lembrava muito as imagens do universo. Largou o lápis estralando os dedos e no mesmo instante ouviu uma batida na porta.

– Entra. – disse esticando os ombros.

– Olá! – a garota falou alegre recebendo um olhar espantado da outra. – Que cara é essa, meu anjo? Nossa! – ela se aproximou abaixando-se para lhe dar um beijo perto do canto da boca.

Por reflexo a morena se virou oferecendo-lhe a bochecha. Sorriu fraca em sua direção. “Me esqueci completamente dela” pensou atônita.

– Lauren. – a de cabelos azuis a chamou de volta. – Tá muito estranha, o que tá acontecendo? Tá me olhando como se eu fosse uma assombração...Tínhamos marcado um café hoje, lembra? – o doce de sua voz soava calmo.

– Sim sim...hã, eu tinha esquecido, desculpa. – admitiu a tatuadora.

– Não é uma boa hora? – ela passou a mão pelos cabelos contrariada. – Posso ir embora se preferir. – deu um meio sorriso.

– Não. – disse levantando-se. – Vamos tomar o café. – sorriu apontando a porta.

Pouco tempo depois, lá estavam. A área externa estava praticamente vazia, exceto por elas e uma outra moça que sentava próxima e mexia distraidamente em um tablet enorme enquanto tomava seu café. Do outro lado da mesa Halsey a fitava curiosa, tinha sua bolsa no colo e as pernas cruzadas.

– Sei que te disse que te daria o tempo que precisasse, mas tipo....você tá bem estranha, anjo – ela começou passando o indicador pela borda de seu copo antes de voltar o olhar para a morena. – Não quer me contar o que tá rolando? – pediu com um biquinho.

– Hã....olha, como vou te dizer isso...? – começou relutante, coçou a nuca antes de continuar. – Sabe a garota da balada? A latina? – comentou.

– Claro...qual é mesmo o nome dela? – perguntou com leve curiosidade.

– Camila...Camila Cabello. – disse rapidamente e sorriu à menção do nome, antes que pudesse se conter. Ajeitou-se na cadeira e retomou a fala. – Eu a encontrei e...nós conversamos... – disse deixando a frase morrer sem saber como continua-la.

– Entendi, tá com ela de novo... – Halsey concluiu por ela, desviando os olhos e encarando o tampo de vidro da mesa.

– É... – admitiu – Mas, olha...eu gosto muito da sua amizade. Nossa conexão com a arte e tal...– disse sendo completamente sincera e viu a cantora erguer os olhos castanhos de encontro aos seus.

– Eu também gosto da sua. – ela sorriu segurando a mão da maior sobre a mesa e acariciando. – Independente de estar com ela ou não, não quero me afastar de você. Espero que isso não seja um problema para a Camila. – disse olhando em seus olhos. – Sua beleza naquela balada foi só a primeira coisa que me atraiu, Lauren. – ela disse sorrindo. – Mas não é a única coisa boa em você. – o olhar estava fixo no dela, como se lesse sua alma – O rolê do teatro só me mostrou que temos mais em comum do que imaginamos. – soltou sua mão com um ultimo aperto leve, rompendo também o contato visual.

Lauren sorriu reconfortada. Realmente gostava da companhia de Halsey, ela entendia sua paixão pela arte. De repente se deu conta de que nunca conversara sobre arte com a latina, exceto sobre séries, mas era diferente.

– Qual o segredo dessa latina? – perguntou a de cabelos azuis bebericando seu café e sorrindo em seguida. – O que ela tem de especial? – completou em um tom trivial.

– Sabe que eu não sei explicar. – a tatuadora riu boba ao pensar na menor. Passou as mãos pelos cabelos e relaxou na cadeira. – Ela tem algo diferente. – comentou com o olhar perdido em memórias.

– Onde ela está agora? – perguntou a outra despretensiosamente.

– Trabalhando! – disse rápida e pensou melhor nas palavras da latina pela manhã - Ou no dentista. – completou.

