Camila POV
-Melanie, hora de acordar!
Tentei mais uma vez, porém sem sucesso. Essa menina realmente puxou a mim no quesito sono pesado, acordá-la todas as manhãs era uma batalha.
-Vamos meu amor, você tem que ir pra escola.
-Hum, tô com soninho, mamãe - Resmungou ainda de olhos fechados.
-Eu sei querida, mas se continuar na cama irá se atrasar, e a mamãe também. Vamos, já pro banheiro!
Ela se levantou e foi se arrastando até o banheiro, mesmo à contragosto.
Melanie estuda na mesma escola em que eu trabalho, e sempre vamos juntas. Eu sou professora de artes e leciono para o Ensino Médio. Achei melhor matricular Mel na mesma escola em que trabalho, assim fica tudo mais cômodo, desde o trajeto levá-la até o colégio, que acaba sendo o mesmo que o meu, até o fato de estar sempre por perto, já que minha profissão me permite isso. Além de que lá eu dou aulas para turmas bem distantes da dela, que é do infantil, o que não causa aquela coisa de “a filha da professora” entre seus coleguinhas.
-Pronto mamãe, já escovei os dentes – Diz ela já com seu bom humor habitual.
-Ótimo, agora vamos nos arrumar e tomar café que já está tudo na mesa só esperando você.
Eu a vesti e penteei seus cabelos fazendo uma trança, como ela gostava. Nos encaminhamos até a cozinha onde sentamos para o desjejum. Mel começa a comer seu cereal, mas para, pensativa, olhando um ponto fixo na mesa.
-Mamãe, a senhora fez bacon.
-Fiz sim querida - Respondi sem entender.
-Mas a senhora não come bacon, e nem me deixa comer no café da manhã. Os bacons são sempre pra mamãe Lo.
Me toquei imediatamente do meu equívoco. Eu peguei o bacon, o preparei e pus na mesa de modo automático, sem nem me dar conta. Já faz dois meses desde que nos mudamos e vez ou outra eu acabo fazendo coisas desse tipo, mas nunca algo perceptível a Mel. Droga, que desculpa vou inventar?
-Ah, é ... Eu acabei me confundindo querida - Nossa Camila, parabéns.
-A senhora também sente saudade da mamãe? Porque nós não voltamos a morar com ela?
-Mel, a mamãe já te explicou, isso é coisa de adulto - Falei já me arrependendo de ter dado um fora desse. Porque os hábitos não saem da gente?
-Mas já faz tanto tempo, a mamãe ainda não resolveu o problema que ela tinha que resolver?
Quando me separei da Lauren, resolvi não contar à nossa filha o real motivo de termos saído de casa, pois esse foi um dos motivos pelo qual a deixei, que ela não soubesse o que estava acontecendo com a mãe. Primeiro porque ela é muito nova pra entender, tem apenas cinco anos, e segundo porque não quero que ela pense coisas ruins da própria mãe. Somente expliquei que Lauren tinha feito algumas coisas erradas e que estava com um problema que precisava resolver sozinha. Não me ocorreu nada melhor para explicar a ela essa situação sem contar o real motivo.
-Meu amor, eu já te falei que temos que você tem que se acostumar a morar só com a mamãe ok? Esse assunto é algo entre mim e sua mãe, e eu não sei se a gente vai voltar a morar com ela. Sei que é complicado pra você entender, mas a única coisa que você tem que saber é sua mãe e eu te amamos muito e que você sempre será nossa filha, e nada vai mudar, independentemente de onde moramos.
-Mas eu gostava de ver a mamãe Lo todos os dias, e dormir com vocês duas me dando boa noite. A senhora não gosta mais da mamãe?
-Querida, eu sempre vou amar a sua mãe, mesmo não estando mais com ela, ela é sua mãe. E eu sei que você sente falta de muitas coisas, mas você vai ter que tentar se acostumar, tudo bem?
-Tudo bem – Disse com uma carinha triste.
Eu odiava o que nossa situação estava causando em nossa filha, e me odiava por ter feito isso. Mas eu não tive escolha. Eu dei todas as chances do mundo à Lauren, tentei de todas as formas esconder da Mel as cenas que eu presenciava, dei todo o apoio para que ela procurasse ajuda, mas ela não quis. Ela sempre me prometia que não ia mais acontecer, que tinha sido por determinado motivo naquele dia e que ela ia parar. Só que enquanto isso ela estava se tornando uma alcóolatra sem se dar conta, e não admitia isso pra si mesma. Eu repito, eu não tive escolha. Por mais que Melanie fosse muito apegada a Lauren e a idolatrasse, uma hora ou outra ela iria acabar entendendo o que estava acontecendo, crianças são mais inteligentes do que a gente pensa. E eu ia me odiar mais ainda se um dia ela se ressentisse da mãe, e passasse a não vê-la mais da mesma forma. Lauren não iria suportar isso. Eu preferia que Lauren me odiasse por tê-la deixado, à ver nossa filha a desprezando. Ela não merecia isso. Apesar de tudo, Lauren não merecia isso.
-Pronta? – Disse mais empolgada que o necessário. Queria animá-la depois do momento tenso que tivemos logo no café da manhã.
-Sim, vou pegar minha mochila – E sumiu em direção a seu quarto.
Quando entramos no carro ela já estava com uma expressão melhor, mas eu ainda via um ar de tristeza em seu semblante. Ela ainda estava pensando na mãe.
-Mamãe, quando eu vou ver a mamãe Lo? – Não falei?
-Não sei meu amor, a mamãe vai falar com ela pra combinar tá? Quem sabe ela não pode hoje?
-EBA! A gente podia jantar todas juntas!
-Hum, não sei querida, vou falar com ela tudo bem?
-Tá bom!
Como eu ia dizer pra ela que isso não era uma opção? Lauren e eu mal nos falamos depois que nos separamos. No começo ela fazia de tudo pra me fazer voltar atrás, me pediu perdão, fez promessas... Mas eu deixei bem claro que a gente não teria volta, pelo menos não enquanto ela não procurasse se tratar, até que em algum momento ela entendeu o recado e parou de correr atrás. Só que nossa relação ficou bem ruim depois disso, ela me evitava e sempre resolvíamos as coisas relacionadas a Mel por telefone ou por meio de alguém. De certo modo eu a entendia, mas isso não pode durar pra sempre, a gente tem uma filha e precisamos estar bem pra passar essa boa relação pra ela. Lauren precisava deixar o orgulho de lado e aprender a ter uma convivência amigável comigo. Amigas? Claro que eu não vou propor isso à ela, aí já é demais.
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