Seus dedos batiam de maneira insistente sobre a mesa.
Ele nos olhava há quase cinco minutos, aparentemente indignado.
Havia um motivo pelo qual Watson chamara a mim e a Jamia em particular. Nas nossas reuniões semanais, toda equipe se reunia, então pela lógica, aquela situação não trazia consigo boas notícias.
-Meninos... -Ele começou sarcastico. - Sabe o quanto o Governo já gastou enquanto vocês brincam de parquinho lá fora?
Permanecemos calados.
-Quase um milhão de dólares. O Prefeito está furioso, pois os rumores continuam, apesar do maluquinho está em hiato.
-Watson... Nós ... -Falei tentando argumentar.
-Eu não terminei. Vocês tem de dar andamento a essa investigação. Me traga nomes, evidências, quem não gosta de quem. Todos ali são suspeitos.
-Mas Watson, ainda estamos nos familiarizando. O ritmo de vida de lá é totalmente diferente de qualquer disfarce que eu já fiz...
-Savanna... -Ele digitou o ramal no Telefone. -Está na hora do pen drive.
Eu, pela primeira vez, não imaginava o que era.
Ela entrou na sala, e entregou à Watson, este abriu seu notebook já ligado e conectou o artefato.
De repente, a filmagem do jardim transcrito começou a rodar, de forma acelerada.
Oh Deus, eu sabia o que era...!
Um clima horrível se instaurou na sala. Jamia virou o rosto, tão constrangida e mal a vontade quanto eu.
Claro que aquele vislumbre a incomodava.
Mas o que eu poderia fazer?
Eu caí em tentação... E eu admito isso.
-Vejo que está se familiarizado bem agente Frank... -Falou entrelaçando os dedos e se encostando na cadeira.
-Essa mulher... -Falei inconformado, apontando para a tela do notebook.
-Essa mulher... -Jamia me interrompeu firme - Foi a sorteada por ele, para não ser resistida.
-Watson, essa mulher é um demônio!
-Tão demoníaca que a boca dela foi parar na sua. - Watson afirmou. -A primeira falha é cair na armadilha do inimigo. Você sabe disso. O que há com você?! Perdeu o conhecimento da sua área? Você não era tão idiota assim.
-Eu não perdi nada Watson. Se realmente houver um assassino ali dentro, nós chegarmos fazendo milhões de perguntas, vai levantar suspeitas!
-Começem o que foram mandados a fazer. Isso é uma investigação, não um resort sexual.
Watson se levantou sem sequer se despedir. Saiu e voltou com uma pasta amarela, e a jogou com violência no meu colo.
Eu sabia que Jamia queria perguntar qual o conteúdo da pasta, mas sua raiva não deixava.
Eu claramente não iria forçar nada, afinal, minha barra não estava tão limpa quanto parecia.
Abri a pasta, e havia as fotos de Jack e Genna Warren, e seus dados.
Nas partes grifadas com um marcador verde, havia escrito:
"Atividades bancárias suspeitas na conta conjunta"
Dinheiro move muita coisa, não acham?
Porque não os Warren? Talvez as pessoas mortas, embora não mantivessem um elo entre si, devessem a eles.
Ambiciosos, como parecem ser, matariam fácil por dinheiro.
-Os Warren mantem atividades bancárias suspeitas. -Falei, entregando-lhe a folha.
Jamia queria falar algo, mas ainda sim se calava.
-Tem alguma ideia porque eles movimentam essa grana? -Ela perguntou com muita dificuldade e evitando me olhar.
-Só iremos descobrir se nos aproximarmos. -Tentei olhá-la, e sorrir, mas Jam continuava como uma estátua, fitando o horizonte através da janela atrás da cadeira de Watson.
-Jam... Eu...
-Não fale nada, temos que trabalhar, não lembra? Nossa relação agora é apenas profissional. Finjo que sou sua esposa quando necessário e pronto. -Ela se levantou.
Mas antes que saísse, ela falou:
-Ah, e nas questões das perguntas, você fica com a velha e eu enrolo o outro, caso contrário não conseguiremos nada.
Então saiu.
Eu havia compreendido o que Jamia havia indicado. Eu conseguiria informações mais rápido de Genna, pois ter uma figura masculina e mais jovem ao seu redor era um fator importante para a persuasão.
Jamia, por sua vez e por ser mulher, tinha muito mais habilidades naturais para conseguir algo de um homem, e Jack parecia ser bem aberto à mulheres.
Tática óbvia e inteligente que nem mesmo eu havia pensado.
Realmente havia algo errado comigo. Eu sempre pensava em tudo, táticas, estruturas de investigação, e lá estava eu, sendo guiado pela novata que veio da Narcóticos...!
Após sair do departamento, coloquei meu óculo escuro. O térreo do grande prédio, era preeenchido pela delegacia, onde eu passava e era sempre xingado por algum bandido idiota.
Por estar há vários dias sem comer de forma correta, e estava perto do horário de almoço, decidi passar no restaurante italiano que ficava a três prédios dali.
Comer algo que lembrava meu avô seria ótimo diante de toda aquela tensão.
Andei alguns metros e empurrei a porta. Perguntei à recepcionista se havia alguma mesa vaga, e ela falou que não.