E assim se seguiu uma longa conversa sobre Camila, onde Lauren contou a Halsey como conhecera a garota, comentou sobre o desejo dela de se tornar advogada, sobre a prova da OAB e sobre como elas se reencontraram por acidente.

A garota de cabelos azuis ouvia a tudo atentamente, a ponto da morena se sentir ligeiramente culpada “Dinah com certeza teria ciúmes disso...ela ainda não sabe sobre o meu reencontro com Camila.” pensou em um estalo “Poxa, mas ela tava com o horário cheio hoje, nem a vi no estúdio direito”.

– Sinto interromper o nosso papo, meu anjo. – disse Halsey revirando algo dentro de sua bolsa e sacando o celular onde olhou as horas. – Mas preciso ir agora.

– Eu tenho que voltar ao estúdio também. – comentou sorrindo e ambas se levantaram.

– Infelizmente não vou poder te acompanhar até lá. – a cantora disse se despedindo com um inocente beijo no rosto. – Vamos marcar algum rolê semana que vem! – se afastou sorridente andando na direção oposta.

Como já estava tarde e não compensava ir ao estúdio, a morena simplesmente mandou uma mensagem para Simone avisando que iria direto para casa e outra para Dinah dizendo que tinha novidades para contar.

[...]

A latina batera à porta e esperava a outra abrir. Logo, uma Lauren afoita apareceu no batente entreaberto.

– Olha quem apareceu! – comentou a maior sorrindo. – Eu sabia que você não resistiria a mim. – selou os lábios nos da menor, sugando levemente seu lábio inferior.

– Tá muito convencida, Jauregui. – disse forçando muito bem seu tom sério.

Empurrou-a levemente e entrou no apartamento com um sorriso. Trazia uma sacola de papelão nas mãos.

– O que tem ai? – perguntou a de olhos verdes curiosa.

– Vinho. – falou virando-se para ela. – Abre pra gente. – disse com uma piscadinha.

Lauren riu, lembrando-se daquela frase.

– Que pena, tô vestida dessa vez. – zombou pegando a garrafa, roubando um selinho da pequena e indo em direção à cozinha enquanto ela sentava em um dos bancos da varanda à sua espera. – Como foi seu dia? O pé está melhor? – perguntou rapidamente, lembrando-se dos fatos enquanto ia servindo as taças. - Conseguiu passar no dentista?

– Foi bom! – ela riu pela chuva de perguntas - Passei no apartamento antes de vir pra cá, tomei banho e tirei o curativo, não vou precisar colocar mais, já tô conseguindo firmar bem ele no chão. – disse aceitando a taça que a outra lhe entregava. – O dentista já arrumou tudo aqui, só tinha lascado um pouquinho pelo impacto, foi rapidinho e o dente ficou como novo! – ela sorriu apontando para o resultado e passando a língua no dente para mostrar à morena. – Mas eu tô falando demais de mim...e o seu?

Lauren se sentou ao lado dela envolvendo seu ombro com um dos braços e cruzando as pernas sobre um outro banco.

– Tem algo que eu preciso te contar sobre hoje. – falou dando um gole no vinho e ganhando atenção redobrada da pequena. – Lembra a garota da balada, de cabelo azul?

– Que tem ela? – perguntou Camila séria, ao seu lado, trancando o maxilar mesmo sem intenção.

– Bom... eu em aproximei dela nesse tempo em que você esteve longe. – A latina desviou os olhos respirando fundo, ela tentava manter uma máscara neutra, mas aquele assunto não era nada agradável. – Enfim, hoje eu tinha marcado de tomar um café com ela, com tudo que aconteceu no fim de semana eu acabei esquecendo. Só queria te contar que tô amiga dela, pra gente ser transparente uma com a outra, como conversamos ontem.

– Sim. – disse a latina dando um grande gole em sua taça de vinho e voltando a encarar a morena. – Era com ela que você estava quando eu liguei? – pensou em voz alta antes que tivesse tempo de notar.

