E cada passo diminui o espaço e aproxima o tempo da minha vontade abraçar a tua.
— Desconhecido (adaptado)
Atena Hayes’ P.O.V
03/12/2015
Nervosa era com cem por cento de certeza a palavra que poderia melhor me descrever naquele momento.
Mamãe estava ao meu lado no sofá, assistia à uma reportagem sobre acasalamento animal com uma concentração invejável e parecia não notar o meu olhar pesado sobre ela. Talvez eu não devesse atrapalhá-la, certo? Entender o processo de coito entre duas hienas é realmente uma coisa bem importante. Ou não.
Qual é, Atena, não seja covarde! Ela é só sua mãe. Super doce, linda e gentil. O pior que ela pode fazer é dizer não. Ai, se ela dizer não eu tô perdida… O que é que eu vou falar pro Justin? Ele vai ficar decepcionado, com certeza. E se ele não quiser mais falar comigo depois disso? Seria horrível.
Merda, Hayes, deixa de drama e pede logo de uma vez.
— Ei, mãe. — chamei-a por impulso.
— Sim, querida? — desviou sua atenção para mim, me fazendo engolir em seco.
— E-eu… Eu queria te perguntar uma coisa. — limpei a garganta, tentando disfarçar minha insegurança — Uma coisa bem importante.
— Oh, o que é? Aconteceu algo na escola? Algum problema com Safira? — questionou apressada, já ganhando um semblante enrugado de preocupação.
— Não, mamãe. Tudo vai bem na escola e Safira está ótima, como sempre. — neguei rapidamente — Se trata de outra coisa.
— Ah, então tudo bem. — sorriu — Pode perguntar.
— Certo. — afirmei, como se dissesse para mim mesmo que eu tinha que parar de enrolar — Eu vim pensando muito durante esses dias e eu queria muito, muito mesmo, que a senhora me deixasse… — travei, não conseguindo continuar. Eu não queria ouvir um não.
— Deixasse o que, filha? — quis saber, de cenho franzido — Você parece nervosa, querida, o que houve?
— Desculpa, não consigo fazer isso sozinha. — ri aflita, me levantei com rapidez e corri em direção as escadas, subindo até meu quarto enquanto escutava mamãe chamando por mim de forma confusa — Espere um minuto, mãe, eu já vou descer! — gritei de volta enquanto caçava meu celular pelo quarto como se estivesse em busca de um tesouro perdido.
Quando o achei embaixo dos meus lençóis, disquei o número de Justin — o qual eu já havia decorado fazia um tempo, o que talvez fosse um tanto psicopata — com velocidade.
— Atende, atende, atende… — sussurrava a cada toque, angustiada — Droga, Bieber, preciso de você! — resmunguei.
— Alô? — uma voz sonolenta, finalmente, me saudou.
— Graças à Deus!— dei um pulinho — Que demora para me atender, hein?
— Desculpa, mas é que eu estava… — bocejou — Dormindo.
— Pois então trate de acordar e me ajudar. — pedi autoritária.
— Okay, tenente Hayes, tô aqui pra isso. — zombou, logo continuando — Do que se trata?
— Eu preciso que você me ajude a convencer mamãe a deixar eu ir até Nova York para ver você. — comentei, indo até a cômoda e puxando de lá meu notebook.
— Mas já? Eu pensei que você fosse esperar mais. — contou surpreso.
— Quanto mais eu enrolar mais vou enlouquecer com meu próprio nervoso! — exclamei — E eu não consigo fazer isso só, então preciso de você pra me ajudar.
— Certo, certo… — concordou, parecendo pensar por um minuto — Pode abrir seu Skype? Contato visual seria bem útil agora.
— Já estou logando, gato. — disse enquanto digitava a senha da minha conta na rede — Entra você também, daqui a dois minutos eu te chamo.
— Cinco. Preciso lavar essa minha cara amassada. — falou, me fazendo rir nasalado. Aposto que ele estava um amor daquele jeito.
— Okay, então. Até mais tarde.
— Espera, só mais uma coisa: não fique nervosa, tudo bem? Eu vou estar aqui com você e vai dar tudo certo. — disse doce.
— Awn, olha só para você, está sendo otimista. — comentei em tom orgulhoso — Assim é bem melhor do que quando você jogou praga na minha ideia.
— Não joguei praga nenhuma, só estava sendo realista, meu amor. — fez pouco caso — E agora estou tentando ser fofo, mas essas coisas realmente não colam com você, garota. — resmungou.
— Você que pensa. — disse sugestiva e rindo fraco — Vai logo se arrumar, vai.
— Tá, já estou indo. — bufou — Boa sorte pra nós. Eu amo você.
— Também te amo. — disse, estalando os lábios e lhe mandando um beijo, encerrando a ligação em seguida.
Depois de esperar o que eu presumi que fosse cinco minutos, desci as escadas com meu notebook na mão e um frio congelante no estômago. Eu sou muito cagona, fala sério.