Mesmo tendo a confirmação, olhei para ter certeza.
E quem eu encontro?
Alex.
Meu amigo e pareceiro de investigação, que estava de férias.
Me aproximei acenando.
Ele me olhou, e sorriu alegre. Levantou-se, e me abraçou.
-Cara... Quanto tempo...!-Falou, dando um tapinha nas minhas costas.
-Pensava que iria passar mais tempo no Canadá, o que aconteceu? Ah você está esperando alguém?
-Não estou, pode se sentar e pedir algo.
-Tudo bem então.- Falei me sentando e olhando o cardápio.
-Eu estava curtindo minhas férias maravilhosas no Canadá, com duas gêmeas maravilhosas...
-Você continua tarado. -Falei calmo e banal, ainda analisando o cardápio.
Ele sempre ria do jeito que eu falava. Sempre calmo e centrado.
-Você deveria conhecer gêmeas elas são ótimas! Bem, continuando... -Ele interrompeu sua fala ao que o garçom chegou com uma pizza média.
Falei que iria querer uma porção de macarronada com almôndegas e bastante molho.
-Eu estava lá, e Watson me ligou para cobrir um crime.
-Crime?
-Sim, um tal de assassino do vinho tinto. Eu sei que você está investigando ele, o Delegado achou que você está com saudade de mim... -Ele falou rindo.
-Ha ha, muito engraçado. - Falei tocando o porta guardanapo com o indicador. -Estou com Jamia Nestor nessa investigação. E com ela veio outro problema... Watson já te explicou qual a dinâmica e a estrutura de investigação?
-Sim, ele me mandou os depoimentos e os perfis por fax, para meu hotel. Hummm, tinha uma moradora no tal edifício que eu vou te contar viu...! Senhorita Morrison.... Ah Morrison...
-Esse é o meu problema. Kelly Morrison é altamente sexual, e ela me beijou. Jamia é minha esposa no disfarce, só que os sentimentos dela estão avançando para patamares pessoais. Eu falei sobre o que tinha acontecido e ela ficou furiosa.
-Já tentou conversar com ela?
-Agora a pouco, mas ela foi rude.
Eu observava ele terminar sua primeira fatia de pizza.
-Bem, você já deu alguma chance falsa a ela?
-Completamente não! -Falei ofendido.
-Quando sairmos daqui, vamos numa floricultura.
-Por?
-Por que mulheres gostam de flores.
O garçom chegou com a minha macarronada, deliciosa.
-Watson não me falou nada sobre te encaixar no caso... -Falei enrolando os fios do macarrão no garfo.
-Bem, era para ser surpresa, mas você acabou me vendo aqui e sabe como eu sou linguarudo, não é?
-Sei bem...! -Falei concordando e me lembrando de episódios passados e hilários onde Alex não segurava aquela lingua dele.
Mas havia uma vantagem em Alex: técnica de linguagem e escrita. Ele consegue decifrar quem você é apenas por sua caligrafia e as palavras que usa quando fala.
Minutos depois fizemos nossa refeição e pagamos a conta.
Alex me guiou até à floricultura.
-Boa tarde!-Uma jovem loira nos saudou com um sorriso bonito.
E claro que os olhos de Alex brilharam e sua chama por saias se acendeu.
-Boa tarde... - Ele respondeu charmoso.
-Bem queremos um buquê de flores...
-Quais? Tulipas, margaridas, acácias, orquídeas?
-O que acha Alex?
-Você teria rosas?
-Oh sim, o buquê custa noventa dólares...
-Vamos levar um buquê.
A moça se distanciou para fazer o buquê.
-Por que rosas?-Perguntei, observando as outras plantas.
-Toda mulher gosta de rosas...
-Pronto. -A moça veio com o buquê, vermelho como sangue.
-Que rápido... Florzinha, você poderia me passar seu número de Telefone? -Alex falou, me fazendo morrer de vergonha.
-Seu namorado não se importa? -Ela perguntou preocupada.
Eu me virei, e Alex começou a rir.
-Claro que não docinho...! - Ele se inclinou no balcão e começou a acariciar o maxilar da garota.
E claro que ele não iria perder a chance de me fazer passar vergonha.
Joguei o dinheiro no balcão e saí da loja. Andando alguns metros para pegar o meu carro que havia deixado num estacionamento pago.
-Frank, espera!
Parei e esperei.
-Consegui o número dela. Onde vai?
-Pegar o carro.
-Pegar o carro? Você não falou "pegar meu carro"
-O carro não é meu, faz parte do disfarce.
-Que carro é?
-Um land.
-Sério?
-Sim.
-Então cara, até mais. Foi bom te ver...
Nos abraçamos e eu segui meu caminho.
Estacionando no GP, entrei e comprimentei Raj e subi as escadas.
Mercedes passou por mim e sorriu em deleite ao ver que eu carregava um ramalhete de rosas vermelhas.
Segui para o terceiro andar.
Enquanto caminhava pelo corredor, não pude deixar de lembrar de Gerard tocando as paredes teatralmente, e sorrindo estranho da ultima vez que eu estava saindo de seu apartamento...
Ao chegar no meu, girei a maçaneta.
E lá estava Jamia no sofá, sendo tocana no rosto.
Sendo tocada no rosto por Gerard.
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