– Oi? – a tatuadora a olhou confusa. – Você não me ligou hoje... – comentou pegando o celular no bolso e checando as chamadas, só para ter certeza.

– Não, não hoje. – ela passou a mão pelos olhos. – Esquece, isso é....besteira minha.

– Camz... – pediu a mulher, contrariada.

– Ta bem. – suspirou. – Tá... Transparência, certo? – Lauren assentiu bebericando o vinho novamente e acariciando os cabelos na nuca da menor. – Teve um domingo que eu te liguei, você atendeu rindo, ouvi uma voz feminina ao fundo e desliguei.

– Ah, o número desconhecido era seu? – perguntou sorrindo. – Não esperava isso de você, amor. – sorriu negando com a cabeça.

– Eu liguei por dois motivos naquele dia. – ela continuou sincera. – Transparência...certo? – frisou antes de continuar - Primeiro ocultei o número por que queria ouvir sua voz, sentir como você estava. – ela engoliu seco. – Você pareceu perfeitamente feliz, então encerrei ali. – Lauren a encarava atenta, tentando montar o quebra-cabeças em sua mente. – O outro motivo era que...eu estava desesperada e você era a ultima pessoa que eu conhecia, exceto minha ex-esposa. Outra coisa... – ela fez uma pausa. – Estou sendo transparente... – completou antes de continuar - Quando eu pedi o divorcio não mencionei você.

– Mentiu pra ela , Camz? – perguntou a tatuadora com um suspiro pesado de desaprovação.

– Não. Olha... – pediu virando-se de frente para a outra. – Quando ela perguntou se eu tinha alguém, a gente não estava juntas, você me odiava e eu disse pra ela que não, não tinha ninguém. – justificou-se vendo Lauren passar a mão no rosto decepcionada.

– Meu deus Camila. – a tatuadora soava irritada. – Por que você faz essas coisas? – lutava para manter a calma e ouvir as explicações da mulher que amava, mas a cada segundo isso se tornava mais difícil.

– Eu não falei nada pra ela, por que não era necessário magoa-la mais. – explicou unindo as mãos, nervosa. Lauren tomou um gole de sua bebida – Lo, eu pedi o divórcio pra mulher que esteve comigo pelos últimos anos! Que cuidou de mim quando eu fui expulsa de casa! – continuou, e a morena viu o brilho emocionado em seus olhos, assentiu brevemente. - Eu senti que não era justo magoa-la contando da traição, então ela não sabe.

– Mas... – começou sentindo-se derrotada.

– Se coloca no meu lugar. – a latina continuou – Eu tenho um carinho muito grande por ela, apesar de tudo.

– Justamente por isso ela precisa saber, Camila. – argumentou sentindo-se cansada.

A pequena soltou um suspiro também cansado, mas paciente, antes de dizer:

– Ela ligou ontem à tarde. Retornei pra ver o que ela queria um pouco depois que você desapareceu magicamente lá do meu apartamento. – ela mordeu o lábio inferior – Vamos ter uma reunião com a advogada dela pra decidir como ficaremos.

– Quando?

– Em duas semanas.

– E você pretender contar sobre a traição só depois da divisão de bens? – seus olhos se estreitaram e o cenho se franziu.

– Não! Eu nem quero ficar com bem nenhum dela. Até por que tudo que “temos” ela comprou sozinha. – a menor exclamou exasperada. – Puta que pariu Lauren! O que você pensa de mim?

– Desculpa. – pediu séria e pensativa.

– Eu fodi mesmo sua confiança... – comentou após alguns segundos de silêncio, sentindo uma lágrima escorrer.

– Camz....vamos nos ajeitar. – comentou a maior, virando-a novamente e envolvendo-a num abraço apertado de costas contra seu peito – Me entenda...por favor. Eu achei que te conhecia e ontem descobri uma série de coisas que ainda tô assimilando. Preciso te conhecer outra vez e isso leva tempo. – disse beijando seu pescoço suavemente. – Não me leve a mal.