— Pode me explicar o motivo desse nervosismo todo? — minha progenitora já estava de pé no fim da escada, desconfiada que só ela.
— Vem cá, mãe. — puxei-a pela mão até o sofá, apoiando o notebook na mesinha de centro e me posicionando atrás dele — Eu sei que eu estou agindo de forma estranha, mas quando a senhora conversar com o Justin, vai entender.
— O que ele tem a ver com isso? — fez careta — Não é mais fácil você só me dizer de uma vez o que quer?
— E como sabe que eu quero alguma coisa? — torci os lábios em um bico.
— Eu sou sua mãe, amor. Eu sei de tudo. — riu como se fosse óbvio — Ande, me diga logo o que é que..
— Boa tarde, senhora Hayes! — uma terceira voz interrompeu mamãe, fazendo com que a mesma desse um pulo e se calasse, focando os olhos de forma surpresa na tela de meu notebook. Justin havia chegado. Graças à Deus mais uma vez.
— Mas que susto, menino! — reclamou, levando a mão até o peito. Não segurei o riso, pelo susto de mamãe e pelo alívio de ter meu amigo por perto.
Sentei-me ao lado dela para poder olhá-lo e ele estava lindo como sempre. Seu cabelo loiro estava preso em um pequeno coque e ele usava uma regata de cor vermelha bem viva.
Estava sentado no que parecia ser uma cadeira de escritório e estava com seus antebraços apoiados de forma desleixada em frente ao computador, o que deixava suas várias tatuagens bem visíveis. Ah, e como de costume, ele sorria para mim. Isso me deixava louca de vontade de tascar logo um… abraço amigável nele.
— Me desculpe, não tive a intenção. — mordeu o lábio inferior, aparentemente prendendo uma risada — Como vai a senhora? — questionou simpático.
— No céu, querido. Já lhe disse que para você é só Holly. — sorriu, já mais tranquila — Posso te ajudar em alguma coisa?
— Sim. — afirmou — Eu preciso da sua permissão para uma coisa. — balbuciou de forma lenta e tranquila. Como ele conseguia falar assim? Eu só queria correr dali.
— Não me diga que quer pedir Atena em casamento? — sugeriu, me fazendo arregalar os olhos — Eu sei que isso seria lindo, mas talvez vocês sejam muito novos para tanta responsabilidade. — disparou a falar — Olha, eu amo a minha filha, mas ela não sabe nem fritar um ovo sozinha. Uma vez, ela tentou e acabou jogando a gema pra fora da frigideira. Imagine só! Como é que vai se casar desse jeito?
— Mãe! — exclamei, totalmente envergonhada. Cadê o buraco? Preciso de um para enfiar a minha cara!
— Não, não! Não é nada disso, Holly. — Bieber negou aos risos. Estava se divertindo, o idiota — Eu só quero sua permissão para que sua filha venha me visitar aqui em Nova York.
— Oh, sim… — balançou a cabeça, virando-se em direção a mim — Então era só isso que você queria pedir?
— Bem, não é só isso, mãe. Nova York fica em outro país, não é? É bem longe.
— Sabe, já fui até lá uma vez. Quando fui, tive que ir de carro, e isso tornou sim a viagem muito longa. — bufou, parecendo lembrar-se de algo — Mas de avião, não é tão longe assim, querida. — deu de ombros, me fazendo olhar de soslaio para Justin depois encará-la mais uma vez.
— E o que a senhora está querendo dizer com isso exatamente? — ergui as sobrancelhas em expectativa.
— Que eu não vejo problemas em você ir vê-lo. — contou, me fazendo abrir a boca em um perfeito “O”. Puta. Merda.
— Jura?! — Justin questionou, parecendo estupidamente surpreso com a resposta.
— Claro, querido. Atena tem quase dezoito anos e eu acredito que ela seja capaz de se virar sem mim por um tempinho… — falou enquanto fazia um carinho gostoso em minha bochecha — Tirando a parte de cozinhar, nisso aí ela é um desastre! — zombou, fazendo Justin gargalhar com vontade.
— Não vi graça. — dei língua pra ele, que me mandou um beijo em resposta.
— Então eu vou mesmo, finalmente, ver a minha namorada? — procurou uma confirmação, sorrindo malicioso para mim.
— Eu não sou sua namorada. — me fiz de difícil, como se eu já não estivesse querendo lamber a cara dele por ter me chamado daquele jeito. — Mas aí, eu posso mesmo ir? — perguntei à mamãe.
— Pode, meu anjo. — afirmou — Mas só ano que vem.
— Eita. Por quê? — resmunguei.
— Como eu disse, você tem quase dezoito. Precisa se formar na escola, fazer inscrições para faculdades e só depois, nas férias de verão, pode viajar. Estamos de acordo? — encarou a mim e a Justin, com pose autoritária.
