Querido,
eu não sou feito de pedra.
E isso dói.
•••
Os pés de Yoongi estavam molhados. O dia estava limpo quando saiu de casa pela manhã, mas depois daquela maldita mensagem de Jimin, tudo havia ficado terrivelmente mais carregado – principalmente seu peito. E, como se era esperado, choveu. Choveu tanto, mas tanto que nem sabia se aquilo era possível; e isso nem era com relação a chuva física, mas sim àquela tão subjetiva chuva que caía dentro dele.
Tudo estava escuro – tanto por dentro como por fora –, e exatamente por esse motivo decidiu olhar as horas e constatou: já era mais de meia noite. Em outros dias, isso não seria nada demais; mas naquele dia, isso significava algo muito mais doloroso do que realmente deveria: era seu aniversário. E Yoongi nunca havia odiado tanto o dia 09 de março.
Tudo parecia tão sordidamente irônico, pois havia sido justamente naquele dia que havia conhecido-o, à uns cinco anos atrás. Nesse momento, odiava-se por ter aquela cruel boa memória, que o fazia lembrar-se de todos os míseros detalhes que fizeram-no se apaixonar por Jimin. Aquela paixão que naquele momento faziam-o ter vontade de rasgar-se de dentro para fora e arrancar toda a dor que estava causando-lhe.
Toda aquela dor, por fim, enlouquecia-o, ao ponto de nem se importar com toda a chuva que escorria por seu corpo, fazendo nele morada. Sempre fora o cara que odiava chuva e que secretamente tremia de medo dos trovões; entretanto, naquele dia, toda a chuva e os relâmpagos – que cortavam o céu de fora a fora – eram tão insignificantes ante a tudo o que carregava por dentro.
As lágrimas molhavam mais o seu rosto do que as gotas d’água que caíam do céu, tornando os dois líquidos salgados em um só. E até coisas imbecilizadas como esta, fazia-o lembrar de como eles eram em um passado tão presente. Lembrava-se de todas as promessas de “para sempre” enganosas, os textos que mandavam um para o outro, os abraços apertados que davam quando as coisas atribulavam demais, das piadas idiotas de Jimin que pareciam ter um graça diferente para Yoongi. E isso era doloroso demais para ser lembrado em um momento como aquele.
Então, encolhido naquele banco de praça, sozinho, percebeu o quanto amava-o. De uma forma que nunca sequer pôde dizê-lo, simplesmente por não ser corajoso a tal ponto; sim, eles eram namorados, mas, às vezes, mesmo com um laço tão íntegro as pessoas não conseguem dizer o que realmente sentem. E Yoongi era uma dessas.
Ele havia perdido a única pessoa que o fazia ficar em pé, e nem sabia o porquê, pois a única explicação que recebeu foi através de uma mensagem de texto. Pegou, então, o celular e mesmo vendo algumas gotas caírem sobre ele, abriu na mensagem dele:
‘jiminie
Me perdoa… mas eu estou terminando nosso namoro, agora. Não me procura mais, eu não quero mais te ver e eu não.. posso te fazer sofrer. Só.. me esquece.
Ele ainda nem havia mandado uma resposta, pois sabia que de nada adiantaria. Conhecia Jimin como a palma de suas mãos, e sabia que não importava o que ele dissesse, ele jamais mudaria o que havia decidido. Yoongi só queria entender o porquê, não tinha a mínima lógica.
Não cabia em sua cabeça a ideia de ter perdido o amor da sua vida, a pessoa que fazia-o feliz, sem alguma explicação plausível. E seu coração pareceu ser despedaçado por algum monstro impiedoso, de uma hora para outra; desejou com todas as forças que aquilo não fosse real. Tinha a impressão de que o mundo estava caindo sobre a sua cabeça.
Tudo o que podia fazer era chorar, e chorar e chorar. E chorou tanto que se afogou em si mesmo. Levantou-se, repentinamente, de onde estava e andou em direção ao primeiro bar que encontrou em sua frente.
“Uma dose bem forte, por favor” pediu, enquanto perdia-se em todas as palavras ditas um para o outro, tentando encontrar alguma coisa que pudesse ter causado toda aquela dor, mas nada encontrou.
E passou a noite ali, enchendo a cara como à tempos não fazia, afogando-se na própria dor. Mal sabia ele que dores piores virão.
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