– Tá....- respirou fundo – Você tá certa. - se acomodou no colo dela entrelaçando suas mãos - Eu fodi sua confiança, agora você espera qualquer coisa de mim.

Um silêncio pairou, onde nada foi negado.

– Não pretende contar pra ela? – perguntou Lauren.

– Não...quer dizer, quando imaginei a resolução dessa situação toda eu queria contar pra ela sabe... – disse encarando uma estrela que brilhava forte no céu e sentindo a maior apoiar o queixo em seu ombro e ouvi-la atentamente. – Mas no dia em que ela voltou de viagem nós discutimos feio e eu acabei pedindo o divórcio antes da hora...

– Antes da hora? – foi interrompida.

– Meu deus... – suspirou exasperada. – Quanto mais eu te explico, pior parece. – constatou relembrando suas palavras e tentando vê-las no ponto de vista da outra.

– Que bom que você sabe disso. – comentou Lauren lutando para manter não cometer o mesmo erro duas vezes e manter sua paciência, deixando a outra terminar sua história. – Pensei que tivesse me contado tudo ontem. – acrescentou.

– Eu contei Lo, só que isso são os outros detalhes que permeiam minha vida inteira com ela. – passou a mão pelo rosto, virou-se de frente para a maior novamente, segurou suas mãos e começou de novo. – Olha, vou te contar absolutamente tudo que eu me lembrar, vamos lá...

Começou contando sobre como Keana a ajudou a descobrir e entender sua sexualidade, como os pais se revoltaram e a expulsaram de casa, rompendo totalmente o contato com ela a partir daquele momento. Falou brevemente como era seu relacionamento no início e como a esposa mudara após receber a promoção de emprego.

Em um tom triste a pequena continuou narrando sobre como a outra a rejeitava dia após dia. Chegou ao dia em que começara a fazer seus jogos de sedução para tentar sentir-se um pouco melhor consigo mesma, e recebeu um olhar de pena da outra. Contou como decidira fazer a tatuagem para chamar a atenção da esposa e como acabara sentindo-se terrivelmente atraída pela tatuadora, só para ver essa atração se transformando em amor aos poucos.

Contou também como se sentira culpada por beijá-la. Como não queria tirar fotos públicas com ela com medo de que a mulher visse. Como enviara mensagens à mulher cancelando uma conversa por Skype, pouco antes de irem àquela balada. Como se arrependera ao dizer “sim” para o pedido de namoro da morena, no exato momento em que as palavras saíram da sua boca, por que sabia que não havia como sair dessa situação sem magoa-la.

A cada novo fato adicionado, a expressão de Lauren se suavizava mais e mais, tornando-se menos julgadora e inquisitiva e mais compreensiva. Os verdes acompanhavam atentos o movimento apressado dos lábios e os gestos manuais que Camila eventualmente fazia, soltando uma de suas mãos para gesticular e voltando a toma-la nas dela segundos depois.

Contou sobre o dia em que terminou com ela, em como ligara para a esposa, o quanto bebera, o quanto chorara. Contou sobre seus hábitos destrutivos envolvendo tequila e direção em alta velocidade, e como achava que havia desenvolvido isso.

Abriu seu coração, discursando demoradamente sobre suas inseguranças e tristezas em terminar um relacionamento com a única pessoa que tinha em sua vida, e como havia levado o casamento além do limite por conta disso.

Narrou novamente o episódio da briga com a esposa após a viagem. Em detalhes. Com todas as palavras. Com o empurra-empurra da porta e todos os outros fatos dos quais se lembrava. Falou sobre como o comportamento da mulher mudara após ela anunciar que estava procurando um lugar pra morar. Até mesmo sobre como a velha da casa de aluguel a enganara.

Camila falou por mais de meia hora sem ser interrompida, contou tudo o que podia se lembrar. E, quando lembrava-se de algo que não havia falado, retomava o tópico acrescentando as informações. Lauren a observava, confusa, tentando assimilar em poucos minutos acontecimentos de anos.