— Bem, nós já estamos no fim do ano, então acho que não vai demorar muito… Eu consigo esperar até julho. — o dos olhos sonolentos deu de ombros e me encarou, perguntando em silêncio se eu concordava.
— Tudo bem, mãe. Eu vou ano que vem. — sorri, nem acreditando que eu iria mesmo conhecer Justin pessoalmente.
— Ótimo! — a mais velha sorriu junto a mim — Mais para frente nós resolvemos as coisas com o passaporte, quantos dias vai ficar lá e, o mais impressionante, onde. — disse, listando nos dedos os afazeres da minha futura viagem.
— Sobre o lugar, não precisa se preocupar. Ela vai ficar na minha casa. — Justin tranquilizou, sorrindo de orelha a orelha. Ele estava tão feliz. Eu estava tão feliz.
— Tudo bem, mas para isso eu preciso falar com seus pais. — mamãe pediu — Sem querer ofender, mas eu preciso conhecer bem quem são as pessoas com quem meu bebê vai estar. — disse protetora.
— Eu entendo perfeitamente. — ele afirmou, mas percebi que seu sorriso murchou um pouco automaticamente. Fiz uma nota mental para perguntar o problema mais tarde.
— Certo, crianças, agora eu vou aproveitar que tenho o dia livre e vou tirar um cochilo lá em cima. — se levantou, dando um tchauzinho para nós — Até mais, Justin. Um beijo. — se despediu do mais novo, que lhe mandou outro beijo em resposta.
Mamãe logo subiu as escadas, e eu me aproximei da mesinha de centro, trazendo Justin para mais perto de mim. Ele sorriu largo, me contagiando a fazer o mesmo, e ficamos assim por alguns minutos, apenas nos observando.
— Não sei o que dizer agora, têm muita felicidade dentro de mim e acho ela acabou entupindo as minhas cordas vocais. — Justin rompeu o silêncio, me fazendo rir.
— Eu sei como se sente. — mordi o lábio — Parece que a ficha só vai cair quando estivermos cara a cara.
— Eu usaria o termo boca a boca em vez do cara a cara, mas concordo com você. — deu de ombros, em um tom arrastado.
Senti um arrepio ao imaginar a possibilidade de encostar minha boca na dele. Respira, Atena.
— Você não cansa disso, não? — cruzei os braços, na defensiva.
— Disso o quê? — se fez de bobo.
— Isso, de me provocar. — respondi o óbvio.
— Ah, disso? Não, não canso. — sorriu, malicioso — Gosto do jeito que você fica, toda irritadinha. É sexy e fofo ao mesmo tempo. Parece até gente grande, mas é só uma garotinha marrenta.
— Que seja. — revirei os olhos, sentindo um rubor repentinamente atacar minhas bochechas.
— Viu só? — apontou pra mim, rindo fraco — Adoro isso!
— Você é retardado, eu preciso fazer um curso de uns dez anos para entender você. — zombei, vendo-o fazer uma carranca ofendida do outro lado da tela.
— Eu não tenho problema nenhum, a culpa dessas reações esquisitas é toda sua. — me acusou — Quando você fica assim, a minha vontade é te beijar até que você tenha vontade de tirar sua roupa.
— E a minha é de meter um soco na sua cara! — exclamei, queimando de tão sem jeito — Se prepara, porque quando eu estiver contigo, pode apostar que vou fazer isso.
— Mal posso esperar. — piscou, provocativo.
— Queria te perguntar uma coisa. — mudei de assunto de repente.
— Pode perguntar. — sorriu pequeno.
— Eu percebi, que quando minha mãe disse que queria conversar com seus pais sobre a minha estadia na sua casa, você fez uma expressão meio esquisita… Quer me falar algo sobre isso?
— Não é nada demais, é só que… Minha relação com meus pais não é uma das melhores, você sabe. — contou, tristonho. Apenas assenti, deixando que ele continuasse — Não gosto de pedir nada para eles, ainda mais permissão para levar alguém lá pra casa.
— Mas quem vai pedir vai ser minha mãe, Justin. — tentei contatar a situação.
— Dá na mesma, Nena. — riu fraco.
— É, eu sei… — torci o lábio — Olha, se for melhor pra você, eu posso ficar em um hotel ou em uma pousada, sei lá. — dei de ombros, não querendo exigir muito. Eu iria visitá-lo, para mim isso já bastava.
— Não, não, imagina. — abanou a mão, voltando aos poucos com a sua expressão tranquila de sempre — Eu posso fazer uma forcinha. Eu sei que eles vão esfregar isso na minha casa depois, mas é por uma boa causa. — sorriu, olhando cada cantinho do meu rosto com aqueles olhinhos de mel.
— Obrigada, Justin. — suspirei, sentindo um calor gostoso no peito, torcendo para que os meses passassem voando para que eu, finalmente, pudesse vê-lo de perto.
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