História Drop in Vegas - ISSO! Só mais 8 dias..

“Talvez a única razão de sermos tão apegados em memórias é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado. ”

Estávamos no setor de embarque do aeroporto há duas horas quando ficamos sabendo sobre um mal tempo em Miami que havia atrasado todos os voos.

“Que história é essa? ” Robert reclamou para ninguém em especial. “Não existe tempo ruim em Miami. ”

“Acho melhor a gente ir para sala VIP cara. ” Comentei olhando em volta. “Tem menos chance de alguém nos reconhecer lá dentro. Ainda mais que não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui, com sorte a gente chega lá de madrugada. ”

“Não é por nada não, mas estou cansado dessas viagens. ” Robert disse se levantando da cadeira onde a gente estava e eu ri. Agora você entende o meu problema com a tour não é amigão?

“Só me faz um favor Robert. ” Pedi e ele assentiu para eu continuar. “Nunca mais faça show em Las Vegas. E se fizer, não me chame. ”

Robert riu e balançou a cabeça. Podia rir, mas eu estava falando sério.

O lado bom da sala VIP eram as cadeiras bem confortáveis, o Wi-Fi rápido e a comida. Robert pegou algumas coisas para a gente comer e eu fui deitar em uma das cadeiras. Eu já estava bem cansado, hoje tinha sido um dia agitado e todas as informações me deixaram ainda pior.

“Quando o nosso voo for liberado me avisa. ” Falei pra Robert depois de comer uns doces que ele tinha trazido.

“Se eu estiver acordado. ” Robert respondeu sorrindo. Nessas horas que eu sentia falta do AC. Ele tinha problemas em dormir fora de casa, então era um ótimo parceiro para viagens, porque sempre te acordava na hora certa.

Senti minha mão pegar a garrafa e me forcei a levantar a cabeça e beber. A garçonete não percebeu meus movimentos até que já fosse tarde demais. Eu já havia aberto a tampa e bebido a água. E meus pensamentos já estavam voltando ao normal.

A menina me olhava com uma feição assustada. Reparando nela, a garota parecia ter perto dos dezesseis. Fiquei impressionado como tinham contratado alguém com tão pouca idade para um local de evento como aquele.

“O que você me deu para beber? ” Perguntei dessa vez com um tom de voz sério. Fã ou não, ela deveria saber que não se pode simplesmente batizar as bebidas de outras pessoas.

“Eu não... ” A garota murmurou e começou a chorar.

“Me responde. ” Falei e ela se desesperou. Só o que faltava. A essa altura algumas pessoas já tinham começado a olhar para mim de novo.

“Ele está te incomodando? ” Perguntou um segurança da festa para a garota e olhei para ela incrédulo quando a garota balançou a cabeça afirmando. “Meu senhor, você se importa em sair daqui? ”

“Como é? ” Perguntei rindo. Não era possível que ele estivesse realmente querendo defender a garota. “Ei garota, para com esse drama. Me responde! O que você fez?! ”

“O senhor está exaltado preciso retirá-lo daqui. ” Falou o segurança e me segurou pelo braço.

“Me larga! ” Reclamei e soltei meu braço. A garçonete ainda choramingava e eu já estava sem paciência. “Olha aqui garota, você não vai escapar dessa está ouvindo? Eu sei que você fez alguma coisa e vou descobrir o que é! ”

Eu não queria mais ficar ali. Eu queria ir para o hotel. Me virei e percebi que um grupo de pessoas tinha se formado em roda para assistir ao show que a garota estava fazendo, mas não fiquei reparando em rostos, só abri um espaço para eu conseguir sair o mais rápido que eu pudesse dali.

Quando eu estava perto da saída ouvi a voz de Robert me chamando e me virei.

Abri os olhos e vi no painel que o voo de Miami estava autorizado para decolagem em 20 minutos.

“Até que enfim. ” Robert resmungou tirando o braço do meu ombro. “Estava quase chamando a equipe médica. Vamos logo, temos que ir. ”

“Não vamos mais para Miami. ” Falei decidido e Robert me olhou incrédulo.