– Acho que isso é tudo, todos os detalhes, tudo o que me lembro e que possa ser relevante pra você em algum nível. – Camila comentou cansada, batendo as mãos nas próprias pernas cruzadas em posição de índio, como e tivesse concluído uma missão difícil.

Nunca fora tão transparente sobre sua vida com alguém, sentia-se aliviada e ao mesmo tempo apreensiva.

– Se tudo isso estava acontecendo esse tempo todo, por que você só surtou depois que teve o resultado da prova? – perguntou a morena alguns minutos depois.

– Ah...sim. – ela comentou massageando as próprias têmporas. – Lembra que eu disse que era financeiramente dependente de Keana? – perguntou.

– Então esse é o nome dela...- Lauren murmurou baixo assentindo. – Lembro.

– Sendo aprovada na OAB eu conseguiria um emprego melhor, como advogada mesmo. Poderia assumir meus próprios casos e...enfim, ganharia mais dinheiro, seria financeiramente independente dela. – Os olhos de Lauren se abriram em compreensão e ela assentiu novamente. – Logicamente eu não conseguiria manter aquela cobertura, nem aquele carro, mas seria suficiente pra me separar dela, alugar um apartamento, estruturar minha vida...e ficar com você.

– Holy fuck! – exclamou a morena finalmente entendendo o que se passava na cabeça da menor. – Essa era a sua “resolução pro conflito”? – perguntou incrédula.

– Era... – admitiu com uma careta. – Mas deu tudo errado, não passei na prova, terminei com você pra que ela não descobrisse quando voltasse. Ela chegou da viagem, brigamos e eu pedi o divórcio “antes da hora”. – fez as aspas com os dedos – Antes de conseguir passar na prova e ser independente pra ir morar sem ela.

– Você não podia ficar na casa de um amigo ou na minha? – perguntou fitando-a exasperada.

– Na sua? – ela riu. – Não Lauren, eu não queria mentir pra você sobre os meus motivos, já me sentia culpada o suficiente nessa história. – ela mexia nervosamente nos próprios dedos. – A melhor saída que achei foi deixar você e organizar minha vida pra voltar depois. Os planos eram: Ser aprovada na OAB, me divorciar, me ajeitar num canto e reconquistar Lauren.

– Nossa Camila... – a morena abaixou a cabeça e sumiu por trás da cortina de cabelos. – Bom...isso explica suas atitudes bizarras. – falou encarando-a novamente. – Mas você é péssima em planejar coisas. – riu levemente, fazendo Camila rir também.

– Me desculpa te envolver nessa merda toda. Como disse, eu não tive controle. – lamentou-se.

– Qual seu plano agora? – perguntou Lauren chamando-a para seu colo.

– Me divorciar, passar na OAB e reconquistar Lauren. – falou ela numerando nos dedos. – Não necessariamente nessa ordem, mas são minhas três prioridades.

Lauren assentiu triste, erguendo os olhos para ela.

– Se não tinha dinheiro para se manter....como se mantém naquele apartamento? – perguntou confusa após algum tempo.

– Taylor, a loira... –disse recebendo um aceno positivo da maior – Foi um achado e tanto, ele está muito mais barato que qualquer outro que vi, nessa ou em outras regiões. – comentou.

– Você é tão enrolada. – a tatuadora comentou fitando-a com certo carinho.

– É... – ela admitiu triste.

– Estou preocupada. – Lauren admitiu.

– Com o que? – perguntou Camila sem entender.

– Com o comportamento dela. – recebeu um olhar confuso. – Não é normal, Camila. – explicou exasperada.

– Ela só tá chateada com o fim do relacionamento ué... eu também não gosto do comportamento dela, mas vai passar. – disse dando de ombros.

– Não. – Lauren foi categórica. – Pelo que você tá me contando, não é normal não. – Camila franziu o cenho, confusa. – Vi Simone passar por algo parecido. – ela tinha um olhar sombrio. – E não vou deixar que passe pela mesma coisa.