“Ah vamos, sem dúvida alguma. Já tem quase cinco horas que estamos esperando esse avião e agora você decide não ir? ” Robert reclamou. “Eu acho que é melhor mesmo eu chamar os médicos. ”

“Eu estou bem Robert. ” Falei e o segurei pelo braço o puxando de volta. “Eu sei que estamos esperando há muito tempo, mas o voo se atrasou porque não devíamos entrar naquele avião para Miami. Devemos ir para outro lugar.

“Por acaso, você assistiu Premonição há pouco tempo? ” Robert perguntou duvidando da minha sanidade. “Sabe que não precisa ter medo de embarcar não sabe? ”

“Não é isso. ” Respondi rindo e peguei minha mala de mão. Depois dei mais uma olhada no painel. O voo que eu queria sairia em quase quarenta minutos. “Vamos logo, não temos muito tempo. ”

Uma hora depois eu estava na classe econômica. Ouvindo o meu grande amigo Robert reclamando da mulher ao seu lado que antes mesmo da decolagem já estava roncando.

“Eu já te falei, era o único lugar vazio que tinha. ” Respondi pela milésima vez. Aquela viagem seria longa.

“A atendente falou que tinha outro voo com assentos na primeira classe em duas horas. ” Robert reclamou enquanto tentava criar uma barreira entre ele e a mulher adormecida ao seu lado.

“Não era você que estava reclamando de ter ficado cinco horas esperando naquele aeroporto? ” Perguntei tentando ajustar minhas pernas no pequeno espaço entre meu banco e o banco da frente. “Ao menos voo é direto, vamos chegar lá em pouco tempo. ”

“Eu iria preferir fazer escala, mesmo se eu estivesse ao menos na classe executiva. ” Robert retrucou terminando sua barreira de cobertor e travesseiro.

“Você é tão exagerado, nossos primeiros voos não eram de primeira classe. Já esqueceu? ” Perguntei.

“Lógico que não, por isso fico tão feliz em hoje em dia poder aproveitar uma viagem de avião confortável. ” Reclamou de novo. “Mas isso aqui, é inadmissível. ”

“Desde quando você usa essa palavra? ” Perguntei rindo.

“Desde quando você viaja de classe econômica por opção? ” Robert respondeu bravo e colocou o fone de ouvido.

Ao menos no voo econômico também tinha filmes para assistir. Eu procurei por um filme que eu tinha vontade de ver há muito tempo. Por sorte estava na lista de filmes disponíveis.

Eu me lembrava bem da época de seu lançamento, mas eu nunca tinha assistido ao filme inteiro. Na época era muito difícil ver ela atuando.

“Power Rangers! ” Robert falou ao meu lado olhando para minha tela e me assustando. Pensei que ele estivesse concentrado em sua música. “Esse filme é demais! Sem contar que a Becky está muito gata nele. ”

“Se quiser assiste do seu lado e não me atrapalha. ” Falei e o Robert sorriu. Quem diria, Robert era capaz de sorrir sentado em uma classe econômica.

“Isso é ciúmes meu amigo? Achei que já tinha superado há muito tempo. Alguém sente saudade do antigo namoro? ” Robert começou com a provocação, mas eu preferi ignorar e aumentei o volume do filme.

Durante o voo aproveitei para ver alguns outros filmes. Eu sentia falta disso. Não era como se eu pudesse simplesmente entrar em um cinema de Miami. E em tour eu não ficava tanto tempo na aeronave, já que o meu empresário organizava os shows para distancias menores. E a grande diferença em ter um avião particular para sua equipe é que no fim, eu acabava sempre conversando com alguém sobre o ultimo ou próximo show, a cidade, entrevistas, ou qualquer coisa do tipo.

Até que foi bom ficar todos esses dias afastado da mídia e dos compromissos. Antes da tour acabar eu combinei com meu empresário de ter um mês livre. Eu precisava de umas férias, mas tenho certeza de que se eu continuasse em Miami ele teria me convencido a participar de algum evento antes dos meus merecidos 30 dias de descanso acabarem.

Ao menos toda essa bagunça que o Robert tinha me colocado serviu para eu descansar um pouco. Eu não podia negar, a casa das meninas era incrível e enquanto estive lá não percebia o que estava acontecendo então não me afetava. Só agora... eu não conseguiria mais voltar. A mágica já tinha acabado.

“Eu não acredito que atravessei o país em uma classe econômica. ” Robert reclamou assim que o avião pousou.

“Não acredito que atravessei o país cinco vezes em menos de duas semanas. ” Comentei.

“Pode ao menos me dizer por que estamos aqui de novo? ” Perguntou meu amigo enquanto se levantava de sua cadeira se espreguiçando.

“Vim pegar minhas memórias de volta. ” Falei confiante. Eu não tinha total certeza se eu queria, mas eu precisava saber o que tinha acontecido entre eu e a Alice na noite do show. Eu precisava saber porque seria tão importante para Alice que eu me lembrasse do que aconteceu.

Eu estava certo. Vegas me ajudaria a lembrar. Ou talvez me enlouqueceria. Até chegar ao meu quarto (que eu fiz questão de pedir o mesmo) eu podia jurar que tinha visto Alice pelo menos cinco vezes.

“Vai curtir um pouco sozinho. ” Falei pela septuagésima vez para Robert, que insistia em dizer que nos separar seria uma má ideia, mas na noite em que tudo aconteceu, ele não estava comigo. E para minhas lembranças voltarem eu precisava ficar sozinho de novo. Foi dizendo isso que eu consegui fazer ele pegar um quarto diferente do meu no hotel, mas de qualquer forma ele parecia convicto em não nos separarmos.

“Da última vez, deu muito errado. ” Robert retrucou. Ok, ele também tinha um bom argumento.

“Se eu sair com você não vai mudar em nada. ” Falei cansado. “Eu vou continuar sem me lembrar de nada e toda a viagem na classe econômica não vai ter adiantado em nada. ” Touche.

“Você tem duas horas. ” Robert falou e eu sorri. “Se não voltar nesse tempo, eu vou atrás de você. ”

Perfeito. Eu também estava cansado, já era tarde e tinha sido um dia bem cansativo. Definitivamente não era uma opção passar a noite fora.

“O que está esperando para ir? ” Robert perguntou e fez sinal para eu ir embora. Ele não precisava perguntar de novo. Sai de lá o mais rápido que consegui e em poucos minutos já estava longe do hotel.

Eu já sabia onde ir. Em pouco tempo eu estava novamente em frente ao lugar que tinha sido a causa de todo o meu problema.

Hoje pelo visto não estava tendo shows, poucas pessoas estavam entrando e apenas o bar estava aberto. Entrei e me sentei em uma das mesas perto da porta.

“Eu te conheço? ” Perguntou um rapaz vindo me servir. Era o mesmo que havia me contado sobre toda a história da garota.

“Talvez, sou famoso no Texas. ” E no resto do mundo, completei mentalmente. Mas aquela resposta já foi o suficiente para ele dar de ombros.

“E o que vai querer meu rapaz? ” Perguntou.

“Tem sorvete? ” Perguntei e o rapaz apontou para as opções que tinham no cardápio e escolhi um dos sabores. Talvez congelar um pouco os meus pensamentos me ajudassem.

Enquanto o meu sorvete não chegava fiquei mexendo um pouco no celular, não tinham muitas mensagens, mas haviam várias ligações de Lily. Ela tinha começado a ligar quase três da tarde, provavelmente quando percebeu que tínhamos fugido. E a última ligação fazia quase duas horas. Talvez já estivesse desistido.

Fiquei olhando meu Twitter mas não mandei nenhuma mensagem, eu não queria que soubessem que eu estava online, mas de qualquer forma ler as mensagens já me deixava melhor e ao mesmo tempo com saudades de casa.

Eu estava com saudades da música, de cantar, dos fãs, da correria. Logo eu teria minha vida de volta. Olhei para o relógio quando mudou para meia-noite e um. Menos um dia. Esses dias tinham demorado muito para passar, mas finalmente meu sofrimento estava chegando ao fim.